quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – JUNHO DE 1995

           Iniciando um novo ano, e eis aqui mais uma coluna de meu antigo acervo, escrita em junho de 1995. O enfoque era o clima no campeonato da F-Indy naquele ano, que ao chegar ao mês de junho, já tinha alguns ânimos meio exaltados. Bom, sejam bem-vindos aqui a mais um ano, e curtam o primeiro texto que estou disponibilizando em 2012...

AMBIENTE QUENTE NO PEDAÇO
Adriano de Avance Moreno
            A F- Indy que costuma apregoar que não é a bagunça política e fria da F-1, quem diria, mostrou na última etapa em Portland que não está imune aos defeitos que costumam se apresentar na categoria "top" do automobilismo mundial. Em Portland, tivemos um pouco de tudo: disputas ferozes, manobras desleais decisões no tapetão e tudo o mais que se possa imaginar. 0 ambiente da Indy que sempre se caracterizou pela cordialidade e bom-mocismo, está começando a ganhar ares de guerra declarada. Desde a etapa de Detroit que o ambiente anda pesado na categoria, e os motivos são os mais diversos possíveis indo de brigas políticas a bairrismo contra os pilotos estrangeiros na categoria.
Um dos motivos que causa tamanho furor é, sem duvida alguma, a exclusão da prova mais famosa do calendário da Indy as 500 Milhas de Indianápolis, do calendário de 96, devido a cisão de interesses entre a CART e Tony George, proprietário do Indianapolis Motor Speedway. George criou o seu próprio campeonato, a Indy Racing League (IRL), que será disputado a partir do ano que vem. A CART, por seu lado, para evitar conflitos entre os pilotos, resolveu planejar o seu calendário para a temporada 96 sem colocar nenhuma prova no mês de maio. Isso possibilitará a pilotos da Indy disputarem a prova das 500 Milhas, sem nenhum problema com relação ao campeonato da Indycar. Mas os ânimos estão exaltados e há quem diga que a IRL não vai longe. Apenas A.J. Foity proprietário da Foity Enterprises, é o único dono de equipe a ficar do lado da IRL. Todos os demais estão contra a idéia, o que faz presumir que o campeonato de George não vai vingar por falta de competidores. Alem de Indianápolis, Phoenix e New England são os únicos circuitos até agora que compõem o campeonato da IRL. Não há previsão de novas pistas para completar o calendário até o momento.
Voltando à disputa nas pistas, o ânimo dos pilotos está começando a partir da cordialidade para a rivalidade e bairrismos Em Detroit alguns donos de equipe e alguns pilotos, notadamente americanos, protestaram contra a internacionalização da Indy e da invasão de pilotos estrangeiros na categoria, especialmente os brasileiros. Enquanto alguns engrossavam o coro contra os estrangeiros outros erguiam-se na defesa da participação de pilotos estrangeiros com argumentos inquestionáveis. Teo Fabi foi contundente: "Quem reclama da participação de pilotos estrangeiros é porque tem medo de competir. Quem tem talento e sabe fazer o seu serviço não tem que temer adversário nenhum. Vai para a pista e mostra do que e capaz." Outros também concordaram com argumentos semelhantes.
Os brasileiros, entretanto, também estão começando a ficar exaltados uns com os outros. Gil de Ferran e Christian FittipaIdi por exemplo, tiveram uma disputa férrea por posições em Detroit e acabaram fechando um ao outro, o que motivou queixas de ambos um contra o outro. Mas nada que perdurasse até a corrida de Portland, quando já estavam de bem novamente. Como se isso não bastasse, Jacques Villeneuve e Michael Andretti protestaram contra os pilotos brasileiros, de quem andaram levando fechadas involuntárias durante os treinos de Detroit. Michael Andretti, entretanto, é outro que sempre gera críticas de outros pilotos quando dá fechadas em outros competidores. Em algumas provas, seus “chega-pra-lá” sempre motivaram grandes queixas e, em alguns casos, até jogaram fora da pista outros competidores. Logo, Michael esta reclamando sem ter motivos...
Já em Portland, o ambiente da corrida simplesmente pegou fogo. A corrida foi muito disputada, gerando comentários curiosos e situações cômicas. Gil de Ferran classificou a corrida de “coisa selvagem". De fato, o piloto brasileiro andou levando fechadas de todos os que cruzavam o seu caminho. Na disputa por posições, Gil levou fechadas dos pilotos à sua frente e principalmente de retardatários. “Tinha momentos em que me dava a vontade de parar o carro e ir das uns tapas nos outros pilotos. Nunca vi tamanha burrice em alguns competidores." Gil chegou a disputar freadas principalmente com Scott Pruett, que levou mais de 3 voltas para ultrapassar apesar de Pruett ser um retardatário. Isso complicou sua luta na corrida com Michael Andretti que chegou muito perto. Andrettinho, entretando, arrancou a posição de Gil na base da narra, forçando ultrapassagem até onde não havia como passar. Quase que ambos saíram da pista nesta briga. Andretti acabou tocando rodas com vários pilotos, sendo que alguns, como Bryan Herta, acabaram ficando fora da corrida por causa das estripulias de Michael. Até Al Unser Jr. que fez uma corrida espetacular e simplesmente ignorou a concorrência após ultrapassar Jacques Villeneuve, acabou vendo sua vitória ir por água abaixo após os técnicos da CART conferirem que seu Penske estava mais baixo do que o permitido pelo regulamento e cassaram sua bela vitória, num comunicado feito 3h30min após o término da corrida. A vitória ficou ficou para Jimmy Vasser. Ares de F-1 em pleno circo da Indy...
A CART, entretanto, garante que o julgamento do recurso da Penske contra a desclassificação de Al Unser Jr. será rápido e a briga promete ser boa. Até quem achava que as maracutaias politicas da F-1 eram impossíveis de ocorrerem na F-Indy já fica meio receoso com a situação. Quem não se lembra do episodio do GP do Brasil deste ano? A equipe Ganassi, de Jimmy Vasser, que ficou com a vitória da corrida, já articula um recurso de protesto caso Al Jr. tenha sua vitória recuperada. O problema é que a falta da experiência da Indy neste tipo de julgamento pode ser um complicador a mais; a última vez que ocorreu uma desclassificação na Indy foi em 1983, com Tom Sneva. Ele teve sua vitória cassada em uma corrida. Após o julgamento, ele recuperou sua vitória. Os ares do circo da Indy, que já andam meio esquentados, poderiam acabar fervendo de vez com uma decisão que devolva a vitória de Al Unser Jr..
Um exemplo de como andam os ritmos dos pilotos é o modo como eles se comportaram na pista. Até as bandeiras amarelas que foram acionadas durante a prova por motivo de acidentes, acabaram colocando mais lenha na fogueira dos ânimos dos pilotos. Formava-se um bolo de carros nas relargadas e nas curvas, era possível ver que o ritmo era de um verdadeiro vale tudo. Tivemos até uma cena cômica nos boxes, com o carro de Danny Sullivan arrancando com a mangueira de metanol e provocando um incêndio rapidamente debelado pelos mecânicos, que jogaram tantos baldes de água a torto e a direito que parecia até um filme dos 3 patetas. Na pista, a grande maioria das tentativas de ultrapassagens eram feitas como se o piloto estivesse com a faca entre os dentes. "Foi uma disputa selvagem", sintetizou Gil de Ferran. Será que a Indy está preparada para enfrentar estes ânimos acirrados? O tempo dirá. Na F-1, já é rotina, mas na F-Indy...

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