Quem curte uma boa história polêmica sempre achou interessante aqueles filmes de teorias da conspiração, onde tudo o que você conhece parece virar de cabeça para baixo em algum momento, levando você a ter de rever o que sabia, ou melhor, o que pensava que sabia. Não há como negar que o mundo teve, e ainda tem essas práticas, as quais raramente vem a público justamente pelo seu teor delicado e potencialmente explosivo, que poderia mudar até mesmo o panorama político mundial, segundo alguns. Tem gente que é apaixonada pelo tema, fazendo todo tipo de dissertações, e até especulações sobre muita coisa que acontece no mundo, com as histórias mais malucas, até outras que podem ser bem verossímeis, e talvez, reais…
Por isso mesmo, o panorama de Francesco Bagnaia na temporada 2025 da MotoGP parece virar um prato cheio para se tentar entender como um bicampeão do mundo tem tido tantos problemas e ficou praticamente de fora da disputa do título, ao passo que seu colega de time recém-chegado, Marc Márquez, aniquilou a concorrência, Bagnaia, inclusive, e conquistou o título da competição sem maiores sustos, lembrando seus anos de domínio implacável com a Honda na década passada.
Tudo bem, já vimos casos de pilotos campeões que não se adaptaram a certas motos. O caso mais recente é de Jorge Lorenzo, que na década passada largou a Yamaha e foi justamente para a Ducati com o status de tricampeão mundial. Todo mundo esperava que o espanhol pudesse virar o diabo no novo time, mas aconteceu justamente o contrário. Acostuma a anos com o comportamento das motos japonesas da marca dos três diapasões, Lorenzo não se encontrou com a Desmosédici, e virou coadjuvante no time italiano, que teve Andrea Dovizioso até disputando o título com Marc Márquez. Jorge brigou para se adaptar ao novo equipamento, mas antes que conseguisse se ajustar perfeitamente, em um processo que vinha mostrando nítidos progressos, ele largou o time italiano para ir para a Honda, onde se deu ainda pior do que na Ducati, a ponto até de encerrar a carreira prematuramente, diante do massacre que sofreu na pista.
Só que a situação de Bagnaia é diferente. Lorenzo sofreu na mudança da Yamaha para a Ducati, não se entendendo com a moto, e depois, quando parecia começar a entender a moto italiana, simplesmente jogou tudo para o ar, indo para a Honda, onde a adaptação foi ainda pior, levando um baile de Marc Márquez que até hoje é difícil de entender em sua totalidade, mesmo sabendo que a moto da asa dourada era um equipamento difícil, e que vinha penalizando todos os demais pilotos que competiam com o equipamento. No caso do bicampeão da Ducati, Bagnaia parece ter sofrido o mesmo problema, com um agravante particular: ele já é piloto da Ducati há anos, de modo que fica complicado estabelecer um paralelo entre o que ocorreu com Lorenzo, e o que vem acontecendo com ele na atual temporada, embora por cima, o problema pareça o mesmo: falta de entendimento com o equipamento.
E onde entra então a “teoria da conspiração”? Bom, já ficou meio que entendido que a moto GP25, o modelo atual da Desmosédici, é mais temperamental do que a GP24, com a qual Jorge Martin foi campeão no ano passado. Tanto que se cogitou de o italiano usar a moto do ano passado, o que, em tese, foi negado, diante de certas particularidades da competição. Mas o tempo passando, e “Pecco” sem conseguir mostrar resultados condizentes com seu currículo de bicampeão mundial, em contraste com o modo como Marc Márquez ia empilhando vitórias sobre os concorrentes, ainda que muitas vezes por margens pequenas, em disputas acirradas, claro que levaram muitos a pensar: os dois estão com as mesmas motos? Para os efeitos oficiais, sim? Na prática… Será mesmo?
A situação fica mais nebulosa depois do teste em Misano, onde Bagnaia saiu muito satisfeito, por terem finalmente encontrado “soluções” para deixar a moto mais confortável para ele. Não foi dito exatamente o que foi achado, e nem que providências teriam sido tomadas, mas coincidentemente ou não, Bagnaia voltou aos bons tempos na etapa de Motegi, marcando a pole-position com autoridade, e vencendo tanto a corrida sprint quanto a prova principal, no seu melhor desempenho na temporada. Tudo resolvido? Parecia… Mas aí, na Indonésia, na pista de Mandalika, tudo parece voltar à estaca zero, com “Pecco” perdendo na pista até para a grande decepção da temporada, o tailandês Somkiat Chantra, mostrando-se incapaz de obter um rendimento positivo da moto, e sofrendo um tombo daqueles. Impossível pensar em desaprender a pilotar desta maneira…
É verdade que a pista de Mandalika não era das mais agradáveis para Bagnaia, mas o desnível visto entre o Japão e a Indonésia parece ser radical demais para ser verdade. Como o piloto desandou tanto de uma corrida para a outra. “Pecco” disse que não conseguia extrair performance da moto, pura e simplesmente. Será que era a mesma moto do Japão? È bem verdade que acertos de pistas podem fazer muita diferença, mas o caso aqui parece contundente demais para se ficar imaginando se foi só isso… Problema da moto? Problema do piloto? Ou… Os dois? Ou algo mais?
Daí, impossível não voltar à cabeça o lance de que as motos dos dois pilotos podem ter algo de diferente mesmo. Pode até não ser verdade, mas infelizmente as circunstâncias parecem jogar contra essa posição. Márquez sempre foi um talento destacado na MotoGP, mas será que Bagnaia seria assim tão ruim, na comparação com o agora heptacampeão? Ou será que a moto do italiano de fato não era a mesma do espanhol? Não que Marc não tenha tido problemas, mas o modo como seu companheiro de equipe despencou dá margens a muitas dúvidas, e é aí que turma adepta das teorias de conspiração ficam com a cabeça a mil, imaginando todo tipo de história “oculta” que possa justificar tal situação. Bagnaia estaria penando com a GP25, enquanto Márquez nadava de braçada com a GP24? O italiano desde o início da temporada vem penando com o comportamento da moto nova, e teria dado nas entrelinhas declarações de que gostaria de voltar a pilotar a moto do ano passado.
E aí, vem a afirmação do diretor da VR46, Davide Tardozzi, que no teste de Misano, Bagnaia na verdade conduziu a GP24, emprestada pelo time satélite, moto com a qual Franco Morbidelli compete na temporada. E o modelo 2024 estaria equipado com o motor da atual GP25. E aí, depois, em Motegi, o italiano faz um fim de semana irrepreensível, vencendo as duas corridas praticamente de ponta a ponta, enquanto Marc Márquez garante o título da temporada. Teria “Pecco” enfim pilotado a GP24, e reencontrado a velha forma com uma moto mais confiável e que ele já conhecia melhor e se dava também melhor do que com a GP25? Curiosamente, a Ducati não deu nenhuma resposta às questões que foram feitas, e da mesma maneira, não validou a informação de Tardozzi, muito pelo contrário, afirmando até ter ficado surpresa com a afirmação, que acabaria sendo reiterada porUccio Salucci, diretor da equipe VR46. Bagnaia, pelo seu lado, apenas ajuda a colocar mais lenha na fogueira quando diz que fala apenas “o que está autorizado a dizer”, o que apenas dá margem para que se imagine que tem mais coisas acontecendo nos bastidores do que poderia mencionar.
Algumas respostas e atitudes da direção da Ducati só ajudam a colocar mais lenha na fogueira, dando munição às teorias dos "conspiracionistas" de que tem alguma mutreta por baixo do pano.
É aqui que os
“conspiracionistas” colocam as hipóteses: Bagnaia estaria de fato competindo
com uma GP25 instável toda a temporada, enquanto Márquez teve a mais “dócil” e
previsível GP24 desde o início do ano? Isso deixaria Márquez com uma vantagem
teórica grande sobre o companheiro de equipe, por não ter que brigar tanto com
o equipamento como o italiano. Mas, a Ducati faria isso mesmo? Ou estamos só
criando um factóide?
A questão parece pertinente, infelizmente: na VR46, Fabio Di Giannantonio compete com o modelo atualizado, a GP25, enquanto Franco Morbidelli usa a GP24. E coincidência ou não, é o ítalo-brasileiro quem tem a melhor campanha no time satélite, ocupando a 6ª posição no mundial, com 207 pontos, enquanto Giannantonio é o 7º colocado, com 191 pontos. Morbidelli na maioria das vezes tem se saído melhor que Fabio, e se levarmos em conta que ele já conhece a GP24 desde o ano passado, quando defendia a Pramac, que tinha as motos oficiais do ano, parece não ser apenas a afinidade com a moto que esteja fazendo a diferença.
Coincidência ou não, Álex Márquez, na Gresini, faz a sua melhor temporada na MotoGP, ocupando a vice-liderança do campeonato, e durante algum tempo, dado a impressão de que poderia até ter brigado mais forte pelo título. Seu companheiro de equipe, Fermin Aldeguer, é novato na classe rainha, mas venceu a corrida da Indonésia, e vem crescendo na temporada. A Gresini usa a Desmosédici GP24. Curioso, não?
É claro que tudo isso chega a parecer surreal: Para os conspiracionistas, a Ducati teria mancomunado para garantir o título de Marc Márquez, e com isso, se defender das críticas, até certo ponto, justas, de Jorge Martin em 2024 ter sido preterido pela marca italiana para ser promovido ao time de fábrica em favor do então hexacampeão? Evitar um duelo fraticida dentro do time, se Bagnaia estivesse em ponto de bala, levando a brigas acirradas na pista pela vitória entre os dois pilotos titulares, o que poderia comprometer as chances de título, e ver outro time levar o campeonato de pilotos, como ocorreu no ano passado, em que pese a Pramac na época ser time satélite da Ducati e competir com as motos italianas? Maximizar seu novo contratado do time de fábrica? Pode beirar as raias da incredulidade achar que uma equipe de fábrica faria tal manobra escusa na competição.
É verdade também que a Ducati fica numa saia justa quando não trata as coisas com a devida clareza, e portanto, não pode reclamar quando algumas declarações, ou falta delas, nos momentos devidos, acaba criando esse clima todo, que pode não corresponder em nada à verdade, mas que faz um barulho danado, e pode ser muito prejudicial à marca, mesmo com todos os louros conquistados. É verdade também que não tem santos nesse esporte, embora achar que tal manobra desleal tenha sido perpetrada possa parecer exagero demais para o que ainda se chama de esporte, mas que é permeado de muitos interesses entre os participantes do campeonato. As coisas não funcionam nessa base de conchavos imorais, embora algumas atitudes possam ser sim, questionáveis.
Outro ponto a ser considerado para a Ducati não falar certas coisas às claras seria o possível fato de a GP25 ser em termos gerais inferior à GP24, o que não seria nenhuma impossibilidade, já que muitas vezes, evoluções nos projetos não rendem os dividendos esperados. Mas, diante do domínio dos anos recentes, produzir uma moto inferior à do ano anterior soaria como atestado de incompetência da garagem italiana em promover sua melhoria contínua. E se levarmos em conta que, em termos de motores, tudo está “congelado” até o fim de 2026, diante do novo regulamento técnico que estréia em 2027, poderíamos dizer que, constatada essa falha, a Ducati poderia se ver comprometida em seu potencial para 2026, e só não ficou em 2025 porque Marc Márquez chegou chegando, embora alguns fiquem com a história na cabeça de que o então hexacampeão pode ter competido com uma moto mais “segura” enquanto Bagnaia segurou uma bucha ingrata com a moto mais atual.
De idéias o mundo está cheio, e na era das redes sociais, e da desinformação, muita coisa anda circulando e sendo tida como verdade, por mais contundente e óbvia que esta seja. Seria muita ingenuidade e incredulidade acreditar nesta história de favorecimento a Márquez em detrimento de Bagnaia no time oficial, como forma de explicar as diferenças de performance entre eles na temporada 2025, mas certas circunstâncias meio nebulosas e até contraditórias ficam ajudando a dar algum ar crível a esta história, por mais maluca e inviável que possa parecer. E, neste momento, a verdade verdadeira é o que o pessoal parece menos interessado em descobrir de verdade qual seria...
E qual seria a verdade? Parodiando Arquivo X, a verdade está lá fora… Em algum lugar… Seja ela qual for...
Quando as coisas pareciam melhorar para Jorge Martin, eis que o campeão mundial de 2024 acabou se complicando novamente, e desta vez por culpa própria. O piloto da Aprilia foi muito otimista na corrida Sprint do Japão, na pista de Motegi, e na freada para a primeira curva, errou a freada e levou um tombo daqueles, levando junto justamente seu companheiro de equipe Marco Bezzecchi, e com isso tirando a dupla oficial da Aprilia da prova curta. Só que Martin fraturou a clavícula, em outra lesão meio complicada, que o levou de novo para a mesa de cirurgia na Espanha, alguns dias depois, e em consequência, fazendo-o perder as etapas da Indonésia (além da corrida principal em Motegi, no Japão), e por tabela, também irá perder as provas da Austrália e da Malásia, e com previsão de retorno, na melhor das hipóteses, somente em novembro, e olhe lá se for assim. Isso faria Martin voltar somente nas duas etapas da temporada, em Portugal e Valência, mas a hipótese mais provável é que o espanhol desista do restante da temporada para se recuperar a contento visando o campeonato de 2026, já que a lesão foi considerada grave pelos médicos. O ano de 2025, certamente, vai ser daqueles de serem esquecidos para Martin…
Mas não é só Jorge Martin que sofreu azares nas últimas etapas. Marc Márquez garantiu o heptacampeonato na etapa de Motegi, no Japão, mas na Indonésia, o novo campeão mundial acabou se enroscando com Marco Bezzecchi logo na largada da corrida principal, e foi ao chão, e com sequelas, sofrendo uma fratura na clavícula, além de um rompimento de ligamentos no ombro, o que também o faria ter de passar potencialmente pela mesa de cirurgia novamente, o que acabou descartado pela junta médica que o examinou, preferindo uma abordagem mais tradicional, uma vez que o ferimento não era grave, mas exigindo que o piloto fique de fora das etapas da Austrália e Malásia, voltando apenas para as duas últimas provas da temporada, justamente em Portugal e Valência.
Marc Márquez: queda em Mandalika custará duas provas de ausência do novo heptacampeão para sua recuperação adequada.
E a McLaren conquistou o título de construtores de 2025 na F-1, o segundo consecutivo nos últimos anos, e parecendo reviver, pelo menos no nível técnico, sua era de ouro dos anos 1980, quando surrava a concorrência… Já no que tange ao nível dos pilotos, a história parece longe de conseguir mostrar o mesmo nível..
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