Hora de acelerar: o primeiro campeonato mundial de carros elétricos dá a largada neste final de semana, em Pequim, na China. |
O mundo do
automobilismo dá um passo ousado neste final de semana: em Pequim, teremos o
início do primeiro campeonato de corridas exclusivo para carros elétricos do
mundo, com vários times e diversos pilotos lutando para mostrar que a
tecnologia dos motores movidos puramente a eletricidade tem tudo para
revolucionar o conceito dos motores e ajudar o mundo na luta por um planeta
menos poluído e ecologicamente mais viável. O novo torneio é homologado pela FIA,
que resolveu assumir com mais afinco o objetivo de tentar recuperar a imagem de
"vilão" que os carros e as corridas andaram assumindo, tentando
incentivar o desenvolvimento de tecnologias mais limpas para as competições
esportivas da carros, um papel que a F-1 já desempenhou no passado, quando várias
de suas inovações foram depois implantadas nos carros de rua.
Um pouco desse passo
já foi dado com as novas unidades de potência utilizadas a partir deste ano na
Fórmula 1. Os sistemas de recuperação de energia (ERS), aliados às mais
recentes tecnologias de motores conseguiram produzir unidades que geram quase a
mesma potência das antigas unidades V-8 aspiradas, e os carros estão
conseguindo disputar as corridas com praticamente um terço a menos de
combustível gasto do que se precisava até o ano passado. Desculpem-me todos
aqueles que chiaram - e ainda chiam, com os novos propulsores, especialmente em
relação ao barulho produzido por eles, mas a F-1 está no caminho certo, pelo
menos no que tange à tecnologia desenvolvida. Imaginem se conseguissem
reproduzir no consumo mundial o que se vê hoje na F-1, e o mundo pudesse se
movimentar gastando 1/3 a menos de combustível: seria uma economia imensa, com
um grau de poluição muito menor do que o atual. Todos ganharíamos,
especialmente o meio ambiente, ainda que parte da poluição não seja oriunda dos
carros a combustão.
Os automóveis
propiciaram um incremento de desenvolvimento sem igual na sociedade e no mundo.
Agora, eles precisam se reinventar, para continuarem a oferecer o bem-estar que
tornou-se indispensável para a civilização, assim como deixarem de agredir o
planeta como vêm fazendo desde que começaram a ser produzidos em massa. É notório
que estamos envenenando nosso mundo mais rápido do que ele consegue por si só
reciclar o lixo que produzimos. E os gases produzidos pelos motores a combustão
que são usados há mais de um século são a maior fonte de poluição da atmosfera.
O uso da tecnologia de motores elétricos tem tudo para, conduzida e
desenvolvida adequadamente, permitir que continuemos a desfrutar de todas as
benesses dos carros, sem continuarmos poluindo o meio ambiente como ocorre
atualmente.
E, nesse ponto, a nova
Formula E é um passo adiante do que passou a ser implantado na F-1 este ano. O novo
certame de carros monopostos usará motores 100% elétricos, que terão uma
potência, em ritmo de treino, de até 270 HPs. Já no ritmo de corrida, para
proporcionar uma maior autonomia, a potência dos mesmos será reduzida para
pouco mais de 200 HPs. Os carros foram construídos pela Spark Racing
Technology, em parceria com a Dallara, um dos maiores fabricantes mundiais de
carros de competição. O suporte técnico será fornecido pelos grupos de desenvolvimento
tecnológico da Renault, McLaren e Williams, para a eletrônica dos motores e dos
sistemas de baterias que permitirão acumular a energia dos bólidos. A Hewland
fornece os câmbios, enquanto os pneus são da Michelin.
A performance dos
carros será de uma capacidade de aceleração de 0 a 100 Km/h em 3s. A
velocidade máxima deve ficar na casa dos 225 Km/h. Cada carro terá
um peso mínimo de 888 Kg,
com piloto incluso. Se levarmos em conta que serão quase 200 Kg mais pesados que um
F-1, o desempenho não parece tão ruim, à primeira vista. E ainda é preciso
considerar que estes dados são iniciais dos carros, e com o desenvolvimento da
tecnologia, a performance e autonomia dos motores poderá evoluir.
O campeonato terá 10
equipes, com 20 pilotos. E a lista de participantes é bem interessante,
mesclando nomes com bom pedigree no mundo das competições a motor. Da Indy
Racing League temos a participação dos times de Michael Andretti e Jay Penske.
Aliás, a Dragon deixou até de disputar o certame da IRL para se concentrar
neste novo campeonato, devido a seus custos menores. Dams e Audi resolveram
investir na parada, assim como Jarno Trulli, que depois de deixar a F-1, volta
a uma competição de monopostos não apenas como piloto, mas também como dono de
equipe. Outro ex-F-1 que está na parada é Aguri Suzuki, que inclusive fará
novamente parceria com seu compatriota Takuma Sato. Sato foi piloto do time de
Suzuki quando este montou um time "B" da Honda na F-1, e agora estão
novamente unidos na aventura dos carros elétricos. No rol dos pilotos com
passagem pela F-1 que irão competir no novo campeonato temos também Nick
Heidfeld, Jaime Alguerssuari, e Sébastien Buemi, entre outros. E também teremos
duas garotas acelerando fundo: Katherine Legge, e Michela Cerruti.
Visando manter os
custos reduzidos, toda a atividade de cada etapa será realizada em um único
dia. Haverão dois treinos livre, seguidos de um treino de classificação, e por
fim, a corrida. No caso deste fim de semana, por ser o início do campeonato, os
times pressionaram para haver um treino extra nesta sexta-feira, a fim de
funcionar como "shakedown" dos carros, e tentar prevenir possíveis
problemas nos monopostos. Todos os participantes estão empolgados com o
campeonato, e acreditam que essa categoria poderá fornecer dados importantes
para alavancar sobremaneira a tecnologia dos carros elétricos, que ainda
enfrenta diversos problemas para se popularizar, entre eles o elevado custo das
baterias, e sua baixa performance. Aliás, as corridas terão um detalhe
interessante a ser acompanhado: os pit stops obrigatórios. Cada corrida terá
cerca de uma hora de duração, mas a autonomia das baterias dos motores dos
carros não permite que eles completem esse tempo sem uma recarga. Então, todos
os pilotos terão de fazer uma parada obrigatória em seus boxes, onde irão
trocar de carro praticamente. Todo o procedimento será acompanhado por fiscais,
para assegurar que todos os detalhes de segurança sejam seguidos sem percalços.
E o sistema de pontuação será igual ao da F-1, com duas diferenças: o
pole-position ganha 3 pontos extras, enquanto quem fizer a melhor volta em uma
corrida ganhará 2 pontos. Pode-se prever que a disputa pela pole ganha um
incentivo extra bem interessante. E quem gosta de impressionar nas corridas
certamente vai descer o pedal do acelerador com vontade, a fim de obter a volta
mais rápida.
Do calendário
anunciado, teremos 10 corridas, sendo que apenas uma delas, em Monte Carlo, deverá
utilizar a mesma pista da F-1. Todas as demais provas serão em pistas novas.
Mesmo Long Beach será uma novidade, já que a categoria máxima do automobilismo
esteve por lá pela última vez em 1983, e a pista não será exatamente a mesma
daqueles tempos. Para a prova inaugural neste final de semana, o circuito de
Pequim, montado na Vila Olímpica que recebeu as Olimpíadas de 2008, tem um
traçado de 3,44 Km,
no sentido anti-horário. A prova será disputada em 20 voltas. Depois o
campeonato ainda visitará a Malásia, antes de se aventurar pelo restante do
mundo com etapas na América do Sul, América do Norte, e Europa. O calendário
completo segue abaixo deste texto.
O Brasil ficou de fora
do calendário, e embora ainda haja uma data ainda vaga, dificilmente nosso país
ganha essa oportunidade, o que demonstra que andamos por baixo em termos de
credibilidade esportiva no automobilismo mundial. Ainda mais quando vemos
países como Uruguai e Argentina sediarem etapas. Não que não tenham oferecido
oportunidade, mas parece que por aqui o pessoal só anda enxergando mesmo as
Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, então tudo o mais parece não ter
importância. Quem perde somos nós, e não será a primeira vez que isso acontece,
o que não deve deixar ninguém surpreso...
Os carros prometem exibir boa velocidade, chegando aos 225 Km/h. |
Se não teremos uma
corrida, pelo menos teremos 3 representantes no grid. Lucas Di Grassi, Bruno
Senna, e Nelsinho Piquet irão competir no campeonato. Nos testes realizados em
Donington Park, Lucas Di Grassi foi nosso representante mais bem colocado, com
bons tempos. Mas não dá para apontar favoritismos. Como bem lembrou Bruno
Senna, os ajustes para a pista inglesa não serviriam de parâmetro para as etapas
do campeonato, então, não podemos esperar que quem andou bem no circuito inglês
vá fazer tempos igualmente bons nas pistas.
Os fãs do esporte a
motor que quiserem acompanhar este certame precisam programar seus horários: o
canal Fox Sports irá transmitir tanto o treino de classificação quanto a
corrida. A definição do grid se dará na madrugada de sexta para sábado, no
horário da 1:00 da madrugada, hora de Brasília. A largada da corrida será às
4:30. Vai ser interessante o desenvolvimento deste novo campeonato. O rol de
pilotos é de respeito, e deveremos ter boas disputas na pista, se os carros
corresponderem a tudo o que se espera. Claro, como tudo é praticamente novo
nestes carros, podemos ter alguns problemas pelo caminho. Surpresas poderão
acontecer.
Otimismo à parte, a
nova categoria tem um bom desafio pela frente. Com vistas à implantação e
afirmação do campeonato, neste primeiro ano os bólidos são fornecidos pelos
promotores do evento, e a idéia é que a partir do segundo campeonato, as próprias
escuderias passem a trabalhar e desenvolver sozinhas os projetos, visando
incrementar suas performances. Por esta razão, neste primeiro campeonato, a FIA
procurou tomar as medidas mais adequadas para manter os custos de competição os
mais acessíveis possível. Daí o fato de todos os equipamentos serem iguais para
todos os times. Cada piloto terá dois carros unicamente pela necessidade de se
efetuar a troca para finalizar a corrida, já que as baterias não possuem
autonomia suficiente para completarem as corridas, e a recarga de energia
durante a prova é totalmente inviável atualmente. Os jogos de pneus à disposição
de cada piloto são limitados, e ainda assim, pit stops para troca dos compostos
só serão permitidas por questões de segurança, como por exemplo, um pneu
furado. Com o mesmo objetivo de conter custos, cada equipe terá no máximo 12
pessoas entre os profissionais que estarão na pista no fim de semana, fora os
pilotos.
No aspecto
promocional, a categoria pretende fazer uso mais do que nunca da internet, a
rede mundial de computadores, a fim de angariar a maior base de fãs. Facebook,
Twitter, e o que mais houver na net irá ser usado para divulgar o campeonato. E
um dos usos da internet será dar a possibilidade aos fãs de ajudarem seu piloto
favorito: será feita uma votação através do site oficial da competição, no link
www.fanboost.fiaformulae.com, e os 3 pilotos mais votados pelos fãs
ganharão um "bônus" de 5s de potência "extra" para ser
usada durante a corrida. Dos 202,5 HPs disponíveis, poderão usar 243 HPs, que
muito provavelmente deverá ser utilizado na realização de alguma ultrapassagem
e/ou defesa de posição. Caberá ao piloto, se "premiado" por sua base
de fãs, escolher como usar melhor este "presente". Ao abraçar as
redes sociais e a internet, a F-E procura evitar os erros cometidos pela direção
da F-1, que praticamente ignora a força da rede mundial como aliada de sua
promoção e divulgação. O objetivo é atrair e manter a atenção da geração
"plugada" dos jovens de hoje.
O campeonato também
tem o desafio de cativar os fãs do automobilismo. Espera-se que possam oferecer
boas corridas, de forma a prender a atenção do público, presente nos autódromos
montados, bem como nas transmissões da TV. A Fox Sports comprou os direitos de
transmissão do campeonato, e promete levar as corridas para nada menos do que
80 países, Brasil incluso. A onda da ecologia é um filão que muitas empresas
estão dispostas a explorar, pois sabem que o domínio de tecnologias mais limpas
será um grande trunfo para os negócios, pois o público consumidor está cada vez
mais consciente e exigente. Por isso, não é de se estranhar a participação de
uma empresa como a Audi logo de cara. A marca apresentou há pouco tempo atrás
nos protótipos um motor movido a diesel, e atualmente, usa motores híbridos na
Endurance, e nada mais natural que estar marcando presença também no primeiro
campeonato de carros totalmente elétricos.
Os planos são de
expandir o campeonato, chegando a 16 etapas, e atrair mais grupos dispostos a
investir no conceito dos carros ecológicos, ampliando os estudos e
desenvolvimento da tecnologia. Outro desafio grande será evitar que a F-E siga
o mesmo caminho de outros campeonatos que prometiam bons desafios, mas que
definharam após algum tempo, como a A1GP, a Formula Superleague, ou a GP
Masters. Para tanto, é preciso que os pilotos marquem participação firme no
campeonato, e não vejam o certame como uma competição "tampão", que
irão disputar unicamente se não tiverem compromissos em outras competições.
Ainda é muito cedo
para dizer que a F-E irá revolucionar a tecnologia dos carros de competição com
seus motores elétricos, mas promete ser interessante. Então, liguem seus
motores...ou melhor dizendo: liguem suas tomadas!
Bruno Senna será um dos pilotos brasileiros que disputarão o campeonato, ao lado de Lucas Di Grassi e Nelsinho Piquet. |
Confiram o calendário do primeiro
campeonato da Fórmula E, bem como a listagem de seus respectivos participantes
(sujeita a mudanças de acordo com a etapa):
CALENDÁRIO:
DATA
|
ETAPA
- PAÍS
|
13.09.2014
|
Pequim
- China
|
22.09.2014
|
Putrajaya
- Malásia
|
13.12.2014
|
Punta
Del Este - Uruguai
|
10.01.2015
|
Buenos
Aires - Argentina
|
14.02.2015
|
A
definir
|
14.03.2015
|
Miami
- Estados Unidos
|
04.04.2015
|
Long
Beach - Estados Unidos
|
09.05.2015
|
Monte
Carlo - Mônaco
|
30.05.2015
|
Berlim
- Alemanha
|
27.06.2015
|
Londres
- Grã-Bretanha
|
EQUIPES E PILOTOS:
EQUIPE
|
PILOTOS
|
Amlin Aguri
|
Katherine Legge
Takuma Sato
|
Andretti Formula E
|
Frank Montagny
Charles Pic
|
Audi Sport Abt
|
Lucas Di Grassi
Daniel Abt
|
China Racing
|
Nélson Angelo Piquet
Ho-Pin Tung
|
Dragon Racing
|
Jerome D'Ambrosio
Oriol Sérvia
|
E-Dams Renault
|
Nicolas Prost
Sébastien Buemi
|
Mahindra Racing
|
Karun Chandhok
Bruno Senna
|
Trulli
|
Jarno Trulli
Michela Cerruti
|
Venturi
|
Nick Heidfeld
Stéphane Sarrazin
|
Virgin Racing
|
Jaime Alguerssuari
Sam Bird
|
Além da parceria Takuma
Sato/Aguri Suzuki, outra parceria que é retomada pela F-E é entre o indiano
Karun Chandhok e o brasileiro Bruno Senna. Ambos foram colegas de equipe pela
escuderia Hispania em 2010, quando o time espanhol estreou na F-1. Ambos
defenderão a Mahindra Racing, time indiano que competirá no certame dos carros
elétricos.
O visual dos carros ficou legal. Que as corridas também sejam, e com boas disputas. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário