quarta-feira, 8 de outubro de 2025

ARQUIVO PISTA & BOX – AGOSTO DE 2000 – 04.08.2000

            De volta com outra de minhas antigas colunas, esta foi publicada no dia 04 de agosto de 2.000, e o assunto eram as primeiras vitórias de Rubens Barrichello, na F-1, e de Cristiano da Matta, na F-CART. Ambos eram grandes esperanças do automobilismo brasileiro, e Rubinho, finalmente em um time de ponta, devolvia alguma felicidade aos torcedores brasileiros, órfãos após a morte de Ayrton Senna em 1994. Já Cristiano da Matta tentava ser mais um brasileiro a emplacar no certame de monopostos dos Estados Unidos, e conseguiu uma vitória por um time relativamente pequeno, a PPI Motorsports, de onde sairia para um time de ponta na competição, a Newmann-Hass, conquistando o título da categoria em 2002. Barrichello nunca conseguiu ser campeão na F-1, infelizmente, e Da Matta acabou enveredando anos depois numa tentativa de correr na F-1 por um time sem coordenação clara da Toyota, e posteriormente, de volta aos Estados Unidos, viu sua carreira se encerrar após um violento acidente onde atropelou um cervo em Road America, nunca mais voltando a competir. Já Rubinho, após a F-1, foi bicampeão da Stock Car, e este ano, campeão da Nascar Brasil. A vida segue. De quebra, alguns tópicos rápidos de acontecimentos no mundo da velocidade. Uma boa leitura a todos, e contem com novas antigas colunas por aqui a qualquer momento...

 

ENTRANDO PARA A GALERIA DOS VENCEDORES

 

          Demorou, mas finalmente aconteceu. Rubens Barrichello conquistou em Hockeinhein, no último domingo, não só sua primeira vitória na F-1, como foi a mais espetacular vitória de um piloto na categoria há anos. Foi uma daquelas corridas para ninguém conseguir esquecer. Teve praticamente de tudo no GP da Alemanha.

          Começando pela largada, onde Michael Schumacher mais uma vez confirmou andar em uma fase meio pesada ficando novamente de fora de uma corrida, e com sua liderança no campeonato praticamente indo para o brejo àquela altura do GP. Entretanto, os deuses do automobilismo reservaram para o piloto brasileiro um daqueles dias memoráveis. Largando da 18ª posição, Rubinho partiu para a tática mais correta, largar com pouco combustível para atacar fundo e recuperar posições na pista, coisa que tem sido difícil na F-1 atual, devido à atual configuração aerodinâmica dos carros. Tudo estava indo dentro dos conformes, com Rubinho passando quem quer que encontrasse pela frente até se ver em 3º lugar. Com duas paradas por fazer, qualquer um na sala de imprensa já dava como limite o 2º lugar para Barrichello, eu inclusive.

          Foi aí que a corrida tomou outro rumo. A entrada de um francês em protesto contra a sua ex-empregadora, a Mercedes, obrigou a entrada do Safety Car, no melhor estilo da F-CART, e todas as diferenças foram zeradas. Com isso, Rubinho voltava a entrar nas possibilidades da corrida. As coisas se mantiveram na segunda entrada do Safety Car, por conta da batida entre Alesi e Diniz, mas tudo mudaria em definitivo com a chuva, que chegou parcialmente ao circuito.

          Quando Rubinho decidiu seguir em frente na pista com pneus de pista seca, estava fazendo uma aposta de tudo ou nada pela vitória. Uma aposta que se baseava principalmente no trecho da floresta, onde o asfalto ainda continuava seco. O único perigo era o trecho do Motodron, o Estádio, onde a chuva era relativamente forte e, apesar de ser um trecho de baixa velocidade, o risco de rodar não era tão menor como se aparentava. A saída de pista de Ricardo Zonta provou isso.

          A corrida lembrou outra prova memorável, esta com Ayrton Senna, aqui mesmo no Brasil. Foi em Interlagos, em 1993, naquela que se tornou a 100ª vitória da equipe McLaren na F-1. Tal como na corrida do último domingo, também naquela prova Ayrton parecia estar fadado a ocupar uma posição intermediária na corrida, até que veio a chuva e mudou todo o panorama da corrida.

          Com o resultado, Barrichello lavou a alma e calou a boca de muitos críticos, que ainda acham que ele não é piloto digno de estar na F-1. É triste ver atitudes assim, mas este país decididamente tem algumas coisas que não funcionam como deveriam, e pessoas com atitudes pra lá de questionáveis.

          Muito bonito foi o que se viu depois do fim da corrida. Praticamente toda a equipe Ferrari trepada na mureta para comemorar efusivamente a vitória de seu “bambino”, uma atitude copiada também pelo pessoal da McLaren, logo ao lado. O pessoal da Jaguar e da Jordan, equipes por onde Rubinho passou, também comemoraram muito. Foi uma das cenas mais comoventes de emoção e camaradagem na F-1 nos últimos tempos, com todo mundo que podia parabenizando Barrichello pela vitória. Schumacher, num gesto bonito e louvável, foi o primeiro a cumprimentar Rubinho, sendo seguido pela dupla da McLaren, que repetiu a dose no pódio levantando o piloto brasileiro nos ombros. Uma cena para se guardar com carinho, sem dúvida alguma.

          Mas não foi apenas Rubens Barrichello a desencalhar e conquistar sua primeira vitória. Algumas horas depois, na F-CART, em Chicago, mais um piloto brasileiro, em outra corrida arrojada e cheia de garra, levantaria o seu primeiro troféu de vencedor na categoria. Cristiano da Matta, correndo pela PPI Motorsports, venceu o GP de Chicago depois de uma renhida batalha com ninguém menos do que Michael Andretti, num duelo em alguns aspectos até parecido com o de Rubinho contra Hakkinen. A corrida da CART não foi tão bagunçada e incerta como a da F-1, mas a vitória de Cristiano foi igualmente tão comemorada por todos na categoria quanto a de Rubinho na F-1.

          O foguetório de comemoração do pessoal da CART, que nestes aspectos costuma ser mais legal e emotivo do que o do pessoal da F-1, mais comedido, foi empolgante. Praticamente todo o paddock da categoria também veio cumprimentar o piloto mineiro, numa cena muito similar à que vi em Cleveland, onde todo mundo aplaudiu a vitória de Roberto Moreno. Tal como Rubinho na F-1, Cristiano é muito elogiado na CART, e é considerado uma das promessas da nova geração de pilotos, e está despertando o interesse de diversas equipes. A vitória em Chicago apenas comprovou o talento inegável de Cristiano, ainda mais levando-se em conta que ele venceu por um time médio, a PPI Motorsports, e agora ocupa a 4ª posição no campeonato, superando até mesmo o campeão de 99, Juan Pablo Montoya, que corre por um time de ponta, a Chip Ganassi. Um feito para se comemorar amplamente.

          Tanto Rubens como Cristiano tiraram um enorme peso das costas e de suas consciências. A primeira vitória, como se diz constantemente no meio automobilístico, é sempre a mais difícil. Vencida esta etapa, ambos estarão mais relaxados e confiantes para conquistarem certamente novas vitórias em suas respectivas categorias. A confiança deles em si mesmos nunca faltou. Agora é hora de capitalizar o feito e partir para novas conquistas.

          E a torcida agradece. Ouvir o tema da vitória na F-CART este ano já tinha ficado razoavelmente comum, mas ouvir o da F-1, depois de 7 anos de ausência, foi simplesmente demais. Tudo indica que um período negro para o Brasil na F-1 parece ter finalmente se encerrado. Vamos, com certeza, assistir a novas vitórias de Rubinho na F-1. Ele não precisa ser um Senna, que será sempre insubstituível, só precisa ser o Rubinho de sempre, velho de guerra, batalhador, talentoso e perseverante. Isso é o bastante. Barrichello tem brilho próprio e em Hockeinhein provou isso com sobras.

          Quanto a Cristiano, o mesmo vale. Seu valor como piloto foi provado, depois de rondar a vitória em algumas etapas este ano, correndo com um equipamento tecnicamente inferior. Mesmo com toda a competitividade da F-CART, vencer não é fácil, mas Cristiano conseguiu. Que venham as próximas corridas. Temos pilotos, e a concorrência que se cuide...

 

 

Com a vitória em Hockeinhein, Rubinho passou a ser o piloto que mais tempo demorou para vencer na F-1. A sua 1ª vitória veio em seu 124º GP na F-1.

 

 

Para Cristiano da Matta, a espera não foi tão grande quanto a de Rubinho. O GP de Chicago, vencido pelo mineirinho, foi a sua 32ª largada na categoria, correndo sempre pela mesma equipe, tendo estreado no ano passado. Cristiano, aliás, já tem o seu contrato renovado com a PPI para o ano que vem, mas depois da vitória em Chicago, aumentaram os rumores de que Chip Ganassi, que vai perder Montoya no ano que vem, quer tê-lo no seu time em 2001, e que estaria disposto até mesmo a pagar a multa contratual de Cristiano com a PPI, algo em torno de US$ 2 milhões, para tê-lo liberado. Sem dúvida alguma, uma valorização e tanto.

 

 

Uma pena o GP alemão não ter sido bom para os demais pilotos brasileiros. Diniz fazia uma prova satisfatória até se enroscar com Alesi na relargada com o Safety Car. Alesi deu tantas rodadas que ficou até tonto, mas felizmente nada sofreu. Já Ricardo Zonta fazia uma excelente prova, se bem que um pouco afobada. Depois de dar toques em Ralf Schumacher e Jacques Villeneuve, Zonta acabou não conseguindo manter o carro na pista molhada do Motodron e acabou saindo da corrida.

 

 

A situação de Zonta continua complicada na BAR. Com a renovação de Villeneuve com o time, as maiores chances do segundo piloto ficam em Olivier Panis. Zonta não tem tido muita sorte e, na corrida de domingo, o toque que deu em seu próprio companheiro Villeneuve pode ter definido sua saída do time, pois o piloto canadense ficou fulo com o brasileiro e, como Villeneuve é o queridinho de Craig Pollock, tudo pode acontecer agora. Só resta torcer para que Zonta tenha melhor chance em outra equipe em 2001, caso se confirme sua saída da BAR.

 

 

Estamos vendo o melhor campeonato da F-CART em muitos anos com relação aos pilotos brasileiros. Dos 5 primeiros colocados no campeonato, nada menos do que 3 são brazucas: Roberto Moreno é o 2º colocado, seguido por Gil de Ferran em 3º e Cristiano da Matta em 4º lugar. O líder é o americano Michael Andretti, e o 5º colocado na tabela é o canadense Paul Tracy.

 

 

Johnny Herbert já avisou: despede-se oficialmente da F-1 ao fim da temporada. Seus planos para 2001 são a F-CART. Falta arranjar equipe, entretanto..

 

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