sexta-feira, 21 de outubro de 2011

FIM TRÁGICO NA IRL

 
            A Indy Racing League encerrou seu campeonato de 2011 da pior maneira possível: com um acidente pavoroso no circuito de Las Vegas, envolvendo nada menos do que quase metade de todo o grid da corrida (15 carros), e o pior de tudo, com uma morte dentre os inúmeros acidentados. Como desgraça pouca é bobagem, o vitimado calhou de ser justamente Dan Wheldon, que corria a última etapa do certame a convite da organização da categoria, no que sobrou de uma idéia até boa concebida no início do ano, mas muito mal executada para se ter pilotos “especiais” participando da etapa final do campeonato buscando uma premiação milionária na prova, que seria de US$ 5 milhões, se um destes “convidados” conseguisse vencer a corrida. A idéia naufragou nos meses seguintes, com a direção da IRL não conseguindo cativar pilotos de peso de outros campeonatos, e ao mesmo tempo atraindo a ira de outros pilotos “menos famosos” que dispararam suas críticas contra os organizadores acusando-os de os preterirem porque não “atendiam” aos requisitos escusos da direção da IRL. No fim, apenas Dan Wheldon acabou sendo convidado, em que pese o fato de o piloto inglês ter disputado uma corrida este ano, as 500 Milhas de Indianápolis, e vencido a prova na mais dramática chegada de sua história, liderando apenas os metros finais da prova centenária, após o novato J.R. Hildebrand, que vinha para vencer, bater na entrada da última curva na última volta.
            Wheldon estava fora da categoria por não ter conseguido patrocínio para correr este ano, e disputara a Indy500 em um esquema feito pelo ex-piloto Bryan Herta para disputar apenas a prova mais famosa dos Estados Unidos. O inglês acabou faturando alto com a vitória, seu segundo triunfo na Indy500, e isso lhe rendeu dividendos: acabou contratado para desenvolver o novo chassi que será utilizado pela categoria a partir do ano que vem, e acabou convidado para correr em LasVegas. E já estava com tudo praticamente certo para retornar à equipe Andretti em 2012, no lugar de Danica Patrick, que deixou a categoria e irá correr na Nascar no próximo ano. Tudo indicava que o piloto inglês teria novos ares em 2012. O destino, porém, lhe reservou outro rumo...
            O baque sobre o autódromo foi geral: Dario Franchiti, novamente campeão da IRL, falou o mais óbvio: que este foi o seu pior título já conquistado, e que nem valia a pena comentar sobre sua conquista, face ao ocorrido momentos antes. Pilotos, equipes, profissionais da mídia e público, todos ficaram abalados com a notícia de sua morte. E vem a pergunta que não quer calar? Fatalidade ou negligência? Imperícia? Pilotos afobados? Um pouco de tudo, talvez. Até a segurança da categoria foi questionada, e essa é uma questão complicada. Muitas melhorias foram feitas na segurança nos últimos anos, mas os carros eram praticamente os mesmos desde 2003, com alguns melhoramentos pontuais em seu projeto. Mas, mesmo assim, pelo impacto como a batida ocorreu, é difícil dizer se um carro mais reforçado teria oferecido maior proteção ou não. Não se pode negar que, por mais condições de segurança que se ofereça, o automobilismo nunca deixará de ser um esporte de risco. Wheldon teve azar particularmente pelo fato de seu carro ter caído sobre a mureta e o alambrado justamente do lado do piloto. A combinação do impacto se provou mais forte que a estrutura do chassi Dallara, e o piloto morreu devido ao traumatismo craniano que sofreu, os ferimentos foram justamente na cabeça, com o restante do corpo ficando relativamente intacto.
            Por contenção de gastos, a IRL adiou por muito tempo a adoção de novos carros. Quando houve a extinção da antiga F-Indy, muito se comentou porque a IRL não adotou os chassis desta primeira, que tinham passado a adotar carros muito mais modernos. O novo carro, que incorpora finalmente um dispositivo de segurança para evitar decolagens em contato de rodas da traseira com outro carro por trás, certamente teria efeito positivo em evitar algumas das decolagens vistas domingo na pista de Las Vegas. A adoção de asas para superspeedways foi vista por alguns como algo que precipitou o aumento das colisões, pelo incremento de velocidade entre os carros. Usar as asas de pistas mistas, com mais arrasto, poderia ter diminuído a velocidade. Infelizmente, como alguns disseram, o novo carro, com mais segurança, chega tarde demais para salvar Dan Wheldon.
            Foi o fim de um ano que se mostrou complicado para a IRL, com decisões equivocadas, jogadas erradas, e acima de tudo, confusões na aplicação de punições que deixaram vários pilotos querendo especialmente a cabeça de Brian Banhart, que nunca mostrou muita coerência na hora de aplicar punições, exceto se os pilotos lhe desafiassem a autoridade, como mostrou com Hélio Castro Neves, que recebeu punição duvidosa em duas oportunidades, só para exemplificar. Randy Bernard, que assumiu a direção da IRL com o intuito de reerguer a categoria, parece não ter conseguido mostrar a que veio. E a cada ano, parece que a categoria, depois que perdeu sua principal razão de ser, que era “acabar” com a F-Indy original, pela visão de Tony George, que nunca conseguiu mandar por lá, parece meio sem saber para onde ir. Tentar recuperar o prestígio e charme da F-indy original é a meta, mas na ânsia de se chegar a esse objetivo, andou-se tomando alguns caminhos errados.
            Um dos maiores equívocos deste ano foi a adoção de relargadas em fila dupla após as bandeiras amarelas, que ocasionou várias batidas em diversas corridas e confusões entre diversos pilotos. Outra decisão que nunca teria sido tomada na F-Indy original seria a relargada final de New England, com a pista molhada, um oval, que acarretou a batida de pelo menos 6 carros. Tentar conter os gastos deixando a categoria ser monomarca só a tornou menos atrativa, e foi a certo custo que conseguiram que no próximo ano teremos novos motores, com mais de um fornecedor. Haverá os Honda, Chevrolet e Lótus/Judd. Mas os chassis continuarão sendo apenas os Dallara, agora de um modelo muito mais novo, que na opinião de muitos já deveria ter sido adotado há muito mais tempo.
            Resta à IRL agora tentar tirar algum aprendizado deste triste acontecimento. O novo chassi é realmente seguro? Pode ser, mas diante do que vimos domingo, e pelo fato de que agora só teremos corridas em 2012, seria oportuno dar uma revisada no projeto e tentar verificar possíveis pontos onde a segurança pode ser incrementada e reforçada, antes que os carros sejam entregues a todos os times no próximo ano. E que se permitam testes mais amplos, e em maiores oportunidades, para que sejam vistos todos os aspectos de comportamento do novo modelo. Não há espaço para amenidades neste momento. Ou se aproveita para dar um profunda estudada no assunto, visando aproveitar ao máximo idéias para reforçar a segurança dos carros, e porventura, também dos circuitos, ou a morte de Wheldon não terá servido para nada.
            A Nascar passou por algo parecido, e reforçou incrivelmente seus carros. Certo, são modelos totalmente diferentes, carros fechados, naturalmente mais seguros do que monopostos, é verdade. Mas eles aprenderam a lição com a morte de Ralph Dale Earnhardt na prova das 500 Milhas de Daytona de 2001. Após a morte do heptacampeão, a direção da categoria implantou medidas de segurança novas em seus carros, além de estar sempre visando diminuir a velocidade de seus carros, que constantemente chegam aos 320 Km/h em diversos circuitos. A prova disso está no fato de que a maioria dos acidentes de lá para cá ter mostrado como os pilotos saíram relativamente ilesos dos mais fortes acidentes vistos na categoria. E olhe que é difícil haver prova da Nascar sem batida de carros, pois eles costumam andar muito juntos uns dos outros.
            Na F-1, os carros passaram a ser muito mais seguros e fortes depois do trágico GP de San Marino de 1994, quando morreram Ayrton Senna e Roland Ratzenberger. Carros e circuitos tiveram de passar por adaptações e novos conceitos de segurança. E até o momento, parecem ter dado resultados, como pudemos ver no Canadá há alguns anos no violento acidente de Robert Kubica, que saiu praticamente ileso dos destroços de seu BMW/Sauber.
            É hora da direção da IRL pensar no que a Nascar e a Fórmula 1 passaram, e adotar postura de ação parecida...

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