sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

MOMENTO CRUCIAL NA FERRARI

            A Ferrari deu a largada “oficial” para o seu ano de 2012: esta semana teve a tradicional apresentação de início do ano da escuderia italiana em Madonna Di Campiglio, nos Alpes, com inúmeros jornalistas da imprensa especializada recebidos em um clima de muita camaradagem, mimos e conversas aparentemente mais soltas e sem aquele stress típico de um fim de semana de Grande Prêmio. É o Wrooom 2012! Mas entre todos os jornalistas, era nítido perceber que todo esse clima relaxado e amigável esconde um ano em que o time de Maranello encara como mais do que crucial em sua existência. E a cobrança por melhores resultados será mais do que brutal para todos na escuderia vermelha.
            Felipe Massa que o diga: e o brasileiro, que parte para sua 7ª temporada como piloto do time mais antigo da F-1, já sentiu a cobrança nos Alpes, quando novamente Stefano Domenicalli reafirmou que espera de Felipe performance muito mais significativa do que a exibida pelo brasileiro nos últimos dois anos. E até parece que Massa já não sabe disso...mas o clima em virtude da cobrança, novamente repetida para inúmeros membros da imprensa, são um modo pouco elogiável de colocar seu piloto na parede, quando muitas vezes a escuderia fica apregoando que certas questões devem ser discutidas internamente.
            A Ferrari exibiu uma performance irregular nas duas últimas temporadas. Se em 2010 o time conseguiu se recuperar de um início de temporada fraco, onde se dava a entender que vencer o campeonato seria praticamente impossível, e mesmo assim, conseguiu renascer das cinzas na segunda metade do certame, com Fernando Alonso a tirar tudo o que podia do carro e quase chegar lá, o ano de 2011 foi uma desilusão total. Não fosse a vitória solitária de Alonso em Silverstone, e mesmo assim, para muitos, conquistada apenas devido à confusão da proibição do escapamento aerodinâmico, o time de Maranello teria passado totalmente em branco no campeonato, algo que não vivenciava desde 1993, último ano em que a Ferrari ficou sem vencer uma corrida sequer na F-1. Se Alonso ainda conseguiu se superar e até figurar entre os ponteiros na classificação, chegando a disputar o vice-campeonato, Massa nem isso fez: ficou numa posição incômoda, gravitando em torno do 5° lugar como melhor resultado durante todo o ano, e arrumando algumas encrencas com Lewis Hamilton. Muito pouco para satisfazer o ego de Lucca de Montezemolo, que diga-se de passagem, ficou muito mal acostumado com os anos de dominação da Era Michael Schumacher, vividos em sua plenitude de 2000 a 2004. E Montezemolo anda irritado, e pouco paciente. O recado para este ano é que apenas o título importa, nada menos do que isso será aceito. E ele fala sério...
            Mas claro, também falou sério assim no ano passado, e no ano retrasado! Mas isso não significa que a ameaça do chefão da Ferrari ao deva ser levada a sério. Todos no time estão sendo cobrados por desempenhos melhores, com exceção de Fernando Alonso. O caso do espanhol, aliás, é ao contrário: é Alonso quem cobra mais empenho da Ferrari, e não é porque ele assinou contrato com o time italiano até 2016 que isso signifique que a escuderia faça “corpo mole”. Pelo que demonstrou nas duas últimas temporadas, Alonso fez sua parte na pista, logo, ele está com moral para fazer esta cobrança...
            O problema é falar e conseguir fazer. Em 2010, o início fraco foi o responsável pela perda do título. Embora o time tenha vencido a corrida inaugural, a vitória foi obtida em virtude da falha ocorrida no carro de Sebastian Vettel, que rumava para vencer sem problemas a primeira corrida. Nas provas seguintes, a Ferrari decaiu bastante de performance, e o time teve a sorte de ver a principal força do campeonato, a Red Bull, envolvida numa disputa renhida entre seus dois pilotos, enquanto a McLaren enfrentava altos e baixos em diversas corridas. Com muito trabalho, o time conseguiu aproveitar os erros dos adversários e se reerguer, entrando firme na luta pelo título, o que quase conseguiu. Mas em 2011, a Red Bull não teve disputa interna, corrigiu as poucas deficiências de seu carro, melhorou a fiabilidade, e tornou-se quase imbatível. Para piorar, a McLaren mostrou-se o time mais capaz de acompanhar os carros dos touros vermelhos. Mesmo com Alonso fazendo milagres, o carro mostrava-se pouco competitivo para permitir que o asturiano descontasse toda a diferença. O 4° lugar de Alonso só veio porque Lewis Hamilton teve um ano abaixo da média, se envolvendo em muitas confusões na pista, do contrário, o espanhol teria sido apenas 5°. Massa, em 6°, conseguiu menos da metade dos pontos de seu companheiro de equipe.
            Diante do insucesso, caçaram-se culpados: os pneus Pirelli, com os quais o time não se entendeu direito com alguns dos compostos oferecidos; o projeto excessivamente conservador monitorado por Aldo Costa, que não aceitava algumas idéias muito arrojadas do projetista Nikolas Tombazis; erros de estratégia, etc. E o time tomou providências para evitar que isso se repetisse. Aldo Costa foi dispensado, e Tombazis teve carta verde para adotar soluções mais radicais no projeto do novo carro 2012, com vistas a recuperar a diferença de performance para os rivais. Fazer um estudo bem mais acurado dos compostos da Pirelli, para compreender melhor os pneus italianos; e acima de tudo, cobrar Felipe Massa para render mais.
            Com relação aos pneus, é certo admitir que a Ferrari terá bem mais intimidade com os compostos da Pirelli este ano. Toda a experiência vivida com os diversos tipos de pneus utilizados no ano passado terão alguma serventia, e com certeza, foram devidamente estudados para se ajustarem melhor no novo chassi. Mas a Pirelli, depois de um ano de estréia onde muita coisa era novidade, após 20 anos afastada da categoria, promete mudanças nos compostos para este ano, tencionando diferenciar as performances dos compostos, bem como melhorá-los sem prejudicar o propósito de utilização dos diferentes tipos oferecidos. Isso pode significar que os novos pneus precisarão ser bem analisados no pouco tempo disponível na pré-temporada, a fim de evitar as inconveniências enfrentadas em 2011, especialmente com os compostos mais duros, com os quais o carro do ano passado simplesmente não conseguiu se entender direito, perdendo performance de maneira acentuada quando os usava. O novo modelo 2012 é descrito pela escuderia como “inovador”, mas é difícil saber se isso trará os resultados esperados. A Ferrari sempre foi um time “conservador” nos últimos anos, valendo-se mais da estabilidade e fiabilidade da performance de seus carros, enquanto a concorrência arriscava mais, ou sofria muito mais problemas internos decorrentes de outras causas. Mesmo durante os anos de Schumacher na escuderia, os carros criados neste período não eram “revolucionários” exatamente: eles eram tremendamente eficientes, mas não exatamente inovadores.
            O fato do regulamento técnico ter mudado pouco do ano passado para cá, com a principal mudança sendo o banimento do escapamento aerodinâmico, em tese deve ajudar a Ferrari a criar um modelo mais competitivo. Mas esse fato também beneficia todas as outras escuderias, que poderão também melhorar suas performances, podendo complicar a situação de Maranello nos grids. Um projeto mais arrojado tem maiores chances de obter um ganho de performance pronunciado, mas também tem o risco enorme do tiro sair pela culatra, obtendo um desempenho até pior do que o esperado.
            E, claro, temos o fator Felipe Massa, que com certeza terá seu ano derradeiro em Maranello. Felipe precisa partir para o tudo ou nada desde o princípio, para pelo menos colocar seu nome no mercado em 2013, onde são esperadas muitas mudanças potenciais de pilotos nos times da categoria. Um desempenho de alto nível poderia até fazer a Ferrari repensar a provável dispensa do brasileiro ao fim do ano, algo que é tido por muitos como praticamente certo. Mas o maior lucro mesmo é Massa conseguir um outro lugar competitivo para se instalar. Permanecer na Ferrari, com Alonso dando as cartas, será dar murros constantes em ponta de faca, e Felipe pode não ter cacife para se manter neste jogo. Pior, isso pode tirar dele seu foco de competição: se ficar focado em bater Alonso unicamente, pode até perder a oportunidade de fazer melhor o seu trabalho.
            O time italiano tem a convicção de que está tomando as providências corretas para voltar a ser campeão. Fica a expectativa de quanto estas providências foram bem sucedidas. Vai ser um ano crucial para muita gente. Um novo fracasso, ou desempenho abaixo das expectativas, pode significar algo bem drástico, e sem nem precisar esperar chegar ao fim do ano para ver tudo desabar...

Nenhum comentário: