Sato reencontrou-se com a vitória em Long Beach, e quer entrar na briga pelo título da IRL. |
O
Grande Prêmio de Long Beach, disputado domingo passado, válido pelo campeonato
deste ano da Indy Racing League, foi uma corrida pródiga em disputas acirradas
entre os pilotos, e como é normal em circuitos de rua, algumas disputas
terminaram com os pilotos arrumando confusões uns com os outros, além de várias
tocadas carro a carro, e com vários competidores ficando pelo caminho, seja por
defeitos mecânicos, batidas no muro, e ou rusgas com outros pilotos. E, no meio
de toda esta briga, eis que Takuma Sato surgiu para fazer história e se tornar
o primeiro piloto nipônico a vencer uma corrida na categoria.
E,
não pensem que foi uma vitória fortuita, herdada quando os outros competidores
se acidentaram. Nada disso, Takuma venceu por méritos próprios, fruto de uma
pilotagem precisa e competente. E o mais incrível é que, numa corrida marcada
por diversos incidentes entre os pilotos, o japonês, que já se envolveu em
diversas estripulias na pista em sua carreira, não apenas passou incólume a
tudo isso, como todas as disputas de posição que efetuou foram limpas e sem
confusões. Uma vitória mais do que merecida para Takuma, que desde que estreou
na F-1, já demonstrava ser um dos melhores pilotos japoneses que chegaram à
categoria TOP do automobilismo mundial, mas nunca teve chance de brilhar de
forma definitiva.
Estreando
na equipe Jordan no campeonato de 2002 da F-1, Takuma chegou com a reputação de
rápido como poucos pilotos japoneses, mas infelizmente, também carregando a
“maldição” de seus antecessores na categoria, de serem estabanados e se
envolverem em confusões na pista. Ainda naquele ano, marcou seus primeiros
pontos, com um 5º lugar justo no GP de seu país, o Japão, na pista de Suzuka.
No ano seguinte, ficou praticamente fora do campeonato, e só não passou o ano
em branco porque substituiu o canadense Jacques Villeneuve na equipe BAR,
justamente na prova do Japão, onde fez uma boa corrida e marcou mais pontos,
terminando a corrida em 6º lugar. Isso lhe valeu contrato para ser piloto efetivo
da escuderia em 2004, onde fez sua melhor temporada na F-1, terminando em 8º
lugar no campeonato, com 34 pontos, e conquistando seu primeiro (e único)
pódio, na prova dos Estados Unidos, ao terminar em 3º lugar a corrida. Takuma
já era considerado então o melhor piloto de seu país a chegar à F-1, e mostrava
evolução em sua pilotagem, mostrando arrojo e velocidade, e se envolvendo muito
pouco em confusões.
Em
2005, infelizmente, a BAR teve um ano ruim, e isso afetou sobretudo Sato na
escuderia, que não conseguiu apresentar as mesmas performances do ano anterior.
Acabou terminando o ano apenas em 23º lugar, com apenas 1 ponto conqusitado.
Isso o fez perder o lugar no time para 2006, onde novamente continuaria na F-1
graças ao apoio da Honda, que bancou a criação do time de Aguri Suzuki, que
teria no compatriota o principal piloto da nova escuderia. Mas, como acontece
com os times pequenos na F-1, mesmo os maiores esforços de Sato não foram
suficientes para obter resultados significativos. Os carros eram pouco
competitivos, e o orçamento, mesmo com apoio da fábrica japonesa, era escasso.
Takuma ficou na escuderia até seu fechamento, o que ocorreu em 2008, quando a
Super Aguri faliu após disputar as primeiras 4 provas do ano. Com o fim do
time, acabou também a carreira de Sato na F-1, após 90 GPs, e 44 pontos
acumulados. Nos anos seguintes, Sato tentou arrumar um novo lugar na categoria,
mas sem obter êxito.
Sua
chance de renascer no automobilismo viria em 2010, quando mudou-se para a Indy
Racing League, disputando o campeonato pela equipe KV Racing. Contando com o
patrocínio da Lótus em seu carro, o intrépido japonês se viu arrumando muitas
confusões nas corridas, terminando poucas provas, e finalizando seu primeiro
campeonato na categoria americana em 21º lugar, com 214 pontos. No ano
seguinte, ainda na KV, seus resultados melhoraram, e terminou o ano em 13º
lugar, com 282 pontos. Passou a ser mais constante, e se envolveu em menos
acidentes, mostrando mais adaptação à categoria. Em 2012, contratado pela equipe
Rahal/Letterman, Sato mostrou muita velocidade, mas também voltou a se envolver
em acidentes, inclusive um na volta final da Indy500, onde forçou passagem
sobre Dario Franchiti e perdeu o controle do carro e as chances de um bom
resultado, indo parar no muro. Seguiu-se um período de várias batidas nas
corridas seguintes, sendo preciso que Bobby Rahal entrasse em cena para colocar
a cabeça do japonês de novo no lugar, e fazendo-o reencontrar a concentração
para terminar o campeonato em 14º lugar, com 281 pontos. De positivo, o piloto
conquistou seus primeiros pódios na categoria, ao chegar em 3° lugar na etapa
de São Paulo, e obtendo uma excelente 2ª colocação em Edmonton, no Canadá.
Ficava a expectativa de que a qualquer momento, a chance de Sato vencer
surgiria. Mas o piloto japonês acabou dispensado por Bobby Rahal, e precisou
procurar outro time para 2013.
Para
este ano, Sato acabou contratado pelo time de A. J. Foyt, e desde a primeira
corrida, o piloto vem mostrando uma excelente performance, tendo se adaptado
muito bem na nova escuderia, onde é o único piloto, o que faz com que tenha
atenção integral do time. Conquistou um impressionante 2º lugar no grid em São
Petesburgo, logo na prova de estréia do campeonato, e terminou em 8º, não tendo
feito uma estratégia de corrida mais condizente, mas mostrando do que era
capaz. Na prova do Alabama, teve um desempenho apenas mediano, largando em 14º
e terminando em 12º. Em Long Beach, fez uma boa classificação, largando em 4º,
e desde o início, mostrou que estava ali para brigar pelos primeiros lugares,
mostrando sempre um ritmo forte e constante. Curiosamente, foi na etapa do ano
passado, em Long Beach, que Sato quase chegou a vencer pela primeira vez: o
nipônico liderava a corrida mas acabou se enroscando quando foi ultrapassado
por Ryan Hunter-Reay, e ambos rodaram, terminando em 8° e 6° lugares,
respectivamente.
Para
Takuma, foi a redenção depois de mais de 10 anos após ter vencido pela última
vez uma corrida em sua carreira. Em 2001, quando ainda disputava a F-3 Inglesa,
o japonês venceu pela última vez, na etapa final daquele ano, em Silverstone,
quando foi campeão da categoria, tornando-se o primeiro nipônico a vencer o
mais prestigiado campeonato de F-3 do mundo, e credenciando-se para estrear no
ano seguinte na F-1. De lá para cá, foi um longo caminho até reencontrar-se com
a bandeira quadriculada na primeira posição, o que se tornou realidade em Long
Beach. E Sato, empolgado com a vitória, não quer saber de moderar o apetite:
ocupando a 2ª colocação na classificação do campeonato, atrás apenas do
brasileiro Hélio Castro Neves, Sato quer entrar na briga pelo título da IRL.
Talento
para isso Sato tem, mas a disputa promete ser dura, e o maior revés que o
japonês pode enfrentar é seu próprio time: a Foyt é um time médio, e no médio
prazo, não tem condições de enfrentar com a regularidade necessária os times
mais poderosos como Penske, Andretti, ou Ganassi. Mas nem por isso Sato pode
deixar de sonhar alto: como a IRL é uma categoria onde os equipamentos são mais
parelhos e equilibrados, se o time conseguir trabalhar bem e mantiver um ajuste
fino do carro como conseguiu em Long Beach, Takuma pode sim entrar na briga
pelo título, e isso não é nada impossível. Vencer pode ser outra história. E a
Foyt precisa vencer principalmente seu péssimo retrospecto quando o assunto é
vencer corridas: o último triunfo do time foi há mais de 10 anos, em 2002,
quando o time chegou em primeiro na prova do Kansas, com o brasileiro Airton
Daré. Na verdade, o time possui apenas 1 título em sua história na Indy Racing
League, conquistado no ano de 1998 com o piloto sueco Kenny Brack. Méritos da
conquista à parte, naquela temporada a categoria só possuía times sem maior
expressão, tendo se separado da F-Indy há pouco tempo, e onde ficaram as
principais escuderias da época.
Hoje,
com o fim da F-Indy, estes times que dominavam a categoria competem na IRL, e
essa forte concorrência sem dúvida é um forte obstáculo para que o time do
lendário Anthony Joseph Foyt Junior, nada menos do que 7 vezes campeão da
F-Indy, assuma a condição de protagonista principal da luta pelo título. Mas,
não é por isso que Takuma Sato vai desistir da briga. Fiel ao estilo obstinado
dos samurais, e com a determinação dos lendários kamikazes que tanto temor provocaram
nas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, o piloto japonês promete ir à
luta com todas as suas forças, e se não encontrar um muro pelo caminho, podem
apostar, ele vai dar trabalho mesmo. E será muito, mas muito bem-vindo nesta
briga pelo título, que está precisando de novos protagonistas para balançar as
estruturas da IRL.
Banzai,
Sato-San...