A situação do holandês Nyck De Vries na Alpha Tauri já estava complicada, e o piloto acabou sendo demitido até antes do que todos esperavam.
E o que todo mundo já
esperava se concretizou. Nyck De Vries acabou demitido sumariamente da Alpha
Tauri, e seu lugar já será ocupado na prova da Hungria pelo australiano Daniel
Ricciardo, piloto reserva da Red Bull que foi “cedido” ao time B para defendê-lo
até o fim da temporada. Com isso, a trajetória do piloto holandês na categoria
máxima do automobilismo chega a um fim abrupto, do qual a única surpresa foi
ter ocorrido mais cedo do que o esperado, diante dos resultados apresentados
até agora.
Tirando as críticas à Red Bull por sua postura de “fritar” pilotos quando lhe dá na telha, do qual o currículo de Helmut Marko é considerável neste quesito, a ponto de muitos pilotos hoje preferirem passar longe do programa de formação da marca de energéticos, alguns fatores contribuíram para o ocaso do piloto. Mas, De Vries não foi o primeiro, e certamente não será o último, para o qual o sonho da Fórmula 1 virou rapidamente um pesadelo. Durante os mais de 70 anos de existência da categoria, não foram poucos os pilotos que foram demolidos na competição, alguns merecidamente, outros nem tanto.
Nyck foi mais um dos pilotos que, em tempos recentes, sem ter tido chances efetivas de ingressar na F-1, mesmo tendo sido campeão da F-2, teve de optar por outros caminhos. Um deles foi a Formula-E, que se firmou como grande opção de competição para muitos pilotos, especialmente aqueles que visavam a F-1, ou a deixaram. No caso do holandês, ele foi efetivado em 2019 como piloto da Mercedes, ao lado de Stoffel Vandoorne, outro piloto que também não conseguiu se firmar na categoria máxima do automobilismo. O time alemão teve uma temporada promissora, terminando em 3º lugar no campeonato de estréia, conseguindo até sua primeira vitória, e no ano seguinte, disputou o título da competição, que acabou justamente com De Vries, coroando sua carreira de piloto com mais um título. Na temporada passada, novamente a Mercedes disputou o título, mas desta vez com Vandoorne, enquanto Nyck teve uma temporada mediana, se comparada com o colega de time que foi campeão. Mesmo assim, na condição de piloto de testes, ele ainda seguia sonhando com a F-1, e teve sua chance no GP da Itália, quando precisou substituir Alexander Albon na Williams, quando o tailandês precisou passar por uma cirurgia de apendicite, e não pode correr. De Vries fez uma bela corrida, terminando em 9º lugar, e certamente dando o seu cartão de visitas para a categoria. Uma impressão que ficou mais forte não só por pontuar logo de cara com um carro pouco competitivo como a Williams, mas também pelo fato de ter assumido o carro do time inglês apenas no sábado, sendo que na sexta-feira ele tinha realizado o primeiro treino livre pilotando para a Aston Martin, de modo que sua performance ao carro da Williams acabou sendo bem impressionante.
Foi o bastante para alguns times começarem a especular sua contratação, ainda que, em primeira opção, ele permaneceria na F-E. A Mercedes estava de saída da categoria de carros elétricos, mas ele conseguiu assinar contrato com a estreante Maserati, que alinharia no grid este ano. Mas aí, a Red Bull ganhou a corrida pelo passe do holandês, ávida por achar um substituto à altura para Pierre Gasly, que se mandou de mala e cuia para a Alpine, atrás de melhor reconhecimento e chances na F-1, desfalcando seu time “B”, a Alpha Tauri. Foi o bastante para De Vries se deixar seduzir pelo canto da sereia da categoria máxima do automobilismo, e finalmente ter a chance de ser um piloto titular no grid, como sonhava há alguns anos. Ele seria o novo piloto da Alpha Tauri, fazendo dupla com Yuki Tsunoda, piloto japonês esforçado, mas que só se manteve no time diante da falta de opções no programa de formação de pilotos da Red Bull. Teria sido a melhor escolha para o piloto?
Não há como negar que dúvidas surgiram, e fortes. Nos testes da pré-temporada da F-E, a Maserati impressionou, tendo chamado Maxximilian Gunther às pressas para o lugar que seria de Nyck. Enquanto isso, na F-1, a Alpha Tauri, que já vinha de uma temporada de baixa em 2022, não dava indícios de que 2023 seria muito melhor. Mas, até aí, esse não seria o principal problema para o piloto. Ele só tinha que repetir, dentro das possibilidades do time, o que fizera na Williams em Monza. Afinal, alguém que tinha sido campeão da F-2, e da F-E, não seria alguém de se menosprezar, não é? E a F-1 sempre foi o sonho de De Vries, assim como de muitos pilotos. E chegar lá hoje em dia anda bem complicado, de modo que, quando a chance surge, quem pode criticar ter cedido a seus impulsos?
Só que, como já ocorreu tantas vezes, com muitos outros pilotos, mesmo os de talento mais do que comprovado, o sonho de competir na F-1 virou rapidamente um pesadelo. Se a falta de competitividade da Alpha Tauri se confirmou, revelando o modelo AT04 como um dos piores carros do grid, o que surpreendeu foi ver o holandês sendo superado por Yuki Tsunoda. Não que o japonês fosse um braço duro, mas apenas que não era visto como um imenso talento. Era um piloto honesto, esforçado, e só. Vê-lo superando De Vries, tanto em qualificação, quanto no resultado das corridas, era algo inesperado, pelo menos na intensidade do que ocorreu. Verdade que o carro da Alpha Tauri era complicado, e Tsunoda, já mais calejado com o time e seus carros, teria mais facilidade para lidar com ele. Mas, do modo como De Vries assumiu o carro da Williams em Monza no ano passado, sem praticamente conhecer o carro direito, era de se esperar que, depois de algumas dificuldades iniciais naturais, ele começasse a entender o comportamento do carro, e assumisse a dianteira da escuderia na pista. Na primeira corrida, no Bahrein, Tsunoda terminou em 11º, enquanto Nyck foi o 14º. Dá-se um desconto nesta, por ser a primeira prova. Os resultados se repetiram na Arábia Saudita, certo, é o início. Mas, na Austrália e no Azerbaijão, as coisas começaram a ficar mais difíceis: Tsunoda, com performances firmes, terminou ambas as provas em 10º, marcando seus primeiros pontos e os do time na temporada, enquanto De Vries abandonou ambas as corridas, sem demonstrar performance similar ao do japonês. O que poderia estar acontecendo, afinal?
Nyck largou à frente de Tsunoda em Miami, mas na corrida, enquanto o nipônico foi 11º, quase pontuando novamente, o holandês foi apenas 18º. Em Mônaco, um sinal de reação, quando De Vries terminou em 12º, e Tsunoda foi o 15º. Na Espanha, Tsunoda foi 12º, e de Vries, 14º na bandeirada. No Canadá, 14º para Yuki, e 18º para Nyck. Na Áustria, foi De Vries terminar em 17º, e Tsunoda em 19º. E, em Silverstone, na derradeira prova, Tsunoda foi 16º, e De Vries o 17º. Pode não parecer grande coisa, e dado o péssimo carro da Alpha Tauri, não seria o caso de se rifar o piloto holandês.
De volta ao grid como piloto titular, Daniel Ricciardo terá um tremendo abacaxi para descascar na Apha Tauri. Dará conta do recado?
Não parece ser muita
coisa. Em tempos, e um time “normal”, De Vries terminaria a temporada, e
certamente não teria seu contrato renovado, se houvessem outras opções no
mercado. Mas estamos falando da Red Bull, onde Helmut Marko acumulou um belo
currículo de demissões de pilotos, várias delas até injustas pelas
circunstâncias em que ocorreram. E, no caso de Nyck, infelizmente uma série de
circunstâncias paralelas ajudaram a precipitar sua queda, que já vinha sendo
prevista para o retorno das férias de verão. A primeira delas, certamente foi a
queda de rendimento de Sergio Perez, que desde a etapa de Miami deixou de
acompanhar Verstappen no mundial, com o atual bicampeão disparando na frente,
chegando a abrir 99 pontos de vantagem na classificação, um abismo, ainda mais
pela Red Bull ter o melhor carro da competição. Por mais que Perez pudesse se
tornar um problema para o time se continuasse desafiando Verstappen na pista na
briga por vitórias, certamente o time também não deseja que mexicano fique
tanto atrás, correndo risco até de ser superado por rivais atrás na pontuação.
Outra circunstância foi que Daniel Ricciardo, piloto reserva do time,
apresentou um desempenho muito bom no teste de pneus realizado pela Pirelli com
o modelo RB19, que deixou a cúpula do time, e principalmente, Marko, muito
satisfeito, com o australiano mostrando que não perdeu a mão na condução de um
F-1, como muitos especularam após sua demissão pela McLaren no ano passado.
Mas, basicamente, o que mais pesou, foi a forte impressão do chefe rubrotaurino, de que De Vries não mostrava “evolução” em sua performance, leia-se, andar à frente de Tsunoda. O japonês, que nunca foi considerado grande talento, chegou, vejam só, a ter sua fama como piloto recebendo um belo “up” pelo desempenho desta temporada, nas corridas em que pontuou, e nas que quase chegou lá, justamente por dar um baile em um piloto que foi campeão em mais de uma categoria, e pelo carro pouco competitivo que todos sabem que o AT04 é. Neste panorama, Marko afirmou que não valeria a pena dar mais alguns GPs de prazo para Nyck mostrar alguma coisa. E, temendo que a situação de Perez não mostre uma reversão, a Red Bull precisa considerar se Ricciardo ainda tem condições de pilotar no nível de Verstappen, como o australiano fazia, em que pese o holandês possuir maior velocidade pura, ao que Daniel compensava com um estilo mais limpo e melhor visão de corrida. Desta forma, a nova chance de Ricciardo é um teste para confirmar suas condições atuais como piloto. Se Daniel superar Tsunoda, estará aprovado para voltar a ser uma opção na Red Bull, se Perez não voltar a engrenar. Caso contrário, se o japonês continuar andando melhor, a fila andará.
A “cessão” de Daniel Ricciardo deve brecar os planos de outro talentoso piloto que já deu mostras de estar sedento por uma chance na F-1. Álex Palou, líder do campeonato da Indycar, já andou conversando com Max Verstappen tentando cavar uma vaga na Alpha Tauri, e já se falava que o espanhol poderia assumir o cockpit do time de Faenza tão logo acabasse a temporada do campeonato de monopostos dos Estados Unidos, o que poderia lhe dar a chance de participar a partir do GP de Singapura. Isso não deverá mais ocorrer, diante da necessidade da Red Bull de avaliar o piloto australiano para 2024 como opção viável. Mas havia outro entrave para as pretensões de Palou, que seria o fato de ser piloto reserva da McLaren, que já havia prometido “brecar” a idéia do espanhol correr na Alpha Tauri.
Por mais que seja legítimo o desejo de Palou competir na F-1, é bom que o espanhol reavalie suas opções diante da sedução que a categoria máxima do automobilismo faz na cabeça dos pilotos. Palou já fez seu nome na Indycar, foi campeão da temporada de 2021, e é o grande favorito para conquistar a temporada deste ano, tornando-se bicampeão. Corre por um time de ponta na categoria, a Ganassi, e a se confirmar sua ida para a operação da McLaren na categoria, ainda disporá de um carro e time competitivos para brigar por vitórias e até pelo título. Se continuar na Ganassi, manterá as boas opções de competição que já dispõe atualmente. Vale a pena largar tudo isso para se aventurar na F-1, em um time com poucas chances de bons resultados? Afinal, o momento da Alpha Tauri, que mudará de nome para 2024, não é dos mais tranquilos, uma vez que a nova direção do império Red Bull, depois do falecimento de Dietrich Mateschitz, não é tão condescendente com seus investimentos no esporte, e vê a propriedade de dois times na F-1 como um gasto exagerado.
E a F-1 é pródiga em exemplos de pilotos que arrebentaram em outras categorias, mas que acabaram “arrebentados” quando tentaram a sorte por lá. Que o diga Alessandro Zanardi, que arrepiou na F-Indy na segunda metade dos anos 1990, pela Ganassi, conquistando dois títulos na competição, e diante disso, recebeu uma oferta da Williams para voltar à F-1 e disputar a temporada de 1999. Zanardi topou a aposta, e foi uma das maiores decepções daquela temporada, tendo feito todo o campeonato, sem ter conseguido marcar um ponto sequer. Por mais que a Williams não fosse mais um time capaz de disputar o título, ainda era um carro razoavelmente competitivo, e Ralf Schumacher, seu outro piloto, marcou vários pontos. Se levarmos em conta que Ralf sempre foi conhecido apenas por ser o irmão caçula de Michael Schumacher, que foi heptacampeão na F-1, e Zanardi chegava como grande talento da Indycar, por seu bicampeonato, os resultados do italiano se tornavam ainda mais decepcionantes.
Se a Red Bull fosse esperta neste sentido, poderia considerar a contratação de Palou para o seu time principal, fazendo dupla com Max Verstappen, o que justificaria plenamente os anseios do espanhol para mudar de categoria. Mas Helmut Marko não vai se atrever a chamar um piloto que pudesse colocar a posição do holandês em risco no time, e geraria uma situação potencialmente explosiva na escuderia, tendo que gerenciar uma disputa fraticida entre seus dois pilotos.
Daniel ganha sua nova oportunidade na F-1, depois de sair por baixo de sua passagem pela McLaren. Obviamente, sua meta é ganhar de volta o posto de titular na Red Bull. Vai conseguir? Isso vai depender de sua atuação na Alpha Tauri, e mesmo assim, não depende apenas dele. A missão do australiano é a mais óbvia: ele tem de andar à frente de Tsunoda. Difícil? Fácil? Mais ou menos. Se por um lado Daniel andou apresentando excelente performance ao volante do modelo RB19, lembremos que é o melhor carro da temporada atual da F-1, enquanto o AT-04 da Alpha Tauri ocupa a posição contrária, sendo, no momento, o pior carro do grid. Se ele conseguiu se adaptar rapidamente ao melhor carro, como será sua adaptação ao pior carro? O risco de acabar dando tudo errado existe, e não pode ser menosprezado. Ricciardo não deve conseguir milagres na Alpha Tauri, cujo carro continua sendo uma verdadeira bomba. Perder o duelo para Tsunoda, contudo, poderia significar o fim de suas chances na F-1, por melhor que seja o cartaz do japonês hoje em dia. Mas há um detalhe que pode complicar a situação de Ricciardo, que é o fato do carro da Alpha Tauri ter um comportamento similar ao demonstrado pela McLaren nos dois últimos anos, com uma frente instável, à qual Daniel não soube se adaptar. Lógico que ele deve estar ciente dos dados do comportamento do carro do time de Faenza, e ter certeza de conseguir dar conta do desafio que lhe espera, caso contrário, não teria aceitado voltar ao grid. Na pior das perspectivas, Ricciardo simplesmente fez uma aposta com a chance que lhe foi dada.
Resta saber se essa aposta significará voltar ao grande sonho da F-1, ou se será mais um pesadelo para o piloto. No mundo do automobilismo, as chances de o sonho virar pesadelo sempre foram grandes, mas na categoria máxima do automobilismo o buraco sempre foi mais embaixo, tragando inúmeros nomes ao longo de mais de 70 anos de existência. Nyck de Vries é apenas mais um nome nesta longa lista de pilotos, que certamente ainda vai continuar tendo novos nomes nos anos vindouros. Que encontre um novo rumo para sua carreira, e seja bem sucedido nisso. Muitos conseguiram, outros, nem tanto, e alguns viram suas carreiras completamente encerradas. Qual será o seu destino diante destas possibilidades? Boa sorte a ele.
Quanto a Ricciardo, boa sorte em seu desafio para tentar voltar a brilhar na F-1...
A Formula-E entra em sua fase final da temporada de 2023 neste final de semana, com a rodada dupla em Roma. Depois deste final de semana, a categoria de carros monopostos elétricos terá apenas a etapa final em Londres, no fim deste mês, também em rodada dupla. Após a etapa de Portland, Jake Dennis, da Andretti, segue na liderança do campeonato, mas com apenas 1 ponto de vantagem para Nick Cassidy, da Envision, vencedor da corrida na capital do Estado do Oregon, Estados Unidos. Mas quem entra na pista da capital italiana com a expectativa em alta é Mith Evans. O piloto da Jaguar venceu as duas corridas da rodada dupla em Roma no ano passado, e ocupando a 4ª posição no campeonato, 32 pontos atrás de Dennis, vai para esta reta final como franco-atirador. Com 4 provas para fechar a temporada, ainda temos 116 pontos em jogo, e em tese, tudo pode acontecer. Os ponteiros na classificação podem manter suas posições ou trocarem de lugar, dependendo dos resultados, como mais gente pode até chegar para a briga. Nada está decidido. Cassidy e Dennis vem firmes pelo desempenho das últimas provas, e quem também precisa dar uma reagida é Pascal Wehrlein, da Porsche, que não tem conseguido fazer boas classificações, e tem precisado recuperar muitas posições nas corridas, algo que poderá ser bem complicado de fazer na pista montada nas ruas de Roma. As corridas deste final de semana terão transmissão ao vivo pelo canal pago Bandsports, bem como pelo canal do You Tube do site Grande Prêmio. As duas provas tem largada programada para as 10:00 Hrs., pelo horário de Brasília.
Quem também volta a acelerar neste final de semana é a Indycar, com sua única etapa fora dos Estados Unidos, o GP de Toronto, no Canadá. Entre as novidades da etapa, está a participação de Tom Blonqvist pela Meyer Shank, no lugar de Simon Pagenaud, que sofreu um forte acidente em Mid-Ohio, e teve sua participação na prova canadense vetada pelos médicos. Diante dos maus resultados na temporada, a escuderia não deve renovar com Pagenaud para 2024, enquanto Hélio Castro Neves teria um acordo garantido para disputar somente as 500 Milhas de Indianápolis no próximo ano, e já estaria considerando outras opções para competir em 2024, talvez até mesmo retornando ao IMSA Wheater Tech Sportscar. A corrida em Toronto terá transmissão ao vivo pela TV Cultura, em sinal aberto, ESPN4 em sinal fechado, e pelo sistema de streaming Star+, a partir das 14:30 Hrs. deste domingo, horário de Brasília.
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