sexta-feira, 7 de outubro de 2011

JAPÃO, PARA MAIS UMA DECISÃO...

            A Fórmula 1 chegou a Suzuka, e a Terra do Sol Nascente verá novamente a decisão de um campeonato da categoria. Precisando de apenas 1 ponto para fechar matematicamente a conquista, já se pode dizer antecipadamente que Sebastian Vettel é o mais jovem bicampeão da história. Certo, precisamos esperar para ver o que acontece domingo, eu sei, mas só um desastre completo para adiar para a próxima corrida a decisão de um título que, todos sabemos, já tem dono há vários meses, dada a disparidade do jovem piloto da Red Bull para seus concorrentes na classificação do campeonato. A única hipótese que evitaria a conquista seria Vettel abandonar ou não marcar ponto, e desde que Jenson Button, exatos 124 pontos atrás, vença a corrida. O inglês da McLaren vencer a corrida não é impossível, mas é extremamente improvável Vettel não marcar pontos, e é aí que a conquista do título deixa todo mundo meio desapontado com o clima desta decisão.
            A batalha será épica para se evitar a conclusão antecipada da contenda, mas ninguém acredita muito que isso aconteça, daí o fato de que, se realmente acontecer, será um resultado épico, sobretudo para Jenson Button, que acabou de ter seu contrato renovado com a McLaren para sabe-se lá quantos anos. Por outro lado, se Vettel vencer, será mais do mesmo, dada a superioridade exibida pelo jovem alemão nesta temporada. Todas as decisões nesta pista tiveram um belo clima de disputa, rivalidade, e briga declarada. Talvez o maior anticlímax tenha sido o primeiro título decidido em Suzuka, em 1987, quando Nigel Mansell se acidentou nos treinos e não pôde participar da corrida, tornando Nélson Piquet o campeão antecipado da temporada. Era a estréia da pista no calendário da F-1, e Suzuka estreou mesmo com o pé direito em termos de local de decisão de título: foram nada menos do que 5 anos consecutivos vendo os novos campeões da categoria em primeira mão: 1987 (Nélson Piquet), 1988 (Ayrton Senna), 1989 (Alain Prost), 1990 (Ayrton Senna), 1991 (Ayrton Senna).
            O circuito só veria uma nova decisão de título novamente em 1996, quando Damon Hill e Jacques Villeneuve chegaram ao Japão com o filho de Graham Hill precisando novamente de apenas 1 ponto para encerrar a disputa. Como todos davam o filho de Villeneuve ser mais piloto do que Hill, a parada era mais incerta sobre quem ganharia, até porque ambos pilotavam para a Williams. Mas Hill partiu para o ataque, liderando a prova de ponta a ponta e fechando com chave de ouro sua conquista do título, que já era seu a certa altura da corrida quando Villeneuve perdeu uma roda e abandonou a prova. Em 1998, Suzuka veria nova decisão, entre a Ferrari de Michael Schumacher e a McLaren de Mika Hakkinen. Deu Hakkinen, que em 99 repetiria o feito também em Suzuka, conquistando seu bicampeonato, desta vez em cima de Eddie Irvinne, da Ferrari. No ano 2000, a mais famosa pista japonesa veria o fim do jejum de títulos da Ferrari, com o tricampeonato de Michael Schumacher, que três anos depois novamente conquistaria um título no país, em 2003, no último ano em que Suzuka decidiu um título da F-1.
            De lá para cá, a pista japonesa ficou sem ver decisões do título. Boa parte disso deve-se à mudança de data do GP do Brasil, que do início da temporada foi realocado para o fim do ano e, coincidência ou não, viu 5 decisões de títulos consecutivos em Interlagos: 2005 e 2006 (Fernando Alonso), 2007 (Kimi Raikkonen), 2008 (Lewis Hamilton), e 2009 (Jenson Button). Tal feito igualou a proeza que Suzuka havia conseguido de 1987 a 1991, quando o circuito japonês foi o palco das decisões do mundial.
            Ao todo, Suzuka acumula 10 decisões de título até hoje, um número ainda muito respeitável. E chegará a 11, com a confirmação, no domingo, do título de Vettel. Mas os japoneses são pródigos em assistirem a decisões de títulos, que não ocorreram apenas em Suzuka. Em 1976, primeiro ano em que os japoneses fizeram parte do calendário, na antiga pista de Monte Fuji, a prova oriental já estreou com uma decisão de título: James Hunt, da McLaren, e Niki Lauda, da Ferrari, chegaram ao circuito com chances de serem os campeões do ano. A chuva torrencial que caiu no dia da corrida facilitou parte das coisas para Hunt, pois Lauda, que ainda se recuperava do grave acidente sofrido em Nurburgring que quase lhe tomou a vida, não se sentiu capaz de desafiar o aguaceiro. Hunt, com o carro que já tinha sido guiado por Émerson Fittipaldi no ano anterior, acabou conquistando seu único título na categoria. Foi o único título decidido no GP do Japão disputado na pista de Fuji.
            Em 1995, o Japão também presenciou a decisão do campeonato, mas não foi no GP do Japão. Na verdade, a decisão aconteceu no GP do Pacífico, disputado no pequeno e travado circuito de Aida, localizado ao sul da principal ilha do arquipélago, prova que foi disputada apenas duas vezes, em 1994 e 1995. Naquele ano, Michael Schumacher conquistou seu bicampeonato com a Benetton. Curiosamente, as provas do Pacífico e do Japão foram disputadas com apenas 1 semana de diferença. O motivo disso foi o violento terremoto que ocorreu no Japão no início do ano, causando muita destruição na região de Kobe. Com todos os esforços do país na reconstrução das áreas destruídas, a prova foi remarcada para o fim do ano, ficando praticamente encostada à prova japonesa. Os japoneses, que tinha adquirido um fervor incomparável pela categoria, devido ao sucesso da Honda nos anos anteriores, e os títulos conquistados pelos brasileiros Nélson Piquet e Ayrton Senna com os propulsores japoneses, adoraram.
            Com isso, praticamente são 12 decisões de títulos no Japão, ainda que uma delas tenha sido em um GP com outra denominação. Mas se contabilizarmos a prova de domingo, que provavelmente será a decisiva, serão realmente 12 GPs do Japão com decisão de título, número que apenas o GP da Itália, um dos mais tradicionais, pode igualar, tendo também sido palco de 12 decisões de título. E Suzuka, convenhamos, é uma pista de verdade, com um traçado elogiado por muitos pilotos e equipes. Embora muitos já tivessem até se preparado para encerrar a luta em Cingapura, no íntimo todos esperavam que a decisão viesse para Suzuka. Apesar de todo o charme e exotismo da prova da Cidade-Estado, o circuito japonês ganha de goleada quando o assunto é qualidade de traçado, embora seja até covardia comparar um circuito de rua com um autódromo, ainda mais se tratando de Suzuka, que atualmente é uma das pistas mais desafiadoras do calendário atual da F-1, tão empesteado de “tilkódromos” nos últimos tempos.
            A pista foi desenhada por John Hugenholtz em 1962, e inicialmente seria um circuito de testes da Honda, que depois passou a sediar corridas de várias categorias. Hugenholtz foi um designer holandês de pistas para corridas de carros, e é de sua autoria outros circuitos que já receberam a F-1 no passado, como Hockenhein (Alemanha), Jarama (Espanha), e Nivelles (Bélgica), além de ter participado da criação de Zandvort (Holanda). Nascido em 1914, John faleceu em 1995, após sofrer um acidente de carro em Zandvort junto de sua esposa, que faleceu também no mesmo acidente praticamente na hora, enquanto seu marido resistiu por mais alguns meses aos ferimentos. O traçado de Suzuka é um dos poucos circuitos do mundo em estilo “8”, com a pista cruzando por cima dela mesma, um dos vários pontos interessantes do circuito.
            É também uma pista que exige um bom trabalho de acerto, devido a dois trechos de estilo oposto – um com várias curvas e necessitando de bom apoio aerodinâmico e de suspensão; outro de alta velocidade, exigindo bastante do motor, ainda mais por um bom trecho de reta em subida. E é também uma pista que exige respeito, pois há trechos com áreas de escape pequenas, que não perdoam erros, como aconteceu com Nigel Mansell em 1987.
            Seja bem-vindo a uma nova decisão da F-1, Suzuka!

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