Esta foi uma semana pródiga em discussões entre os fãs da velocidade no mundo. Fóruns de discussão, blogs especializados, colunas de diversos jornalistas, entre outros veículos, discutiram se o campeonato da Fórmula 1 este ano não banalizou as ultrapassagens, como muitos temiam que ocorresse. Houve muitas críticas ao excesso de paradas de boxe na corrida turca – 82, recorde de que se tem notícia na categoria, ainda mais para uma corrida em pista seca, mas também ouve muita gente elogiando o novo “formato” da F-1 atual, que está mostrando muita briga na pista como há muito não se tinha notícia. Uma discussão válida, e que mostra que a categoria está conseguindo chamar mesmo a atenção, em que pese o campeonato estar, de certa forma, após 4 corridas, estar chato devido a um fator que anda desequilibrando a equação de competitividade vista este ano – leia-se fator Vetel/Red Bull.
Com a 3ª vitória em 4 corridas, o intrépido alemãozinho do time das bebidas energéticas caminha a passos largos para o bicampeonato. E, mesmo que não marque pontos em Barcelona, na semana que vem, já tem uma vantagem que lhe permite sair da Catalunha ainda líder do campeonato, vença quem for a prova espanhola. Vettel se defende, dizendo que precisa acumular vantagem enquanto pode, para não ser surpreendido na frente. Quem pode culpá-lo por isso? Em 1991, Ayrton Senna faturou as 4 primeiras corridas do campeonato, e muitos diziam que o título daquele ano já tinha dono. De fato, Senna conquistou o troféu de 91, mas sua caminhada rumo ao título sofreu forte oposição da Williams, que durante o ano se acertou, e por pouco não deixou o brasileiro numa bela saia justa no final do campeonato daquele ano. Quem garante que algo assim não pode acontecer no certame deste ano? No ano passado mesmo, a Ferrari reagiu no meio do ano, e levou Fernando Alonso a disputar o caneco até a etapa final.
Muitos dizem que a asa móvel torna as ultrapassagens artificiais, e que é um recurso injusto, pois quem vai à frente não tem chance de se defender, pois não pode usar o dispositivo. Nesse ponto, o Kers seria mais justo, pois ambos podem usar tanto para atacar quanto para se defender. Não estão errados, mas esquecem que a F-1 já teve um recurso muito similar à asa móvel, e que, do mesmo modo que esta, apenas quem vinha atrás podia se beneficiar. Este ponto, aliás, foi levantado pelo jornalista David Tremayne, que cobre a categoria para o jornal THE INDEPENDENT, da Inglaterra, e o recurso em questão era simplesmente o efeito do vácuo. Antigamente os carros geravam esse efeito, formando uma espécie de sucção atrás do bólido. Quem vinha atrás, chegando perto, pegava o efeito desta sucção e ganhava uma velocidade adicional, embutia na traseira do carro à frente, e saia para fazer a ultrapassagem. Lógico que quem ia à frente não tinha como aproveitar-se de seu próprio vácuo. Dessa forma, a asa traseira móvel apenas ajuda a recriar uma situação que foi comum na categoria máxima do automobilismo até cerca de pouco mais de 10 anos atrás, e que nos últimos tempos, em virtude do acelerado desenvolvimento da aerodinâmica dos carros, tornou-se extremamente difícil, quase impossível, de se repetir na categoria. Os carros atuais tornaram-se tão sensíveis ao fluxo de ar, que não conseguiam mais embutir no carro da frente sem perderem quase completamente a estabilidade, em virtude do fluxo de ar desta sucção prejudicar sobremaneira a estabilidade do carro, fazendo-o perder perigosamente o controle.
E todo mundo está se esquecendo de outro detalhe importante: quem ultrapassou pode também ser ultrapassado. Basta tentar ficar próximo o bastante do carro da frente para tentar dar o “troco” logo a seguir, seja com kers, seja com a asa móvel na volta seguinte. Da mesma forma que quem ultrapassava pelo vácuo, passava a gerar vácuo, que podia ser utilizado por quem ultrapassou, e que também podia tentar dar o troco na disputa de posição. Há possibilidade de revanche na situação, basta saber, e ter condições, de usar as circunstâncias a seu favor.
Com relação ao desgaste exagerado dos pneus, algo que deixou até mesmo a Pirelli surpresa pelo excesso de paradas na etapa turca, é algo mais circunstancial. Os pneus não estão oferecendo riscos de segurança, logo, alegações de pneus inseguros, e que isso gera publicidade negativa para a fornecedora de pneus não são válidas. A grande maioria dos torcedores sabe que a FIA e FOM pediram que os compostos tivessem este tipo de comportamento, o que não quer dizer que a partir daí, todos os pneus fabricados pela Pirelli, ao serem colocados em um carro, irão se esfarelar após poucos quilômetros rodados. Basta ter um pouco de bom senso e não ficar praguejando idéias erradas. E o comportamento dos pneus é o mais novo desafio de engenheiros e projetistas. Cabe a eles encontrarem soluções de fazer os pneus durarem mais, algo que não é impossível, embora seja difícil. Mas, quem disse que a capacidade técnica não pode conseguir isso. Durante sua história, a categoria sempre teve algum tipo de restrição, que tinha de ser contornado pela criatividade e competência das equipes. Este é o desafio do atual campeonato: lidar com os pneus da melhor maneira possível.
Nesse ponto, a disputa na pista está deixando muita gente confusa exatamente por não estar acostumada com tanta briga. Tirando Sebastian Vettel, que está deitando e rolando na dianteira, todos os demais pilotos estão se engalfinhando nas corridas, e não há um equilíbrio exatamente igual de uma prova ao de outra. Um exemplo é que Fernando Alonso conseguiu o primeiro pódio na Turquia para a Ferrari, mas até então, o time rosso parecia incapaz de tal feito. Do mesmo modo, a McLaren, até então principal adversária da Red Bull nas provas anteriores, foi incapaz de acompanhar o andamento em Istambul. A Mercedes parece evoluir, enquanto os demais times apresentam performances variadas. Tirando a obviedade da supremacia da Red Bull, cujo modelo RB07 parece andar bem em qualquer circuito, não há como garantir que os demais times andem na próxima corrida o mesmo que andaram na Turquia, que por sua vez apresentou um panorama diferente da corrida anterior, na China, que já tinha sido também diversa da de Sepang.
Se as novas regras técnicas exageram na dose, não dá para garantir ainda apenas pelo que se viu na Turquia, como da mesma maneira em Melbourne, no início do campeonato, muitos diziam que o novo regulamento não tinha surtido efeito, pois a prova foi sem muitas disputas. As próxims corridas tem tudo para aumentar ainda mais o clima de incerteza: Barcelona, por ser a pista mais conhecida de todos os times, pode apresentar novidades justamente por isso, pelo conhecimento acumulado das escuderias sobre a pista; em seguida, vamos para Mônaco, o circuito mais estreito e complicado do campeonato, onde ninguém sabe direito como os pneus se comportarão, e o uso da asa móvel, liberada pela FIA, pode deixar muita gente apreensiva pelo seu uso sem muito critério por parte dos pilotos que forem mais afobados; e logo depois vamos para o Canadá, onde o circuito de Montreal tem suas particularidades, que também podem deixar ainda mais incerto o panorama do que esperar da corrida.
Antes, o pessoal reclamava da monotonia dos GPs. Agora, o problema parece ser o oposto. Na minha opinião, uma corrida com muito mais disputas ainda é algo mais interessante do que ver uma procissão em alta velocidade, onde só algo muito inesperado poderia alterar o resultado que muitos já anteviam até mesmo antes da metade da prova. Agora, cada volta de uma prova pode reservar surpresas, e isso, convenhamos, está prendendo a atenção de muito mais gente do que se imaginava. Quem não gostou do exagero, melhor se acostumar com tanta disputa nos GPs. Só é preciso mesmo outras equipes começarem a vencer para tudo ficar melhor ainda.
Vi esta semana as fotos do novo chassi produzido pela Dallara para a Indy Racing League, que deverão ser adotados a partir do ano que vem. De positivo, achei importante as proteções dos pneus, uma medida de segurança válida para se evitar decolagens em contatos entre os carros, algo que andou acontecendo em algumas ocasiões nos últimos anos, felizmente sem maiores vítimas. Na aparência, os carros me dão uma saudade danada do visual dos carros que eram utilizados pela F-Indy na década retrasada...
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