Propaganda da Temporada da IRL 2013 antes do início do campeonato. Euforia que só durava até a primeira etapa na TV aberta.... Agora, a Bandeirantes puxa o carro totalmente. |
Depois
do anúncio contundente (para nós, brasileiros), de que Felipe Massa não mais
correrá pela Ferrari em 2014, e ficarmos na expectativa de não termos mais
nenhum representante na categoria máxima do automobilismo na próxima temporada,
visto que o destino de Felipe para o próximo ano ainda é totalmente incerto
quanto às possibilidades de achar um lugar decente para competir na F-1, existe
outro terremoto de acontecimentos ocorrendo aqui mesmo no Brasil, e aproveito
para comentar agora este outro assunto.
Este
outro assunto a que me refiro, e que também está dando muita margem a
especulação e o que irá acontecer de fato, é sobre o destino da Indy Racing
League no Brasil. A Rede Bandeirantes, que transmite o campeonato de monopostos
americano para nosso país, e é parceira na realização, junto com a Prefeitura
Municipal de São Paulo, da etapa brasileira do campeonato, estaria desistindo
de transmitir não apenas a categoria, mas também de realizar a prova
brasileira.
A
emissora do Morumbi passa por dificuldades financeiras, e recentemente, demitiu
vários profissionais em seu quadro, com números que chegam a cerca de 10% do
seu total de funcionários. Internamente, a ordem seria cancelar também todos os
programas que não tenham suporte financeiro completo de patrocínio, e dentro
dessa diretiva, a emissora também iria desistir de transmitir certos eventos
que não tivessem uma boa relação custo/audiência. E a IRL seria uma destas
vítimas. Comenta-se que a Bandeirantes já teria recusado renovar seu contrato
para transmitir a competição em 2014. E, por tabela, também sairia por completo
da organização da etapa brasileira, que há 4 anos está presente no calendário,
apesar de a mesma ter sido renovada para ser realizada praticamente até o fim da
presente década.
A
confirmar este cenário, pode-se dizer que a IRL praticamente implodiria no
Brasil, e os fãs do automobilismo ficariam apenas com a F-1 como opção de
competição na TV aberta, no quesito monopostos. Num momento em que um
brasileiro, Hélio Castro Neves, lidera a competição, e tem boas chances de conquistar o título, e
nosso outro representante na competição, Tony Kanaan, conseguiu vencer este ano
as 500 Milhas
de Indianápolis, a prova mais importante do automobilismo americano e uma das mais
famosas corridas do mundo inteiro, chega a ser contraditória a atitude da
emissora paulista, que ao invés de tentar capitalizar com o momento, resolve
tomar atitude oposta, como se a categoria americana, de um momento para o
outro, tivesse virado uma "batata quente" nas mãos da rede de TV.
Para
a Bandeirantes, em virtude do aperto financeiro, a audiência das provas da
categoria não seriam mais atrativas a fim de manter o esquema de transmissão. E
a saída seria completa: não haveria mais transmissão não apenas na TV aberta,
como também seria rifada de seu canal pago, o Bandsports. E, com comentários
internos alegando que a emissora não querer passar as provas da categoria
"nem de graça", isso significaria um rompimento radical na
transmissão da IRL, que tem suas provas veiculadas há anos pela emissora.
Se
por um lado a Bandeirantes tem total liberdade para decidir o que quer ou não
transmitir, o fato de resolver desistir da Indy Racing League apenas coroa uma
atitude equivocada e desinteressada de transmitir a categoria, e que não é de
hoje. Todo início de campeonato, a Bandeirantes faz o maior estardalhaço
anunciando a competição, que muitas vezes apresenta mais oportunidades e
equilíbrio do que a F-1. Neste ano, por exemplo, a Bandeirantes enviou equipe
completa para a primeira prova do campeonato, em São Petesburgo, na
Flórida, dando um bom tratamento à competição, com transmissão ao vivo na TV
aberta. Mas, a seguir, já para a prova seguinte, em Barber, no Alabama, o que
vimos? A prova foi transmitida sem maior alarde e divulgação somente pelo
Bandsports, o canal pago, e toda a atenção dedicada à categoria na prova de
abertura praticamente esvaiu-se. A atenção devida só retornaria aqui em São Paulo, para a
disputa da etapa brasileira, por motivos mais do que óbvios. Manteve o nível
para a prova seguinte, a Indy500, a mais importante do calendário da
competição, e depois disso, as corridas praticamente foram empurradas para o
Bandsports, com raras aparições na TV aberta, e divulgação a desejar. Desse jeito,
a coisa não emplaca mesmo.
Não
é nem questão de querer questionar o que dá mais retorno de audiência, pois o
futebol tem prioridade mais do que conhecida. O problema mesmo é a Bandeirantes
não estabelecer um projeto e programa decente para exibir e promover a
competição de forma a fidelizar o fã de automobilismo, e procurar aumentar a
base de telespectadores. Sabendo por experiência própria que os horários de
várias corridas vão bater de frente com o futebol aos domingos, a emissora não
se dá ao trabalho de estabelecer um plano de exibição para mostrar a corrida,
de forma coerente, mesmo que não seja ao vivo, para as provas onde isso seja
necessário. Quem sai perdendo é o telespectador fã de corridas, que volta e
meia vê a competição na TV aberta, depois precisa mudar para a TV paga,
volta-se para a TV aberta novamente, e de vez em quando, vê a corrida sendo
transmitida tanto na Bandeirantes quanto no Bandsports, ao mesmo tempo, com
duas equipes diferentes na narração/comentários. E isso considerando o fã ou
telespectador que tenha acesso à TV paga, e ao canal Bandsports. E quem tem
apenas a opção da TV aberta, como fica?
A corrida brasileira no campeonato também deverá ir para o brejo, na pior das hipóteses. |
Com
esse esquema de exibição estilo roleta russa, é complicado fidelizar o
telespectador. E é mais complicado ainda pelo histórico da competição: a Indy
Racing League nunca teve muita repercussão no Brasil, onde o interesse pela F-1
ainda predomina entre o público fã de automobilismo na TV aberta, ganhando de
lavada sobre as outras competições transmitidas por nossas emissoras, como a Stock
Car e a Fórmula Truck. Mas não seria a primeira vez que uma categoria Indy
seria menosprezada e maltratada por aqui. Na década de 1990, a F-Indy original
também sofreu com o descaso de nossas emissoras.
Na
segunda metade daquela década, a TVS/SBT, que detinha os direitos de
transmissão, e vinha fazendo um serviço de qualidade, tendo até ganho prêmio de
melhor emissora que transmitia a F-Indy para fora dos EUA, de um momento para o
outro, simplesmente rebaixou a categoria em sua grade de programação. O estopim
da briga foi causado por Gugu Liberato, que estava cansado de ver seu programa
Domingo Legal ser interrompido para a exibição das provas. Ele teria batido de
frente com Silvio Santos, ameaçando deixar a emissora, se as corridas
continuassem sendo transmitidas em seu horário habitual. Silvio, que sempre
teve um histórico de altos e baixos na condução da programação de sua emissora,
acabou cedendo. De primeiro, cortou toda a equipe de profissionais que era
enviada aos locais das corridas, passando a fazer transmissão direta de
estúdio, e não mais “in loco”. Depois, todas as provas passaram a ser exibidas
em VT no pior horário possível: à meia-noite de domingo para segunda. Do time
restante de transmissão ficou apenas o locutor Téo José, demitindo-se o repórter
Luiz Carlos Azenha e o comentarista Celso Miranda.
De nada adiantou a chiadeira dos
fãs. Gugu saiu vitorioso na contenda, e os fãs tiveram que se contentar com o
horário inglório das transmissões. E tínhamos uma verdadeira legião de pilotos
na categoria naqueles tempos, espalhados por todo o grid, em times de ponta,
médios, e pequenos. Infelizmente, apesar da quantidade de pilotos no grid, e do
talento e reputação de todos, enfrentávamos todo tipo de contratempos, e apesar
de ficarmos perto de disputar o título, não chegávamos lá. Todo o entusiasmo,
depois que Émerson Fittipaldi teve de abandonar as competições após seu
violento acidente em Michigan em 1996, se desvaneceu, e Silvio Santos não se
esforçou para reerguer a motivação dos telespectadores. Como consequência, a
etapa brasileira da F-Indy também foi para o vinagre, tendo sua última prova,
realizada no oval Émerson Fittipaldi, construído dentro do autódromo de
Jacarepaguá, em 2000, depois de ter estreado com alarde no campeonato de 1996.
Ao
fim do contrato, a TVS/SBT não renovou a licença das transmissões, que foram
adquiridas pela TV Record. A Record pegou um momento bom, pois nossos pilotos
enfim superaram o azar que os perseguia, e passamos a vencer com frequência, e
Gil de Ferran conquistou dois títulos consecutivos, em 2000 e 2001, sendo
seguido por Cristiano da Matta, que também faturou seu caneco, vencendo a
competição em 2002. Mas nada disso foi devidamente aproveitado para fidelizar o
telespectador e o fã de automobilismo, perdendo-se uma oportunidade única de
aproveitar a conquista de três títulos consecutivos na categoria por nossos
pilotos. A F-Indy foi parar na RedeTV, que também não melhorou em nada o
tratamento apenas básico que a Record dava. O resultado foi o fim das transmissões
da F-Indy na TV aberta nacional, tendo seus últimos campeonatos transmitidos no
Brasil apenas na TV paga, no Speed Channel. E, depois, a F-Indy infelizmente
acabou, com a Indy Racing League ocupando o seu lugar, como sempre desejou Tony
George desde que criou esta categoria no racha que promoveu em 1995.
Abandonando
as transmissões, mesmo na hipótese de Hélio Castro Neves conquistar o título, a
Bandeirantes perde uma excelente oportunidade de capitalizar com a transmissão
da categoria. Mas, nos últimos anos, já perdeu muitas oportunidades fazer isso,
e não seria neste momen que, à última hora, tomaria jeito. A esperança do
torcedor é que outra emissora se interesse em transmitir as corridas, mas as
esperanças, a princípio, são escassas: a Globo, já com a F-1, não iria
transmitir este campeonato; a TVS/SBT é um samba do crioulo doido; a Rede TV
até hoje não mostrou a que veio; e sobra apenas a Record como opção mais
plausível na TV aberta, o que também não significa grande coisa. Nos canais
fechados, pode haver mais alternativas: o SporTV já transmitiu a IRL há vários
anos atrás, antes da Bandeirantes retomar os direitos da competição, e poderia
até pegá-los novamente, se tivesse interesse; o Fox Sports transmite a Nascar,
e com seus planos de lançar um segundo canal de esportes no ano que vem, o
campeonato Indy poderia ser um acréscimo interessante ao seu leque de opções; e
ainda temos a ESPN, que pode pintar na parada. Mas tudo segue totalmente
incerto.
O
maior prejuízo seria a perda da etapa brasileira da competição, que depois de
cometer alguns erros nas primeiras edições, atingiu um bom grau de organização,
e vinha conseguindo bom público, consistindo numa opção válida para quem curte
automobilismo. Com o abandono do Grupo Bandeirantes, é muito provável que a
prova seja cancelada, pois a Prefeitura de São Paulo dificilmente vai assumir
bancar a corrida integralmente. E, mesmo que algum outro grupo adquira os
direitos de transmissão, bancar a etapa brasileira é outra história. Havendo
transmissão da prova na TV, seja aberta ou fechada, facilitaria para convencer
alguma empresa do ramo a assumir a etapa, desde que fosse viabilizada
economicamente. Mas, se ninguém se interessar, aí a coisa complica, e a prova
de São Paulo pode mesmo entrar na berlinda. A solução seria a possibilidade de
a corrida brasileira ser realizada em outro lugar. Já ouve proposta de se criar
uma segunda prova no Brasil, muito provavelmente em Porto Alegre, mas as
negociações não avançaram. Inicialmente com o título de "GP do
Mercosul", as negociações poderiam ser retomadas e assumir a posição da
corrida de São Paulo, tornando-se o novo "GP do Brasil". Tudo, porém,
ainda não passa de especulação.
Aliás,
a própria Bandeirantes ainda afirma que tudo ainda está sendo analisado, e que
é prematuro contar com o fim tanto da transmissão da IRL, quanto do
cancelamento da etapa brasileira do certame. Oficialmente, nenhuma decisão
ainda foi tomada e nem anunciada, mas nos bastidores, o que se afirma é que tudo
já está decidido, restando apenas ser divulgado oficialmente. Talvez a
conquista do título da categoria por Hélio Castro Neves, que seria o nosso
segundo campeonato ganho na IRL (o primeiro foi conquistado por Tony Kanaan em
2004, quando corria pelo time de Michael Andretti), faça a emissora rever sua
decisão, tentando capitalizar com a conquista por parte de um piloto
brasileiro, e mantenha a transmissão das provas e a realização da corrida. Como
o campeonato só termina agora em outubro, é aguardar para ver o que acontece.
Se
o pior acontecer, quem sai perdendo são os fãs brasileiros de automobilismo,
que ficarão com uma opção a menos para acompanhar em nossas emissoras, que já
não oferecem muita coisa...
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