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Dois extremos na MotoGP em apenas duas provas: Francesco Bagnaia tem uma atuação pífia na Indonésia, terminando por cair durante a corrida (acima), apenas uma semana depois de apresentar uma performance impecável no Japão, vencendo as duas provas do fim de semana (abaixo). O que haverá por trás disso? |

Quem curte uma boa
história polêmica sempre achou interessante aqueles filmes de teorias da
conspiração, onde tudo o que você conhece parece virar de cabeça para baixo em
algum momento, levando você a ter de rever o que sabia, ou melhor, o que
pensava que sabia. Não há como negar que o mundo teve, e ainda tem essas
práticas, as quais raramente vem a público justamente pelo seu teor delicado e
potencialmente explosivo, que poderia mudar até mesmo o panorama político
mundial, segundo alguns. Tem gente que é apaixonada pelo tema, fazendo todo
tipo de dissertações, e até especulações sobre muita coisa que acontece no
mundo, com as histórias mais malucas, até outras que podem ser bem verossímeis,
e talvez, reais…
Por isso mesmo, o
panorama de Francesco Bagnaia na temporada 2025 da MotoGP parece virar um prato
cheio para se tentar entender como um bicampeão do mundo tem tido tantos
problemas e ficou praticamente de fora da disputa do título, ao passo que seu
colega de time recém-chegado, Marc Márquez, aniquilou a concorrência, Bagnaia,
inclusive, e conquistou o título da competição sem maiores sustos, lembrando
seus anos de domínio implacável com a Honda na década passada.
Tudo bem, já vimos
casos de pilotos campeões que não se adaptaram a certas motos. O caso mais
recente é de Jorge Lorenzo, que na década passada largou a Yamaha e foi
justamente para a Ducati com o status de tricampeão mundial. Todo mundo
esperava que o espanhol pudesse virar o diabo no novo time, mas aconteceu
justamente o contrário. Acostuma a anos com o comportamento das motos japonesas
da marca dos três diapasões, Lorenzo não se encontrou com a Desmosédici, e
virou coadjuvante no time italiano, que teve Andrea Dovizioso até disputando o
título com Marc Márquez. Jorge brigou para se adaptar ao novo equipamento, mas
antes que conseguisse se ajustar perfeitamente, em um processo que vinha
mostrando nítidos progressos, ele largou o time italiano para ir para a Honda,
onde se deu ainda pior do que na Ducati, a ponto até de encerrar a carreira
prematuramente, diante do massacre que sofreu na pista.
Só que a situação de
Bagnaia é diferente. Lorenzo sofreu na mudança da Yamaha para a Ducati, não se
entendendo com a moto, e depois, quando parecia começar a entender a moto
italiana, simplesmente jogou tudo para o ar, indo para a Honda, onde a
adaptação foi ainda pior, levando um baile de Marc Márquez que até hoje é
difícil de entender em sua totalidade, mesmo sabendo que a moto da asa dourada
era um equipamento difícil, e que vinha penalizando todos os demais pilotos que
competiam com o equipamento. No caso do bicampeão da Ducati, Bagnaia parece ter
sofrido o mesmo problema, com um agravante particular: ele já é piloto da
Ducati há anos, de modo que fica complicado estabelecer um paralelo entre o que
ocorreu com Lorenzo, e o que vem acontecendo com ele na atual temporada, embora
por cima, o problema pareça o mesmo: falta de entendimento com o equipamento.
E onde entra então a
“teoria da conspiração”? Bom, já ficou meio que entendido que a moto GP25, o
modelo atual da Desmosédici, é mais temperamental do que a GP24, com a qual
Jorge Martin foi campeão no ano passado. Tanto que se cogitou de o italiano
usar a moto do ano passado, o que, em tese, foi negado, diante de certas
particularidades da competição. Mas o tempo passando, e “Pecco” sem conseguir
mostrar resultados condizentes com seu currículo de bicampeão mundial, em
contraste com o modo como Marc Márquez ia empilhando vitórias sobre os
concorrentes, ainda que muitas vezes por margens pequenas, em disputas
acirradas, claro que levaram muitos a pensar: os dois estão com as mesmas
motos? Para os efeitos oficiais, sim? Na prática… Será mesmo?
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Fabio Di Giannantonio (acima) compete com a GP25, e tem sido superado pelo companheiro de time, que usa a GP24. Já Álex Márquez (abaixo) faz sua melhor temporada na MotoGP, competindo com a GP24. A moto atual é um presente de grego? |

A situação fica mais
nebulosa depois do teste em Misano, onde Bagnaia saiu muito satisfeito, por
terem finalmente encontrado “soluções” para deixar a moto mais confortável para
ele. Não foi dito exatamente o que foi achado, e nem que providências teriam sido
tomadas, mas coincidentemente ou não, Bagnaia voltou aos bons tempos na etapa
de Motegi, marcando a pole-position com autoridade, e vencendo tanto a corrida
sprint quanto a prova principal, no seu melhor desempenho na temporada. Tudo
resolvido? Parecia… Mas aí, na Indonésia, na pista de Mandalika, tudo parece
voltar à estaca zero, com “Pecco” perdendo na pista até para a grande decepção
da temporada, o tailandês Somkiat Chantra, mostrando-se incapaz de obter um
rendimento positivo da moto, e sofrendo um tombo daqueles. Impossível pensar em
desaprender a pilotar desta maneira…
É verdade que a pista
de Mandalika não era das mais agradáveis para Bagnaia, mas o desnível visto
entre o Japão e a Indonésia parece ser radical demais para ser verdade. Como o
piloto desandou tanto de uma corrida para a outra. “Pecco” disse que não
conseguia extrair performance da moto, pura e simplesmente. Será que era a
mesma moto do Japão? È bem verdade que acertos de pistas podem fazer muita
diferença, mas o caso aqui parece contundente demais para se ficar imaginando
se foi só isso… Problema da moto? Problema do piloto? Ou… Os dois? Ou algo
mais?
Daí, impossível não
voltar à cabeça o lance de que as motos dos dois pilotos podem ter algo de
diferente mesmo. Pode até não ser verdade, mas infelizmente as circunstâncias
parecem jogar contra essa posição. Márquez sempre foi um talento destacado na
MotoGP, mas será que Bagnaia seria assim tão ruim, na comparação com o agora
heptacampeão? Ou será que a moto do italiano de fato não era a mesma do
espanhol? Não que Marc não tenha tido problemas, mas o modo como seu
companheiro de equipe despencou dá margens a muitas dúvidas, e é aí que turma
adepta das teorias de conspiração ficam com a cabeça a mil, imaginando todo
tipo de história “oculta” que possa justificar tal situação. Bagnaia estaria
penando com a GP25, enquanto Márquez nadava de braçada com a GP24? O italiano
desde o início da temporada vem penando com o comportamento da moto nova, e
teria dado nas entrelinhas declarações de que gostaria de voltar a pilotar a
moto do ano passado.
E aí, vem a afirmação
do diretor da VR46, Davide Tardozzi, que no teste de Misano, Bagnaia na verdade
conduziu a GP24, emprestada pelo time satélite, moto com a qual Franco
Morbidelli compete na temporada. E o modelo 2024 estaria equipado com o motor
da atual GP25. E aí, depois, em Motegi, o italiano faz um fim de semana
irrepreensível, vencendo as duas corridas praticamente de ponta a ponta,
enquanto Marc Márquez garante o título da temporada. Teria “Pecco” enfim
pilotado a GP24, e reencontrado a velha forma com uma moto mais confiável e que
ele já conhecia melhor e se dava também melhor do que com a GP25? Curiosamente,
a Ducati não deu nenhuma resposta às questões que foram feitas, e da mesma
maneira, não validou a informação de Tardozzi, muito pelo contrário, afirmando
até ter ficado surpresa com a afirmação, que acabaria sendo reiterada porUccio
Salucci, diretor da equipe VR46. Bagnaia, pelo seu lado, apenas ajuda a colocar
mais lenha na fogueira quando diz que fala apenas “o que está autorizado a
dizer”, o que apenas dá margem para que se imagine que tem mais coisas
acontecendo nos bastidores do que poderia mencionar.
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Algumas respostas e atitudes da direção da Ducati só ajudam a colocar mais lenha na fogueira, dando munição às teorias dos "conspiracionistas" de que tem alguma mutreta por baixo do pano. |
É aqui que os
“conspiracionistas” colocam as hipóteses: Bagnaia estaria de fato competindo
com uma GP25 instável toda a temporada, enquanto Márquez teve a mais “dócil” e
previsível GP24 desde o início do ano? Isso deixaria Márquez com uma vantagem
teórica grande sobre o companheiro de equipe, por não ter que brigar tanto com
o equipamento como o italiano. Mas, a Ducati faria isso mesmo? Ou estamos só
criando um factóide?
A questão parece
pertinente, infelizmente: na VR46, Fabio Di Giannantonio compete com o modelo
atualizado, a GP25, enquanto Franco Morbidelli usa a GP24. E coincidência ou
não, é o ítalo-brasileiro quem tem a melhor campanha no time satélite, ocupando
a 6ª posição no mundial, com 207 pontos, enquanto Giannantonio é o 7º colocado,
com 191 pontos. Morbidelli na maioria das vezes tem se saído melhor que Fabio,
e se levarmos em conta que ele já conhece a GP24 desde o ano passado, quando
defendia a Pramac, que tinha as motos oficiais do ano, parece não ser apenas a
afinidade com a moto que esteja fazendo a diferença.
Coincidência ou não,
Álex Márquez, na Gresini, faz a sua melhor temporada na MotoGP, ocupando a
vice-liderança do campeonato, e durante algum tempo, dado a impressão de que
poderia até ter brigado mais forte pelo título. Seu companheiro de equipe,
Fermin Aldeguer, é novato na classe rainha, mas venceu a corrida da Indonésia,
e vem crescendo na temporada. A Gresini usa a Desmosédici GP24. Curioso, não?
É claro que tudo isso
chega a parecer surreal: Para os conspiracionistas, a Ducati teria mancomunado
para garantir o título de Marc Márquez, e com isso, se defender das críticas,
até certo ponto, justas, de Jorge Martin em 2024 ter sido preterido pela marca
italiana para ser promovido ao time de fábrica em favor do então hexacampeão?
Evitar um duelo fraticida dentro do time, se Bagnaia estivesse em ponto de
bala, levando a brigas acirradas na pista pela vitória entre os dois pilotos
titulares, o que poderia comprometer as chances de título, e ver outro time
levar o campeonato de pilotos, como ocorreu no ano passado, em que pese a
Pramac na época ser time satélite da Ducati e competir com as motos italianas?
Maximizar seu novo contratado do time de fábrica? Pode beirar as raias da
incredulidade achar que uma equipe de fábrica faria tal manobra escusa na
competição.
É verdade também que a
Ducati fica numa saia justa quando não trata as coisas com a devida clareza, e
portanto, não pode reclamar quando algumas declarações, ou falta delas, nos
momentos devidos, acaba criando esse clima todo, que pode não corresponder em
nada à verdade, mas que faz um barulho danado, e pode ser muito prejudicial à
marca, mesmo com todos os louros conquistados. É verdade também que não tem
santos nesse esporte, embora achar que tal manobra desleal tenha sido
perpetrada possa parecer exagero demais para o que ainda se chama de esporte,
mas que é permeado de muitos interesses entre os participantes do campeonato.
As coisas não funcionam nessa base de conchavos imorais, embora algumas
atitudes possam ser sim, questionáveis.
Outro ponto a ser
considerado para a Ducati não falar certas coisas às claras seria o possível
fato de a GP25 ser em termos gerais inferior à GP24, o que não seria nenhuma
impossibilidade, já que muitas vezes, evoluções nos projetos não rendem os
dividendos esperados. Mas, diante do domínio dos anos recentes, produzir uma
moto inferior à do ano anterior soaria como atestado de incompetência da
garagem italiana em promover sua melhoria contínua. E se levarmos em conta que,
em termos de motores, tudo está “congelado” até o fim de 2026, diante do novo
regulamento técnico que estréia em 2027, poderíamos dizer que, constatada essa
falha, a Ducati poderia se ver comprometida em seu potencial para 2026, e só
não ficou em 2025 porque Marc Márquez chegou chegando, embora alguns fiquem com
a história na cabeça de que o então hexacampeão pode ter competido com uma moto
mais “segura” enquanto Bagnaia segurou uma bucha ingrata com a moto mais atual.
De idéias o mundo está
cheio, e na era das redes sociais, e da desinformação, muita coisa anda
circulando e sendo tida como verdade, por mais contundente e óbvia que esta
seja. Seria muita ingenuidade e incredulidade acreditar nesta história de
favorecimento a Márquez em detrimento de Bagnaia no time oficial, como forma de
explicar as diferenças de performance entre eles na temporada 2025, mas certas
circunstâncias meio nebulosas e até contraditórias ficam ajudando a dar algum
ar crível a esta história, por mais maluca e inviável que possa parecer. E,
neste momento, a verdade verdadeira é o que o pessoal parece menos interessado
em descobrir de verdade qual seria...
E qual seria a
verdade? Parodiando Arquivo X, a verdade está lá fora… Em algum lugar… Seja ela
qual for...
Quando as coisas pareciam
melhorar para Jorge Martin, eis que o campeão mundial de 2024 acabou se
complicando novamente, e desta vez por culpa própria. O piloto da Aprilia foi
muito otimista na corrida Sprint do Japão, na pista de Motegi, e na freada para
a primeira curva, errou a freada e levou um tombo daqueles, levando junto
justamente seu companheiro de equipe Marco Bezzecchi, e com isso tirando a
dupla oficial da Aprilia da prova curta. Só que Martin fraturou a clavícula, em
outra lesão meio complicada, que o levou de novo para a mesa de cirurgia na
Espanha, alguns dias depois, e em consequência, fazendo-o perder as etapas da
Indonésia (além da corrida principal em Motegi, no Japão), e por tabela, também
irá perder as provas da Austrália e da Malásia, e com previsão de retorno, na
melhor das hipóteses, somente em novembro, e olhe lá se for assim. Isso faria
Martin voltar somente nas duas etapas da temporada, em Portugal e Valência, mas
a hipótese mais provável é que o espanhol desista do restante da temporada para
se recuperar a contento visando o campeonato de 2026, já que a lesão foi
considerada grave pelos médicos. O ano de 2025, certamente, vai ser daqueles de
serem esquecidos para Martin…
Mas não é só Jorge Martin que
sofreu azares nas últimas etapas. Marc Márquez garantiu o heptacampeonato na
etapa de Motegi, no Japão, mas na Indonésia, o novo campeão mundial acabou se
enroscando com Marco Bezzecchi logo na largada da corrida principal, e foi ao
chão, e com sequelas, sofrendo uma fratura na clavícula, além de um rompimento
de ligamentos no ombro, o que também o faria ter de passar potencialmente pela
mesa de cirurgia novamente, o que acabou descartado pela junta médica que o
examinou, preferindo uma abordagem mais tradicional, uma vez que o ferimento
não era grave, mas exigindo que o piloto fique de fora das etapas da Austrália
e Malásia, voltando apenas para as duas últimas provas da temporada, justamente
em Portugal e Valência.
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Marc Márquez: queda em Mandalika custará duas provas de ausência do novo heptacampeão para sua recuperação adequada. |
E a McLaren conquistou o
título de construtores de 2025 na F-1, o segundo consecutivo nos últimos anos,
e parecendo reviver, pelo menos no nível técnico, sua era de ouro dos anos
1980, quando surrava a concorrência… Já no que tange ao nível dos pilotos, a
história parece longe de conseguir mostrar o mesmo nível..