A
Fórmula 1 chegou à Índia para a disputa do segundo GP em terras deste país, que
estreou no calendário da categoria no ano passado, em mais uma pista projetada
por Hermann Tilke. Na pista, o assunto é o duelo pelo título da temporada,
polarizado entre o alemão Sebastian Vettel, da Red Bull, e o espanhol Fernando
Alonso, da Ferrari. Mas, no paddock, a conversa geral é qual será o destino da
Force Índia, escuderia que enfrenta um momento crucial em suas finanças.
Vijay
Mallya, diretor e proprietário da escuderia, aliás, por pouco não estaria no
circuito. Há poucas semanas, a justiça indiana emitiu uma ordem de prisão para
ele, pelo não pagamento de taxas aeroportuárias referentes à sua companhia de
aviação, a Kingfisher. Mallya teria feito o pagamento com cheques sem fundo, e
os credores resolveram endurecer o jogo para receber o quem direito. Após um
acordo com os credores, Mallya conseguiu revogar a ordem de prisão, mas a
situação continua complicada em suas empresas, e há relatos de vários
problemas. Houve comentários de salários atrasados dos funcionários, e até de
que parte das empresas de Mallya pode estar em situação falimentar, depois de
maus resultados nos últimos tempos. E o time de F-1 não seria uma exceção.
Dizem que a escuderia está à venda, e isso já coloca em dúvida sua participação
no próximo campeonato, inclusive com o forte boato de que os pilotos do time em
2013 precisarão trazer uma boa bolada de patrocínios, ao contrário do que
ocorreu até aqui, desde que a escuderia surgiu com esse nome, em 2008.
Sediada
ao lado do circuito de Silverstone, a Force Índia na verdade surgiu em 1991,
quando o irlandês Eddie Jordan enfim fez a estréia de seu time na F-1. A escuderia, apesar de
finanças débeis para aquele ano, foi a sensação da temporada, e Jordan tinha
planos ambiciosos. Os anos seguintes foram de altos e baixos, mas apenas em
1998 o time venceu pela primeira vez, na Bélgica, em uma dobradinha comandada
por Damon Hill. No ano seguinte, a escuderia teve seu melhor ano na categoria,
ao obter duas vitórias com Heinz-Harald Frentzen e ficar em 3° lugar no
campeonato mundial, atrás apenas da campeã de pilotos McLaren e da vice-campeã
Ferrari. O que parecia ser o surgimento de um novo time de ponta na categoria,
contudo, desandou nos anos seguintes, voltando a obter apenas resultados
fracos, o que foi minando as finanças do time. Cansado dos poucos momentos bons
do time, Eddie Jordan vendeu sua escuderia ao grupo russo Midland ao final de
2005, encerrando a participação de sua escuderia na categoria máxima do
automobilismo.
Como
Midland, o time não durou nem meia temporada: acabou vendido para o grupo
holandês de carros esportivos Spyker após apenas 5 provas disputadas na
temporada de 2006. Os holandeses também não ficaram muito tempo com a
escuderia, vendendo-a ao final de 2007, contabilizando apenas 1 ano e meia de
duração. E em 2008, o time, agora de propriedade de Vijay Mallya, fazia sua
estréia com o nome de Force Índia no certame. A escuderia tinha como pilotos
Giancarlo Fisichella e Adrian Sutil. O carro, batizado de VJM01, era equipado
com motores da Ferrari. Foi um ano de experiência na categoria, sem conquistar
nenhum ponto, mas Mallya tinha planos audaciosos, e para o ano seguinte, firmou
uma parceria técnica com a McLaren, passando inclusive a utilizar os poderosos
motores Mercedes. O time cresceu bastante na segunda metade do ano, com
Fisichella a conquistar uma pole-position na Bélgica e por pouco não vencer a
corrida, com o italiano chegando logo atrás de Kimmi Raikkonem. O ano terminou
com o time na 9ª posição, com 13 pontos, e a promessa de conseguir melhores
resultados. Havia dinheiro, motores, e condições técnicas. Só precisavam saber
usar da melhor forma possível.
A
escuderia veio melhorando: em 2010, já foi a 7ª colocada no mundial, subindo
para a 6ª posição no ano passado. E este ano, ocupa no momento a 7ª colocação,
com 89 pontos, e com perspectiva de continuar pontuando, embora seja difícil
avançar mais na classificação, uma vez que a Sauber, à sua frente, tem tido
ótimos resultados. O que não serve para disfarçar o quadro ruim das finanças da
escuderia, que desde que foi assumida pelo indiano, sempre ostentou a maior
parte dos patrocínios oriundos de empresas do próprio Mallya, com poucas
exceções. No ano passado, entretanto, Mallya vendeu parte do controle acionário
do time ao grupo Sahara, que nesta temporada é o principal patrocinador da
escuderia. Mas, com as empresas de Vijay em situação financeira ruim, os
recursos para o time de F-1 despencaram. E mesmo os bons resultados obtidos
pela equipe parecem incapazes de seduzirem novos investidores a embarcar no
time.
Adrian
Sutil ajudava na manutenção do orçamento, com um leque de patrocinadores
pessoais até o ano passado, mas o piloto alemão, mesmo tendo feito um bom ano,
acabou perdendo seu lugar no time para Nico Hulkenberg, que apesar de trazer
também alguns patrocinadores, já estaria de saída para a Sauber, levando uma
verba que fará falta ao time indiano. O escocês Paul Di Resta deve permanecer
na escuderia, onde já é titular desde o ano passado, tendo sido piloto reserva
da equipe em 2010. Sua presença garante um bom desconto na aquisição dos
motores da Mercedes, uma conta que ficaria ainda mais complicada para as
combalidas finanças se ele fosse dispensado ou resolvesse sair. Para sorte de
Mallya, Di Resta ainda é ligado à Mercedes, que deve mantê-lo na escuderia sem
problemas, uma vez que seu time acaba de acertar a contratação de Lewis
Hamilton para a próxima temporada. A menos que Nico Rosberg peça as contas em
breve, o escocês não deve deixar o time tão cedo. Isso, claro, se o time
continuar a existir. Mesmo assim, a presença de Paul na próxima temporada ainda
é colocada em dúvida.
Quando
o assunto é dinheiro, a F-1 é uma verdadeira caixa-preta de informações, com
números muitas vezes desencontrados, sendo muitos deles chutes de valores ou
segredos guardados a sete chaves. Não se sabe o exato tamanho do buraco onde a
Force India se encontra, apenas que é grande, e que pode resultar no fim do
time. Resta saber se a ameaça se concretiza. A ordem de prisão para Mallya só
reforça a percepção de que a situação está mesmo feia, embora pilotos,
mecânicos e engenheiros tentem demonstrar total tranqüilidade nos boxes e na
pista. Para complicar a situação, os funcionários da Kingfisher, que está
proibida de operar em solo indiano devido à sua situação financeira
praticamente falimentar, marcaram de fazer ponto na entrada do autódromo para
protestar e cobrar de Mallya que lhes pague os salários atrasados. E prometem fazer
barulho para serem ouvidos. Eles acusam Mallya de fazer pouco caso deles, por
ignorá-los completamente, enquanto precisam de dinheiro para pagar as contas
atrasadas, ao mesmo tempo em que o patrão “brinca” de F-1 pelo mundo afora.
Não
seria a primeira vez que um dono de escuderia ficaria enrolado com problemas
financeiros e problemas com a justiça. A categoria máxima do automobilismo
mundial já teve uma boa lista de donos com rolos e brigas, além de outras
firulas nada elogiáveis. Mallya tinha conseguido adquirir grande respeito de
parte da maioria do pessoal do paddock e da imprensa especializada, por tentar
seguir uma linha mais “liberal” e menos arrogante e fria, em comparação com o
comportamento dos demais times. Mas todo esse carisma que acumulou está em vias
de ruir se não conseguir dar um jeito na situação em que seu grupo se encontra.
Para
a F-1, poderia resultar na perda de um time que, embora não tenha “decolado” no
campeonato nestes anos, ganhou uma razoável estabilidade no meio do pelotão, e
com capacidade para surpreender ocasionalmente, obtendo bons resultados. Neste
ano, a escuderia vem crescendo desde a prova da Bélgica, quando marcou a maior
parte dos pontos do atual certame. Eles ainda mantém o otimismo de que podem
superar a Sauber, mesmo com o time suíço em um momento melhor. Esse entusiasmo
pode sumir se a equipe desaparecer. E um time a menos disputando as corridas,
ainda mais uma equipe como a Force Índia, será uma ausência que fará muita
falta.
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