sexta-feira, 20 de maio de 2011

REMEXENDO O CASO SENNA

            Mais de 15 anos depois, o acidente que vitimou o brasileiro Ayrton Senna continua sendo motivo de algumas dúvidas e suspeitas. E nos últimos dias, algumas declarações aparentemente simples de Adrian Newey, projetista do FW14 com o qual o piloto brasileiro morreu no fatídico GP de San Marino de 1994, reacendem as dúvidas sobre o que teria realmente acontecido com Senna naquele dia. De minha parte, dúvidas como as que todos tem sobre o assunto são válidas, embora eu tenha sempre me preocupado mais com os detalhes dos resultados do acidente em si do que com suas causas. Não que eu não gostaria de dirimir minhas dúvidas. Como todos, gostaria de saber exatamente porque Ayrton seguiu reto na curva Tamburello naquele dia, uma curva tão fácil de ser feita por qualquer piloto. Só mesmo algo anormal para provocar aquilo.
            Barra de direção adulterada, algum tipo de colapso físico de Ayrton, quebra de suspensão, pneu furado, de certa forma, tudo já foi pensado e analisado. Porém, nada ficou exatamente provado e certificado. Mesmo as imagens da câmera de bordo da Williams não mostra muita coisa, e suas imagens somem alguns segundos antes do momento crucial. O processo para apurar a verdade foi instaurado pelas autoridades italianas, e durante vários anos, muita coisa correu na papelada. Frank Williams e Patrick Head, por sua vez, chegaram a faltar aos GPs em solo italiano, com receio de serem presos pela polícia, se o inquérito apontasse sua culpa no incidente. No fim, depois de muito tempo, pode-se dizer que não se chegou exatamente a lugar nenhum.
            A esta altura, é mais positivo ver como a F-1 aprender com o que se viu em Ímola naquele dia. Os padrões de segurança da categoria, que já eram elevados, foram revistos e incrivelmente melhorados. Os carros, que já exibiam vários itens de segurança, passaram a ser melhor concebidos no quesito de proteger o piloto. Em especial a cabeça dos mesmos, que até então ficavam relativamente muito à mostra, foi um dos principais itens modificados nos bólidos, com efeitos comprovadamente positivos desde então, como comprovaram alguns acidentes posteriores, que se não foram exatamente fatais, mesmo assim proporcionaram aos pilotos um grau de proteção muito mais efetivo e duradouro. O fato das rodas passarem a ser presas por cabos também ajudou na segurança ao redor dos acidentes, embora isso tenha sido feito mais à frente, e decorrente também de outros acidentes que ocorreram tempos depois. Desde as mortes de Ayrton Senna e Roland Ratzemberger, a FIA passou a prestar muito mais atenção à segurança, e quaisquer outros incidentes ocorridos desde então passam por uma avaliação criteriosa da entidade, com vistas às possíveis melhorias de segurança que possam ser implementadas visando evitar que novos acidentes do tipo ocorram, ou pelo menos, não gerem as mesmas conseqüências.
            Além das melhorias implementadas nos carros de competição, os autódromos também passaram por novas mudanças, visando aumentar áreas de escape, as quais tiveram boa parte de suas áreas de brita substituídas por asfalto, para dar maiores chances dos carros tentarem frear em eventuais escapadas. Ao mesmo tempo, implantou-se o limite de velocidade nos boxes, uma importante medida que aumentou a segurança no pit line, que até então permitia que os pilotos acelerassem seus bólidos tanto quanto na pista no circuito. Nem é preciso mencionar os infortúnios que ocorreram durante o próprio Grande Prêmio de San Marino de 1994, quando tivemos mecânicos atropelados na área dos boxes. Com o limite de velocidade, certamente este tipo de incidente diminuiu sobremaneira. Nestes pontos, o lamentável acidente de Ayrton Senna felizmente deflagrou um movimento por melhorar a segurança de forma quase obssessiva, com alguns resultados meio atrapalhados no início, mas que com o passar do tempo, foram sendo delineados e implantados de maneira progressiva e correta.
            Agora, voltando ao real motivo que levou Senna em linha reta para o muro da Tamburello, de certa forma, é reacender a curiosidade que andava adormecida há tempos sobre o assunto. Se alguém sabe o que realmente aconteceu, com certeza é alguém na equipe Williams. Os dados da telemetria com certeza poderiam dar muitas pistas sobre o assunto, e a hipótese de Ayrton ter tido um pneu furado é totalmente viável, afinal, houve carros que bateram na largada, e embora a pista tenha sido limpa, sempre pode ter escapado algum detrito que tenha ficado sem ter sido recolhido e/ou varrido, e que poderia ter iniciado o descontrole do carro do brasileiro. Tal hipótese foi considerada na época, mas a exemplo da dúvida que pende até hoje sobre a coluna de direção que, modificada a pedido do brasileiro, teria se quebrado antes ou depois da batida, nunca ficou esclarecido até hoje.
            Do mesmo modo, não há como negar que o acidente teve sua dose de fatalidade: a barra de suspensão que acertou o crânio de Ayrton entrou no limite da viseira, atingindo-o fatalmente. Por cerca de 1 cm a mais de altura, a barra teria acertado o casco e provavelmente, evitado que Senna sofresse as múltiplas fraturas na base do crânio e as demais que foram cruciais para sua morte, pois todos os ferimentos foram exclusivamente na cabeça. Fica, entretanto, a dúvida se caso isso ocorresse, e Senna não tivesse morrido, se as condições de segurança dos carros atualmente seriam tão boas se as medidas implantadas devido às mortes de Senna e Ratzemberger eventualmente não tivessem sido postas em prática se o brasileiro não tivesse morrido. O austríaco era um nome sem expressão, e ainda por cima, era um novato, não tendo o peso que o tricampeão brasileiro tinha.
            Dúvidas aqui, dúvidas ali, algumas respostas talvez cheguemos a conhecer algum dia. Outras, ficarão apenas no limiar da imaginação, sem nunca sabermos as respostas que muitas vezes anseamos. É a vida, infelizmente. As dúvidas sobre o que fez Senna sofrer seu acidente talvez nunca sejam solucionadas a contento. O melhor que podemos fazer é apreciar pelo menos os pontos positivos que foram tirados deste infeliz acontecimento, e evitar que a história se repita. Felizmente, até o presente momento, isso parece estar sendo bem feito.


A Ferrari anunciou aqui em Barcelona a extensão de seu contrato com o espanhol Fernando Alonso. O acordo, que era inicialmente válido até 2012, agora irá até o final de 2016. Alonso já deu as declarações de praxe, que se sente em casa em Maranello, e que pretende encerrar sua carreira na F-1 na escuderia italiana. E esta, por sua vez, enaltece as qualidade “ímpares” do bicampeão espanhol, como sua motivação vencedora, sua integração com o time, entre outras coisas. E a escuderia também fala, de maneira indireta, seu compromisso praticamente preferencial pelo piloto espanhol na diretriz dos esforços da equipe. O valor do novo acordo é estimado em cerca de Em outras palavras, Felipe Massa que se prepare, pois já foi “rebaixado” implicitamente no time. Montezemolo, ao mesmo tempo em que elogiou Alonso, há poucos dias atrás, também declarou que Massa cumprirá seu contrato com o time em 2012, dando a entender que o brasileiro não está com sua posição a perigo, mas alguém aqui acredita nisso? Da mesma forma como alguém acreditava que a Ferrrari dava condições iguais a Michael Schumacher e Rubens Barrichello nos anos em que foram companheiros de equipe? Pelo sim, pelo não, Felipe já começa a pensar na possibilidade de buscar lugar em outras paragens. Mas, antes de começar a se oferecer, Massa precisa mostrar do que é capaz, e nesse momento, a melhor maneira é mostrar que é capaz de ser tão ou mais rápido do que Alonso na pista. É o melhor cartão de visitas que poderia mostrar a futuros interessados em sua contratação. Só espero que ele tenha melhor sorte do que Barrichello nesta empreitada...

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