Depois de treinos interessantes, eis que a chuva ainda deu mais tempero à corrida inicial da temporada 2025 da Fórmula 1 na Austrália, onde vimos a McLaren vencer com Lando Norris.
A etapa da Austrália,
que deu a largada para a temporada 2025 da Fórmula 1, mostrou um panorama
interessante, muito bom para um início de temporada, é verdade. Mas agora é
preciso ver se isso se mantém, ou como podemos comprovar, a chuva que caiu no
domingo deu uma temperada adicional ao GP, depois de treinos e classificações
que deram o ar da graça, e deixaram todo mundo com um sorriso no rosto. E hoje,
a categoria máxima do automobilismo já volta a entrar na pista, com a etapa da
China, que promete bagunçar o coreto por ter uma prova sprint, a primeira do
ano, o que reduz os treinos livres a apenas uma sessão nesta sexta-feira, deixando
todo mundo com menos tempo para trabalhar os ajustes dos carros.
No Albert Park, os treinos foram pra lá de interessantes, onde não podíamos prever quem de fato daria as cartas. Até mesmo a favorita McLaren pareceu demorar um tempo para se achar, o que mostraria de fato na classificação, confirmando a vantagem que era de se esperar, depois dos testes da pré-temporada. Até ali, Ferrari e Williams também mostraram suas garras, apenas para serem devidamente cortadas na classificação, onde se a Williams ainda mostrou força, colocando-se no Q3 com seus dois pilotos, por outro lado o time de Maranello negou fogo, enquanto George Russell colocava a Mercedes onde era possível, e Max Verstappen, claro, mostrou que não podia ser ignorado, tivesse ou não um carro forte na Red Bull. Na hora do vamos ver, claro, algumas coisas se estabeleceram, mas o piso molhado ajudou a embaralhar as perspectivas de uma prova que já devia ser vista com algumas ressalvas, diante das particularidades da pista australiana, bem diferente do que veremos em Shanghai, o primeiro autódromo de verdade do ano, sem mencionar que depois estaremos em Suzuka, no Japão, em uma pista ainda mais clássica, e onde será possível, em tese, vermos qual é de fato a relação de forças da temporada. A etapa da China, por possuir apenas um treino livre devido à corrida sprint no sábado ainda deve complicar um pouco a situação para os times que buscam acertar as configurações ideais de seus carros, de modo que talvez apenas em Suzuka possamos ter um panorama mais claro efetivamente.
Lando Norris venceu a etapa australiana, e pela primeira vez em sua carreira, lidera o campeonato da F-1. O inglês marcou uma pole na medida da necessidade, quando Oscar Piastri já dava o ar da graça, ainda mais por correr em casa. Verstappen até vinha assustando um pouco, embora sem mostrar dominância. A chuva no domingo, claro, embaralhou as cartas, e felizmente, tivemos corrida, já que ultimamente a F-1 parece avessa a provas no piso molhado, mostrando apenas como seu regulamento é ridículo ao não permitir, como era feito antigamente nestes casos, mudar o ajuste dos carros para a pista molhada. Com o regime de parque fechado, algo completamente estúpido neste tipo de situação, a F-1 passa vergonha quando precisa encarar um circuito sob chuva. E não se trata de frescura: permitir mudanças nos ajustes dos carros ajudaria a melhorar a segurança dos pilotos, que poderiam ter o carro mais na mão, e talvez minimizar os riscos que um piso molhado oferece. E, como desgraça pouca é bobagem, o asfalto do Albert Park, já pouco abrasivo, onde os carros vinham demonstrando problemas de aderência nos treinos, ficou ainda mais escorregadio e traiçoeiro molhado, e todos vimos como alguns pilotos se lascaram na prova, dos novatos até os experientes.
Verstappen até que tentou dar o bote, e por alguns momentos no início, parecia capaz de atormentar Norris, que conseguiu manter a ponta e liderou a corrida logo de cara. Mas, conforme a pista ia ficando melhor, Piastri não teve muitas dificuldades em superar o holandês quando este errou a freada numa curva e quase escapou da pista. A partir dali, Norris e Piastri sumiram na frente, deixando Max sem hipóteses de reação. Mas o holandês até que não podia reclamar, já que atrás dele, George Russell não conseguia ameaçá-lo, e mais atrás, a Ferrari também não conseguia chegar mais à frente. Charles LeClerc só conseguiu dar um pulo na largada, mas não conseguia chegar no piloto da Mercedes. E Lewis Hamilton, numa estréia apagada no time de Maranello, ficou preso atrás de Alexander Albon, sem conseguir superar o piloto da Williams. Lá atrás, algum agito ocorria, mas ainda era algo longe de empolgar a torcida.
Se a pista molhada já tinha feito vítimas entre os novatos, nem os veteranos e experientes escaparam. Carlos Sainz rodou nas voltas atrás do Safety Car; e Fernando Alonso também estampou o muro, sendo que o acidente do asturiano motivou a entrada do carro de segurança já a meio da prova, ajudando a dar um tempero extra por reagrupar o pelotão, que já se debatia sobre a incerteza da chuva voltar ou não. O tempo continuava ameaçador, mas a pista havia secado, e não dava para continuar com os mesmos pneus intermediários. Alguns até tentaram arriscar esperar, mas os compostos estavam se deteriorando muito rápido no piso seco, e mesmo com a expectativa de chover em alguns minutos, todo mundo foi aos boxes efetuar suas trocas.
Mas aí, a chuva voltou. E tudo se complicou, porque de fraca no início, isso fez alguns pilotos demorarem para ir ao pit para nova troca, apostando que seria uma pancada rápida, e que o asfalto secaria rapidamente de novo. Mas não foi o que aconteceu, e o piso molhado não dava alternativas. A dupla da McLaren escapou da pista por causa disso. Norris ainda conseguiu controlar o carro, mas Piastri saiu para a grama e por pouco não abandonou a corrida, conseguindo voltar à prova, mas já sem chances de vitória, como vinha sustentando até então, logo atrás do colega de time. A McLaren agiu rápido e trocou os pneus de Lando, que retomou a liderança. Verstappen e a Red Bull também foram rápidos o suficiente para não caírem para trás nas novas trocas, o que acabou ocorrendo com a dupla da Ferrari. Na relargada, Norris estava com Verstappen logo atrás de si, e com a pista ainda molhada o suficiente para que o holandês fosse uma ameaça real às suas pretensões de vitória. George Russell, com a Mercedes, era o 3º, e em tese, tudo ainda poderia acontecer.
Mas Norris conseguiu se manter firme, segurou a ponta na relargada, e por mais que Verstappen tenha chegado muito perto, o piloto da McLaren controlou a situação e foi para a vitória. O tetracampeão da Red Bull, que iniciou o fim de semana pensando em controlar o prejuízo, saiu mais do que satisfeito, enquanto Russell saía no lucro com o 3º lugar, em que pese ter feito uma prova de destaque, mas sem ter sido efetivamente ameaçado na pista pelos rivais. E tivemos algumas gratas surpresas na bandeirada. Nico Hulkenberg, da mesma maneira como fez na Haas nos últimos dois anos, sobreviveu na pista e chegou a um resultado impensável para a forma atual da Sauber, finalizando em 7º lugar, e já dando ao time logo na primeira corrida mais pontos do que a escuderia suíça conquistou em toda a temporada passada. Albon confirmou que a Williams vai brigar no meio do pelotão, com um excelente 5º lugar. E mais impressionante, Lance Stroll terminou a corrida em 6º lugar, outro resultado longe do que a Aston Martin poderia esperar, depois do que mostrou nos treinos livres. A Ferrari salvou alguns pontos, com LeClerc em 8º, e Hamilton em 10º, mas muito pouco perto do que eles esperavam, tendo errado na estratégia das paradas na parte final da corrida, quando a chuva voltou, além de que o SF-25 não demonstrou a performance esperada vista na pré-temporada. Piastri recuperou-se para terminar em 9º, mas mantendo a “maldição” de nenhum piloto australiano conseguir um pódio ou vitória em casa. E Pierre Gasly e Yuki Tsunoda, depois de batalharem tanto na prova dentro da zona de pontuação, despencaram no final, terminando em 11º e 12º lugares, ficando a ver navios. E quanto à Haas, sobrou os últimos lugares entre aqueles que receberam a bandeirada, com uma performance que foi decepcionante, com Esteban Ocón confessando que não tinha ritmo durante a corrida, algo que eles certamente não esperavam, pelo menos da forma como se viu nessa primeira corrida.
Ainda é cedo para cravar que as McLaren serão sempre favoritas, mas começaram bem, e não fosse a rodada de Piastri, certamente teriam feito a dobradinha. Ferrari vai reagir? A Red Bull vai se acertar? Porque Verstappen se garante… E a Mercedes, claro, prefere não cantar louros sobre o pódio de Russell, diante das particularidades da prova australiana. E mesmo os times do segundo pelotão ainda estão se acertando, e podem melhorar seu desempenho. A Red Bull anuncia que em poucas corridas deverá neutralizar a vantagem da McLaren. Blefe ou realidade? A conferir. E os bastidores já começaram a ficar quentes novamente, agora com a FIA realizando testes mais rigorosos nas asas traseiras dos carros, atendendo a novas reclamações do time dos energéticos sobre algumas asas se flexionando além da conta, criando um efeito “mini-DRS”, conferindo maior velocidade a alguns carros. A F-1 começa o ano bem, mas com algumas discussões que poderiam dispensar, que só servirão para promover desgastes no ambiente da competição, que já tem muita sarna para se coçar.
E os “estreantes” e novatos na competição em 2025? Quando a gente fala que a F-1 é uma categoria praticamente à parte, e que não importa qual o seu currículo nas outras categorias, sejam de base ou outras TOP, antes de chegar à categoria máxima do automobilismo, isso apenas mostra como os novatos precisam se desdobrar para mostrar serviço. E o ditado de que “a chuva separa os homens dos meninos” também é outro ditado que não pode ser subestimado. E vimos tudo isso em Melbourne, onde a turma nova do grid sentiu como o buraco da F-1 é mais embaixo. O fato de ser a primeira corrida do ano, e com as condições traiçoeiras do traçado molhado do Albert Park podem ter relativizado as críticas, mas também podem ter feito os novatos gastarem todo o seu crédito para erros na temporada, que ainda tem muito, muito chão pela frente, e esperar que eles não sejam queimados até chegarmos a Abu Dhabi, no caso de alguém dar muito azar até lá.
Dito isso, Oliver Bearman é quem começou o ano com os erros. O piloto, que no ano passado mostrou boa postura quando precisou substituir Carlos Sainz Jr. na Ferrari, foi o primeiro piloto a bater em 2025, ainda no primeiro treino livre de sexta-feira, danificando o seu carro o suficiente para ter de trocar várias peças e componentes, o que o alijou do segundo treino livre. Como desgraça pouca é bobagem, eis que no terceiro treino livre, o garoto saiu novamente da pista, felizmente sem bater novamente o carro, mas ficando atolado na caixa de brita, e perdendo novamente a chance de treinar. Não é de admirar que tenha terminado em último, e andando sempre lá atrás durante a corrida. A confiança, já abalada pelos incidentes dos treinos, certamente não melhorou com o piso traiçoeiro da pista, onde ao menor deslize se poderia comprometer toda a corrida, e como já havia sido vista nos acidentes sofridos por Isack Hadjar e Jack Doohan logo no início da prova. Portanto, melhor ser cauteloso, ainda que ao extremo, e pelo menos chegar ao fim da prova, uma vez que já havia se acidentado na sexta-feira, e com nova corrida neste fim de semana, um novo acidente poderia comprometer sua participação no GP da China, dependendo dos estragos que causasse em uma nova batida. E claro que a performance deficiente do carro também não ajudava muito.
A Ferrari decepcionou na classificação, e não conseguiu reagir na corrida. Carro com ritmo inferior e estratégia falha da equipe atrapalhou seus pilotos.
Isack Hadjar, por sua
vez, nem chegou a largar. O piloto, fazendo sua estréia na Racing Bulls, e
sendo elogiado amplamente por Helmut Marko numa comparação com Gabriel Bortoleto
diminuindo as qualidades do brasileiro, deve ter feito o dirigente passar
vergonha, se é que ele sabe o que é isso exatamente. Hadjar ficou inconsolável,
e recebeu até apoio de Anthony Hamilton, pai de Lewis Hamilton, com que até
tirou foto no final de semana, em um tipo de comemoração à sua chegada ao grid.
Gabriel, por sua vez, depois de uma classificação positiva, largando à frente
de Nico Hulkenberg, até vinha cumprindo com sua obrigação, ficando longe de
confusões, em que pese ter tomado uma punição por saída insegura do box por
culpa da equipe, acabou se acidentando no final da prova, quando tentou forçar
um pouco o ritmo e perdeu o controle do carro, num acidente até similar ao de
Hadjar, antes que se constatasse que o brasileiro sofreu uma quebra da
suspensão, o que motivou o acidente. No cômputo geral, claro que a comparação é
pior para Hadjar, já que ele nem chegou a largar, tendo batido logo na volta de
apresentação, quando acertou o muro logo de cara. E claro que ambos levarão
lições importantes para as próximas corridas.
Jack Doohan, por sua vez, não poderia ter tido momento pior para se acidentar, ainda que todos compreendam a situação da pista naquele momento, uma vez que o piloto já entra com prazo de validade praticamente vencido, no que depender de Flavio Briatore, que está impaciente para efetivar Franco Colapinto ao posto de titular, e não esconde isso de ninguém, e não seria difícil usar qualquer errinho de Doohan para usar como justificativa para sua demissão. E olhe que o novato até tinha conseguido andar junto de Pierre Gasly, e até à sua frente em alguns momentos dos treinos do fim de semana, algo que, a grosso modo, não seria problema para Briatore ignorar, se lembrarmos que em 1991 ele demitiu sumariamente Roberto Moreno acusando-o de ser incompetente para pilotar um F-1, logo após a etapa da Bélgica, onde ele terminou em 4º lugar, e ainda marcando a volta mais rápida da corrida, para substituí-lo por Michael Schumacher a partir da etapa seguinte, na Itália.
E Liam Lawson? Sua comemoração ao ser promovido para a Red Bull já começou mal, com o neozelandês apanhando do comportamento do carro, mostrando-se incapaz de acompanhar o ritmo de Max Verstappen, em que pese o holandês ter recebido várias atualizações no seu carro logo na primeira corrida. Lawson ainda deu azar nos treinos, e caiu logo no Q1, tendo de largar lá do fundo, e por lá ficando durante praticamente quase toda a corrida, incapaz de avançar à frente, ainda por cima naquelas condições perigosas de piso molhado, semi-molhado, etc. E, claro, ele acabou capitulando logo no final da corrida, batendo o carro, de forma muito similar ao que havia acontecido com Bortoleto e Hadjar, e certamente deixando um certo piloto mexicano a quem substituiu dando risadas da situação, que já deixa o piloto pressionado, e muito suscetível a novos erros, se não tomar cuidado redobrado nas próximas corridas. A sua sorte é que Isack Hadjar, que poderia lhe fazer sombra, fez ainda pior, batendo logo na volta de apresentação da corrida, de modo que Helmut Marko não teve exatamente quase nada para salvar sua cara no final de semana no que tange às discussões de pilotos novatos na F-1. Mesmo assim, se levarmos em conta que Lawson já teve corridas disputadas em 2023 e 2024, essa bagagem acaba pesando mais contra o piloto, que já estaria na corda bamba perante Marko. Mais uma fritura de piloto nos bastidores? Acompanhem os próximos GPs para vermos o desenrolar dessa situação.
Andrea Kimi Antonelli foi a exceção à regra, mas também porque teve uma sorte que faltou a seus colegas novatos. O piloto italiano, depois de amargar uma classificação ruim e largar lá atrás, vinha fazendo uma boa apresentação na corrida, em meio ao piso molhado, mas também exagerou e escapou da pista. Sua sorte foi ter feito isso em um ponto onde havia uma boa área de escape, o que lhe permitiu voltar à corrida, sem bater ou danificar o carro. E ele ainda fez uma excelente performance, para terminar a prova na 4ª posição, logo atrás de George Russell, um feito a ser elogiado, uma vez que o garoto ainda era visto com certa desconfiança, diante de sua promoção direto para o time da Mercedes, e se aguentaria o tranco. Pode-se dizer que ele passou em seu batismo de fogo, e com louvor. Mas sua escapada de pista, se ocorresse em outro ponto menos favorável, certamente poderia tê-lo feito apenas engrossar a lista de pilotos acidentados do fim de semana, e seria submetido às mesmas críticas que foram dirigidas a todos os demais.
Vejamos então como será a etapa da China, e o que ela poderá nos mostrar a respeito do que esperar para a temporada deste ano. A sorte está lançada para 2025...
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