Semana
passada foi o momento das “bombas” da temporada da Fórmula 1. Numa tacada só,
Lewis Hamilton e Sérgio Perez fizeram o maior troca-troca que se poderia
esperar da temporada da categoria, e isso desde já está alimentando
especulações e rumores do que poderemos esperar na próxima temporada. E o
campeonato de 2012 ainda tem muita água para rolar, então...
Não
se fala em outra coisa no paddock de Suzuka, onde hoje foram disputados os
treinos livres da sexta-feira, que pelo horário do Brasil foram na madrugada. E
teve o anúncio que todos também esperavam, que era um dos assuntos em aberto e
agora ganhou uma confirmação definitiva: Michael Schumacher se aposenta de vez
ao fim da temporada. Se isso já dá o que falar, imaginem então como ficam as
conversas sobre a mudança do campeão de 2008 para o time alemão, e a ida do
mexicano voador para Woking na próxima temporada. É muita conversa nos boxes e
fora deles.
Lewis
Hamilton toma um passo ousado na carreira ao acertar com a Mercedes. Mas vai
ser duro convencer alguém que não foi pelo dinheiro a maior motivação de trocar
o que eles consideram “certo” pelo que até então não passou de “duvidoso”. Os
cerca de US$ 100 millhões que Hamilton receberá pelos 3 anos de contrato com a
turma de Norbert Haug & Cia. são um valor muito acima do que a McLaren
estava aceitando pagar na renovação do contrato de Lewis. Não que Hamilton não
tenha o direito de querer receber mais, mas pelo menos fosse mais honesto e
dissesse, na cara de pau, que preferiu ir ganhar mais na Mercedes a permanecer
na McLaren. Nélson Piquet fez isso, ao admitir que o contrato que assinou com a
Lótus para 1988 era muito mais compensador financeiramente do que o oferecido
pela McLaren. Simples assim. Claro que Piquet errou feio: a Lótus se arrastou
pelos dois anos em que ele esteve por lá, enquanto a McLaren voava nas pistas,
deixando os adversários a ver navios em cada GP, mas a escolha errada havia
sido tomada, então...
A
Mercedes, desde que voltou oficialmente como escuderia ‘a F-1, em 2010, até
agora não mostrou exatamente a que veio. Tirando a vitória e pole de Nico
Rosberg este ano na China, o time da estrela de três pontas até agora tem sido
coadjuvante no campeonato, vendo seus melhores resultados virem de seu ex-time
associado, a McLaren. Se em 2010 as dificuldades eram plenamente aceitáveis
pela transição do time que era a Brawn para se tornar o time oficial da
Mercedes, os resultados do ano passado, e os deste ano, deixam o time em
situação ainda mais complicada para se explicar a falta de resultados de maior
monta. Calculava-se que Michael Schumacher seria capaz de produzir, ainda que
em parte, a evolução da Mercedes para um time realmente de ponta, afinal, tinha
feito isso na Ferrari. Mas o que se viu foi o contrário: além de ficar aquém
dos resultados obtidos por Nico Rosberg, a quem inicialmente se achava seria o
segundo piloto do time, a Mercedes não conseguiu sair do lugar em relação à
concorrência, muito pelo contrário: a posição do time veio caindo, e neste momento,
a Mercedes está até na alça de mira da Sauber, que com alguma sorte, pode até
superar o time alemão.
Com
a presença de Hamilton no time em 2013, é de se esperar melhores resultados:
Lewis é muito rápido, e com certeza, vai apresentar resultados melhores do que
Schumacher, se não se envolver em confusões. Mas nada garante que a Mercedes
vai ter um carro mais competitivo em 2013. Mas isso também não significa que
não possa produzir um carro vencedor, e quem sabe, até campeão. A Mercedes está
investindo em melhorias na área técnica, e isso tem de apresentar resultados. Mas
só saberemos isso na prática no ano que vem, quando os novos carros estarão na
pista. Hamilton se acostumou a ter tudo na McLaren desde que estreou na F-1.
“Apadrinhado” por Ron Dennis, Lewis sempre foi tratado pela equipe com mimos e
privilégios. Na Mercedes, terá um ambiente diferente. E, pelo que vai ganhar, o
time terá direito de cobrar resultados de Hamilton caso eles não apareçam. O
problema é que Lewis tem um histórico de paciência meio curta quando as coisas
não vão bem, e se ele andava criando cisma na McLaren, um time que sempre pelo
menos apresentou carros capazes de vencer corridas desde que estreou pelo time,
o que vai acontecer se a Mercedes não lhe der um carro que o permita pelo menos
vencer corridas regularmente. Poderão ser 3 anos de contrato turbulentos. Isso
vai depender mais de Lewis do que da Mercedes propriamente. Hamilton não é
exatamente estranho para parte da cúpula da Mercedes, afinal, a fábrica alemã
era parceira da McLaren, que o patrocinou desde cedo. Mas que o ambiente será
diferente de Woking, isso será. E uma mudança de ares pode lhe fazer muito bem,
ou pode acontecer o contrário. Só o futuro dará a resposta.
Sérgio
Perez, por outro lado, está nas nuvens: Estará na McLaren na próxima temporada,
e mesmo sendo “novato” em um time de ponta, desde já pode ser considerado um
candidato ao título. Se aprender rápido, pode até começar vencendo logo desde o
início. Vai ter um “professor” de bom caráter a seu lado, Jenson Button, que
terá a missão de capitanear o time prateado, e de garantir que o novo garoto da
casa siga sem percalços para se tornar um piloto vencedor no time de Woking. E
vai poder calar a boca de alguns críticos, entre eles Lucca de Montezemolo, que
afirmou que o mexicano ainda era “imaturo” para guiar pela Ferrari. Mas o que
todo mundo fala à boca pequena é que Perez não foi para Maranello por causa de
Fernando Alonso, que não queria ter um companheiro de equipe que o incomodasse.
E isso vai ser visto em 2013: ao ir para a McLaren, Perez se livrou de uma
armadilha que o esperava no time italiano: se submeter à sua política cretina
de um piloto, dois carros, no qual ele poderia ser o principal prejudicado. Em
Woking, ele vai mostrar quem estava mesmo com a razão, se bem que, no íntimo de
todos, já se sabe muito bem a resposta. Mas, mesmo assim, ainda é de se ter
dúvida sobre como Perez vai se dar no time prateado: pode tanto “explodir” como
piloto vencedor, como “implodir”.
Alguns
pilotos tremendamente talentosos nunca mostraram em times de ponta o que
rendiam em times médios e/ou pequenos. Heinz-Harald Frentzen, que era
considerado melhor do que Michael Schumacher, nunca mostrou na Williams as
performances de encher os olhos que demonstrou na Sauber ou na Jordan. É um bom
exemplo. Perez tem tudo para se tornar um campeão na McLaren. Dependerá apenas
dele. Muitos andam propagandeando a decadência do time de Woking, pelo fato de
não ser mais time oficial da Mercedes, mas a estrutura da McLaren segue firme e
forte, e deve continuar assim. É uma realidade, e isso não vai mudar de uma
hora para outra, em que pesem as vozes catastrofistas que pregam o contrário. A
McLaren inclusive já tem tudo acertado para receber os motores turbo da
Mercedes a partir de 2014, e não pelo fato de pagar pelos motores que fará o
time decair. Em 1993, mesmo pagando pelos motores Ford, a McLaren foi melhor do
que o time oficial da fábrica americana, a Benetton. Não há porque duvidar que
não manterá sua excelência técnica.
Quem
perde nisso é Michael Schumacher, que aparentemente foi dispensado sem aviso
prévio pela Mercedes. Mas a indecisão do heptacampeão levou seu time a uma
definição mais precoce, pela necessidade de se planejar desde já o próximo ano.
Não deixa de ser um final melancólico para a carreira do maior vencedor que a
F-1 já conheceu. Falarei mais sobre Schumacher na próxima coluna, semana que
vem.
Indiretamente,
quem também ganha é Fernando Alonso, uma vez que um de seus maiores rivais
ficará em inferioridade técnica, aparentemente, no próximo ano. Mas, isso só
será comprovado pelos carros de 2013.
A Ferrari pode tanto fazer um bom carro quanto
apresentar um projeto problemático, visto o histórico dos anos recentes.
Enquanto
isso, ainda temos a luta pelo título de 2012 acontecendo. Suzuka é uma pista
espetacular, e pelo andar das provas este ano, nada impede que a prova japonesa
apresente algumas surpresas. Alonso tenta manter sua dianteira, frente à
escalada de Red Bull e McLaren, que tem se mostrado mais competitivos do que os
carros vermelhos. O espanhol tem tido sorte e competência ímpar este ano. Será
que continuará assim? Vamos ver o que acontece, e que ronquem os motores...
Jenson Button perde 5 posições no grid de Suzuka: precisou trocar o
câmbio de seu carro. Isso vai tornar a corrida do campeão de 2009 mais
complicada. Mas Button não vai deixar isso comprometer sua performance...
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