quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1995 – II

            Dando sequência à publicação de minhas antigas colunas de automobilismo, trago agora esta escrita na segunda quinzena de julho de 1995. O assunto era como nossos pilotos, cotados para disputar o título a rodo na F-Indy (a verdadeira, não a atual, da IRL), estavam perdendo de lavada para um adversário inesperado e capaz de arrasar com todos eles ao mesmo tempo, e que ninguém imaginava poder fazer um estrago tão grande e amplo, deixando nossa torcida a ver navios, quase totalmente...
            Boa leitura...
BRASILEIROS PERDEM PARA O AZAR
Adriano de Avance Moreno

            Ao fim de mais uma etapa da F-Indy e fazendo uma revisão do campeonato transcorrido até agora, só posso dizer que os pilotos brasileiros não estão exatamente competindo contra os outros pilotos da categoria. Longe disso até o momento. O maior adversário para os pilotos brsileiros na temporada 1996 da F-Indy, e que até o momento, nenhum conseguiu aparentemente vencer, está conseguindo derrubar todos eles e ao mesmo tempo. E quem é esse adversário? Ninguém menos do que o azar! Este tem sido o grande inimigo dos pilotos brasileiros na temporada até o momento. Nenhum de nossos pilotos conseguiu escapar dele. O que se esperava ser um show dos pilotos brasileiros na categoria em cima da concorrência virou um martírio em fim. Émerson Fittipaldi, Maurício Gugelmim, Raul Boesel, Marco Greco, Gil de Ferran, Christian Fittipaldi, André Ribeiro, todos eles tiveram até agora um azar dos diabos, enquanto a concorrência simplesmente vai indo embora no campeonato.
            Émerson conseguiu 2 pódios, sendo 1 deles a sua vitória em Nazareth. Foi o melhor resultado qualitativo de um piloto brasileiro até agora. Mas em compensação, Émerson não conseguiu se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis, e abandonou a maioria das provas até o momento, o mesmo acontecendo em Cleveland. Daí o fato de estar tão atrás na classificação do campeonato. Até mesmo a Penske parece ter sido derrubada pelo azar. Al Unser Jr., que nas últimas provas tem conseguido classificações de corrida melhores do que Émerson, não tem tido muita sorte: teve uma vitória anulada, e 2 abandonos consecutivos quando poderia dar uma arrancada para a liderança do campeonato.
            Voltando aos pilotos brasileiros, Gil de Ferran foi do céu ao inferno em poucas e breves palavras que se resumiam a um nome: Scott Pruett. Gil conseguiu em Cleveland sua primeira pole-position na F-Indy, e soube aproveitá-la na corrida, largando sem problemas e indo embora da concorrência. Gil conseguiu uma confortável vantagem de 10s e a utilizou bem em seus pit stops, o eu lhe permitiu recuperar a liderança quando os demais paravam também. As coisas complicaram-se  em uma bandeira amarela na parte final da prova. Na relargada, Michael Andretti assumiu a ponta, numa disputa que Gil não teve como se defender porque Scott Pruett, um retardatário, resolveu se meter junto na balada dos líderes. Faltando 5 voltas para o fim da corridea, Gil deu o bote definitivo e ultrapassava Pruett e Andretti na freada para a curva antes da reta de largada. E então, aconteceu o que não devia: Pruett, como que discutindo a liderança da corrida, e não sendo apenas um retardatário, acabou fechando o piloto brasileiro quando este já havia consumado a ultrapassagem. Ambos bateram e ficaram fora da pista e da corrida. Gil tinha razão de estar chateado, pois era mais uma prova onde ele se encontrava entre os primeiros, e por motivos alheios a seu controle, acabou indo para o brejo.
            A prova de Cleveland foi negra para os brasileiros. Christian Fittipaldi teve o seu motor quebrado, Émerson acabou abandonando com superaquecimento do motor, pois uma quebra em um duto fez seu carro perder toda a água dos radiadores. André Ribeiro ficou na largada, devido a um empurrão desleal de Paul Tracy. Raul Boesel fazia uma excelente prova, mas seu carro teve uma pane elétrica e apagou feito uma lâmpada queimada. Gugelmim foi outro a ascender às primeiras posições e, sem mais nem menos, ficou sem embreagem e sem corrida. Greco completou a etapa, mas em 15, depois de sofrer vários contratempos.
            Maurício Gugelmim começou bem a temporada, com ótima classificação em Miami, tanto nos treinos como na corrida, chegando até a dominar boa parte das 500 Milhas de Indianápolis, mas de lá pra cá o carro parece ter um defeito atrás do outro. Pode até se classificar bem, mas na corrida acontece alguma coisa de errado.
            Christian Fittipaldi teve seu apogeu em Indianápolis, onde foi 2º colocado, mas depois passou a enfrentar uma série de azares que literalmente fizeram quaisquer bons resultados em potencial ruírem.
            Raul Boesel também não anda nas nuvens. Apesar de seu colega de equipe Bobby Rahal estar com possibilidades de disputar o título, o azar tem impedido Raul de conseguir resultados à altura. Nas últimas corridas, seu Lola/Mercedes evoluiu muito, a ponto de competir com os favoritos, mesmo diante da falta de potência do motor Mercedes frente aos Ford e Honda. Rahal por pouco não venceu em Toronto, mas Raul tem amargado resultados muito azarados nas últimas corridas. Chegou a ocupar as posições entre os líderes, mas invariavelmente tem ficado sempre pelo caminho, vítima de problemas que surgem em seu carro, algumas vezes até inexplicavelmente.
            Marco Greco é outro brasileiro que está com a vida complicada. Sem carro competitivo, Greco chegou ao cúmulo de ter de disputar parte da temporada em equipes diferentes. Algumas corridas ele fez pela Dick Simon, enquanto outras ele fez pela Galles. Apesar da melhor estrutura desta última equipe, nem por isso o brasileiro tem tido mais sorte. Apesar de contar com um patrocínio razoável da Brastemp, o piloto brasileiro tem amargado sempre mais decepções do que alegrias. E até já conseguiu pontuar na temporada, fazendo um razoável 10º lugar depois de muita briga em uma das etapas.
            Tudo isso só vem mostrar que até o momento os pilotos brasileiros estão travando uma luta inglória contra o azar, que parece estar competindo com todos eles ao mesmo tempo, e que está vencendo a briga. Ninguém sabe dizer até quando essa luta deve continuar, mas todos eles torcem para que consigam vencer a parada em breve, sem falar em seus torcedores...
            E por falar em brigas, as competições da Indy estão ficando bem bravas! Em Cleveland, Robby Gordon se comportou como um autêntico kamikaze na pista: travou rodas, tocou carro com Michael Andretti e Jacques Villeneuve, sem falar em manobras pouco esportivas na pista. Scott Pruett, depois de ficar fora da corrida ao bater em Gil de Ferran, declarou abertamente que não tinha intenção de deixar o brasileiro passar, e que estava tentando recuperar o terreno perdido, mesmo depois de tomar inúmeras bandeiras azuis. O único punido acabou sendo Robby Gordon, que levou uma multa de US$ 10 mil. Michael Andretti, Jimmy Vasser e Paul Tracy também foram outros pilotos que andaram batendo rodas e carros em Cleveland. Do jeito que andam os ânimos, as coisas devem mesmo ficar quentes na pista nas próximas etapas. Resta saber quem vai sair inteiro na próxima corrida. Pode virar um verdadeiro salve-se quem puder! E tratem de sair da frente...
 

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