sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O TROCA-TROCA DA TEMPORADA



            Semana passada foi o momento das “bombas” da temporada da Fórmula 1. Numa tacada só, Lewis Hamilton e Sérgio Perez fizeram o maior troca-troca que se poderia esperar da temporada da categoria, e isso desde já está alimentando especulações e rumores do que poderemos esperar na próxima temporada. E o campeonato de 2012 ainda tem muita água para rolar, então...
            Não se fala em outra coisa no paddock de Suzuka, onde hoje foram disputados os treinos livres da sexta-feira, que pelo horário do Brasil foram na madrugada. E teve o anúncio que todos também esperavam, que era um dos assuntos em aberto e agora ganhou uma confirmação definitiva: Michael Schumacher se aposenta de vez ao fim da temporada. Se isso já dá o que falar, imaginem então como ficam as conversas sobre a mudança do campeão de 2008 para o time alemão, e a ida do mexicano voador para Woking na próxima temporada. É muita conversa nos boxes e fora deles.
            Lewis Hamilton toma um passo ousado na carreira ao acertar com a Mercedes. Mas vai ser duro convencer alguém que não foi pelo dinheiro a maior motivação de trocar o que eles consideram “certo” pelo que até então não passou de “duvidoso”. Os cerca de US$ 100 millhões que Hamilton receberá pelos 3 anos de contrato com a turma de Norbert Haug & Cia. são um valor muito acima do que a McLaren estava aceitando pagar na renovação do contrato de Lewis. Não que Hamilton não tenha o direito de querer receber mais, mas pelo menos fosse mais honesto e dissesse, na cara de pau, que preferiu ir ganhar mais na Mercedes a permanecer na McLaren. Nélson Piquet fez isso, ao admitir que o contrato que assinou com a Lótus para 1988 era muito mais compensador financeiramente do que o oferecido pela McLaren. Simples assim. Claro que Piquet errou feio: a Lótus se arrastou pelos dois anos em que ele esteve por lá, enquanto a McLaren voava nas pistas, deixando os adversários a ver navios em cada GP, mas a escolha errada havia sido tomada, então...
            A Mercedes, desde que voltou oficialmente como escuderia ‘a F-1, em 2010, até agora não mostrou exatamente a que veio. Tirando a vitória e pole de Nico Rosberg este ano na China, o time da estrela de três pontas até agora tem sido coadjuvante no campeonato, vendo seus melhores resultados virem de seu ex-time associado, a McLaren. Se em 2010 as dificuldades eram plenamente aceitáveis pela transição do time que era a Brawn para se tornar o time oficial da Mercedes, os resultados do ano passado, e os deste ano, deixam o time em situação ainda mais complicada para se explicar a falta de resultados de maior monta. Calculava-se que Michael Schumacher seria capaz de produzir, ainda que em parte, a evolução da Mercedes para um time realmente de ponta, afinal, tinha feito isso na Ferrari. Mas o que se viu foi o contrário: além de ficar aquém dos resultados obtidos por Nico Rosberg, a quem inicialmente se achava seria o segundo piloto do time, a Mercedes não conseguiu sair do lugar em relação à concorrência, muito pelo contrário: a posição do time veio caindo, e neste momento, a Mercedes está até na alça de mira da Sauber, que com alguma sorte, pode até superar o time alemão.
            Com a presença de Hamilton no time em 2013, é de se esperar melhores resultados: Lewis é muito rápido, e com certeza, vai apresentar resultados melhores do que Schumacher, se não se envolver em confusões. Mas nada garante que a Mercedes vai ter um carro mais competitivo em 2013. Mas isso também não significa que não possa produzir um carro vencedor, e quem sabe, até campeão. A Mercedes está investindo em melhorias na área técnica, e isso tem de apresentar resultados. Mas só saberemos isso na prática no ano que vem, quando os novos carros estarão na pista. Hamilton se acostumou a ter tudo na McLaren desde que estreou na F-1. “Apadrinhado” por Ron Dennis, Lewis sempre foi tratado pela equipe com mimos e privilégios. Na Mercedes, terá um ambiente diferente. E, pelo que vai ganhar, o time terá direito de cobrar resultados de Hamilton caso eles não apareçam. O problema é que Lewis tem um histórico de paciência meio curta quando as coisas não vão bem, e se ele andava criando cisma na McLaren, um time que sempre pelo menos apresentou carros capazes de vencer corridas desde que estreou pelo time, o que vai acontecer se a Mercedes não lhe der um carro que o permita pelo menos vencer corridas regularmente. Poderão ser 3 anos de contrato turbulentos. Isso vai depender mais de Lewis do que da Mercedes propriamente. Hamilton não é exatamente estranho para parte da cúpula da Mercedes, afinal, a fábrica alemã era parceira da McLaren, que o patrocinou desde cedo. Mas que o ambiente será diferente de Woking, isso será. E uma mudança de ares pode lhe fazer muito bem, ou pode acontecer o contrário. Só o futuro dará a resposta.
            Sérgio Perez, por outro lado, está nas nuvens: Estará na McLaren na próxima temporada, e mesmo sendo “novato” em um time de ponta, desde já pode ser considerado um candidato ao título. Se aprender rápido, pode até começar vencendo logo desde o início. Vai ter um “professor” de bom caráter a seu lado, Jenson Button, que terá a missão de capitanear o time prateado, e de garantir que o novo garoto da casa siga sem percalços para se tornar um piloto vencedor no time de Woking. E vai poder calar a boca de alguns críticos, entre eles Lucca de Montezemolo, que afirmou que o mexicano ainda era “imaturo” para guiar pela Ferrari. Mas o que todo mundo fala à boca pequena é que Perez não foi para Maranello por causa de Fernando Alonso, que não queria ter um companheiro de equipe que o incomodasse. E isso vai ser visto em 2013: ao ir para a McLaren, Perez se livrou de uma armadilha que o esperava no time italiano: se submeter à sua política cretina de um piloto, dois carros, no qual ele poderia ser o principal prejudicado. Em Woking, ele vai mostrar quem estava mesmo com a razão, se bem que, no íntimo de todos, já se sabe muito bem a resposta. Mas, mesmo assim, ainda é de se ter dúvida sobre como Perez vai se dar no time prateado: pode tanto “explodir” como piloto vencedor, como “implodir”.
            Alguns pilotos tremendamente talentosos nunca mostraram em times de ponta o que rendiam em times médios e/ou pequenos. Heinz-Harald Frentzen, que era considerado melhor do que Michael Schumacher, nunca mostrou na Williams as performances de encher os olhos que demonstrou na Sauber ou na Jordan. É um bom exemplo. Perez tem tudo para se tornar um campeão na McLaren. Dependerá apenas dele. Muitos andam propagandeando a decadência do time de Woking, pelo fato de não ser mais time oficial da Mercedes, mas a estrutura da McLaren segue firme e forte, e deve continuar assim. É uma realidade, e isso não vai mudar de uma hora para outra, em que pesem as vozes catastrofistas que pregam o contrário. A McLaren inclusive já tem tudo acertado para receber os motores turbo da Mercedes a partir de 2014, e não pelo fato de pagar pelos motores que fará o time decair. Em 1993, mesmo pagando pelos motores Ford, a McLaren foi melhor do que o time oficial da fábrica americana, a Benetton. Não há porque duvidar que não manterá sua excelência técnica.
            Quem perde nisso é Michael Schumacher, que aparentemente foi dispensado sem aviso prévio pela Mercedes. Mas a indecisão do heptacampeão levou seu time a uma definição mais precoce, pela necessidade de se planejar desde já o próximo ano. Não deixa de ser um final melancólico para a carreira do maior vencedor que a F-1 já conheceu. Falarei mais sobre Schumacher na próxima coluna, semana que vem.
            Indiretamente, quem também ganha é Fernando Alonso, uma vez que um de seus maiores rivais ficará em inferioridade técnica, aparentemente, no próximo ano. Mas, isso só será comprovado pelos carros de 2013. A Ferrari pode tanto fazer um bom carro quanto apresentar um projeto problemático, visto o histórico dos anos recentes.
            Enquanto isso, ainda temos a luta pelo título de 2012 acontecendo. Suzuka é uma pista espetacular, e pelo andar das provas este ano, nada impede que a prova japonesa apresente algumas surpresas. Alonso tenta manter sua dianteira, frente à escalada de Red Bull e McLaren, que tem se mostrado mais competitivos do que os carros vermelhos. O espanhol tem tido sorte e competência ímpar este ano. Será que continuará assim? Vamos ver o que acontece, e que ronquem os motores...


Jenson Button perde 5 posições no grid de Suzuka: precisou trocar o câmbio de seu carro. Isso vai tornar a corrida do campeão de 2009 mais complicada. Mas Button não vai deixar isso comprometer sua performance...

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