Na reta final do campeonato deste ano, a preocupação da Fórmula 1 é com o certame do ano que vem. A incerteza voltou a pairar sobre o calendário da categoria, que pode ter algumas provas comprometidas no próximo ano, apesar de sua confirmação “oficial” no calendário. Que o Bahrein está na berlinda, devido à situação dos protestos populares, não é nenhuma novidade. O problema agora é com os sul-coreanos, que já perderam boa parte do entusiasmo que a chegada da F-1 a seu país prometia. A corrida deste ano, se foi melhor do que a do ano passado, por outro lado, trouxe à tona a insatisfação dos promotores com relação às altas taxas cobradas pela FOM para poder realizar a prova. Eles querem uma revisão dos valores acertados, que julgam ser muito altas, e com reajustes anuais que só vão tornando a brincadeira mais cara e dispendiosa. E, uma vez que a venda de ingressos é a principal, senão única, fonte de renda dos organizadores, já que as placas publicitárias de cada autódromo também costumam ser gerenciadas pela FOM, a preocupação é legítima.
Mas Bernie Ecclestone não vai aceitar isso passivamente. E, com mais corridas previstas para entrar no calendário, o baixinho mandatário da FOM está até agradecendo por isso acontecer, na melhor das hipóteses. Com uma segunda corrida nos Estados Unidos, e a prova da Rússia a caminho a curto prazo, Bernie estava no dilema de decidir quais provas teriam de ser sacrificadas para acomodar o calendário ao limite de 20 corridas por ano, número máximo que as escuderias disseram ter condições de participar. Com 19 provas este ano, pelo cancelamento da prova do Bahrein, o campeonato de 2012 já teria 20 corridas, pela volta do Bahrein, e a inclusão do GP dos Estados Unidos. Quem sairia seria a Turquia, que já desencantou-se com os carros da categoria máximo do automobilismo, e estão oficialmente fora já no ano que vem. Mas, se a prova barenita novamente não puder ser realizada, está se prevendo que a corrida turca poderia entrar como tapa-buraco no calendário. Outro problema potencial é a prova estadunidense, que depende de se ter um autódromo para ser realizada, e ao que parece, a construção do novo circuito empacou em Austin, no Texas, devido a problemas que poderão se tornar mais sérios e comprometer a realização da corrida. Ficaríamos então com 19 provas novamente, na hipótese de não contar tanto com os EUA quanto com o Bahrein, e colocando a Turquia de volta no campeonato. Nenhum problema no campo esportivo e técnico, mas um desastre mercadológico para Bernie Ecclestone, que veria o interesse pela F-1 sofrer alguns arranhões. Com provas sendo canceladas por problemas políticos e/ou técnicos, acertar etapas de reserva no calendário, para deixar o número de corridas mais próximo do original significaria ter de abaixas as exigências financeiras para estas provas. No caso de precisarem manter a prova turca, isso vai depender mais dos turcos do que de Ecclestone. Eles saíram fora devido aos altos valores necessários para manter a corrida, e com a ocupação do autódromo em baixa pelos torcedores, Bernie vai precisar oferecer um bom desconto, e algumas outras benesses, para que a F-1 volte ao traçado de Istambul Park.
Do ponto de vista dos fãs da categoria, pouquíssimos circuitos novos incorporados ao calendário caíram no gosto na última década. Visitar circuitos e países novos sempre foi algo interessante, mas era vista, até certo ponto, como experiências para ampliar os mercados da categoria, e ampliar o calendário de forma gradativa e firme. Com isso, a F-1 chegou a outros países, como foi o caso do Brasil, nos anos 1970. Nos últimos tempos, contudo, essa expansão tem sido motivada unicamente pela ganância da FOM, que procura cobrar taxas cada vez mais altas, e nos últimos tempos isso não tem ficado menos agressivo no que diz respeito aos valores, mesmo com a economia mundial em crise desde 2008. Por mais que se tenham feito esforços para diminuir os gastos, a F-1 continua sendo uma categoria perdulária, com custos astronômicos, que encontra dificuldades bem grandes no que tange a reduzir seus custos. Na ânsia de angariar novas provas, Ecclestone tem seguido a receita que tornou sucesso a prova da Malásia, que em 1999 abriu a nova e atual onda “expansionista” da categoria: seduzir governos locais das “vantagens” de se ter uma corrida em seu país, para promovê-lo internacionalmente, apostando no turismo e propaganda internacional. Algumas vezes dá certo, em outras não.
Certo de que os governos desejam uma promoção de suas nações não importam os custos, proliferaram os autódromos suntuosos e complexos, com estruturas que deixam algumas pistas usadas tradicionalmente pela categoria com cara de circuito de 2ª mão. E Ecclestone foi aumentando suas taxas para se poder realizar as corridas. Isso já foi debatido aqui na coluna em algumas oportunidades, então, boa parte deste raciocínio já é conversa requentada. Mas, sempre volta à tona de tempos em tempos, devido à ameaça de se perder corridas tradicionais para novos mercados que não tem tradição nem apelo pela categoria, além do lado puramente comercial da FOM. Bernie se disse surpreso pela boa acolhida da F-1 em sua prova inaugural este ano, mas de certa forma, essa sensação é costumeira na primeira corrida de um país que passa a fazer parte do campeonato. Isso inclui os sul-coreanos, que se esforçaram para mostrar o que podiam ter feito no ano passado. Mas este ano, a sensação já foi outra, e Ecclestone se disse “desapontado”com a maneira como os mesmos sul-coreanos agora querer reduzir os pagamentos para continuar tendo a corrida. E isso quer dizer que muito provavelmente não voltaremos a ver Yeongam ano que vem no calendário. Quem também anda sem entusiasmo para a F-1 são os chineses, que por pouco não renovaram o seu contrato para a realização da prova em Shangai. A China deu uma nova chance, mas isso não significa muito, e a prova pode também sumir no futuro próximo.
Com a desistência de alguns dos novos mercados conquistados, seria a humilhação suprema Ecclestone ter de arrumar novas provas na Europa, continente que ele anda desdenhando na última década, pelo fato de seus GPs não pagarem taxas tão altas quanto a destes outros países novos na categoria. Valência é uma corrida que está na corda bamba, e aliás, a prova de Barcelona também corre perigo, o que deixaria a Espanha sem um GP no futuro próximo. E perder as benesses da Alonsomania seria traumático, como se a Alemanha, de um instante para o outro, desistisse de sua corrida em plena era de ouro de Sebastian Vettel. Bernie já teve de recuar e aceitar uma renovação do contrato com o GP da Inglaterra, que passaria a ser disputado em Donington Park, cujos planos deram errado, o que manteve a prova em Silverstone, por valores muito inferiores ao que chefão da FOM queria impor. Depois de ameaçar tirar até todos os GPs da Europa, para acomodar suas novas corridas, ter de recuar neste momento, ainda mais com o Velho Continente em crise devido a problemas nas economias de vários de seus países, significaria ter de abdicar de boa parte dos atuais valores que cobra sem pestanejar dos novos cientes do calendário. Não fosse isso, países como Portugal e França poderiam retornar ao calendário.
Muitos fãs prefeririam ver estes dois países de volta do que ver corridas em novos locais “exóticos” em algum ponto distante do planeta. Para as escuderias, também é mais vantajoso do ponto de logística e de custos, uma vez que dentro da Europa, o deslocamento é muito mais simples e econômico. Nada contra sair do continente, mas todos querem ver corridas em países que sintam o espírito da F-1 e a abracem totalmente, e não apenas que estas corridas sejam definidas apenas pela carteira bancária cobrada pela FOM.
Nesta última quinta-feira, a alta cúpula da F-1, leia-se times, FIA e FOM, iria se reunir para discutir esses assuntos relativos ao calendário de 2012, com a possibilidade de termos menos 3 corridas, e talvez a volta da Turquia como “tampão”. Como esta coluna foi escrita antes, não posso adiantar aqui quais resultados o encontro, mas espero apenas que o bom senso prevaleça, e soluções possam ser encontradas.
Quem ficará, e quem sairá do calendário? Uma pergunta simples, mas com uma resposta, infelizmente, não tão simples. Não é a primeira vez que corridas ficam na berlinda, e provavelmente não será a última. Veremos o que acontece desta vez...
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