Voltando
com a seção Arquivo, trago hoje minha coluna do dia 28 de fevereiro de 1997,
onde o assunto em pauta era a maratona que é cobrir um campeonato mundial, e as
peripécias que jornalistas passam para levar a notícia das provas até os
leitores do mundo todo. Logicamente a tecnologia mudou muito nestes últimos
tempos, e hoje a internet é tanto uma aliada quanto uma dor de cabeça: se por
um lado tornou-se mais prático e rápido enviar arquivos para qualquer parte do
mundo, a difusão de notícias a torto e a direito, muitas vezes sem comprovação
de confirmação, ajudam a espalhar muita coisa que não tem credibilidade. A
informação ficou mais democrática, e em diversos lugares, a net hoje ajuda
muitos a conseguirem também as notícias que dificilmente seriam viáveis por
outros meios.
Mas
o trabalho, tanto naqueles tempos quanto hoje em dia, continua duro e por
vezes, tremendamente complicado. A F-1 também ficou muito mais insossa e cheia
de mimimis, e isso também se reflete no contato dos profissionais do meio com a
imprensa. No campo técnico, houve grandes melhorias, já no humano, a situação é
bem mais difícil, pra não falar de certas burocracias, um monstro que o homem
inventou que sempre parece crescer cada vez mais. Fiquem agora com o texto, e
boa leitura. Em breve, tem mais textos antigos por aqui...
A MARATONA DO MUNDIAL
Está
para começar mais um Campeonato Mundial de Fórmula 1. Um campeonato cansativo e
duro para pilotos e equipes. Mas não são apenas eles que dão duro no trabalho
durante todas as etapas do certame. Para a imprensa, a parada também é dura e
desgastante. Como é um campeonato mundial, é hora de pôr o pé na estrada e
partir para os mais variados lugares do planeta. A primeira parada é em
Melbourne, na Austrália, onde teremos a prova inicial do campeonato. Além da
viagem, é preciso reservar tudo com antecedência: passagens, reservas em
hotéis, acertar os detalhes das credenciais, vistos e passaportes, etc. Deixar
para fazer isso no último momento significa muitas dores de cabeça e perda de
tempo com a burocracia, que não é pouca.
Para
a imprensa especializada, o problema das credenciais é mais fácil de ser
resolvido, mas mesmo assim a papelada cansa muita gente. São diversos
documentos a serem assinados até conseguir a credencial para entrar na área dos
boxes e demais dependências restritas dos autódromos. Uma vez resolvida a
questão de toda a burocracia esportiva, é hora de arregaçar as mangas e partir
para o trabalho.
E
tome trabalho. O ritmo dos repórteres muitas vezes tem de acompanhar os eventos
na mesma velocidade com que um carro de F-1 percorre o traçado dos circuitos.
Cobrir um Grande Prêmio não se resume a ficar na sala de imprensa assistindo o
movimento e recebendo as cronometragens dos carros. É preciso sair a campo e
garimpar os acontecimentos, o que nem sempre é fácil. No fechado círculo da F-1
hoje em dia ninguém se abre com ninguém, a não ser que seja de total confiança,
e também é preciso faro para encontrar a verdade, nem sempre aberta, mas
escondida nas entrelinhas de comunicados, entrevistas e declarações. Isso sem falar
na boataria que corre solta nos bastidores de cada corrida, com informações que
vão das mais elaboradas hipóteses até as mais absurdas e inverossímeis.
Cada
fim de semana de GP é feito em ritmo de trabalho praticamente integral. Os
acontecimentos não se restringem somente ao que ocorre na pista, mas também aos
eventos sociais que são promovidos durante a semana de realização do GP. Todos
têm de ser acompanhados com atenção tanto quanto possível. E geralmente sempre
acontece algo de interessante nestas ocasiões.
O
trabalho também varia. De acordo com o profissional, ele pode atuar em várias
áreas, distintas ou comuns. Há fotógrafos, jornalistas e repórteres trabalhando
todos ao mesmo tempo. Fotógrafos têm de escolher os melhores locais para se
posicionarem e obter as melhores imagens da corrida. Repórteres relatam os
eventos em textos. E
há quem relate os eventos e fotografe também, o que significa muito mais
trabalho. E os prazos urgem nesse ramo.
Para
quem trabalha em jornal, o prazo é curto. Todo o material tem de estar pronto
para ser publicado na edição do dia seguinte, e a matéria tem de ser entregue
até a hora de se fechar a edição. Quando se trata de revistas especializadas, o
prazo é um pouco maior, e permite relacionar melhor os eventos e diagramar
melhor os fatos. Mas mesmo assim o ritmo de trabalho é bem puxado.
É
inegável que hoje as condições de trabalho são infinitamente melhores do que há
muitos anos atrás. As salas de imprensa nos autódromos são equipadas com
dispositivos de ponta em comunicação: faxes, fotocopiadoras, computadores, etc,
todos permitindo ligações on-line, via satélite, com as redações, seja em qual
parte do mundo estiverem. No caso do pessoal da TV, as coisas também ficaram
mais fáceis, com inúmeros equipamentos que permitem melhores qualidades de
reportagem com o mínimo de estorvo e desconforto. Para os fotógrafos, nada a
preocupar: desde há inúmeros GPs, a FOTA (Associação dos Fotógrafos de Grandes
Prêmios) garante em cada GP
a provisão de um laboratório digital para revelação fotográfica, ao mesmo tempo
que garante fornecimento de materiais fotográficos aos profissionais. Se isso
facilita o trabalho da imprensa especializada, por outro lado também ajuda a
aumentar o grau de exigência do profissional, que por ter mais tempo
disponível, teoricamente deve conseguir mais notícias, uma vez que antigamente,
o tempo dispendido na transmissão das matérias era muito maior do que nos dias
de hoje.
Esta
é a maratona vivida pela imprensa em
cada GP da F-1. É um trabalho árduo e exigente, tal como o
dos pilotos e suas equipes. Mas é um trabalho realizado por gente que ama o
automobilismo, em sua maioria. Geralmente o profissional de imprensa é um
aficcionado pelo automobilismo. E esta paixão pelo meio ajuda sobretudo a
enfrentar as dificuldades da profissão com paciência e dedicação.
Vai começar o círculo da velocidade: neste domingo, às 15h30 (hora de
Brasília), a F-CART dá a largada para o seu campeonato de 1997, no circuito de
Homestead, em Miami, na Flórida. Depois dos inúmeros testes desde o fim do
último campeonato, só há uma certeza: a equipe Ganassi ainda será o time a ser
batido. Alessandro Zanardi e Jimmy Vasser largam como favoritos para a
conquista do título deste ano, com especial destaque para o piloto italiano,
que deixou todos para trás nos testes de Laguna Seca, há cerca de duas semanas.
Verdade ou não, a concorrência está disposta a acabar com o favoritismo da
Ganassi. E candidatos não faltam para a briga: Maurício Gugelmim, Michael
Andretti, Christian Fittipaldi, Al Unser Jr., Paul Tracy, Bobby Rahal, André
Ribeiro, Gil de Ferran, etc. Da brigada brasileira, as melhores fichas estão
com Maurício Gugelmim. André Ribeiro e Gil de Ferran ainda não conseguiram
acertar a fundo seus novos carros 97. Já Christian Fittipaldi confia no
potencial do novo chassi Swift, cuja performance, apesar dos bons tempos
obtidos até aqui na pré-temporada, ainda é uma incógnita. Enquanto isso,
Roberto Moreno tenta um ano melhor do que o de 96, contando com um equipamento
de melhor nível; e Guálter Salles tentará fazer o possível com o carro de 96,
já que a equipe Davis não conseguiu receber o chassi 97 da Reynard, o que pode
comprometer boa parte da performance que era esperada pela mais nova fera
brasileira no circo. A transmissão para o Brasil será feita pela TVS/SBT. A
narração fica por conta de Téo José, com reportagens de Luiz Carlos Azenha, e
comentários de Dedê Gomes. Para este ano, as cotas publicitárias da F-CART na
TVS/SBT foram adquiridas pela Philco, Brahma, Ford e Texaco. E, só para
constar, a emissora está anunciando o campeonato da categoria como “CART –
FÓRMULA MUNDIAL”. Vai ser dada a largada! É hora de acelerar os motores e
começar a torcida. Que venha a bandeira verde...
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