quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1995 – I

            Cá estamos novamente com mais uma coluna de meu acervo de 1995. Esta é datada de 07 de julho daquele ano, e falava um pouco das “pedras” que existiam na dura competição da F-1, e os percalços que isso representava. E vamos ao texto...

AS PEDRAS DA LARGADA
Adriano de Avance Moreno

            Mais uma vez, Rubinho mostrou sua capacidade na pista, em uma corrida em que não faltaram alguns lances emocionantes e tremendas brigas na pista, o que serviu para animar o fim de semana. A disputa começou já no sábado, com as Williams dispostas a mostrar que iam recuperar a hegemonia exibida no início da temporada. Damon Hill e David Couthard marcaram os melhores tempos, deixando Michael Schumacher à distância. Mais atrás, outra boa briga se desenrolava entre as Ferraris e a Benetton de Johnny Herbert. E mais atrás, a briga entre a Ligier, Jordan e McLaren. A Ligier, por ter sua fábrica aqui em Magny-Cours e treinar aqui praticamente o ano todo, teoricamente tem de andar bem aqui, pois está com ampla vantagem no conhecimento da pista sobre as demais escuderias. A Jordan e a McLaren vem se engalfinhando já desde o início da temporada, por várias razões. A equipe esnobou a Peugeot, que resolveu passar a equipar a Jordan, disposta a humilhar a McLaren. No início do ano, a McLaren ganhou vários rounds, mas agora a equipe de Rubens Barrichello e Eddie Irvinne está começando a virar o jogo, e a julgar pela exibição de Rubinho no GP da França, a coisa vai melhorar, e pra valer.
            Depois de vários contratempos nas primeiras etapas do ano, com várias quebras aqui e ali, que deixaram até a equipe em dúvida com relação à sua capacidade, a Jordan parece ter encontrado finalmente o caminho para subir aos primeiros lugares. A corrida de Barrichello em Magny-Cours foi a maior prova disso e o piloto brasileiro só não logrou todo o êxito que esperava por causa de um bendito aparelho de detecção de queima de largada, que acusou movimentação irregular no carro de Rubinho e o puniu com uma parada de 10s no Box. A largada do brasileiro foi excelente, tanto que ele quase chegou a ultrapassar Schumacher no arranque da primeira curva, quando o alemão teve uma tentativa frustrada de ultrapassar o pole Hill. Rubinho, além de ter largado bem, estava defendendo-se muito bem em sua posição. Couthard, que vinha logo atrás, não mostrava ter fôlego para alcançar o brasileiro a curto prazo. “Meu carro estava tracionando muito melhor que o do Couthard”, declarou Barrichello, que chegou a abrir até 3s de vantagem para a Williams do escocês. Pena que todo o esforço acabou na punição de 10s no Box. O brasileiro saiu disposto ao tudo ou nada, e com outra atuação soberba, ele atingiu a zona de pontuação pouco depois de atingida a metade da corrida. Uma atuação espetacular; não fosse a punição, que muitos na equipe e até o piloto consideraram errônea, e o brasileiro teria grandes chances de ter subido ao pódio novamente, repetindo o feito do GP do Canadá, quando foi o 2º colocado. A maior vitória foi da equipe, que bateu amplamente a McLaren. Mas o ambiente na F-1 está cheio de pedras. Outra vítima da punição de queimar a largada perdeu toda a sua corrida por punição de 10s no Box. Olivier Panis, que largou em 6º, ao lado de Rubinho, ficou encaixotado atrás de Mika Hakkinem, da McLaren, quando deixou o box, e aí ficou por todo o resto da corrida. Hakkinem segurou a posição no braço e Panis, por mais que se esforçasse e tivesse um carro mais rápido, não conseguia passar de jeito nenhum.
            Na frente, a disputa teve 2 momentos distintos: Hill à frente, com Schumacher colado nos calcanhares do inglês; e depois, com Schumacher à frente, e Hill ia ficando para trás. Ninguém acreditava muito nas desculpas dos pilotos, e deve ficar algo patente: o defeito pode estar nos pilotos! Como antes Hill chegava até a abrir um pouco do alemão e depois do pit stop não conseguia mais manter o mesmo ritmo? Para uma equipe do porte da Williams, se os carros têm algum defeito, ele deve ser descoberto rapidamente. Há rumores de que Hill e Couthard podem ter de procurar equipe novas para o ano que vem. Couthard poderia ter menos tempo ainda: dizem que o escocês só teria mais algumas provas para mostrar que é um piloto de ponta, depois de tantas trapalhadas na pista nas últimas etapas. Para alguém que, em 94, chegou a ser apontado como melhor piloto do que Damon Hill, tal suas performances para um novato na categoria, as últimas corridas não tem correspondido às expectativas e todas as vezes Couthard ficou muito atrás de Hill; quando tentou acompanhá-lo, acabou se dando mal, não conseguindo manter o mesmo ritmo de corrida. O ambiente na Williams anda tal que dizem que a escuderia, apesar de ter contrato com a Renault até o fim de 1997, poderia trocar de motor ainda para 1996, preferindo os Honda V-10 que equipam as Ligier.
            Na Ferrri, o clima é de otimismo: as pistas mais velozes vem aí é a chance de a escuderia vermelha mostrar que pode entrar na briga pelas vitórias e talvez pelo título. Mas o clima anda meio desconfiado entre seus dois pilotos: Jean Alesi está guiando como nunca e quer permanecer na equipe, enquanto Gerhard Berger continua mostrando sua tradicional garra e competência. Mas ninguém duvida que a Ferrari anda namorando Jacques Villeneuve, filho do lendário Gilles Villeneuve, e atualmente um dos favoritos ao título da F-Indy. Se Villeneuve vir para a F-1, a Ferrari será a escolha natural e Jacques iria até pilotar a Ferrari com o número de seu pai, o 27. Seu estilo arrojado lembra em quase tudo o pai, uma razão a mais para os ferraristas quererem-no.
            Já na McLaren o clima não é dos mais descontraídos. A equipe está sob forte pressão dos patrocinadores e até da Mercedes, que estão exigindo que Ron Dennsi refaça seu staff técnico para a próxima temporada. Dennis já tentou trazer John Barnard, atualmente na Ferrari, mas não recebeu uma resposta do projetista. Até Gary Anderson foi cortejado, mas o projetista prefere ficar na Jordan. No quesito dos pilotos, Mika Hakkinem é o único com lugar garantido na equipe. Mark Blundell pode levar cartão azul da escuderia a qualquer momento, já que suas performances até agora não empolgaram ninguém. Fala-se que Heinz-Harald Frentzen pode ser o seu substituto. Ou até mesmo Christian Fittipaldi, cujo principal patrocinador, a Malboro, estaria interessada em ver novamente na F-1, depois de seu excelente desempenho nas 500 Milhas de Indianápolis.
            Por fim, a última novidade é de que em 1996 só poderão alinhar no grid de largada dos GPs carros com tempos superiores a no máximo 7% a mais do que o tempo do pole-position. Atualmente, essa tolerância é de 10%. Se tal regra fosse aplicada neste GP da França, apenas 20 carros teriam largado. Os grids deve diminuir uma barbaridade com esta nova regra. Vamos ver no que vai dar. Parece que virão muitas novas “pedras” por aí ainda...
 

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