sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

ARQUIVO PISTA & BOX - ABRIL DE 1997 - 04.04.1997



            Trazendo novamente uma de minhas antigas colunas, esta foi lançada no dia 04 de abril de 1997, após a disputa do Grande Prêmio do Brasil, em Interlagos, que naquela época era uma das primeiras corridas do calendário. A vitória tinha sido de Jacques Villeneuve, e a disputa que se viu no autódromo paulistano já antevia que o campeonato teria mais disputa e equilíbrio do que no ano anterior, o que acabou se comprovando em parte. No mais, algumas notas rápidas sobre outros acontecimentos na Fórmula 1 e na Fórmula Indy. Uma boa leitura a todos, e em breve tem mais...



COMPETITIVIDADE!

            O Grande Prêmio do Brasil de F-1, disputado no último domingo, viu a vitória do grande favorito no campeonato deste ano, o canadense Jacques Villeneuve. O filho de Gilles fez a pole e liderou a corrida quase de ponta a ponta. Então o campeonato está destinado, mais uma vez, a um piloto da equipe Williams, tal como em 1996? Poderia até ser, mas a prova de Interlagos desmente. Teremos muita disputa mesmo neste ano.
            Alguns meios de comunicação, na reportagem para a corrida, alardearam que Villeneuve “passeou” em Interlagos. Não foi bem assim. Gerhard Berger, da Benetton, perpetrou uma perseguição implacável ao piloto da Williams nas voltas finais da prova, terminando a corrida a meros 4s do vencedor. Margem de segurança do piloto canadense? Nem tanto: várias voltas antes, quando ambos terminaram seus respectivos pit stops finais, a vantagem de Villeneuve era de cerca de 15s. E nas voltas finais, dava para perceber o esforço do piloto da Williams em tentar manter o ritmo veloz, ao passo que o austríaco da Benetton se aproximava perigosamente volta a volta.
            Na terceira colocação da corrida, a surpresa do dia: Olivier Panis, da nova equipe Prost (ex-Ligier) subiu ao pódio depois de uma corrida impecável, mostrando a evolução da escuderia francesa. Mas mais do que isso, deu à Bridgestone, em seu segundo GP, um pódio para a fabricante japonesa de pneus, cujos compostos mostraram superioridade incontestável em Interlagos, superando amplamente a performance dos pneus Goodyear.
            O melhor de tudo é que a F-1 parece estar recuperando sua competitividade. E os treinos classificatórios confirmaram isso. Da pole de Jacques Villeneuve ao último colocado no grid da prova brasileira, Mika Salo, a diferença foi de apenas 3s27. Em outras palavras, foi o grid mais apertado de que se tem notícia dos últimos tempos. Isso sem falar que Mika Salo teve problemas na classificação, do contrário, a diferença poderia ter sido até de menos de 3s. Só para se ter uma idéia da melhora, os 8 primeiros colocados no grid ficaram a menos de 1s de Jacques Villeneuve. Uma melhora significativa se levarmos em conta que o grid de largada do ano passado, aqui mesmo em Interlagos, teve uma diferença muito maior entre o pole (Damon Hill, com Williams) e o último classificado (Andrea Montermini, da Forti Corse): 5s343.
            E essa maior competitividade também se mostrou na corrida. Nada menos do que 9 pilotos terminaram a prova na mesma volta do vencedor. Tirando Ukyo Katayama, que cruzou a chegada a mais de 5 voltas de distância, e Damon Hill, que abandonou a 3 voltas do final, todos os demais terminaram com, no máximo, 2 voltas de atraso em relação a Villeneuve. Outro bom indício foi o nível de fiabilidade: apenas 4 carros dos 21 que largaram abandonaram a corrida, mostrando boa evolução em relação a Melbourne, onde mais da metade dos pilotos ficaram pelo meio do caminho.
            Tudo isso vem a confirmar que este deverá ser o melhor campeonato dos últimos anos. O desempenho da Williams em Interlagos mostrou que este ano não parece ter um carro tão superior à concorrência, como em 1996. A Benetton deu uma amostra de seu poderio, e a McLaren e a Ferrari devem melhorar sua performance a partir do início da fase européia do campeonato. Por enquanto, temos nada menos do que 6 pilotos divididos por uma diferença de apenas 4 pontos na classificação do campeonato, mostrando equilíbrio surpreendente nas etapas iniciais do certame.
            Para melhorar a competição, a TWR-Arrows mostrou uma grande evolução, e se mantiver o ritmo de crescimento, e encontrar fiabilidade para seus carros, pode até disputar as primeiras colocações até o fim da temporada. E a nova Stewart mostra grande potencial, precisando primeiro encontrar a fiabilidade necessária para terminar as corridas. Mas a escuderia, gerenciada por ninguém menos do que Jackie Stewart, promete crescer muito. Poderão ser dois novos protagonistas a mais na disputa, oferecendo mais emoções e possibilidades.
            Outro dado a conferir é a performance dos pneus da Bridgestone, que deram um sério susto na Goodyear em Interlagos. Se a situação se repetir em várias provas do campeonato, não será nenhuma surpresa se os times de ponta debandarem para os pneus japoneses no fim do ano. Tanto Williams quanto Benetton, McLaren e Ferrari reclamaram muito da performance dos pneus durante o GP do Brasil, todos da Goodyear equipando seus bólidos. E foi graças aos pneus japoneses que Panis subiu ao pódio. Surpresas deste tipo podem se tornar mais freqüentes do que se imaginava durante a temporada.
Fazendo um balanço geral, a F-1 realmente parece viver um novo momento. Apesar da Williams ainda ser a favorita para o campeonato, a imprevisibilidade está de volta à categoria, prometendo surpresas em muitas etapas. Resumindo, mais competição e emoção! Um panorama que a categoria não vivia já há um bom tempo. E viva a competitividade!


A performance de Damon Hill durante o Grande Prêmio do Brasil causou um certo frisson na equipe Williams em relação ao piloto que foi contratado para o lugar do atual campeão mundial, Heinz-Harald Frentzen. Na classificação, Damon Hill levou o carro da TWR-Arrows à 9ª posição no grid, a míseros 0s13 de Frentzen, que ficou com a pífia 8ª colocação no grid com a Williams, o melhor carro da categoria. E na corrida, Frentzen passou boa parte da prova andando atrás de Damon Hill, que mostrou todo o seu talento e garra levando um carro ainda muito limitado adiante até a 4ª posição antes de parar para o seu único pit stop. Depois disso, entretanto, o carro do atual campeão mundial começou a perder rendimento, culminando com o seu abandono por fuga de óleo no motor a poucas voltas do final. Com um pouco mais de sorte, Damon poderia até ter se classificado na frente de Frentzen no grid de largada, e até terminado a corrida à frente de seu substituto na Williams. Outro que penou no duelo com Hill foi justamente Michael Schumacher, da Ferrari, seu grande rival em 94 e 95: durante mais de 10 voltas ficou atrás do inglês na corrida, só conseguindo ultrapassá-lo depois de uma renhida disputa levada até os limites da reta dos boxes. Hill mostrou talento de um verdadeiro campeão em Interlagos...


Até agora ninguém entendeu direito o que aconteceu com a equipe Lola em relação ao súbito fechamento da escuderia de F-1. Quem não gostou nada disso foram os pilotos Ricardo Rosset e Vincenzo Sospiri, sem falar nos mecânicos do time, que estando já em Interlagos, montando todos os equipamentos e os carros, ficaram desnorteados com a notícia repentina...


A F-CART disputa na madrugada de sábado para domingo (meia-noite e meia, pelo horário de Brasília) a sua segunda etapa do campeonato 97. O palco é o circuito urbano de Surfer’s Paradise, na Gold Coast da Austrália. Michael Andretti, o líder da competição, está apreensivo para a corrida, ainda temeroso com a fiabilidade do câmbio do chassi Swift. A peça já foi redesenhada 6 vezes, e apesar de no último teste ter agüentado a simulação de um GP inteiro, ainda tem sua fiabilidade posta em dúvida para a corrida australiana, onde será muito exigido. Em 1996, Jimmy Vasser venceu a corrida, e a equipe Ganassi é a grande favorita para a prova, mas a exemplo de Miami, surpresas podem acontecer no meio do caminho...


Novas fofocas no paddock de Interlagos: Jacques Villeneuve pode criar um time próprio para correr na F-1 em 1998. Ou será na F-CART? Ralf Schumacher pode ir parar na McLaren, por imposição da Mercedes. Mika Hakkinen e David Couthard, quem poderá dançar nesta troca de pilotos? Até o momento, temos muito mais fumaça que fogo propriamente...


A Benetton promete para breve a definição do motor que irá utilizar em 1998. E tudo aponta para uma combinação: Benetton/Honda. A Williams continuará com os Renault, só que serão preparados pela Mecachrome, e não mais pela própria fábrica francesa, que vai se retirar oficialmente da categoria...

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