sexta-feira, 31 de março de 2023

BALANÇO DE ESTRÉIAS DE 2023

As disputas do último fim de semana: Em São Paulo, a Formula-E deu show na pista do Sambódromo em sua primeira apresentação no Brasil (acima); já a MotoGP viu Francesco Bagnaia, o atual campeão, sair na frente nas duas corridas realizadas em Portugal (abaixo) na largada da temporada 2023.


            O último final de semana foi agitado no mundo da velocidade. Tivemos duas estréias: a Formula-E chegando finalmente ao Brasil, e a MotoGP dando largada para a sua temporada de 2023. E os dois eventos tiveram seus momentos positivos e negativos. Hoje pretendo fazer um pequeno balanço de ambos.

                Primeiro, a categoria dos carros monopostos elétricos, que finalmente chegou ao nosso país. A pista montada junto ao Sambódromo e Complexo do Anhembi foi bem calculada, com trechos de retas que possibilitaram aos pilotos aproveitarem o potencial de velocidade dos novos carros Gen3, que exibiram sua capacidade ao público, desfilando pela reta do Sambódromo a cerca de 250 Km/h, velocidade nada desprezível. E para felicidade dos amantes da velocidade, tivemos várias disputas entre os pilotos, com diversas ultrapassagens, várias delas no fim da reta do Sambódromo, diante das arquibancadas. Até mesmo a chegada foi emocionante, com Mith Evans, da Jaguar, no talo da energia de sua bateria, segurando as investidas de Nick Cassidy, da Envision, que cruzou a bandeirada quase de lado do compatriota, com Sam Bird, também da Jaguar, vindo logo atrás. Se os pilotos brasileiros deixaram a desejar em suas performances na prova, os torcedores puderam se contentar com as emoções dos demais pilotos na prova. E tome emoção: nas curvas do fim da reta do Sambódromo, e na chicane da Avenida Olavo Fontoura, os competidores entravam com vontade, muitas vezes lado a lado, disputando cada centímetro de pista em busca de uma ultrapassagem. A largura da pista, sem pontos mais estreitos, colaborou para os pilotos irem com vontade na busca por posições, já que havia espaço para tentar traçados mais alternativos.

            Alguns exageram na dose de otimismo, enquanto outros acabaram abalroados por outros, o que resultou no abandono de cinco pilotos na corrida, com a consequente entrada do Safety Car reunindo de novo o pessoal, e recomeçando a briga com muita intensidade. Com essas intervenções, a prova, programada para 31 voltas, ganhou mais 4, totalizando 35, aumentando o desafio do gerenciamento de energia, com alguns pilotos praticamente terminando sem bateria ao fim da corrida. Depois, a cerimônia do pódio até que foi legal, embora simples, com a presença do público em volta. Os pilotos gostaram do traçado, e puderam se divertir muito na corrida. O show da competição fez a etapa paulistana ser a melhor corrida da temporada até aqui, e os resultados ajudaram a dar uma pequena bagunçada na classificação.

            Pascal Wherlein terminou em 7º, depois de ter largado lá do fundão, e segue firme na dianteira da competição, até porque Jake Dennis saiu zerado mais uma vez, após ser atingido por outro rival na pista. O piloto da Andretti ainda é o vice-líder, mas por apenas 1 ponto contra Nick Cassidy, que vem subindo de produção e já é o 3º colocado. Antonio Felix da Costa poderia ter vencido, mas errou a freada no fim da reta do Sambódromo, perdendo posições, e finalizando em 4º, já subindo para 5º no campeonato. Jean-Éric Vergne terminou em 5º, e manteve a 4ª posição no certame, indicando que o restante da temporada não será um passeio da Porsche como se imaginou há algum tempo atrás. Não que o time alemão tenha perdido competitividade, mas as circunstâncias de corrida, e a evolução dos rivais, que precisavam aparar as arestas, de uma engrossada na disputa, aumentando as chances de a competição ficar mais embaralhada, de modo que fica mais arriscado apontar favoritos para a conquista do título. E o panorama das corridas mostra que nada pode ser definido de antemão, com muitas surpresas ocorrendo, e uma alternância de resultados que garante que teremos muitas brigas até o fim da temporada, conforme times e pilotos forem explorando cada vez mais os limites dos novos carros Gen3, o que deve aumentar ainda mais as disputas e emoções, que é o que o público mais deseja.

No circuito montado na zona norte de São Paulo, os carros da F-E deram show na corrida, com várias disputas e andando lado a lado em algumas curvas (acima). Já a organização da corrida pecou na infraestrutura de apoio aos visitantes, que enfrentaram filas e mais filas para atividades como comer (abaixo), com poucas opções presentes.


            Se na pista a Formula-E mostrou a que veio, com uma corrida com várias possibilidades, muitos duelos, trocas de posição e de liderança entre os pilotos, com os três primeiros colocados cruzando a linha de chegada quase lado a lado, fora da pista, entretanto, a situação não foi das melhores. A estrutura de apoio aos visitantes deixou a desejar, e muito. Começando pela entrada pela Praça Campos de Bagatelle, de onde os fãs precisavam andar cerca de um quilômetro e meio até chegar às arquibancadas, na área do Sambódromo, e sendo essa a única entrada para o local. E ainda que os portões não foram abertos em tempo hábil para permitir que os visitantes pudessem acompanhar o segundo treino livre, na manhã do dia. Com um calor dos diabos durante todo o sábado, quem precisava se hidratar tinha que encarar filas homéricas nas poucas lanchonetes instaladas no local. Se é verdade que a quantia de ingressos disponibilizada, com aproximadamente 20 mil pagantes, não era nem perto da capacidade máxima que o local poderia suportar, o número de estabelecimentos de venda de gêneros alimentícios foi ridicularmente pequeno, de modo que quem quisesse comprar algo para comer ou beber tinha que esperar bastante. E como desgraça pouca é bobagem, faltou sombra para as pessoas, que tiveram que aguentar o sol escaldante para assistir à corrida. Sabendo que a previsão do tempo previa até a chance de chuva, instalar uma cobertura provisória nas arquibancadas teria sido prudente, e boa parte do público poderia ter tido um refresco diante do alto índice de insolação, que chegou a fazer até algumas pessoas passarem mal. Faltou também opções para o público se distrair além da corrida em si, não havendo onde descansar, nem algo realizado para entretenimento dos visitantes ligado ao universo da competição. Em se tratando de um campeonato mundial chancelado pela FIA, a infraestrutura de apoio ao público deveria ter sido mais rigorosa e bem cuidada, a exemplo do que acontece na F-1, onde o rigor às vezes é excessivo até demais com algumas exigências.

            Com mais quatro anos de contrato válidos, é obrigação da organização avaliar o que ocorreu fora da pista, e tomar as devidas providências para melhorar o apoio aos visitantes já na próxima edição, em 2024. Há condições para tanto, e o público inicial, dada falta de divulgação com mais empenho da organização, até que foi bom. Mas o boca-a-boca, importante para convencer quem não foi a tentar a sorte no ano que vem, já sofre um revés se o pessoal se queixar dos perrengues passados para acompanhar a corrida. Críticas mais do que justas, aliás. Que todos saibam tirar lições importantes do que se passou para não repetir o mesmo erro no próximo ano.

            Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, na região do Algarve, em Portugal, a MotoGP dava início ao seu campeonato. A expectativa era se a Ducati manteria a forma com a qual terminou a temporada passada, ou se teria oposição. Pela pré-temporada, poderíamos ver um massacre da marca italiana no grid, mas felizmente que tivemos alguma competição, para alento da torcida pelas competições nas duas rodas.

            Mas, expectativas confirmadas, Francesco Bagnaia, o atual campeão, iniciou a temporada 2023 de forma impecável. Ostentando o Nº 1 do campeão em sua Ducati, “Pecco” saiu de Portugal com o score perfeito de 37 pontos conquistados juntando a prova Sprint no sábado, mais a corrida principal no domingo. Faltou conquistar a pole-position, que acabou com Marc Márquez, numa performance surpreendente do hexacampeão, que antes da etapa, já falava que não poderia pensar em vitória, andando ali entre 5º e 10º lugar. Mas pole não dá ponto na MotoGP, então Bagnaia não saiu perdendo nada, muito pelo contrário. O italiano largou bem, mas sem arriscar na primeira volta, procurando manter posição e se manter longe de algum tropeço. Finalizada a primeira volta, ele começou a ir à caça, e não demorou para conquistar a liderança na prova Sprint, partindo para a vitória a partir dali. E repetiu a dose no domingo, vencendo mais uma vez, e deixando os rivais preocupados com a forma como venceu. Não foi um massacre, pois nunca abriu dianteira maior que 2s, mas por outro lado, pareceu também andar apenas o necessário, controlando a corrida conforme a necessidade, abrindo paulatinamente vantagem, mas sem sumir na frente dos demais. Foram performances sólidas, cerebrais, e em nenhum momento “Pecco” fez alguma manobra mais complicada, mesmo quando precisou superar os rivais nas primeiras voltas, sempre o fez de como calculado, e sem forçar onde não dava.

            E a Ducati não vem com força apenas no time de fábrica, mas nas equipes satélites também, com Pramac e VR46 a conquistarem pódios, e andarem muito bem também com Álex Marquez, estreando na Gresini, e se entendendo muito bem com seu novo quipamento. Os concorrentes que fiquem de olho, porque a disputa promete ser brava diante da forma exibida pelas Desmosédicis, atuais ou do ano passado. Mas há quem queira testar essa força na pista, para esperança da torcida que clama por disputas e duelos. E a principal oposição tem tudo para de uma marca compatriota.

            A Aprilia iniciou 2023 novamente com força. Maverick Viñalez fez um belo 5º lugar na prova sprint, e subiu ao pódio na prova de domingo, conquistando 25 pontos, e ocupando a vice-liderança do campeonato, 12 pontos atrás de Bagnaia. Aleix Spagaró teve atuação menos inspirada, até porque teve de operar o braço recentemente, e isso certamente pesou um pouco na sua performance em Portimão impedindo-o de se apresentar no mesmo nível de Viñalez ou até melhor, como costumava fazer no ano passado. Uma péssima notícia para os rivais, que além de confirmarem a força da Ducati, terão que lidar também com a outra marca italiana, que quer brilhar mais do que já havia feito em 2022. E a RNF iria engrossar os resultados, pois estreando com as motos da Aprilia como time satélite, Miguel Oliveira fez boas apresentações, com um 7º lugar na sprint, e só não dando mais show no domingo por ter sido abalroado por Marc Márquez.

Alguns dos azares da estréia da MotoGP 2023: Marc Márquez perdeu o controle de sua moto e acertou Miguel Oliveira (acima), enquanto Pol Spargaró sofreu um violento acidente nos treinos (abaixo) e vai precisar passar um bom tempo em recuperação.


            Se a Honda até teve um alento com Marc Márquez, pela pole, e pelo pódio com a 3ª colocaçã na prova Sprint, a esperança teve vida curta. A “Formiga Atômica” fez estripulia no domingo, acertando Miguel Oliveira, e levando ambos ao chão, resultando no afastamento de ambos neste final de semana devido a ferimentos sofridos no tombo. Márquez ainda tomou punição de dupla volta longa, a ser paga no seu retorno, o que deve ocorrer em Austin, em meados de abril, o que já complica a atuação do piloto na corrida. Joan Mir não conseguiu mostrar muita coisa em sua estréia na equipe da asa dourada, o que já faz surgir o fantasma de que, sem Marc Márquez, o time vira figurante, se não conseguir produzir uma moto competitiva de fato.

            Enquanto isso, a Yamaha quase viveu um pesadelo. Fabio Quartararo nunca conseguiu chegar perto das primeiras colocações, tendo ficado sem marcar pontos na prova sprint, e obtendo um razoável 8º lugar no domingo, mas insuficiente para obter qualquer satisfação. Franco Morbidelli começou o ano novamente muito atrás do colega francês no time dos três diapasões, e isso é mais um sinal de preocupação para a equipe, e muito mais para o próprio piloto, que poderá ser rifado da escuderia ao fim do ano, se não mostrar resultados.

            O saldo do fim de semana da MotoGP foi positivo para o público, mas nem tanto para os participantes da competição. Hoje, a classe rainha do motociclismo já inicia os treinos para a segunda corrida da temporada, em Termas de Rio Hondo, aqui ao lado, na Argentina, e temos vários desfalques no grid. E, com a repetição do esquema das provas sprint, me pergunto se o pessoal vai manter o estilo agressivo visto em Portimão no sábado, ou vão tentar ser um pouco mais prudentes para tentarem se preservar para a corrida de domingo. Eu já havia chamado atenção que as corridas curtas no sábado poderiam ser um tiro pela culatra, ou um sucesso indiscutível. O que vimos acabou sendo uma mistura dos dois extremos, com várias brigas na pista, e alguns pilotos ficando fora de combate devido aos percalços nas disputas. E competição de moto, é óbvio, é uma modalidade bem mais arriscada do que as provas de carros, pois quando o piloto cai, tudo pode acontecer, e confusões nas sprints certamente irão repercutir negativamente no domingo, o que ocorreu. Já foi um pouco temerário implantar esse tipo de atividade sem um teste antes, como a F-1 fez. O fato do Mundial de Superbike adotar esse tipo de competição não justifica plenamente o seu uso na MotoGP, cujas motos são bem mais velozes e sensíveis. A emoção aumentou para o público, mas os riscos para os pilotos cresceram ainda mais, e ainda não dá para saber se a sprint em Portimão foi boa por causa do circuito lusitano, ou se isso irá se repetir nas demais pistas. Podemos citar o exemplo diverso das sprints da F-1, onde as provas curtas aqui em Interlagos foram muito melhores do que as provas sprint em outras pistas, onde os resultados não foram muito bons.

              O resultado dos percalços e incidentes em Portimão fazem com que a MotoGP apresente um grid desfalcado na Argentina. A Ducati estará apenas com Francesco Bagnaia, sem contar com um substituto para Enea Bastianini. Da mesma maneira, a Honda terá apenas Joan Mir, já que Marc Márquez lesionou a mão direita na trombada que deu em Miguel Oliveira, que por sua vez, também desfalcará a RNF. E a Tech3, obviamente, também não terá Pol Spargaró, que se acidentou violentamente já nos treinos em Portugal, e não tem data para retornar até o presente momento. Diante do intervalo curto entre Portugal e Argentina, todos os times desfalcados optaram por não colocar pilotos substitutos na etapa portenha. Espera-se que a experiência de Portimão faça com que os pilotos fiquem um pouco mais prudentes, sem ir com tanta sede ao pote. E apesar do domínio de Bagnaia nesta primeira etapa, poderemos ter boas disputas no restante do grid da classe rainha do motociclismo, e quem sabe, surpresas também que possibilitem disputa com as favoritas Ducatis.

            Ambos os campeonatos, tanto da F-E como a MotoGP, prometem fortes emoções para o ano. E emoção é tudo o que os fãs da velocidade querem. Apesar de alguns poréns, temos boas expectativas para ambos os certames. Que venham as próximas etapas...

 

A Indycar realiza neste final de semana sua segunda prova na temporada, no circuito oval do Texas Motor Speedway, primeira corrida neste tipo de pista no ano. Depois do “derby de demolição” na primeira corrida, em São Petesburgo, a expectativa é de uma corrida mais “comportada”, mas há dois fatores que jogam contra: o primeiro, óbvio, é por se tratar de um circuito oval, onde algum percalço entre os competidores pode ter consequências sérias devido às altas velocidades alcançadas pelos carros, que pode potencializar os acidentes, dependendo das circunstâncias. O segundo fator, é a preocupante faixa do circuito que recebeu um composto químico há três anos atrás, e que tornou aquele setor da pista extremamente escorregadio para os carros monopostos, prejudicando as disputas no trecho, por limitar o traçado. Mesmo no ano passado, o problema ainda persistia, apesar do tempo em que o composto havia sido aplicado, e quem passava por aquele ponto corria o risco de perder completamente o carro e ir parar no muro. Vejamos se conseguiram resolver o problema para este ano, ou se ele ainda persiste, e neste caso, seria ridículo o circuito não conseguir solucionar esse problema que se criou. A prova do Texas tem largada programada para as 13 horas deste domingo, com transmissão ao vivo pela TV Cultura, e pelos canais ESPN, além do sistema de streaming Star+.

 

A F-1 chegou à Austrália para a terceira corrida da temporada, e na esperança de proporcionar uma corrida mais emocionante, a FIA determinou que o circuito do Albert Park terá quatro zonas de uso do DRS. A pista de Melbourne sempre se mostrou problemática para ultrapassagens nos últimos anos, mesmo com o uso da asa móvel nos bólidos da F-1. No ano passado, a entidade já planejava implantar as quatro zonas do DRS, mas recuou, talvez achando que a pista, que havia passado por reformas em algumas curvas, e ficado mais rápida, poderia prescindir do recurso, por ficar menos travada em alguns pontos. Além da implantação de mais uma zona, o DRS terá apenas dois pontos de ativação, que funcionarão para dois setores da pista. A expectativa é de mais um passeio da Red Bull no circuito australiano, e a graça deve ficar para ver se a Aston Martin mantém a toada exibida no Bahrein e na Arábia Saudita como segunda força do grid. A largada da corrida será às 2:00 Hrs. da madrugada de sábado para domingo, com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes.

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