A DHL divulgou esta bela imagem comemorando os 50 anos da McLaren, com alguns de seus carros e pilotos mais célebres, além, claro, da figura de seu fundador, Bruce McLaren. |
O
circo da Fórmula 1 prepara-se para disputar a última corrida em solo europeu, e
num dos circuitos mais idolatrados pelos fãs: Monza. Aqui, sente-se mais do que
nunca, ao lado de Silverstone e de Mônaco, a alegria contagiante dos fãs pelo
automobilismo, como já não se sente tanto em outras etapas mundo afora. Mas,
enquanto aguardo o início dos treinos oficiais, é preciso comemorar uma data
nesta semana, e que tem importância para muitos dos fãs do esporte a motor: há
exatos 50 anos, no último dia 2 de setembro, um jovem neozelandês chamado Bruce
Leslie McLaren fundava a equipe de competições que levaria seu sobrenome, e que
segue firme até hoje na F-1, tendo se transformado também em um grande centro
de produção de tecnologia, e uma das equipes mais vitoriosas de toda a história
da categoria máxima do automobilismo.
Fundada
inicialmente com o nome de "Bruce McLaren Motor Racing Limited", a
nova equipe de competição foi criada por Bruce McLaren em parceria com Teddy Mayer
em setembro de 1963, e sua primeira competição foi o Torneio da Tasmânia de
1964, tendo disputado sua primeira corrida em 4 de janeiro daquele ano, na
pista de Levin, na Nova Zelândia. E fizeram bonito na primeira prova, ao
conquistarem o 2° e 3° lugares, perdendo apenas para Dennis Hulme, pilotando um
Brabham. O início foi coroado pelo título ganho já no primeiro torneio
disputado pela equipe, mas não foi uma comemoração completa: Timmy Mayer, irmão
mais novo de Teddy, e piloto do time, morreu em um acidente sofrido nos treinos
da última corrida do torneio.
Com
Bruce McLaren ainda pilotando para a equipe Cooper na F-1, os dois primeiros
anos de vida da escuderia foram devotados à criação e preparação de carros para
outras categorias, mas em fins de 1965, Bruce deixou a Cooper e em 1966,
alinharia no grid da F-1 com seu próprio carro, seguindo o exemplo de Jack
Brabham, que de piloto também havia se tornado construtor. Enquanto o time
iniciava sua jornada para marcar posição na categoria máxima do automobilismo,
o carro projetado para o campeonato Can-Am nos Estados Unidos redimia o time de
seus parcos resultados na F-1: foram campeões por 5 anos consecutivos, de 1966 a 1970.
Aos
poucos, a McLaren ia se estabelecendo na F-1, e em 1968, Bruce venceu sua
primeira - e única, corrida pilotando seu próprio carro. Foi em
Spa-Francorchamps, na Bélgica. Dennis Hulme ainda venceria mais duas provas
naquele ano, e a McLaren seria vice-campeã de construtores, com 51 pontos,
perdendo apenas para a Lotus. O time seguia no rumo certo para se tornar um
nome forte na categoria, mesmo tendo ficado apenas em 4° no ano seguinte, com
40 pontos, perdendo para a Matra, Brabham e Lotus, mas superando nomes como
Ferrari e BRM. Em 1970, porém, um golpe terrível quase acabou com o time: a
morte de Bruce McLaren nos testes de um protótipo M8D para a Can-Am em Goodwood
em um violento acidente. Com apenas 32 anos de idade, Bruce deixou a vida e a
F-1 ostentando 100 provas disputadas na F-1, com 196,5 pontos conquistados, com
4 vitórias e 27 pódios no currículo. Se seus números foram modestos na
categoria, a equipe que criou seria seu maior legado para a história do esporte
a motor. Mas foi um caminho difícil a ser percorrido após sua morte.
Teddy
Mayer, que já tivera o desprazer de ver seu próprio irmão morrer, agora havia
perdido o seu melhor amigo. E como co-fundador da escuderia, cabia a ele manter
o time de pé, e ele o fez. Foi um período de mudanças na F-1: os times
começavam a estampar patrocínios nos carros, uma nova fonte de recursos, e a
McLaren também se iniciava nesta nova era, a princípio ostentando a marca
Yardley em seus carros. Em 1973,
a McLaren angariava dois grandes trunfos para 1974: o
patrocínio da Phillip Morris, e os serviços de Émerson Fittipaldi, que com o
abandono de Jackie Stewart, tornava-se o maior astro da F-1. A parceria daria à McLaren
seu primeiro título de construtores e de pilotos, com Émerson a faturar o
bicampeonato em 1974. O brasileiro ainda seria vice-campeão em 1975, e no ano
seguinte passaria a defender a Copersucar, tendo seu lugar no time inglês
ocupado por James Hunt. E Hunt mostrou-se naquele ano um sucessor à altura de
Fittipaldi, conquistando o título de pilotos. Ao mesmo tempo, os modelos
McLaren venceram as 500
Milhas de Indianápolis em 1974, 1975, e 1976, um feito
invejável, sem sombra de dúvidas.
Passada
a bonança, entretanto, a McLaren iniciaria um período de ostracismo, com poucos
resultados de monta nos anos seguintes. A situação só mudaria a partir de 1980,
quando o time de F-1 se fundiria com a Projetc Four, de um inglês determinado
chamado Ron Dennis. A fusão deu início à McLaren International, que foi sendo
totalmente reestruturada. Com a chegada de Mansour Ojeh e o grupo TAG, Teddy
Mayer decidiu sair, ficando Ron Dennis a partir de então no comando da
escuderia, que aos poucos foi reescalando o pelotão, com a contratação da
Porshe para a criação de um motor turbo, e trazendo Niki Lauda de volta à F-1,
ao lado de Alain Prost. Com os novos modelos MP4, projetados pelo novo mago das
pranchetas, John Barnard, a McLaren venceu os campeonatos de 1984
(tricampeonato de Niki Lauda), e 1985 e 1986 (bicampeonato de Alain Prost.
A
chegada de Ron Dennis transformou completamente a McLaren, e não apenas no
nome. Obcecado pelo sucesso, Ron impôs novas normas de trabalho na escuderia,
além de reformular todo o modus operandi da escuderia. A parceria com o grupo
TAG providenciou os recursos necessários para tanto, e o sucesso dos novos
chassis MP4, projetados por John Barnard, se tornaram os modelos a serem seguidos
pela categoria. Tudo isso e um motor turbo competitivo trazendo o logo da
Porshe, e os 3 títulos consecutivos ganhos de 84 a 86 mostravam a McLaren
mais forte do que nunca, para desespero dos concorrentes, mas eles nem
imaginavam o que ainda viria pela frente.
Em
1988, na nova parceria com a Honda, e a nova estrela Ayrton Senna, a McLaren
continuaria esmagando a concorrência, sendo campeã em 1988, 1990, e 1991, com o
brasileiro; e em 1989 com Prost, em um ritmo ainda mais implacável do que o
visto na primeira metade da década de 1980. Mas a concorrência se acirrava, e a
Williams, que já havia vencido o campeonato em 1987, voltava a dominar em 1992
e 1993. A
equipe de Woking passou a perder seus principais trunfos: saiu a Honda ao fim
de 92, e Senna foi-se embora a partir de 1994. Uma nova associação com a
Peugeot para fornecimento de motores foi interrompida por impaciência de Ron
Dennis com os resultados, e a partir de 1995, o time passou a competir com
motores da Mercedes, marca que equipa os monopostos do time até hoje, e
garantidos para 2014, que resultará em 20 anos usando a mesma fornecedora, uma
marca para se respeitar.
Depois
de enfrentar poucos resultados em 1994, 1995, e 1996, o time voltou a vencer em
1997, e em 1998, voltaria a ser campeão do mundo, com o finlandês Mika
Hakkinem, que conquistaria o bicampeonato em 1999. De 2000 a 2004, a McLaren, apesar de
resistir, sucumbiu à hegemonia de Michael Schumacher e a Ferrari. Apenas em 2007 a escuderia seria o
time a ser batido, mas a disputa interna entre Fernando Alonso e a nova estrela
do time, Lewis Hamilton, acabaram por entregar o título à Ferrari com Kimmi
Raikkonem. Outro ponto extremamente negativo nesta temporada foi o escândalo de
espionagem descoberto por parte da Ferrari, que teve dados confidenciais
repassados por um de seus funcionários ao time inglês. A McLaren tomou a maior
multa da história, US$ 100 milhões, além de ter sido excluída do mundial de
construtores. Algo para se envergonhar realmente.
Em
2008, o time conquistaria o campeonato com Lewis Hamilton, naquele que foi a
última conquista da equipe em um campeonato de pilotos. O título de
construtores ficou com a Ferrari. De lá para cá, a McLaren continuou mostrando
excelentes resultados, mas sem chegar à decidir mais um título. A Red Bull
passou a ser a força dominante na categoria, e o melhor resultado foi o
vice-campeonato de Jenson Button em 2011, num ano em que o time dos energéticos
arrasou a concorrência com Sebastian Vettel.
É
verdade que a McLaren nos últimos anos não conseguir se firmar a fundo na luta
pelo título, mas a escuderia continuou produzindo carros vencedores. À exceção
desde ano, quando o time produziu um carro ruim, que se mostrou incapaz até de
lutar por posições no pódio, a escuderia sediada em Woking sempre foi um padrão
de excelência ímpar na F-1. Ron Dennis, hoje afastado da direção do time,
cuidando dos negócios do grupo McLaren, transformou o que era apenas um time de
F-1 em uma potência tecnológica, tendo até produzido carros esporte na década
retrasada, em uma parceria com a BMW, quando visava tornar-se uma rival para a
Ferrari no segmento de carros esportivos. O centro tecnológico construído em
Woking, ao lado da sede da escuderia de F-1, é impressionante, e a busca pela
excelência de qualidade em todos os aspectos está presente em todos os cantos.
Na
competição, a McLaren também ofereceu aos fãs da velocidade alguns belos e
disputados duelos entre seus pilotos na F-1. O primeiro embate titânico ocorreu
entre Niki Lauda e Alain Prost pelo título de 1984, ganho pelo austríaco. Nova
batalha seria vista em 1988 e 1989, quando Alain Prost e Ayrton Senna
digladiaram-se por todo o campeonato, com um título para cada um, em uma
disputa que viraria guerra declarada entre ambos os pilotos, não apenas dentro
mas também fora da pista. E ainda apresentaria mais um duelo, em 2007, entre a
estrela Fernando Alonso e o novato sensação Lewis Hamilton, que incendiou o
campeonato daquele ano como há tempos não se via. Poucos times de ponta
permitiram duelos tão abertos entre seus pilotos na luta pelo título. Sorte dos
fãs da velocidade, que respeitam esse imenso desafio que a McLaren permitiu
existir, mesmo que tenha colhido dissabores em muitos momentos por causa disso.
Para
os brasileiros, a McLaren colheu 4 títulos com nossos pilotos: o tricampeonato
de Ayrton Senna, e o segundo título de Émerson Fittipaldi, nossos únicos
pilotos a guiarem para a escuderia, e que com isso criou grande legião de
torcedores no Brasil inteiro, que até hoje cultuam a imagem de Senna ao carro vermelho
e branco que na época tinha as cores da Marlboro, parceria que também havia na
época de Émerson Fittipaldi. Aliás, a parceria McLaren/Marlboro durou nada
menos do que 23 anos, de 1974
a 1996, um dos mais longevos patrocínios da história do
esporte a motor.
Hoje,
a McLaren segue forte como escuderia, mesmo com os fracos resultados, e pilotos
que não ostentam o mesmo nível das maiores estrelas de sua história. E mira
firme o futuro: em 2014, espera reerguer-se com o novo regulamento técnico e a
adoção dos novos motores turbo. E para 2015, iniciará uma nova parceria com a
Honda, que espera-se, seja tão produtiva quanto a primeira, de 1988 a 1992.
Estivesse
vivo, Bruce McLaren poderia ter orgulho do que sua pequena escuderia de
competição se tornou. Todos os torcedores da equipe que levam seu nome
certamente têm. E certamente, até muitos torcedores rivais, em respeito às
conquistas que a McLaren tem em sua história de completos 50 anos de
existência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário