Felipe
Massa conseguiu o que muitos achavam impossível após a primeira metade do
campeonato de Fórmula 1 deste ano: renovou com a equipe Ferrari para 2013. É
verdade que o piloto fez por merecer, em especial nas últimas corridas, desde o
GP da Bélgica, onde mostrou bom desempenho,e só não alcançou melhores
resultados devido à política tacanha da Ferrari, que infelizmente, a esta
altura do campeonato, é até justificável. O anúncio da renovação foi
oficialmente feito nesta última terça-feira em Maranello, embora já circulasse
boatos pelo paddock nas últimas corridas, e a escuderia ainda tentasse
desmentir alegando que não havia nada decidido.
Mas
que o torcedor brasileiro não se iluda: Felipe ainda precisa batalhar para continuar
na F-1. O que ele ganhou foi um ano para mostrar o que vale, já que neste
campeonato, o brasileiro acabou praticamente num beco sem saída: suas fracas
performances do início do ano até o GP da Hungria, com raros momentos de
combatividade e performance, praticamente fizeram do brasileiro um nome
“descartável” no mercado de pilotos, com praticamente nenhum time demonstrando
interesse de contar com o vice-campeão de 2008 em seus quadros para o próximo
ano. Uma alternativa seria arrumar patrocínios de peso para tentar vaga em
outro time, mas aparentemente, sua falta de resultados no ano até agosto teria
também jogado contra esta alternativa. Mesmo assim, a renovação não foi tão
amena: Massa ganhará menos do que vinha ganhando, e embora valores não tenham
sido revelados, isso já é um sinal de que Felipe não tinha mesmo alternativa.
Para
a Ferrari, mais do que um alívio, foi também uma recompensa ao piloto por sua
lealdade, ainda mais porque o time italiano, tardiamente, afirmou que em alguns
GPs usou o brasileiro para testar componentes que não deram os resultados
esperados, e ainda por cima, comprometeram sua performance. É algo que deveriam
ter feito na ocasião em que isso foi levado a cabo: poupariam Massa de algumas
críticas imerecidas por parte de imprensa e torcedores, que desconheciam o
fato. Claro que na F-1 o segredo é a alma do negócio, mas revelar isso não
teria causado mal nenhum, muito pelo contrário: não ter falado no momento só
ajudou a “queimar” Felipe ainda mais.
A
Ferrari resolve seu principal problema para 2013, e com isso Massa irá para sua
8ª temporada como piloto oficial de Maranello. O time sabe como o brasileiro é
e seu ritmo de trabalho e capacidade. Se é verdade que cogitou outros nomes
para o seu lugar, é verdade também que eventuais novos pilotos necessitariam de
ser “moldados” ao “modo” Ferrari de procedimentos, e isso poderia gerar perda
de tempo até que o novo contratado “entrasse nos eixos” do time vermelho, em
especial na política de dois carros, um piloto, referência ao fato de Fernando
Alonso ser a única atenção primordial da escuderia, restando ao seu
companheiro, as sobras da competição, por mais que afirme que dá o mesmo
equipamento a ambos os pilotos.
Quem
também ganha é a TV Globo, que ante a expectativa de ficarmos sem nenhum
representante brasileiro na F-1 em 2013, agora continuará explorando Massa como
potencial vencedor de corridas. Não é uma mentira: correr pela Ferrari, um time
de ponta, credencia Felipe a ser um dos protagonistas da categoria. Isso na
teoria; na realidade, a menos que Alonso comece a ter um azar dos diabos, o
brasileiro terá de se contentar com duelos com os outros pilotos para
satisfazer seu desejo de competição. O torcedor brasileiro, pelo que vi em
sites e fóruns especializados, não comemorou nem um pouco, com raras exceções.
O grosso dos comentários vai pela ala dos “traídos”, que vêem em Massa um
sucessor piorado de Rubens Barrichello, que pelo menos chiava da situação a que
se via submetido. Para Felipe, os comentários são mais duros: nem reclamar da
situação ele faz, dando a imagem, na opinião deles, de “vendido”, “submisso”,
“mercenário”, “medíocre”, entre outros adjetivos menos educados.
Mas
Massa, em que pese a decepção de muitos brasileiros que um dia viram nele a
chance de nosso país ser novamente campeão da F-1, não precisa dar satisfação
de sua renovação. Ele queria continuar a pilotar na categoria, e era aceitar
ficar na Ferrari, ou sair da F-1. Não havia alternativas. Não haviam
interessados em seus serviços. Agora, Felipe ganhou uma nova chance e precisa
aproveitá-la. Se fizer um bom campeonato em 2013, relançará seu nome no
mercado, e com alguma sorte, pode voltar a ser disputado por outros times, como
já foi um dia. Ficar no time italiano para 2014 é uma possibilidade, mas se
Felipe quiser realmente ter maiores ambições, só as terá em outros ares, pois
enquanto Alonso continuar em Maranello, ele continuará a centralizar todo o
time sobre si. E, se a atitude de impedir Felipe de ultrapassar Alonso, vista
domingo passado, ocorreu em um momento de reta final de campeonato, não há
garantias de que a Ferrari não obrigue o brasileiro a isso até em início de
campeonato. Basta lembrar de 2002, quando o time sobrava, e mesmo assim, não
deixou Rubens Barrichello vencer na Áustria, quando ainda nem estávamos perto
da metade do campeonato.
O
dilema de Massa é fazer um bom campeonato sem incomodar o espanhol. Mas o maior
problema pode vir a ser o carro de 2013: se for como o desse ano, problemático,
embora passível de ser desenvolvido, o trabalho será muito complicado para o
brasileiro. Alonso consegue se sobressair regularmente com um carro limitado,
enquanto Massa tem menos capacidade de extrair performance nestas condições. Se
o novo carro não for bom, Felipe precisará pilotar como nunca para mostrar
resultados, a fim de mostrar aos outros times que é um nome a ser considerado
em suas opções. O péssimo ano do brasileiro, que na verdade já vinha de
resultados ruins desde todo o ano passado, já castigou Massa de forma
contundente este ano, quando a McLaren anunciou Sérgio Perez para substituir
Lewis Hamilton no time de Woking no próximo ano. Se um dia Massa já interessou
à McLaren, esse interesse já se desvaneceu por completo, ao preferir o jovem
mexicano que deu show em algumas corridas nesta temporada.
Mesmo
que consiga dar a volta por cima no próximo ano, ainda assim a tarefa de
manter-se na categoria continuará complicada: a McLaren e a Mercedes estão
fechadas com suas duplas de pilotos, que deverão continuar as mesmas em 2014;
na Red Bull, se Mark Webber dizer adeus à F-1, o mais lógico é o time promover
um de seus pilotos da Toro Rosso; a Lótus parece satisfeita com sua dupla,
sabe-se lá até quando, e mesmo assim, é um nome de menor força na categoria, se
comparada com Ferrari, McLaren, Red Bull, e Mercedes (ainda que no momento a
Mercedes não esteja assim tão forte). Continuar em Maranello significará
continuar em segundo plano na escuderia vermelha. Pode ser bom para o bolso do
piloto, mas e suas ambições pessoais? Ainda mais depois de Luca de Montezemolo
declarar abertamente que “não há lugar para dois galos na escuderia”. Que isso
lembre Felipe quão firmes são as restrições à sua expectativa de se tornar a
estrela do time novamente. E Fernando Alonso, ao declarar tão firmemente que
Massa era o melhor nome para a Ferrari, deixa claro que essa preferência é
porque sabe que pode dar conta do brasileiro sem maiores percalços...
Há
de se admirar a lealdade de Massa ao time italiano: desde que estreou na F-1,
há 10 anos atrás, sua carreira sempre esteve ligada a Maranello: foi emprestado
à Sauber, onde realizou sua primeira temporada, sendo dispensado por Peter
Sauber ao fim do ano. Passou a temporada seguinte como piloto de testes do time
italiano, antes de voltar à mesma Sauber em 2004, onde permaneceu mais duas
temporadas, vindo a se tornar piloto “oficial” da Ferrari em 2006, com a saída
de Rubens Barrichello. No seu primeiro ano no time vermelho, cumpriu seu papel
como segundo de Michael Schumacher, tendo a oportunidade de ganhar duas corridas
– uma delas no Brasil, onde deixou todos com esperanças de melhores dias na
F-1, até porque com a aposentaria de Michael, Massa não precisaria continuar
sendo “segundo” no time. Acabou surpreendido por Kimmi Raikkonem em 2007, tendo
de ajudar o finlandês a ser campeão, mas na sua melhor chance, em 2008, bateu
na trave, ficando com o vice-campeonato. Foi esportivo ao dizer que ele e o
time ganhavam e perdiam juntos. Em 2009, a Ferrari fez um carro apenas mediano, e
seu acidente na Hungria só complicou as coisas. Mesmo assim, Massa sempre fez
questão de afirmar fazer parte da “família” Ferrari. Mas em 2010, a escuderia rossa
trouxe Fernando Alonso, e daí em diante então...
Que
Felipe saiba aproveitar sua nova chance na Ferrari e na F-1. Se isso vai trazer
alegria aos torcedores brasileiros, é outra história...
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