sexta-feira, 12 de setembro de 2014

LIGUEM SUAS TOMADAS...




Hora de acelerar: o primeiro campeonato mundial de carros elétricos dá a largada neste final de semana, em Pequim, na China.
            O mundo do automobilismo dá um passo ousado neste final de semana: em Pequim, teremos o início do primeiro campeonato de corridas exclusivo para carros elétricos do mundo, com vários times e diversos pilotos lutando para mostrar que a tecnologia dos motores movidos puramente a eletricidade tem tudo para revolucionar o conceito dos motores e ajudar o mundo na luta por um planeta menos poluído e ecologicamente mais viável. O novo torneio é homologado pela FIA, que resolveu assumir com mais afinco o objetivo de tentar recuperar a imagem de "vilão" que os carros e as corridas andaram assumindo, tentando incentivar o desenvolvimento de tecnologias mais limpas para as competições esportivas da carros, um papel que a F-1 já desempenhou no passado, quando várias de suas inovações foram depois implantadas nos carros de rua.
            Um pouco desse passo já foi dado com as novas unidades de potência utilizadas a partir deste ano na Fórmula 1. Os sistemas de recuperação de energia (ERS), aliados às mais recentes tecnologias de motores conseguiram produzir unidades que geram quase a mesma potência das antigas unidades V-8 aspiradas, e os carros estão conseguindo disputar as corridas com praticamente um terço a menos de combustível gasto do que se precisava até o ano passado. Desculpem-me todos aqueles que chiaram - e ainda chiam, com os novos propulsores, especialmente em relação ao barulho produzido por eles, mas a F-1 está no caminho certo, pelo menos no que tange à tecnologia desenvolvida. Imaginem se conseguissem reproduzir no consumo mundial o que se vê hoje na F-1, e o mundo pudesse se movimentar gastando 1/3 a menos de combustível: seria uma economia imensa, com um grau de poluição muito menor do que o atual. Todos ganharíamos, especialmente o meio ambiente, ainda que parte da poluição não seja oriunda dos carros a combustão.
            Os automóveis propiciaram um incremento de desenvolvimento sem igual na sociedade e no mundo. Agora, eles precisam se reinventar, para continuarem a oferecer o bem-estar que tornou-se indispensável para a civilização, assim como deixarem de agredir o planeta como vêm fazendo desde que começaram a ser produzidos em massa. É notório que estamos envenenando nosso mundo mais rápido do que ele consegue por si só reciclar o lixo que produzimos. E os gases produzidos pelos motores a combustão que são usados há mais de um século são a maior fonte de poluição da atmosfera. O uso da tecnologia de motores elétricos tem tudo para, conduzida e desenvolvida adequadamente, permitir que continuemos a desfrutar de todas as benesses dos carros, sem continuarmos poluindo o meio ambiente como ocorre atualmente.
            E, nesse ponto, a nova Formula E é um passo adiante do que passou a ser implantado na F-1 este ano. O novo certame de carros monopostos usará motores 100% elétricos, que terão uma potência, em ritmo de treino, de até 270 HPs. Já no ritmo de corrida, para proporcionar uma maior autonomia, a potência dos mesmos será reduzida para pouco mais de 200 HPs. Os carros foram construídos pela Spark Racing Technology, em parceria com a Dallara, um dos maiores fabricantes mundiais de carros de competição. O suporte técnico será fornecido pelos grupos de desenvolvimento tecnológico da Renault, McLaren e Williams, para a eletrônica dos motores e dos sistemas de baterias que permitirão acumular a energia dos bólidos. A Hewland fornece os câmbios, enquanto os pneus são da Michelin.
            A performance dos carros será de uma capacidade de aceleração de 0 a 100 Km/h em 3s. A velocidade máxima deve ficar na casa dos 225 Km/h. Cada carro terá um peso mínimo de 888 Kg, com piloto incluso. Se levarmos em conta que serão quase 200 Kg mais pesados que um F-1, o desempenho não parece tão ruim, à primeira vista. E ainda é preciso considerar que estes dados são iniciais dos carros, e com o desenvolvimento da tecnologia, a performance e autonomia dos motores poderá evoluir.
            O campeonato terá 10 equipes, com 20 pilotos. E a lista de participantes é bem interessante, mesclando nomes com bom pedigree no mundo das competições a motor. Da Indy Racing League temos a participação dos times de Michael Andretti e Jay Penske. Aliás, a Dragon deixou até de disputar o certame da IRL para se concentrar neste novo campeonato, devido a seus custos menores. Dams e Audi resolveram investir na parada, assim como Jarno Trulli, que depois de deixar a F-1, volta a uma competição de monopostos não apenas como piloto, mas também como dono de equipe. Outro ex-F-1 que está na parada é Aguri Suzuki, que inclusive fará novamente parceria com seu compatriota Takuma Sato. Sato foi piloto do time de Suzuki quando este montou um time "B" da Honda na F-1, e agora estão novamente unidos na aventura dos carros elétricos. No rol dos pilotos com passagem pela F-1 que irão competir no novo campeonato temos também Nick Heidfeld, Jaime Alguerssuari, e Sébastien Buemi, entre outros. E também teremos duas garotas acelerando fundo: Katherine Legge, e Michela Cerruti.
            Visando manter os custos reduzidos, toda a atividade de cada etapa será realizada em um único dia. Haverão dois treinos livre, seguidos de um treino de classificação, e por fim, a corrida. No caso deste fim de semana, por ser o início do campeonato, os times pressionaram para haver um treino extra nesta sexta-feira, a fim de funcionar como "shakedown" dos carros, e tentar prevenir possíveis problemas nos monopostos. Todos os participantes estão empolgados com o campeonato, e acreditam que essa categoria poderá fornecer dados importantes para alavancar sobremaneira a tecnologia dos carros elétricos, que ainda enfrenta diversos problemas para se popularizar, entre eles o elevado custo das baterias, e sua baixa performance. Aliás, as corridas terão um detalhe interessante a ser acompanhado: os pit stops obrigatórios. Cada corrida terá cerca de uma hora de duração, mas a autonomia das baterias dos motores dos carros não permite que eles completem esse tempo sem uma recarga. Então, todos os pilotos terão de fazer uma parada obrigatória em seus boxes, onde irão trocar de carro praticamente. Todo o procedimento será acompanhado por fiscais, para assegurar que todos os detalhes de segurança sejam seguidos sem percalços. E o sistema de pontuação será igual ao da F-1, com duas diferenças: o pole-position ganha 3 pontos extras, enquanto quem fizer a melhor volta em uma corrida ganhará 2 pontos. Pode-se prever que a disputa pela pole ganha um incentivo extra bem interessante. E quem gosta de impressionar nas corridas certamente vai descer o pedal do acelerador com vontade, a fim de obter a volta mais rápida.
            Do calendário anunciado, teremos 10 corridas, sendo que apenas uma delas, em Monte Carlo, deverá utilizar a mesma pista da F-1. Todas as demais provas serão em pistas novas. Mesmo Long Beach será uma novidade, já que a categoria máxima do automobilismo esteve por lá pela última vez em 1983, e a pista não será exatamente a mesma daqueles tempos. Para a prova inaugural neste final de semana, o circuito de Pequim, montado na Vila Olímpica que recebeu as Olimpíadas de 2008, tem um traçado de 3,44 Km, no sentido anti-horário. A prova será disputada em 20 voltas. Depois o campeonato ainda visitará a Malásia, antes de se aventurar pelo restante do mundo com etapas na América do Sul, América do Norte, e Europa. O calendário completo segue abaixo deste texto.
            O Brasil ficou de fora do calendário, e embora ainda haja uma data ainda vaga, dificilmente nosso país ganha essa oportunidade, o que demonstra que andamos por baixo em termos de credibilidade esportiva no automobilismo mundial. Ainda mais quando vemos países como Uruguai e Argentina sediarem etapas. Não que não tenham oferecido oportunidade, mas parece que por aqui o pessoal só anda enxergando mesmo as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, então tudo o mais parece não ter importância. Quem perde somos nós, e não será a primeira vez que isso acontece, o que não deve deixar ninguém surpreso...
Os carros prometem exibir boa velocidade, chegando aos 225 Km/h.
            Se não teremos uma corrida, pelo menos teremos 3 representantes no grid. Lucas Di Grassi, Bruno Senna, e Nelsinho Piquet irão competir no campeonato. Nos testes realizados em Donington Park, Lucas Di Grassi foi nosso representante mais bem colocado, com bons tempos. Mas não dá para apontar favoritismos. Como bem lembrou Bruno Senna, os ajustes para a pista inglesa não serviriam de parâmetro para as etapas do campeonato, então, não podemos esperar que quem andou bem no circuito inglês vá fazer tempos igualmente bons nas pistas.
            Os fãs do esporte a motor que quiserem acompanhar este certame precisam programar seus horários: o canal Fox Sports irá transmitir tanto o treino de classificação quanto a corrida. A definição do grid se dará na madrugada de sexta para sábado, no horário da 1:00 da madrugada, hora de Brasília. A largada da corrida será às 4:30. Vai ser interessante o desenvolvimento deste novo campeonato. O rol de pilotos é de respeito, e deveremos ter boas disputas na pista, se os carros corresponderem a tudo o que se espera. Claro, como tudo é praticamente novo nestes carros, podemos ter alguns problemas pelo caminho. Surpresas poderão acontecer.
            Otimismo à parte, a nova categoria tem um bom desafio pela frente. Com vistas à implantação e afirmação do campeonato, neste primeiro ano os bólidos são fornecidos pelos promotores do evento, e a idéia é que a partir do segundo campeonato, as próprias escuderias passem a trabalhar e desenvolver sozinhas os projetos, visando incrementar suas performances. Por esta razão, neste primeiro campeonato, a FIA procurou tomar as medidas mais adequadas para manter os custos de competição os mais acessíveis possível. Daí o fato de todos os equipamentos serem iguais para todos os times. Cada piloto terá dois carros unicamente pela necessidade de se efetuar a troca para finalizar a corrida, já que as baterias não possuem autonomia suficiente para completarem as corridas, e a recarga de energia durante a prova é totalmente inviável atualmente. Os jogos de pneus à disposição de cada piloto são limitados, e ainda assim, pit stops para troca dos compostos só serão permitidas por questões de segurança, como por exemplo, um pneu furado. Com o mesmo objetivo de conter custos, cada equipe terá no máximo 12 pessoas entre os profissionais que estarão na pista no fim de semana, fora os pilotos.
            No aspecto promocional, a categoria pretende fazer uso mais do que nunca da internet, a rede mundial de computadores, a fim de angariar a maior base de fãs. Facebook, Twitter, e o que mais houver na net irá ser usado para divulgar o campeonato. E um dos usos da internet será dar a possibilidade aos fãs de ajudarem seu piloto favorito: será feita uma votação através do site oficial da competição, no link www.fanboost.fiaformulae.com, e os 3 pilotos mais votados pelos fãs ganharão um "bônus" de 5s de potência "extra" para ser usada durante a corrida. Dos 202,5 HPs disponíveis, poderão usar 243 HPs, que muito provavelmente deverá ser utilizado na realização de alguma ultrapassagem e/ou defesa de posição. Caberá ao piloto, se "premiado" por sua base de fãs, escolher como usar melhor este "presente". Ao abraçar as redes sociais e a internet, a F-E procura evitar os erros cometidos pela direção da F-1, que praticamente ignora a força da rede mundial como aliada de sua promoção e divulgação. O objetivo é atrair e manter a atenção da geração "plugada" dos jovens de hoje.
            O campeonato também tem o desafio de cativar os fãs do automobilismo. Espera-se que possam oferecer boas corridas, de forma a prender a atenção do público, presente nos autódromos montados, bem como nas transmissões da TV. A Fox Sports comprou os direitos de transmissão do campeonato, e promete levar as corridas para nada menos do que 80 países, Brasil incluso. A onda da ecologia é um filão que muitas empresas estão dispostas a explorar, pois sabem que o domínio de tecnologias mais limpas será um grande trunfo para os negócios, pois o público consumidor está cada vez mais consciente e exigente. Por isso, não é de se estranhar a participação de uma empresa como a Audi logo de cara. A marca apresentou há pouco tempo atrás nos protótipos um motor movido a diesel, e atualmente, usa motores híbridos na Endurance, e nada mais natural que estar marcando presença também no primeiro campeonato de carros totalmente elétricos.
            Os planos são de expandir o campeonato, chegando a 16 etapas, e atrair mais grupos dispostos a investir no conceito dos carros ecológicos, ampliando os estudos e desenvolvimento da tecnologia. Outro desafio grande será evitar que a F-E siga o mesmo caminho de outros campeonatos que prometiam bons desafios, mas que definharam após algum tempo, como a A1GP, a Formula Superleague, ou a GP Masters. Para tanto, é preciso que os pilotos marquem participação firme no campeonato, e não vejam o certame como uma competição "tampão", que irão disputar unicamente se não tiverem compromissos em outras competições.
            Ainda é muito cedo para dizer que a F-E irá revolucionar a tecnologia dos carros de competição com seus motores elétricos, mas promete ser interessante. Então, liguem seus motores...ou melhor dizendo: liguem suas tomadas!
Bruno Senna será um dos pilotos brasileiros que disputarão o campeonato, ao lado de Lucas Di Grassi e Nelsinho Piquet.


Confiram o calendário do primeiro campeonato da Fórmula E, bem como a listagem de seus respectivos participantes (sujeita a mudanças de acordo com a etapa):

CALENDÁRIO:

DATA
ETAPA - PAÍS
13.09.2014
Pequim - China
22.09.2014
Putrajaya - Malásia
13.12.2014
Punta Del Este - Uruguai
10.01.2015
Buenos Aires - Argentina
14.02.2015
A definir
14.03.2015
Miami - Estados Unidos
04.04.2015
Long Beach - Estados Unidos
09.05.2015
Monte Carlo - Mônaco
30.05.2015
Berlim - Alemanha
27.06.2015
Londres - Grã-Bretanha

EQUIPES E PILOTOS:

EQUIPE
PILOTOS
Amlin Aguri
Katherine Legge
Takuma Sato
Andretti Formula E
Frank Montagny
Charles Pic
Audi Sport Abt
Lucas Di Grassi
Daniel Abt
China Racing
Nélson Angelo Piquet
Ho-Pin Tung
Dragon Racing
Jerome D'Ambrosio
Oriol Sérvia
E-Dams Renault
Nicolas Prost
Sébastien Buemi
Mahindra Racing
Karun Chandhok
Bruno Senna
Trulli
Jarno Trulli
Michela Cerruti
Venturi
Nick Heidfeld
Stéphane Sarrazin
Virgin Racing
Jaime Alguerssuari
Sam Bird


Além da parceria Takuma Sato/Aguri Suzuki, outra parceria que é retomada pela F-E é entre o indiano Karun Chandhok e o brasileiro Bruno Senna. Ambos foram colegas de equipe pela escuderia Hispania em 2010, quando o time espanhol estreou na F-1. Ambos defenderão a Mahindra Racing, time indiano que competirá no certame dos carros elétricos.
O visual dos carros ficou legal. Que as corridas também sejam, e com boas disputas.


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