sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MASSA GANHA SOBREVIDA NA F-1


            Felipe Massa conseguiu o que muitos achavam impossível após a primeira metade do campeonato de Fórmula 1 deste ano: renovou com a equipe Ferrari para 2013. É verdade que o piloto fez por merecer, em especial nas últimas corridas, desde o GP da Bélgica, onde mostrou bom desempenho,e só não alcançou melhores resultados devido à política tacanha da Ferrari, que infelizmente, a esta altura do campeonato, é até justificável. O anúncio da renovação foi oficialmente feito nesta última terça-feira em Maranello, embora já circulasse boatos pelo paddock nas últimas corridas, e a escuderia ainda tentasse desmentir alegando que não havia nada decidido.
            Mas que o torcedor brasileiro não se iluda: Felipe ainda precisa batalhar para continuar na F-1. O que ele ganhou foi um ano para mostrar o que vale, já que neste campeonato, o brasileiro acabou praticamente num beco sem saída: suas fracas performances do início do ano até o GP da Hungria, com raros momentos de combatividade e performance, praticamente fizeram do brasileiro um nome “descartável” no mercado de pilotos, com praticamente nenhum time demonstrando interesse de contar com o vice-campeão de 2008 em seus quadros para o próximo ano. Uma alternativa seria arrumar patrocínios de peso para tentar vaga em outro time, mas aparentemente, sua falta de resultados no ano até agosto teria também jogado contra esta alternativa. Mesmo assim, a renovação não foi tão amena: Massa ganhará menos do que vinha ganhando, e embora valores não tenham sido revelados, isso já é um sinal de que Felipe não tinha mesmo alternativa.
            Para a Ferrari, mais do que um alívio, foi também uma recompensa ao piloto por sua lealdade, ainda mais porque o time italiano, tardiamente, afirmou que em alguns GPs usou o brasileiro para testar componentes que não deram os resultados esperados, e ainda por cima, comprometeram sua performance. É algo que deveriam ter feito na ocasião em que isso foi levado a cabo: poupariam Massa de algumas críticas imerecidas por parte de imprensa e torcedores, que desconheciam o fato. Claro que na F-1 o segredo é a alma do negócio, mas revelar isso não teria causado mal nenhum, muito pelo contrário: não ter falado no momento só ajudou a “queimar” Felipe ainda mais.
            A Ferrari resolve seu principal problema para 2013, e com isso Massa irá para sua 8ª temporada como piloto oficial de Maranello. O time sabe como o brasileiro é e seu ritmo de trabalho e capacidade. Se é verdade que cogitou outros nomes para o seu lugar, é verdade também que eventuais novos pilotos necessitariam de ser “moldados” ao “modo” Ferrari de procedimentos, e isso poderia gerar perda de tempo até que o novo contratado “entrasse nos eixos” do time vermelho, em especial na política de dois carros, um piloto, referência ao fato de Fernando Alonso ser a única atenção primordial da escuderia, restando ao seu companheiro, as sobras da competição, por mais que afirme que dá o mesmo equipamento a ambos os pilotos.
            Quem também ganha é a TV Globo, que ante a expectativa de ficarmos sem nenhum representante brasileiro na F-1 em 2013, agora continuará explorando Massa como potencial vencedor de corridas. Não é uma mentira: correr pela Ferrari, um time de ponta, credencia Felipe a ser um dos protagonistas da categoria. Isso na teoria; na realidade, a menos que Alonso comece a ter um azar dos diabos, o brasileiro terá de se contentar com duelos com os outros pilotos para satisfazer seu desejo de competição. O torcedor brasileiro, pelo que vi em sites e fóruns especializados, não comemorou nem um pouco, com raras exceções. O grosso dos comentários vai pela ala dos “traídos”, que vêem em Massa um sucessor piorado de Rubens Barrichello, que pelo menos chiava da situação a que se via submetido. Para Felipe, os comentários são mais duros: nem reclamar da situação ele faz, dando a imagem, na opinião deles, de “vendido”, “submisso”, “mercenário”, “medíocre”, entre outros adjetivos menos educados.
            Mas Massa, em que pese a decepção de muitos brasileiros que um dia viram nele a chance de nosso país ser novamente campeão da F-1, não precisa dar satisfação de sua renovação. Ele queria continuar a pilotar na categoria, e era aceitar ficar na Ferrari, ou sair da F-1. Não havia alternativas. Não haviam interessados em seus serviços. Agora, Felipe ganhou uma nova chance e precisa aproveitá-la. Se fizer um bom campeonato em 2013, relançará seu nome no mercado, e com alguma sorte, pode voltar a ser disputado por outros times, como já foi um dia. Ficar no time italiano para 2014 é uma possibilidade, mas se Felipe quiser realmente ter maiores ambições, só as terá em outros ares, pois enquanto Alonso continuar em Maranello, ele continuará a centralizar todo o time sobre si. E, se a atitude de impedir Felipe de ultrapassar Alonso, vista domingo passado, ocorreu em um momento de reta final de campeonato, não há garantias de que a Ferrari não obrigue o brasileiro a isso até em início de campeonato. Basta lembrar de 2002, quando o time sobrava, e mesmo assim, não deixou Rubens Barrichello vencer na Áustria, quando ainda nem estávamos perto da metade do campeonato.
            O dilema de Massa é fazer um bom campeonato sem incomodar o espanhol. Mas o maior problema pode vir a ser o carro de 2013: se for como o desse ano, problemático, embora passível de ser desenvolvido, o trabalho será muito complicado para o brasileiro. Alonso consegue se sobressair regularmente com um carro limitado, enquanto Massa tem menos capacidade de extrair performance nestas condições. Se o novo carro não for bom, Felipe precisará pilotar como nunca para mostrar resultados, a fim de mostrar aos outros times que é um nome a ser considerado em suas opções. O péssimo ano do brasileiro, que na verdade já vinha de resultados ruins desde todo o ano passado, já castigou Massa de forma contundente este ano, quando a McLaren anunciou Sérgio Perez para substituir Lewis Hamilton no time de Woking no próximo ano. Se um dia Massa já interessou à McLaren, esse interesse já se desvaneceu por completo, ao preferir o jovem mexicano que deu show em algumas corridas nesta temporada.
            Mesmo que consiga dar a volta por cima no próximo ano, ainda assim a tarefa de manter-se na categoria continuará complicada: a McLaren e a Mercedes estão fechadas com suas duplas de pilotos, que deverão continuar as mesmas em 2014; na Red Bull, se Mark Webber dizer adeus à F-1, o mais lógico é o time promover um de seus pilotos da Toro Rosso; a Lótus parece satisfeita com sua dupla, sabe-se lá até quando, e mesmo assim, é um nome de menor força na categoria, se comparada com Ferrari, McLaren, Red Bull, e Mercedes (ainda que no momento a Mercedes não esteja assim tão forte). Continuar em Maranello significará continuar em segundo plano na escuderia vermelha. Pode ser bom para o bolso do piloto, mas e suas ambições pessoais? Ainda mais depois de Luca de Montezemolo declarar abertamente que “não há lugar para dois galos na escuderia”. Que isso lembre Felipe quão firmes são as restrições à sua expectativa de se tornar a estrela do time novamente. E Fernando Alonso, ao declarar tão firmemente que Massa era o melhor nome para a Ferrari, deixa claro que essa preferência é porque sabe que pode dar conta do brasileiro sem maiores percalços...
            Há de se admirar a lealdade de Massa ao time italiano: desde que estreou na F-1, há 10 anos atrás, sua carreira sempre esteve ligada a Maranello: foi emprestado à Sauber, onde realizou sua primeira temporada, sendo dispensado por Peter Sauber ao fim do ano. Passou a temporada seguinte como piloto de testes do time italiano, antes de voltar à mesma Sauber em 2004, onde permaneceu mais duas temporadas, vindo a se tornar piloto “oficial” da Ferrari em 2006, com a saída de Rubens Barrichello. No seu primeiro ano no time vermelho, cumpriu seu papel como segundo de Michael Schumacher, tendo a oportunidade de ganhar duas corridas – uma delas no Brasil, onde deixou todos com esperanças de melhores dias na F-1, até porque com a aposentaria de Michael, Massa não precisaria continuar sendo “segundo” no time. Acabou surpreendido por Kimmi Raikkonem em 2007, tendo de ajudar o finlandês a ser campeão, mas na sua melhor chance, em 2008, bateu na trave, ficando com o vice-campeonato. Foi esportivo ao dizer que ele e o time ganhavam e perdiam juntos. Em 2009, a Ferrari fez um carro apenas mediano, e seu acidente na Hungria só complicou as coisas. Mesmo assim, Massa sempre fez questão de afirmar fazer parte da “família” Ferrari. Mas em 2010, a escuderia rossa trouxe Fernando Alonso, e daí em diante então...
            Que Felipe saiba aproveitar sua nova chance na Ferrari e na F-1. Se isso vai trazer alegria aos torcedores brasileiros, é outra história...

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