Não é de hoje que a
F-1 desperta polêmicas com momentos controversos ou atitudes imbecis. O
problema é a insistência, por vezes, em certas posições que só ajudam a
categoria a perder credibilidade, quando poderia resolver isso de maneira muito
mais simples, e sem tantas firulas. E não me refiro somente à FIA, gestora do
regulamento, e atualmente, à Liberty Media, gestora comercial da categoria.
Ambas padecem de uma teimosia e bairrismo que fica difícil de engolir, ainda
mais imaginando que ambas deveriam defender o campeonato, e não acabar agindo
de forma a minar sua atratividade.
Comecemos pela frescuragem da Liberty Media. Aqui o lance é que temos uma nova pretendente a ingressar no grid da categoria máxima do automobilismo: a Andretti, e que vem trazendo a reboque uma das mais importantes marcas da indústria automobilística mundial. A Andretti tem direito de querer participar da F-1? TEM! A F-1 quer a Andretti? Não, por pura picuinha financeira, e nada mais. Mas o Presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, parece disposto a frustrar o Clube do Bolinha imbecil capitaneado por Stefano Domenicalli, e aceitar, de fato, a inclusão de uma 11ª escuderia no grid. Na verdade, o dirigente alega que já há 5 pedidos de inscrição, e que até o presente momento, a petição da Andretti é a que mais está firme em termos de atender as condições necessárias de participação na competição. Mas, mesmo assim, a cartolagem da F-1 resiste, e já deixou isso bem claro por razões estupidamente financeiras, e fim de papo.
Embora as explicações dadas pelo lado da Liberty Media, em conluio descarado com a maioria dos times do grid seja plausível e compreensível, nem por isso ela é aceitável, muito pelo contrário. Revela apenas um desejo egoísta e mesquinho de garantir lucros entre o menor número possível de participantes, mesmo que isso seja prejudicial ao “esporte”. A F-1 envereda por um entendimento imbecil de se autopromover e se autovalorizar, achando-se a última bolacha do universo das competições do mundo do esporte a motor. Mas, até agora, tal estratégia em nada agregou à competição em si, muito pelo contrário.
Desde que, em fins dos anos 1990, Max Mosley, em conveniência com Bernie Ecclestone, implantaram um limite imbecil de apenas 12 times no grid, tal número nunca foi atingido, deixando a categoria com menos escuderias do que poderia haver na competição. As justificativas, algumas corretas, como a baixa qualidade de alguns pretendentes, até faziam sentido, especialmente em evitar vergonhas como times completamente despreparados para um certame de alto nível como o da F-1. Mas sabemos que o principal motivo nunca foi esse. A intenção era “dourar” a categoria máxima do automobilismo, de modo a fazer que quem quisesse dela participar vendesse mundos e fundos para estar lá, pura e simplesmente. Era uma época em que várias montadoras estavam com planos de entrar na competição, então tal medida foi tomada com o desejo de esfolar os novos pretendentes até onde fosse possível.
Só que o tiro saiu pela culatra, com o limite nunca sendo atingido, e embora alguns times novos tenham entrado na competição, a crise econômica de 2008 deu um balde de água fria neste entusiasmo, e da mesma forma como chegaram, muitas marcas pularam fora, algumas totalmente, outras de forma parcial. E até hoje tornou-se extremamente difícil engordar o grid, principalmente com novas montadoras na jogada. Se antes os motivos eram mais financeiros, por parte da momento econômico, agora o enguiço é da Liberty Media, que tornou a F-1 um sistema de “franquias”, como forma novamente de “valorizar” o grid, mas que está servindo unicamente de desculpa furada para recusarem novos participantes, a fim de garantir os lucros somente para quem já lá está. A justificativa é “agregar” valor, impedindo que competidores despreparados denigram a imagem do campeonato.
Mas isso nem era necessário, muito pelo contrário. A atitude estabanada da FIA em 2009, de admitir novos times no grid, numa jogada mais política do que técnica, mostrou quanto tornou-se difícil competir na F-1 um time novato. Os três times admitidos – Virgin, Hispania, e Lotus, nunca conseguiram sair do fundo do grid, e só serviam para encher o grid. Desde então, a FIA passou a adotar critérios realmente técnicos e bem mais embasados para admitir novos participantes, do qual o último a adentrar foi a Haas. E esta avaliação é mais do que suficiente para barrar “aventureiros” e competidores que não estejam à altura do desafio. Tanto que ninguém mais resolveu se aventurar em tentar entrar na F-1. E, claro, depois do fiasco da última tentativa, a FIA iria ser mais criteriosa com a avaliação de novos candidatos. Tanto que o projeto da Haas acabou aprovado, por atender às exigências. Curiosamente, agora a própria Haas é uma das críticas à entrada da Andretti, como se sua pretensão de participar da F-1 não lhe desse direito a isso, e seus planos não fossem sérios a respeito, chegando até mesmo a dizer, nas entrelinhas, a título de desculpa cara-de-pau, que o time de Michael Andretti não agregaria valor ao grid, como se ele fosse denegrir a competição. Gunther Steiner, autor da declaração, deveria olhar para o próprio time que comanda, como se a Haas fosse uma equipe importante do grid. E a desculpa de que a F-1 já tem um time dos Estados Unidos, eles próprios, não cola. A Inglaterra tem 3 times no grid: McLaren, Williams, e Aston Martin, então...
Mas a Andretti tem um projeto sério, e se de início usaram como justificativa para recusar sua entrada a falta de um parceiro de renome, Michael Andretti resolveu isso mais do que à altura ao aliciar para seu intento a General Motors, que topou a parada, e pretende utilizar a sua marca Cadillac, um nome icônico nos Estados Unidos, e que recentemente, faz sua fama no IMSA Weather Tech, o campeonato de endurance norte-americano. Uma parceria com a Renault/Alpine para os primeiros momentos também foi agregada aos planos, mostrando que eles pretendem entrar com os pés no chão, e isso para a temporada de 2026, quando entra em cena um novo regulamento técnico, com novas regras para as unidades de potência. Um planejamento calculado, coerente, e com excelente apoio técnico e financeiro por trás, atendendo todos os requisitos solicitados pela FIA, e até mais alguns. Falta alguma coisa?
FALTA, mas não pelo lado da Andretti, e sim pelo lado da Liberty Media, e da maioria dos times do grid, que tenta se fechar em sua concha de modo a impedir uma maior divisão do bolo de lucros, querendo impor uma taxa de estratosférica, a título de “compensação financeira” para seus já participantes, uma exigência completamente esdrúxula e vergonhosa, com as justificativas mais cretinas possíveis, como se a Andretti entrando fosse falir alguém por lá, ainda mais nestes tempos de limite orçamentário, que ajudou a “podar” certos exageros nos gastos, e tornou o desafio de competir na F-1 um pouco mais acessível.
E como disse o presidente da FIA, o regulamento ainda prevê até 12 times, o que significa que não há infração que proíba o ingresso da Andretti. Planejamento financeiro, um parceiro de peso, e o currículo de participação em categorias de competição variadas, como a Indycar, e a Formula-E, mostram a credibilidade da Andretti em termos de equipe de competição. As razões financeiras que ilustram a real motivação para não aceitação de novos times devem ser é enfiadas no rabo da Liberty Media, e me espanta que alguém de vida tão calejada na F-1 como Domenicalli tente emplacar essa visão bairrista da maioria dos chefes de equipe de uma categoria que só tem de fato a ganhar com mais times no grid. Na verdade, a F-1 hoje perde para várias outras categorias “menores” que possuem mais competidores e até mais fábricas participantes, quando deveria ser o contrário. Não que qualquer um possa entrar, mas que venham times e projetos qualificados que realmente possam competir a sério, e com isso ajudem a aumentar a competição e as disputas. Seria o máximo termos de novo 26 carros no grid, como era até meados dos anos 1990, com times sérios e com chances de fazer uma disputa a fundo. Ou até mesmo termos mais carros que vagas no grid, de modo que alguns, mesmo com todo o esforço, acabasse ficando de fora, por azar, ou incompetência do momento. Pode ser sonhar demais, diante das frescuras que imperam hoje.
Mas nem por isso deixa de ser mais desejável do que nunca que a Andretti possa fazer parte do grid. Talvez apenas Ganassi e Penske teriam currículos à altura para igualar tal empreitada, mas ambos dão de ombros para a F-1, diante dos “defeitos” que a categoria máxima carrega em termos de regulamentos pífios e politicagem, além da falta de competitividade. Na verdade, temos de ter muito mais respeito por Michael Andretti desejar participar da F-1, pois sua passagem por lá, na distante temporada de 1993, foi um fiasco, e uma experiência extremamente desagradável para ele, pessoal e profissionalmente. Voltar, após tanto tempo, como dono de equipe, seria provar sua capacidade no mundo do automobilismo, se não como piloto, como construtor. E ele tem todo o direito de tentar isso. E a turma de queixo empinado da F-1 que enfie no rabo suas justificativas mesquinhas e egoístas para ignorar e negar isso.
Max Verstappen venceu mais uma corrida, na Áustria, mas o assunto que dominou o noticiário foi outro...
A outra frescuragem da
categoria agora é por parte da FIA, e tem como alvo a situação ridícula das
punições de limite de pista vistas na prova da Áustria no final de semana
passado, onde tivemos uma situação praticamente irreal e ridícula com mais de
1.200 “transgressões” da linha branca nas curvas finais da pista de Zeltweg,
que depois da corrida gerou um festival de punições a quase meio grid da competição,
alterando o resultado final em uma atitude que só mostra como a FIA quer impor
respeito e só consegue dar tiros no próprio pé. Essa não é a única atitude
ridícula por parte da entidade, que anda se superando em tomar atitudes bestas
recentemente, é só a última, e vamos reconhecer: isso é mais uma imbecilidade
do regulamento. E quando temos tantas “transgressões” em um único fim de
semana, em tal quantidade, algo está errado, e não são os pilotos que
desaprenderam a pilotar.
Essa questão dos limites de pista é até razoável quando se fala em termos regulamentares, cujo propósito é evitar que os pilotos tenham “vantagem indevida” por usarem um espaço maior do que o da pista. Mas esse tipo de regra deveria ser relativizada, dependendo da situação, onde muitas vezes os pilotos não obtém ganhos, enquanto em outros isso seria mais aceitável. O problema é que vem a atitude de “regra é regra, e regra é para se cumprir”, sem que se tenha uma maior flexibilidade a respeito, dependendo da situação. E o caso da pista austríaca, onde todo mundo, em algum momento, furou o limite da pista, mostra que ali seria o caso de ser flexível quanto à regra. Se deixamos uma situação igual para todos, deixa de haver uma vantagem indevida, e todo mundo fica mais livre para pilotar. Isso teria permitido um GP muito mais disputado e emocionante na Áustria, e não termos de ficar ouvindo um festival de “denúncias” de pilotos extrapolando o limite da pista por parte de outros pilotos, além da enxurrada de punições que vimos. E a competição não seria prejudicada. Na verdade, quando essa chatice não existia, houve alguma corrida que teve sua disputa prejudicada por pilotos extrapolando os limites da pista? Não me lembro, talvez porque nunca teve isso, ao contrário dos dias de hoje, onde exageram em um monte de coisas.
Na Indycar, por exemplo, não tem essas firulas, e se preciso, os caras passam até pela grama. Claro, tem seus percalços, e a defesa que muitos fazem é que os limites de pista penalizem os pilotos que escapem dela. Para isso, defendem a volta das britas, grama, ou zebras mais proeminentes, que façam com que o carro perca velocidade naqueles pontos. Do jeito como está, e como foi visto na Áustria, ficou ridículo. Os pilotos da F-1 podem ser precisos na sua pilotagem, mas como vimos no fim de semana passado, as escapadas foram muitas. Nos treinos livres já tivemos vários tempos deletados, o mesmo ocorrendo nos treinos classificatórios, sempre nos mesmos pontos, na conclusão do traçado austríaco. E a própria FIA se embananou vergonhosamente por não conseguir “punir” todo mundo, de modo que, foi preciso o protesto da Aston Martin para a coisa ser feita com mais seriedade, e resultar em uma situação ainda mais ridícula, com quase meio grid tomando castigo no lombo, sem ter tido chance de reagir na corrida.
Vale lembrar ainda que aquela curva que fecha o traçado em Zeltweg já foi muito mais “redonda”, até a reforma que a pista sofreu, ainda nos anos 1990, por parte das novas regras da F-1, a deixarem com um contorno mais “quadrado” e duro, quando uma expansão da área de escape poderia ter mantido o contorno original, e melhorado sua segurança, justificativa para a mudança do formato dela. Hoje, a desculpa é de que a MotoGP precisa daquele formato do traçado para garantir sua segurança, já que a área de escape ali é pequena. Mas se a FIA tivesse bom senso, apenas liberaria todo mundo naquele trecho, vendo que o número de escapadas ali, sendo muito alto, denotava um problema maior, conforme mencionei acima. Talvez as disputas fossem até mais intensas naquele trecho se os pilotos não tentassem se policiar para evitar “extravasar” a pista, e mesmo assim, com poucos passando ilesos por ali. De fato, o número de “viajadas” foi tão alto que pode-se dizer que praticamente quase todos os pilotos infringiram a linha branca no fim de semana.
É preciso achar uma solução mais plausível, até porque essa imbecilidade de limites de pista não vem causando confusão só na F-1. A MotoGP também começou a ter alguns problemas disso nas últimas provas, com punição de alguns pilotos por “sair do limite da pista”, enquanto outros que fizeram algo parecidos ficaram impunes. Se grama e brita podem ser opções mais arriscadas em termos de segurança, que mudem o asfalto, para um tipo menos favorável aos carros que passem além do limite, ou coloquem zebras mais altas que penalizem mesmo quem exagerar. Curiosamente, não vemos muitos problemas disso nas pistas de rua, pelo motivo mais do que óbvio de que depois da linha delimitadora temos um guard-rail ou um muro, de modo que quem passar além daquilo baterá, danificando seu bólido. E quem o faz acaba devidamente castigado por isso, sem precisarmos da intervenção de nenhum comissário ou fiscal, nem de reclamação de outros pilotos ou times. Simples assim, e sem hipocrisia nenhuma de regra escrita.
Em Spa-Francorchamps, antigamente, vários pilotos “escapavam” na freada da La Source, a primeira curva, passando por fora da pista, em um trecho asfaltado. Nunca vi nenhuma prova ali arruinada quando os pilotos faziam isso. Eles podiam evitar acidentar-se em uma freada mais fechada, e quando faziam a curva por fora, ainda que ganhassem maior velocidade para entrar na descida, o trajeto ligeiramente mais longo neutralizava qualquer vantagem em termos de competição. Ou, será que Alessandro Zanardi, quando ultrapassou Brian Herta em Laguna Seca, na F-Indy, nos saudosos anos 1990, ele foi um competidor sujo por ter passado por fora na curva do Saca-Rolhas, e a vitória deveria ter sido de Herta, quando o público vibrou com aquela ultrapassagem, extremamente arriscada por ter ido além da pista, com o carro do italiano passando pela areia ao largo da pista?
Além de perder um pódio na Áustria, Carlos Sainz ainda foi um dos pilotos penalizados horas após o fim da corrida, perdendo posições no resultado final.
Por mim, acabava com
essa idiotice de limites de pista, e o pessoal que se virasse, com a parte de
lá da linha com grama ou brita. Nada de asfalto. Que os pilotos fiquem livres
para pilotar, e saibam os riscos de cruzar tal linha. É preciso desengessar a
competição, e deixar os pilotos mais preocupados apenas em pilotar, do que ter
que ficar prestando atenção redobrada para os limites de pista, e não tentar
fazer bobagem. Dependendo do trecho, isso é moleza, mas em muitos outros, não é
tão fácil como se apregoa. Zeltweg mostrou isso, e a credibilidade de um
resultado que acaba sendo mudado, porque não se pôde fazer uma observação correta
dos acontecimentos da corrida durante sua realização, acaba ruindo. E olhem lá
se foram feitas todas as considerações depois de conferirem mais de 1.200 “infrações”.
Muitos acreditam que não foram. O que eu acho? Acho apenas que a F-1 poderia
passar sem isso, e que poderíamos ter mais disputas na pista, se os
regulamentos não estivessem tão cheios de frescuras e “não pode isso”, “não
pode aquilo”, e etc.
A F-1 confia muito em seu efeito de marketing e fama para continuar sendo a mais popular e assistida categoria de competição do mundo do automobilismo. Apesar de muitas baianadas e atitudes imbecis, ainda se mantém num patamar bastante elevado quando o assunto é fama e audiência. Mas uma hora, isso pode dar zebra, e aí, que ninguém diga que não foram avisados. Fosse o mundo mais coerente e lógico, talvez isso já tivesse acontecido há tempos, mas infelizmente a sociedade anda meio incoerente e ilógica, para não usar adjetivos menos educados, de modo que por enquanto, a chamada categoria máxima do automobilismo ainda pode se gabar de ser isso mesmo, ainda que possamos adicionar também a cunha de “categoria máxima das regras bestas”...
Mas, quem sabe ainda teremos esperança de que tais burradas e atitudes imbecis sejam corrigidas...? Mas anda difícil esperar algo assim, ainda mais ultimamente...
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