sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

DACAR 2012 EM CURSO

        Ano novo, e cá estamos novamente em ação. E os fãs de automobilismo já podem matar parte de sua vontade por emoções: está em curso mais uma edição do Dacar, o mais difícil e famoso rali do mundo, que nos últimos anos, mudou de seu tradicional palco no continente africano para vir se aventurar nos terrenos da América do Sul, em busca de maior segurança para seus competidores e organização. Mais segurança em termos: as ameaças de grupos fanáticos radicais e alguns terroristas motivaram a mudança, e o continente sul-americano aceitou de braços abertos a competição, que está se mostrando, por estas paragens, ser tão ou até mais difícil do que todos esperavam. E a competição este ano já vem sendo acompanhada de diversos acidentes entre os competidores, e tivemos, logo no seu primeiro dia de disputa, uma morte de um dos participantes, o que já soava como um mau indício do que se veria nos dias seguintes.
            O argentino Jorge Martínez Boero sofreu um forte acidente com sua moto, ficando seriamente ferido no tórax, durante a disputa da primeira etapa especial da competição, entre Mar Del Plata e Santa Rosa de La Pampa, no domingo. Foi a 21ª morte registrada desde que o Dacar passou a ser disputado. O piloto chegou a ser resgatado pela equipe de suporte da competição, mas faleceu no helicóptero, enquanto era levado para um hospital.
            Apesar deste início ruim, os demais acidentes registrados nos dias seguintes, apesar de graves, não levaram a novos falecimentos. Até o fechamento desta coluna, os pilotos Bruno da Costa e Sebastian Coue, que competem nas motos, eram as mais recentes baixas da competição. Bruno da Costa, que apesar do nome, é francês, sofreu uma fratura na espinha dorsal e teve uma hemorragia renal após atropelar violentamente uma vaca que atravessou sua frente na etapa de segunda-feira. Seu estado, ao fechamento desta coluna, ainda era grave, mas o piloto mantinha-se consciente. Seu conterrâneo sofreu uma crise de hipertermia, tendo sido felizmente encontrado pela equipe de resgate da competição. O piloto, felizmente, já se encontra fora de perigo, após ter passado um pequeno período em coma.
            A competição sofreu mudanças para este ano. Se até o ano passado o rali partia e retornava a Buenos Aires, desta vez o trajeto foi alterado radicalmente: a largada foi em Mar Del Plata, na Argentina, no domingo passado dia 1, e seu destino final será em Lima, no Peru, no próximo dia 15. Serão disputadas etapas em 3 países durante o percurso: Argentina, Chile, e Peru. De Santa Rosa de La Pampa, os competidores seguiram para San Rafael, em seguida, San Juan, Chilecito, e Fiambalá, última cidade em solo argentino. De lá, partirão para Copiapó, no Chile, onde terão o tradicional dia de descanso do meio do rali, e em seguida, tomarão o rumo norte, para Antofagasta, Iquique, e Arica, último ponto em território chileno. No Peru, o primeiro destino será Arequipa, passando então por Nasca e Pisco, iniciando então o trecho final até a capital Lima. Um percurso total de 8.373 Km. Ainda não foi dessa vez que o Brasil teve a chance de sediar uma etapa da competição, mas enquanto a prova permanecer aqui na América do Sul, as chances sempre existem, embora em acho meio difíceis pela posição de rumo da competição, que prefere mais os trechos próximos aos desertos para tentar manter uma certa identidade para o rali, que sempre teve nas areias do Saara um de seus trechos mais característicos. O Atacama, no Chile, não é o Saara, mas pelo que vi das declarações dos competidores, tem se mostrado um rival à altura no quesito dificuldade de terreno, talvez até mais, pela proximidade da Cordilheira dos Andes, que ajuda a dar uma variada no terreno de forma que não era possível em território africano. Claro, os piadistas de plantão dizem que eles ainda não viram nada, e que se tivessem que enfrentar algumas estradas brasileiras, provavelmente tirariam o deserto de letra. E completam dizendo que por isso mesmo o rali não vem para o Brasil: nossas estradas aniquilariam os concorrentes, e provavelmente ninguém chegaria vivo, ou inteiro, ao final da competição. Uma piada por vezes exagerada, mas nem tanto se levarmos em conta o estado de algumas estradas nacionais...
            Largaram nada menos do que 742 competidores, em 470 veículos. São 4 modalidades: carros (173 inscritos), caminhões (76 inscritos), motos(189 inscritos), e quadriciclos(32 inscritos). Nada menos do que 190 países estão acompanhando a 33ª edição da competição, que tem suas imagens transmitidas por cerca de 70 emissoras de TV. Um dos destaques da edição deste ano é a ausência da Volkswagen. Vencedora das últimas 3 edições do rali. A fábrica alemã resolveu se concentrar na entrada do WRC. Com isso, o leque de possíveis favoritos na categoria carros aumentou. Enquanto nas motos, a disputa segue entre a dupla Marc Coma e Cyril Despréss, nos carros, a disputa ficou mais ampla. Nasser Al-Attiyah, do Catar, que acertou sua participação praticamente de última hora, mostrou porque foi campeão do rali, e mesmo com um veículo totalmente novo e desconhecido para ele – um Hummer, está entre os primeiros da competição, até o fechamento deste texto. A liderança estava nas mãos de Stéphane Peterhansel, que já venceu várias vezes a competição na modalidade carros, e promete novamente ser um páreo duro para os rivais potenciais, em especial Nasser.
            Novamente, o Brasil está representado na competição. Este ano, temos 13 competidores na prova, sendo que 7 deles competem na categoria motos: Zé Hélio Rodrigues, Felipe Zanol, Ike Klaumann, Dimas Mattos, Denisio do Nascimento, Vicente de Benedictis Neto, e Arndt Budweg. Na categoria caminhões, nossos pilotos são André Azevedo e Maykel Justo, que dividem um Tatra com o tcheco Jaromir Martinec. Nossos demais representantes estão na categoria carros, onde temos Jean Azevedo em parceria com Emerson Cavassin, dividindo um modelo Nissan; e a dupla Guilherme Spinelli/Youssef Haddad, pilotando um modelo Mitsubishi. Ika Klaumann, aliás, já ficou fora de combate, tendo sofrido um forte acidente na terça-feira, mas felizmente sem ferimentos graves, o que foi comemorado pelo piloto catarinense, que fazia sua estréia no Dacar.
            Não há como negar o fascínio que o Dacar traz. O maior rali do mundo tem um charme incomparável, e por mais que vejamos alguns de seus competidores fazerem o que muitos considerariam loucura, para eles é um desafio que todos os anos os impele a tentar novamente, por pior que tenha sido sua participação no ano anterior. E, por mais tecnologia que se tenha hoje, a sensação do imprevisível que ainda ronda as etapas do rali, com pilotos até se perdendo pelo meio do caminho, em setores onde o importante é velocidade, e em outros é a regularidade, mostra que o homem ainda não dominou tudo que imagina existir. O contato que a natureza dos locais, que muitas vezes se impõe aos participantes, remete aos velhos tempos, resgatando um pouco a sensação de “desbravamento” que existia antigamente, quando boa parte do mundo ainda desconhecida, e sua exploração, um dos maiores desafios da humanidade.
            Bem, os “loucos do deserto”, como são comumente chamados os competidores do Dacar, estão novamente em ação. Que todos eles consigam chegar ao final da competição, não importa em qual posição. O Dacar é uma prova de sobrevivência, acima de tudo, e conseguir terminar a competição, por si só, já é uma tremenda vitória. Veremos no dia 15 quem estará em Lima para conferir o resultado desta grande aventura do esporte a motor...
 Nova baixa na Williams: o grupo AT&T, principal patrocinador da escuderia, ao lado da petrolífera PDVSA, deixou a escuderia. A notícia não é exatamente novidade, pois em novembro a empresa americana já havia comunicado que não renovaria seu patrocínio à escuderia inglesa. O time de Frank Williams busca um novo patrocinador que possa substituir a perda. Quanto à disputa de quem será o companheiro de Pastor Maldonado no time, a situação permanece indefinida até o fechamento desta coluna.

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