sexta-feira, 28 de julho de 2023

EXPECTATIVAS, FRUSTRAÇÕES, E RECORDES

Quem esperava alguma disputa melhor na Hungria ficou a ver navios logo na largada, quando Max Verstappen resolveu acabar com a brincadeira e assumiu a liderança logo após a primeira curva.

             Todo grande prêmio de F-1 traz expectativas, seja por parte dos profissionais que trabalham nele, seja por parte dos torcedores. É algo plenamente natural, e sempre haverá os dois lados: o dos frustrados, e o dos satisfeitos. Por vezes, o panorama não permite muitas especulações, de modo que a realidade se impõe de tal forma, que todos já anteveem uma situação, que muitas vezes pode se confirmar, ou não. Nestas últimas, costumam ocorrer por vezes as maiores surpresas, pois foram totalmente inesperadas, enquanto em outros momentos, elas podem ocorrer ou não. Como não poderia deixar de ser, o GP da Hungria, domingo passado, foi cheio de expectativas. Mas, claro, por mais otimistas que algumas circunstâncias possam ter sido apresentadas, parte do resultado foi muito mais do mesmo.

            A nova classificação do grid, testada pela FIA, não foi de todo ruim, exceto por um detalhe: diminuição dos jogos de pneus disponíveis para cada piloto, de 13 para 11, o que só ajudou a diminuir ainda mais as atividades nos treinos livres, o que não foi nem um pouco bom para quem assistiu. O limite de 13 jogos já não era muito, mas reduzir em mais 2 jogos, sob a justificativa de economia “ambiental”, soa ridículo, em uma competição onde já aprontam tantas restrições, que só falta mandarem os pilotos para a pista com os carros sem poderem treinar um minuto sequer. A tentativa de alterar, ainda que artificialmente a relação de forças, pode até surpreender em um primeiro momento, mas depois, na hora da corrida, não tem dado resultados condizentes com o desgaste a que a FIA se expõe procurando “animar” a competição. Foi assim com a mudança nas regras das provas Sprint adotadas para esta temporada, que até aqui não se mostrou positiva como se esperava. E no caso da nova sistemática de classificação, o fato dos pilotos terem menos pneus no fim de semana prejudica as atividades nos treinos livres, já que todo mundo quer poupar seus compostos. No caso da Hungria, como eles tiveram o primeiro treino com chuva forte, não houve exatamente um prejuízo tão patente das atividades nos treinos livres restantes, mas ninguém gostou de ter de economizar mais pneus do que já o fazem.

            Já em relação à classificação, quem conseguiu largar bem mais à frente do que normalmente costuma fazer só brilhou mesmo no treino, despencando a olhos vistos na corrida, como foi o caso da Alfa Romeo, que surpreendeu todo mundo, mas as coisas começaram a dar errado já no arranque do grid, caindo lá para trás e por lá ficando. Nem mesmo o que poderia ser a a única surpresa efetiva do fim de semana húngaro, a pole-position de Lewis Hamilton, a 104ª na carreira, ampliando um recorde que já era dele. Da McLaren, que já havia surpreendido em Silverstone, ao menos se viu que a evolução do carro é realmente efetiva, com os carros do time de Woking mantendo um bom desempenho em Hungaroring, circuito de características completamente opostas às de Silverstone, uma pista de alta velocidade, enquanto o circuito húngaro é o mais travado do calendário, depois de Mônaco.

Lewis Hamilton conquistou sua 104ª pole-position, depois de mais de um ano e meio sem largar na primeira posição do grid.

            Só os mais iludidos poderiam sonhar com uma vitória de Lewis Hamilton, diante da improvável pole-position obtida pelo heptacampeão. Apesar de ter feito uma largada que não foi ruim, isso foi o que pareceu de fato, porque Verstappen foi ainda melhor, e na dividida da primeira curva, deixou o piloto da Mercedes em posição vulnerável permitindo que ele fosse superado pela dupla da McLaren, o que comprometeu boa parte da corrida de Lewis. Mas, sejamos realistas: mesmo que Hamilton tivesse segurado a liderança, ele a perderia pouco tempo depois, devido à diferença de ritmo que seu carro ainda apresenta frente à Red Bull, e no momento atual, até mesmo ao carro da McLaren. Max Verstappen, mesmo ciente da vantagem que tinha de ter o melhor carro, preferiu não arriscar, e foi decidido para resolver tudo na primeira curva. E dali em diante, livre na frente, sem tráfego algum, assistimos a outro baile do bicampeão holandês, que não deu chances a nada nem a ninguém, rumando para mais uma vitória tranquila. Na base da estratégia, Hamilton ainda salvou o 4º lugar, minimizando um pouco o prejuízo, ainda que no final estivesse quase em posição de discutir o pódio com Perez, e quem sabe, com Lando Norris, se a corrida tivesse ainda algumas voltas.

            O triunfo de Max Verstappen na Hungria estabeleceu o novo recorde de vitórias consecutivas de uma mesma escuderia na F-1. A marca anterior era da McLaren, obtida em 1988, com 11 triunfos consecutivos obtidos por Alain Prost e Ayrton Senna entre as provas do Brasil e da Bélgica, sendo que naquele ano o time de Woking venceu 15 das 16 corridas da temporada, falhando apenas na Itália, quando Prost abandonou por quebra mecânica, e Senna, ao se apressar em superar um retardatário, bateu com ele na primeira chicane, e abandonou a corrida, deixando para a Ferrari vencer a corrida, justamente em casa. Com a vitória de Verstappen, a Red Bull atingiu seu 12º triunfo consecutivo, novo recorde de vitórias consecutivas na competição, obtido na vitória em Abu Dhabi, no encerramento da temporada passada, até domingo passado, em Hungaroring, com 10 vitórias do holandês e duas de Sergio Perez. Uma marca que tem tudo para aumentar ainda mais, no ritmo do que estamos vendo no ano, onde não vemos chance de alguém destronar a Red Bull efetivamente. Mesmo a chance de ocorrer uma zebra parece cada vez menor, e mesmo quando isso ocorre, nem tem feito diferença, como costumava ocorrer anteriormente. Teremos sem dúvida um novo recorde de vitórias consecutivas, que novamente vai demorar muito para ser batido, como o foi a marca da McLaren, conseguida há 35 anos atrás.

Lando Norris fez outra excelente corrida e conquistou seu segundo pódio consecutivo com a McLaren atualizada.

            Curiosamente, o momento atual da Red Bull guarda um paralelo com a temporada de 1988, em relação à supremacia da McLaren naquele ano, quando foi dito que o problema não era a McLaren ser boa demais, mas os adversários que eram muito ruins. É o que estamos vendo este ano, com o time rubrotaurino deitando e rolando, e os demais concorrentes potencias tropeçando neles mesmos. Aston Martin, Mercedes, e agora, McLaren, todos se revezando durante o ano na posição de segunda força, real ou teórica, com a Ferrari correndo meio por fora dessa disputa, mas todos, igualmente falhando em conseguir representar uma ameaça real à Red Bull de fato. Tanto que Toto Wolf até falou que estamos vendo um campeonato de times da F-2 contra um time de F-1, para ilustrar a diferença estabelecida pela Red Bull para o restante do grid. E admitindo que o time dos energéticos fez melhor o seu trabalho do que todos os outros, simples assim.

            Mas, recordes são para serem batidos. Jim Clark por muito tempo foi o maior pole-man da história da F-1, com suas 33 largadas na posição de honra do grid. Até Ayrton Senna desbanca-lo, e ampliando a marca recorde para 65, número que muitos consideravam insuperável. Mas, Michael Schumacher conseguiu, chegando a 68 poles. E então, Hamilton esticou ainda mais esse número, agora com sua 104ª largada em primeiro no grid. Esse número poderá ser batido? Provavelmente, em algum momento do futuro, se as circunstâncias se ajudarem para propiciar tal feito. Da mesma maneira, assim como Jackie Stewart teve seu recorde de vitórias (27) quebrado por Alain Prost, que chegou a um novo recorde de 51 triunfos, a marca do francês também foi pulverizada anos depois por Schumacher, com o alemão alcançando incríveis 91 vitórias na categoria máxima do automobilismo. Até Hamilton novamente deixar essa marca para trás, com 103 triunfos, e com o inglês ainda querendo mais.

            Ainda temos o recorde de 9 vitórias consecutivas de Sebastian Vettel, obtido em 2013, e que já está na mira de Verstappen, pelo andar do holandês, que já enfileirou 7 triunfos consecutivos, e pode obter o seu 8º já neste domingo, no GP da Bélgica, deixando-o ainda mais perto não apenas de igualar, mas de superar a marca obtida pelo tetracampeão.

Depois de 35 anos, o recorde de 11 vitórias consecutivas da McLaren, obtido em 1988, foi finalmente superado, com a 12º vitória consecutiva da Red Bull.

            No campeonato deste ano, tirando a Red Bull, poderíamos dizer que a F-1 até está “parelha”. Tivemos Aston Martin dando as cartas, depois Mercedes, e até a Ferrari dando um pouco o ar da graça, e agora é a McLaren, depois de um início desastroso, conseguir corrigir o rumo, e surpreender mais uma vez na Hungria, onde teoricamente eles não teriam um desempenho tão satisfatório como vimos em Silverstone. Mas eles conseguiram, e ajudaram a apimentar a disputa pela F-1 “B”, assumindo o posto de segunda força do grid. A Ferrari volta e meia assusta, mas não efetiva sua ameaça. O carro da Mercedes, apesar de suas atualizações, continua instável em sua performance, e a Aston Martin decaiu com suas últimas atualizações, se comparado aos concorrentes, que parecem ter conseguido avançar mais. E a Alpine se vê no meio do pelotão, tentando não cair para trás, mas também não conseguindo avançar à frente, pelo menos até o presente momento. O que poderemos esperar mais?

            Talvez nada, talvez alguma coisa. Vamos ver o que a F-1 consegue nos mostrar neste fim de semana, com o GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps, última prova antes da categoria ter suas “férias” de versão. E será a primeira vez que a Bélgica terá uma prova Sprint, com o grid da corrida de domingo sendo definido já hoje, enquanto amanhã teremos apenas a classificação para a corrida curta, bem como a mesma. Curiosamente, a prova belga este ano foi antecipada em um mês em relação aos anos anteriores, mas mesmo assim, a previsão para hoje é de chuva na região das Ardenhas, o que tem tudo para deixar o único treino livre ainda mais bagunçado, pela importância que terá devido à prova Sprint.

            A chuva poderia até dar maiores expectativas em relação à corrida do fim de semana, mas até mesmo São Pedro parece incapaz de deter Max Verstappen e a Red Bull no atual momento. Mesmo assim, sonhar ainda é válido, mas sejamos francos: o momento atual é do holandês, e de ninguém mais... Melhores perspectivas, só mesmo em 2024, e olhe lá...

 

 

Daniel Ricciardo, de volta ao cockpit de um F-1, teve um retorno honesto e até decente na Hungria. Mesmo sem conhecer a fundo o carro da Alpha Tauri, cumpriu seu objetivo, ficando à frente de Yuki Tsunoda tanto na classificação quanto no resultado final da corrida. É o que ele tem de mostrar até o fim da temporada, começando a partir deste fim de semana em Spa-Francorchamps. Vejamos se ele mantém a performance...

Daniel Ricciardo voltou ao grid com o pé direito no acelerador firme, dentro das possibilidades da Alpha Tauri. Falta agora manter a forma no restante da temporada.

 

 

A Formula-E chegou a Londres para o encerramento da temporada 2023, e a decisão do título da competição. O palco é o Excel Arena, circuito que tem como principal característica ser montado parte dentro do imenso pavilhão de eventos, e parte do lado de fora. Com 2,09 Km de extensão, a pista possui 20 curvas, e as duas provas da rodada dupla serão realizadas com duração diferente, com a primeira corrida sendo disputada em 36 voltas, e a segunda corrida em 34 voltas. A fim de obrigar os pilotos a efetuar uma corrida mais estratégica, com maior gerenciamento da energia disponível, a carga de energia disponível aos pilotos será a menor já registrada na história da categoria, com apenas 27 kWh ao longo de cada prova. Segundo a direção da categoria, a intenção é evitar uma corrida “pé embaixo” dos pilotos, e valorizar a capacidade de cada piloto ser rápido economizando energia ao mesmo tempo. Por mais que seja interessante a justificativa, essa iniciativa pode ser um tiro no pé, inibindo demais a competição na pista, em prol dos pilotos tentarem chegar ao fim da corrida. Tal medida também deve favorecer os equipamentos com melhor consumo de energia, caso dos trens de força da Jaguar, e também da Porsche, em detrimento dos demais trens de força do grid, especialmente Mahindra e NIO, que se já não tinham boas perspectivas de desempenho, devem ficar ainda mais alijadas da disputa. Mesmo assim, pode ser um tiro no pé até mesmo para eles, a depender de como se dará o desempenho dos pilotos. Em um momento onde a F-E começa a deixar para trás o “rótulo” de lenta, graças aos novos trens de força, muito mais potentes, e às novas baterias, forçar uma redução tão drástica de velocidade pode ser contraproducente para a imagem da competição, até porque a redução da quantidade de energia é muito grande. Só para se ter uma idéia, a média de força disponibilizada para as demais provas tem ficado na casa de 38 kWh. O traçado montado no Excel Arena ajuda a minimizar a preocupação com o consumo de energia, mas mesmo assim, a redução determinada para a rodada dupla parece radical demais, o que vai obrigar os times a trabalharem bastante para superar essa limitação. A idéia é tentar fazer com que times e pilotos variem as estratégias de corrida na busca por uma vantagem. Pode ser um objetivo interessante, como forma de oferecer maior atrativo para as corridas da rodada dupla. Se vai funcionar, isso é outra história, e não é difícil certas iniciativas se mostrarem completamente furadas na prática, apesar de positivas na teoria. As duas provas terão transmissão ao vivo do Bandsports na TV por assinatura, e pelo site Grande Prêmio em seu canal no You Tube, com largada a partir das 13:00 Hrs., horário de Brasília, tanto no sábado quanto no domingo.

A pista montada no pavilhão de exposições do Excel Arena recebe a rodada dupla que encerra a temporada 2023 da Formula-E.

 

 

Jake Dennis, da Andretti, é o grande favorito para levantar a taça de campeão. O piloto da equipe Andretti saiu de Roma, onde venceu a segunda corrida da rodada dupla disputada na capital italiana, com 24 pontos de vantagem na classificação. Teremos 58 pontos em jogo, 25 pela vitória, 3 pela pole-position, e 1 pela volta mais rápida da corrida. Por maior que seja a vantagem do piloto inglês, é preciso cautela, pois basta um azar na primeira prova, e uma vitória de Nick Cassidy, para inverter a situação, e fazer a disputa pegar fogo na corrida final, no domingo. Mith Evans e Pascal Wehrlein, embora ainda com chances matemáticas, na prática têm poucas chances de conquistar o título, precisando vencer as corridas e torcer para Dennis e Cassidy abandonarem, na melhor das hipóteses. Mesmo assim, não dá para descartar a possibilidade de termos uma reviravolta completa nesta rodada final, uma vez que a F-E costuma ser pródiga em algumas surpresas, e nada está decidido até a bandeirada final. De qualquer forma, mantido o duelo entre Jake e Nick, será uma situação inédita na F-E, que verá não apenas novos campeões, mas novos times conquistando o título. A Andretti, apesar de ter tido alguns bons momentos ao longo da história do campeonato de carros monopostos elétricos, em especial quando foi o time oficial da BMW, nunca chegou de fato a uma decisão do título, e a Envision, apesar de ter um bom histórico na categoria em termos de resultados, também sempre negou fogo na reta final das temporadas, ficando sem faturar nenhuma conquista. A situação ficou complicada depois de Roma, mas não impossível. De qualquer forma, só pode haver um campeão, e a F-E verá um novo nome na sua lista de pilotos campeões da categoria, uma escrita que só Jean-Éric Vergne conseguiu quebrar, sendo até hoje o único bicampeão da F-E. Mesmo que Evans e Wehrlein ainda estivessem firmes na briga, também seria ótimo, pois seus times, Jaguar e Porsche, também nunca foram campeões, assim como os próprios. Mas parece que eles terão de continuar na fila, em que pese o fato de que uma delas será campeã com seu time cliente, já que a Andretti usa o trem de força alemão, e a Envision o trem de força britânico.

Líder do campeonato, Jake Dennis pode conquistar o seu primeiro título na Formula-E, assim como da equipe Andretti na categoria.

 

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