Chegou
a hora do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, e a semana já trouxe uma
notícia que pode ser considerada boa: Felipe Nasr será piloto titular da
categoria na próxima temporada, defendendo a equipe Sauber. E com Felipe Massa
garantido na Williams, o Brasil contará com dois representantes no grid em
2015. Para quem imaginava, no ano passado, um futuro nefasto para o Brasil na
categoria máxima do automobilismo, quando Massa era dado como carta fora do
baralho pela Ferrari, e ainda não tinha acertado com a Williams, podendo haver
a possibilidade de não termos mais pilotos na F-1, é algo sem dúvida a ser
comemorado.
Felipe
Massa faz uma temporada apenas razoável pela Williams. A estrela do time é Valtteri
Bottas, que aproveitou praticamente quase todas as chances que surgiram durante
o campeonato, e eclipsou totalmente o brasileiro. Verdade que Felipe teve
alguns azares que não podem ser creditados a ele, mas em outros momentos, Massa
voltou a lembrar aqueles momentos vividos na Ferrari onde era nítido que ele
poderia render mais do que mostrava. O que conta a seu favor é o excelente
ambiente na equipe inglesa, muito mais descontraído do que o time italiano, e
pelo fato de a escuderia ter vivido em 2013 uma das piores temporadas de toda a
sua história, de forma que o que tem apresentado este ano é praticamente uma
ressurreição quase milagrosa. Massa e Bottas se entendem, sabem ser rivais
apenas na pista, e nos boxes, trabalham em conjunto para ajudar o time a
crescer. E esse ambiente tranquilo é um dos fatores que ajuda o time a
manter-se em evidência. Felipe é cobrado por melhores resultados, sim, mas o
time tem consciência de que seus resultados abaixo do esperado não são apenas
culpa do brasileiro.
Ainda
assim, Massa terá de mostrar serviço em 2015. Se este ano tudo o que viesse de
melhor seria lucro, para a próxima temporada a tendência é a Williams passar a
sonhar mais alto, objetivando voltar a vencer, e quem sabe, disputar o
campeonato e voltar a ser campeã. Felipe, então, terá de andar pra valer muito
mais do que neste ano. Até porque disso dependerá sua permanência no time em
2016. Se ele fizer um bom serviço, sua manutenção é a escolha natural. O que
pode complicar é a boa situação da Williams a colocar na mira de alguns pilotos
de alto calibre que queiram um de seus assentos. E aí, podendo escolher quem
quer como piloto, poderia haver uma disputa pelos cockpits. De um jeito ou de
outro, Massa já deu a entender que o time inglês será sua última casa na F-1, e
que não pretende seguir o exemplo de Rubens Barrichello, que correu por mais de
300 GPs e ainda teria tido mais corridas se não fosse dispensado pela própria
Williams no início de 2012.
Isso
deixa o Brasil com a perspectiva de contar com Massa nas pistas por pelo menos
dois, talvez três anos. Ou quatro, quem sabe. Ele precisará voltar a mostrar a
excelente forma exibida em 2008 para fazer o torcedor grudar novamente os olhos
na TV, e de preferência disputar um título. Se a Williams mantiver seu
crescimento, e dependendo de como a concorrência se apresentar, talvez isso
seja possível em 2015, ou 2016. Mas, mais do que dispor de um excelente carro,
Felipe não terá vida fácil, pois a concorrência será duríssima, e ele precisará
de uma regularidade ímpar para fazer frente a quem quer que seja seu
companheiro de equipe. Bottas não é invencível, como Felipe mostrou em Austin,
domingo passado, quando andou a corrida inteira na frente do finlandês, mas
precisará fazer do que mostrou no Texas a constante de suas performances, e não
a exceção, como foi durante este ano. Não se trata de vencer, mas de bater o
companheiro de equipe com frequência, é o que a torcida brasileira deseja, e
exige, acima de tudo. E, infelizmente, ainda tem a TV Globo ajudando por vezes
a complicar a situação, sempre ainda se mantendo na sua batida e já desgastada
fórmula ufanista de exaltar nossos pilotos como se fossem os melhores de todos.
Este ano, a emissora pareceu ter tirado a sorte grande quando o novo time de
Massa se mostrou a bela surpresa da temporada, sendo em várias etapas os
melhores carros na pista depois dos imbatíveis Mercedes. Mas, ao lidar com os
fracos números de audiência dos treinos de classificação, reduziu-os apenas ao
Q3 na transmissão, mostrando que a situação de audiência da categoria em nosso
país já não é mais a mesma...
Não
que a queda de audiência seja um problema apenas do Brasil, mas certamente a
emissora do Jardim Botânico teria talvez índices melhores não fosse sua maneira
particular de tratar a categoria apenas pelo que os brasileiros podem render
nela, e não tentar criar uma cultura de automobilismo mais acessível ao grande
público. Mas, querer que a Globo mude de postura parece a mesma coisa que
querer que os políticos virem santos...milagres deste tipo não acontecem.
E,
a julgar pela forma como Felipe Nasr foi anunciado, tudo já aponta que ele é a
nova "aposta" da Globo para tentar alavancar novamente a F-1 perante
o grande público. Resta saber o quanto isso poderá queimar o filme de Nasr. A emissora
já vem mantendo o foco no piloto nos últimos meses, sempre o entrevistando nos
GPs, e em Austin, ele foi comentarista convidado da transmissão do SporTV. É
uma tentativa, válida, de divulgar o piloto, torná-lo conhecido do público. Até
aí, nada demais, o problema será o que virá depois, se começar a insistir na
tese de bons resultados, mesmo que não tenha carro para tanto. Já vimos isso
antes, com Rubens Barrichello, mostrado pela emissora como "sucessor"
de Ayrton Senna, e de como Rubens infelizmente aceitou um papel para o qual
nunca estaria à altura. Nasr tem de tomar cuidado para não ser a próxima vítima
deste tipo de "promoção", de ser vendido como esperança da redenção
brasileira na F-1. Isso ainda está longe de acontecer, e no momento, Nasr tem
mais é que ser deixado em paz, para que possa desenvolver o seu trabalho com
calma, e só for realmente cobrado quando tiver um carro capaz de vencer
corridas. Antes disso, não se pode exigir nada dele. É um bom piloto, capaz de
vencer e disputar um título, se estiver no local certo, e com o carro certo. Se
vai ser um gênio da velocidade, como foram Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet, e
Ayrton Senna, ainda é cedo para dizer.
Nasr
terá muito trabalho para provar que merece estar na F-1. Em primeiro lugar, um
ponto positivo é o mais novo brasileiro ter acertado um contrato de dois anos
com a escuderia de Peter Sauber. Isso deve lhe dar a estabilidade necessária
para crescer e demarcar terreno na categoria, onde gente gabaritada como Lucas
Di Grassi não teve sorte, sendo rifado depois de apenas uma temporada. E Nasr
chegará como piloto titular já com alguma experiência, graças aos treinos
livres de sexta que vem fazendo pela Williams nesta temporada, dois quais ainda
terá a chance de guiar hoje, aqui em Interlagos.
Nasr
vem colhendo bons adjetivos dos engenheiros pelo seu feedback e capacidade de
pilotagem, fornecendo boas referências para os pilotos titulares, e será um
importante trunfo para ajudar a Sauber a encontrar seu melhor caminho em 2015,
que ainda não inspira muita confiança. Tanto que o time não teve vergonha de
admitir que sua dupla de pilotos é mais pautada pela necessidade financeira do
que por qualquer outra coisa. O time confirmou há poucos dias o sueco Marcus
Ericson como um de seus pilotos para o próximo ano. Tanto Ericson quanto Nasr
chegam respaldados por importantes patrocínios, que serão vitais para tentar
dar a guarida financeira de que o time suíço necessitará para competir em 2015.
Como já mencionei, pilotos pagantes sempre existiram na F-1, mas antigamente os
times dependiam menos deles do que hoje, onde a equação talento-patrocínio se
inverteu completamente, dando-se mais preferência ao lado financeiro do que
qualquer outra coisa.
Felizmente,
alguns pilotos não chegam apenas com patrocínio, como é o caso de Ericson, que
este ano como piloto da Caterham não fez absolutamente nada, mas trazem também algum
talento, que é o caso de Nasr. Felipe tem plena consciência de que sua
temporada de estréia pode ser extremamente complicada: a Sauber este ano vem
tendo sua pior temporada, e o time centra forças em conseguir construir um
carro melhor para o próximo ano. Como o motor da Ferrari também deverá ter
melhorias para a próxima temporada, e o corpo técnico da escuderia parece saber
onde foram os pontos equivocados do modelo deste ano, tudo parece indicar que
2015 será de fato um ano de melhores possibilidades. Resta saber quanto melhor
poderá ser. Uma meta modesta será pontuar com regularidade. O time, que já
conquistou alguns pódios em 2012, pode até surpreender e tentar resultado
semelhante, mas é preciso manter os pés no chão. E o grande público nacional
também precisará saber dosar seu apoio ao novo brasileiro na categoria, ficando
consciente de suas limitações de equipamento, não exigindo dele algo que não
pode dar, por agora.
Independente
dos resultados potenciais, Nasr terá a missão obrigatória de se impôr sobre
Ericson, o que não teve ser difícil, em tese. O sueco passou literalmente em
branco pela GP2, enquanto o brasileiro teve chance de vencer corridas e
disputar o título. É verdade que o brasileiro despontou apenas este ano na GP2,
já em sua terceira temporada na categoria, e se não comoveu como se esperava,
pelo menos conseguiu brilhar um pouco, ao contrário do piloto sueco. Diferenças
de escuderia à parte, Marcus não conseguiu efetuar nenhuma atuação de destaque,
garantindo-se apenas pelo seu aporte financeiro do que pelo talento. A se
mantiver o retrospecto, Ericson deve levar um banho de Felipe durante a
temporada. E isso irá contar muito para o currículo do brasileiro, na luta por
melhores lugares, quem sabe já a partir de 2016 mesmo. Se conseguir fazer uma
boa temporada, nada o impediria de ser disputado por um time melhor, onde a
Sauber, se precisar de mais caixa, poderia repassá-lo a alguma escuderia
interessada que pague por tanto.
Em
tese, o Brasil garante presença na F-1 pelo menos por mais duas temporadas.
Mas, e depois? Quem virá em seguida? Pietro Fittipaldi é em tese o nome mais
provável de chegar à categoria em breve. Outro nome de potencial é Pedro
Piquet, campeão da F-3 Brasil deste ano, que deve ir competir na Europa em
2015. Com a categoria máxima passando por dificuldades financeiras, que neste
momento tiraram 2 escuderias e reduziram o número de cockpits a 18, a luta para chegarem F-1
será mais difícil do que nunca. Os anos de ausência de disputa de títulos
reduziram o interesse por nossos representantes, que antes sempre eram vistos
com destaque de bons pilotos. O Brasil está conseguindo sobreviver na F-1, mas
as condições estão ficando mais complicadas: audiência despencando, falta de
empresas patrocinadoras, maior disputa de pilotos de outras nacionalidades, os
desafios de se chegar na F-1 sempre foram grandes e complicados, mas
ultimamente os desafios tem se tornado mais e mais difíceis de serem superados.
Para
tudo melhorar, teríamos que ver um de nossos representantes voltar a disputar o
título da categoria. Mas, a curto prazo, não vejo isso como possível. Felipe
Massa pode até voltar a vencer uma corrida, mas receio que só o conseguirá
fazer ocasionalmente, e diferente de Barrichello, ele não parece comover os
brasileiros tanto quanto o conterrâneo, quando consegue um resultado de destaque.
E Felipe Nasr, por agora, ainda terá um longo caminho a percorrer até estar em
posição de lutar por um título. Mas dá para ter algum otimismo: para uma
perspectiva de pouco tempo atrás onde não teríamos mais pilotos na F-1,
contarmos com dois nomes em 2015 é um sinal de que pode haver esperança e
possibilidade de redenção. Não por títulos ou vitórias frequentes, mas de pelo
menos estabilizarmos melhor nossa participação. Talvez voltemos a nos preocupar
para 2017, mas por agora, ainda seguimos firmes no "circo". Não é
muito, mas é o que temos para comemorar por agora.
Boa
sorte à nossa dupla de Felipes em 2015. E seja bem-vindo finalmente à F-1 como
titular, Felipe Nasr.
Vice-campeão da GP2 este ano, em sua terceira temporada na categoria, Nasr terá dias potencialmente complicados em sua estréia na F-1 pela Sauber em 2015. |
O Brasil não sobrevive na F-1 apenas por seus pilotos, mas também por
nosso GP, que de 1972 para cá se tornou um dos mais tradicionais de todo o
calendário da categoria. E Interlagos passou por boas e importantes reformas
para receber a F-1 este ano, com destaque para o recapeamento do traçado, a
área de escape no "S" do Senna, e a nova entrada de box, muito mais
segura, e que dará aos pilotos uma noção mais exata de por onde adentrar no pit
line, uma vez que a entrada antiga estava situada bem no ponto de tangência da
curva para entrar na reta dos boxes. Mas melhor mesmo foi a decisão de, para
2015, reformar todo o paddock já existente, ampliando-o e modernizando-o, para
adequá-lo às novas exigências da categoria, e descartar a idéia de se construir
toda uma nova estrutura na reta oposta, mudando para ali os boxes e a largada.
Além de mais cara, de certa forma iria descaracterizar o circuito, mudando toda
a sistemática de largada, para um local que não daria as mesmas condições que o
já tradicional ponto na reta dos boxes. Só é uma pena que não se tenha aventado
a restauração do antigo traçado, que poderia ser aproveitado para corridas de
outras categorias, como a endurance, uma vez que traçado atual é pequeno para
este tipo de prova. Mas Interlagos segue firme na F-1, e todo mundo adora vir
correr aqui. Só é uma pena que a paisagem tradicional de São Paulo nas beiradas
desta pista nunca seja das melhores, com algumas favelas ainda existindo aqui
ao lado que há muito já deveriam ter sido melhor urbanizadas e integradas à
cidade. Para não falar da falta de segurança nas imediações, que deixa todo
mundo com o pé atrás na hora de chegar e sair do autódromo. Nesses pontos,
nosso país continua devendo, e muito, aos demais locais onde a F-1 se apresenta
em seu longo campeonato...
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