E chegou a hora: o campeonato da Fórmula 1 está para iniciar a temporada de 2023, então, vamos a um texto com um apanhado do que poderemos ter na disputa deste ano. Uma boa leitura para todos...
FÓRMULA 1 2023
Max Verstappen inicia sua luta pelo tricampeonato mundial como favorito destacado, mas pode ter mais desafios ao longo da nova temporada
Adriano de Avance Moreno
Hora da largada para a Fórmula 1 2023.
A Fórmula 1 prepara-se para iniciar mais uma temporada, e as expectativas, depois da pré-temporada ínfima da semana passada, dá a entender que Max Verstappen vai em busca de seu tricampeonato como o favorito destacado. A dúvida fica se ele rumará para o título com a facilidade exibida no ano passado, ou se terá mais oposição dos rivais, a exemplo do que ocorreu em 2021. Pode-se dizer que todo início de temporada é de suscitar boas expectativas, mas a temporada deste ano terá vários percalços para resolver.
Um deles, é sobre as novas regras técnicas, implantadas no ano passado, visando dar uma chacoalhada na competição, e tentar melhorar o equilíbrio de forças entre os times, e dar mais disputa na pista. Com o regresso do efeito-solo, e uma aerodinâmica mais simples em determinados setores dos bólidos, a expectativa era tornar as ultrapassagens menos difíceis, e possibilitar aos carros andarem mais próximos. Este objetivo até que foi alcançado, embora parcialmente: os carros puderam andar mais embutidos nos que vão à frente, mas as ultrapassagens não ficaram tão mais fáceis como se imaginava. Antes, se especulava até que a F-1 poderia prescindir do sistema da asa móvel traseira, o DRS, mas diante do que se viu em 2022, o seu uso continua muito necessário, tanto que em Melborne, este ano, a pista terá cinco setores de uso do DRS, uma vez que o traçado continuou crítico em termos de ultrapassagens.
Outro ponto, este mais complexo, é a maior competitividade entre os times, o que esteve longe de se efetivar em 2022. O abismo que separa Red Bull, Ferrari, e Mercedes, do resto do grid, não apenas se manteve, como até se ampliou, embora isso tenha ocorrido mais por falha das equipes, que não conseguiram aproveitar a grande mudança técnica do regulamento, e aproximarem-se umas das outras. Na disputa por vitórias e pelo título, a Ferrari começou muito forte, frente a uma Red Bull que ainda lutava para resolver seus problemas, mas que conforme a temporada avançou, se viu o time dos energéticos aprimorar sua performance com muito mais competência que o time italiano, que perdeu não apenas parte de sua performance, mas se enrolou por si próprio em algumas etapas, ajudando a tornar a conquista por parte de Max Verstappen mais fácil do que deveria ter sido. Já a Mercedes, então, tropeçou feio na sua interpretação do regulamento, e passou todo o ano lutando para recuperar sua performance, o que conquistou apenas parcialmente, mantendo-se no TOP-3, mas se mostrando incapaz de lutar pelo título, e até mesmo por vitórias, sem problemas dos adversários, conseguindo apenas um triunfo em uma corrida onde o time alemão surpreendeu a si próprio com uma bela exibição aqui em Interlagos.
No restante do grid, os times se misturaram, mas regredindo, e não evoluindo propriamente. Se Haas e Alfa Romeo até que melhoraram em relação a 2021, por outro lado, McLaren e Alpha Tauri andaram para trás, enquanto Alpine, Aston Martin, e Williams ficaram onde já estavam, sem cair, mas também sem evoluir propriamente, contribuindo para deixar a competição menos empolgante do que poderia ter sido, ainda mais em comparação com o que tínhamos visto no ano anterior.
Para este ano, a esperança é que os times compreendam melhor as regras, e comecem a se acertar para deixar a competição mais parelha. Porém, a própria F-1 teima em insistir em complicar as coisas, como por exemplo, repetir a pré-temporada mais ínfima de 2021, quando os times tiveram apenas 3 míseros dias para testar seus novos bólidos visando a temporada 2023. E é claro que é muito pouco tempo para que os times, ou pelo menos a maioria deles, acertem todos os detalhes de seus novos projetos. E o resultado, pelo que deu para apurar até aqui, é que a competição deste ano poderá ter melhores momentos sim, se comparados a 2022, mas não tem como garantir que isso aconteça. McLaren e Alpine, que prometiam vôos mais elevados, parecem ter perdido novamente o bonde, regredindo, e talvez percam o ano procurando voltar ao patamar que já ocupavam em 2022. A Mercedes parece melhor, mas carecendo confirmar se poderá de fato voltar firme à luta pelo título. A Ferrari promete uma revanche, mas cumprir é outra história. Alguns times parecem ter evoluído bem, mas não o suficiente para brigarem por vitórias, como o público e a FIA tanto desejam. E a Red Bull, coitada, sem ter nada a ver com isso, parece ter dado mais uma mostra de sua competência, podendo ter mais um ano de reinado, que pode ser tão efetivo quanto o do ano passado, ou talvez nem tanto, mas ainda assim efetivo.
Max Verstappen está muito otimista com o novo carro da Red Bull, e é o favorito na luta pelo título, mais uma vez.
No segundo ano das novas regras técnicas, já não se pode culpar tanto o regulamento se a competitividade não melhorar. Cabe às escuderias darem o
seu melhor, e melhorarem seus projetos. Ninguém quer ficar para trás, mas algumas escuderias acabaram decepcionando na pista, e o problema da falta de resultados acaba ficando em sua responsabilidade. A Red Bull
não tem culpa de ter feito melhor o seu trabalho, enquanto a Ferrari poderia ter tido melhor sorte se tivesse um pouco menos de azar, mas também fosse mais competente no desenvolvimento de seu carro, além
de cometer vários erros de estratégia em diversos GPs, para não mencionar erros de seus pilotos. E, se finalmente a hegemonia da Mercedes na F-1 foi quebrada, a sensação foi de trocar o seis
pelo meia dúzia, já que agora é a Red Bull quem parece nadar de braçada, com todo mundo tendo de correr atrás. Times e pilotos que se virem para melhorar seus resultados, e oferecerem mais
disputas e duelos para os fãs da velocidade.
Ao menos um dos problemas vistos na temporada do ano passado parece ter sido mitigado quase completamente: o porpoising, os quiques que os carros davam devido ao efeito-solo, e que se mostrou problemático para alguns times, como a Mercedes. Para este ano, a FIA determinou algumas pequenas mudanças nas regras, como por exemplo, determinando que as bordas dos assoalho dos carros ficasse 15mm mais alto em relação ao limite estipulado no ano passado, o que ajudou a eliminar esse fenômeno, aliado ao maior conhecimento técnico das equipes a respeito do comportamento aerodinâmico dos carros neste quesito. Na prancha central do assoalho, os carros ficaram 10mm mais altos, com a tolerância do grau de deformação nessas áreas de no máximo 5mm, o que obrigou as escuderias a reforçar seus assoalhos, para impedir que eles flexionem além do limite permitido, o que prejudicou alguns times que exageraram na concepção de suas peças em 2022, potencializando o porpoising em seus bólidos.
Para deixar as ultrapassagens mais seguras, os espelhos retrovisores tiveram suas medidas ampliadas em 30%, de modo a proporcionar maior visibilidade aos pilotos de quem vem por trás ou pelos lados, já que ultimamente houve alguns incidentes entre alguns pilotos, tendo como desculpa o lance de os espelhos dos carros não oferecerem uma boa visão da traseira ou das laterais do bólido. Outra mudança implantada, tendo como base o acidente de Guanyou Zhou na largada do GP da Inglaterra do ano passado, foi reforçar a estrutura do santoantônio, a barra anticapotagem que fica acima da cabeça do piloto, que ficou 50mm mais alta do que em 2022, além de ser submetida a forças maiores no crash test da FIA, agora na faixa de 15G, sem poder sofrer deformação ou ruptura, a fim de aumentar a segurança do piloto em caso de acidente, junto com o halo, cuja eficácia já foi comprovada em diversos momentos desde sua introdução nas últimas temporadas.
O novo carro da Red Bull foi a grande vedete dos testes da pré-temporada, com os rivais dando várias olhadas no carro favorito para ser campeão deste ano.
As asas dianteiras passam a ter limite de ajuste de 40mm, contra os 35mm do ano passado,com raio de filtragem entre os elementos dobrado, de 2 para 4mm, válido também
para a asa traseira, cuja altura dos acessórios aumentou 60mm em relação ao ano passado. Espera-se que estas mudanças ajudem a tornar os carros menos instáveis, e ajudar a melhorar a competitividade,
algo que muitos duvidam que possa acontecer neste ano.
Outro ponto que não começa bem em 2023 é a relação entre a FIA e a Liberty Media, que controla o campeonato da F-1 em termos comerciais. Diante de uma possível oferta de um fundo árabe de comprar a categoria máxima do automobilismo, Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, chegou a declarar que o valor que teria sido ofertado era superfaturado, e que a F-1 não valia tanto assim, o que causou a ira da Liberty Media, que entendeu a fala como uma intromissão inaceitável na área comercial da F-1, algo que a FIA deveria ficar de fora. Infelizmente, a F-1 sempre foi pródiga em se envolver em confusões, e não tem sido diferente em tempos recentes, o que tem deixado a categoria mais agitada do que deveria, e não no sentido positivo da palavra, infelizmente, com momentos onde as discussões extra-pista costumam ofuscar as emoções das corridas, algo completamente dispensável ao bom espetáculo que querem mostrar ao público.
A situação da FIA, aliás, já ficou complicada no ano passado, quando tentou se livrar dos problemas de interpretação de regras que tornaram a decisão de 2021 tão controversa. Michael Masi acabou demitido da entidade como diretor de provas, e a função passou a ser realizada em rodízio entre dois profissionais, o que só piorou a situação, obrigando a entidade a deixar apenas um na função, a fim de evitar novas confusões. Não foram poucas as punições aplicadas durante o ano, com interpretações diferentes dependendo do profissional encarregado, o que motivou queixas de times e pilotos, irritados com a inconsistência da aplicação das regras, as quais a FIA parece não fazer esforço significativo para tentar deixar mais simples e objetivas, de modo a não darem pano para interpretações variadas.
Como se não bastasse isso, a FIA ainda armou outra pendenga, ao incluir no seu regulamento esportivo uma regra que, para muitos, significou uma tentativa de “mordaça” em todo o pessoal do paddock, em especial os pilotos, ao declarar que qualquer manifestação por parte deles teria de obter autorização prévia da entidade que comanda o automobilismo mundial. A FIA tentou acalmar os ânimos, apresentando uma melhor definição da regra e como ela será aplicada, mas não adiantou muito: o ambiente pegou fogo entre vários nomes do circo, entre pilotos, chefes de equipe, e até mesmo do CEO do Grupo Liberty Media, Stefano Domenicalli, que declarou expressamente que ninguém irá ser calado na categoria, e ninguém vai censurar ninguém, seja ele quem for. Com vários pilotos revoltados com a regra, isso certamente ainda vai dar muito o que falar, ainda mais em um momento onde tratativas autoritárias estão despertando grande antipatia no público em geral, ainda que muitas pessoas até concordem que a entidade restrinja essas manifestações, alegando que elas estão desvirtuando os propósitos da competição, que é simplesmente apresentar uma corrida de carros, e não fazer panfletagem política, mostrando que a discussão do assunto tem defensores de ambas as vertentes.
O Circuito de Sakhir, no Bahrein, abre a temporada 2023 da F-1 na noite deste domingo, no Oriente Médio.
Outro atrito foi sobre a entrada de novos times no grid da categoria máxima do automobilismo, atualmente em dez times. Michael Andretti não esconde
de ninguém que deseja participar a competição, o que tem gerado forte repúdio entre a maioria dos times participantes, que já deixaram claro que não querem dividir o bolo dos lucros
da F-1 com um novo time, chegando a exigir uma taxa extorsiva para o ingresso de uma nova escuderia no grid, alegando se protegerem de “prejuízos” potenciais. Só que a FIA, leia-se Mohammed Ben Sulayem, se manifestou favorável à entrada de novas escuderias, em clara discordância, com argumentos válidos de que
a categoria precisa de novas escuderias na competição, chegando até a abrir procedimento para analisar o ingresso de possíveis interessados, com o propósito de garantir que os novos times
tenham capacidade para participar da F-1, engrandecendo a categoria. Uma disputa que também promete ir longe, já que a Andretti, mesmo apresentando o apoio da GM, através da marca Cadillac, continua sendo
rejeitada pela maioria dos times, que continuam a apertar a mesma tecla da divisão de lucros menor ser prejudicial às escuderias já participantes, numa clara demonstração de egoísmo.
Diante de tanto desgaste, Mohammed Ben Sulayem anunciou sua saída do grupo que atua junto à F-1, sendo sua posição ocupada por Nikolas Tombazis, profissional com passagem por vários times da categoria, e que em tese, deve ter uma relação menos tempestuosa com a categoria. E paz e sossego é o que a F-1 mais precisa neste ano, depois de tanta discussão, boa parte delas completamente desnecessária. O que o público quer é ver ação na pista, e não bafafá fora dela. Portanto, vamos ver agora um pequeno panorama das escuderias para a temporada de 2023:
RED BULL – Em busca do tricampeonato de Verstappen
O time dos energéticos começa 2023 exatamente de onde terminou 2022. Na frente. Sergio Perez terminou a pré-temporada com o melhor tempo em Sakhir, mas o que mais preocupou a concorrência foi a fiabilidade e a tranquilidade exibidas pela Red Bull nos parcos dias de testes realizados. O novo carro é veloz, confiável, e tem tudo para dominar mais um ano, até porque o time procurou não forçar demais, a fim de não entregar toda a performance. Tanto que Verstappen nem se preocupou em treinar no dia final, deixando a tarefa para o colega mexicano. Como desgraça pouca é bobagem, a equipe informou que o novo RB19 já nasceu “enxuto”, enquanto o carro do ano passado correu praticamente toda a temporada com um pouco de “gordura”, estando acima do peso. E ainda podemos acrescentar que o equipamento é completamente fiável: o RB19 não apresentou nenhum problema na pré-temporada, ao contrário do ano passado, quando seu antecessor parecia um carro nervoso e que precisava de tempo para ser desenvolvido adequadamente.
Quanto à vantagem do time dos energéticos, ficou nítido que eles não deram tudo o que poderiam nos testes. E o fato de Perez ter ficado com o melhor tempo preocupa, se levarmos em conta que Max Verstappen é bem mais rápido que o piloto mexicano, de modo que a vantagem demonstrada no último dia pode ser pelo menos o dobro na prática. Como Perez vez por outra consegue andar no ritmo do holandês, os rivais esperam que esse tenha sido o caso no derradeiro dia de testes, mas a hipótese não deixa ninguém animado, muito pelo contrário. Max Verstappen pode acabar sendo o grande favorito novamente para o título, e sem oposição interna no time. Mas o holandês preferiu não dar maiores detalhes a respeito da performance do novo carro, declarando apenas que tudo correu bem, e o time inicia 2023 muito melhor do que começou 2022, e que o verdadeiro ritmo de corrida dos carros só será visto mesmo na primeira corrida, e não antes disso.
Se o carro for bom, é crucial que Perez aproveite a chance para mostrar o que vale, se o bólido não tiver um comportamento incompatível com o estilo de pilotagem do mexicano, e se transforme em uma opção viável para o time caso Verstappen tenha algum problema. Tarefa difícil, infelizmente.
Com dois títulos consecutivos, Max Verstappen quer continuar a usar o número 1 por mais tempo, e quer o tricampeonato.
FERRARI – O título ou nada
A Ferrari vem disposta a se redimir da temporada do ano passado, onde começou confirmando um favoritismo que perdeu conforme a temporada avançava, em boa parte por ter perdido o rumo, e se complicado sozinha em muitos momentos, quando poderia ter dificultado a disputa para a rival Red Bull, sendo que ao fim da temporada, estava em perigo de ser superada pela Mercedes, que teve seu ano mais problemático desde o início da era híbrida. Isso acabou cobrando seu preço, que foi a demissão de Mattia Binotto, considerado por muitos como o principal responsável pela falta de foco da escuderia na maior parte da temporada, sendo substituído agora por Frederic Vasseur, egresso da Alfa Romeo, que tem a ingrata tarefa de levar a escuderia de Maranello à conquista do título, que não ganha desde 2007 com pilotos, e desde 2008 com construtores. Se ele vai conseguir tirar o time italiano da fila, são outros quinhentos, em uma história de muitos nomes competentes que não conseguiram cumprir com as metas impostas, e acabaram saindo pela porta dos fundos do time rosso, levando muito tempo para reconstruírem sua reputação, e isso quando conseguiram fazê-lo.
A pressão por resultados é enorme, mas o desafio de superar a Red Bull também é. Nos testes, a escuderia preferiu uma postura mais cautelosa este ano, e o time manteve uma certa tranquilidade nos boxes, não se deixando incomodar pela velocidade exibida pela rival dos energéticos. E procurou focar na confiabilidade, sendo o terceiro time com mais quilometragem na pré-temporada, fator decisivo para tentar fazer a diferença na luta pelo título, em que pese os rivais da Red Bull terem tido também bastante fiabilidade. A unidade de potência foi refinada, ganhando mais força, e ajudando o time vermelho a melhorar sua velocidade de reta. Assim como o carro, a unidade de potência também teve sua confiabilidade reforçada, já que algumas quebras comprometeram a performance da escuderia no ano passado. Charles LeClerc e Carlos Sainz Jr. alternaram bons e maus momentos em 2022, ao sabor do humor instável de performance do time italiano, mas também cometendo erros que só facilitaram a vida dos adversários. Se o novo carro corresponder à posição de principal rival da Red Bull, eles terão muita responsabilidade em não deixar a briga arrefecer durante o ano, como ocorreu no ano passado, e serão muito cobrados por isso, e sabem que chances perdidas dificilmente surgem novamente, portanto, errar pode ser fatal. Um problema que ainda precisará ser verificado é o desgaste dos pneus, considerado excessivo pelos engenheiros, mas solucionável, algo que já deverá ser conferido neste primeiro GP, segundo eles. Mas a grande curiosidade é qual será o déficit de performance geral para a Red Bull, e como eles poderão reverter a desvantagem, se ela se apresentar maior do que o esperado. A tranquilidade do time pode ser um indício que eles tem um parâmetro que pode ser aceitável para o início da competição, mas e se estiverem mais atrás do que supunham?
Vice-campeões em 2022, a meta para a Ferrari e Charles LeClerc é uma só: o título em 2023! E nada menos...
MERCEDES – Voltando a brigar pelo título?
O time prateado teve em 2022 sua pior temporada na era híbrida, e só não passou completamente em branco por que conseguiu vencer em Interlagos, obtendo uma dobradinha que muitos pensavam impossível pelo modo como o time começou o ano, completamente ofuscado por Red Bull e Ferrari, e em determinados momentos, até por times do segundo pelotão. Com muito trabalho, a escuderia germânica se aprumou, e terminou o ano com alguma dignidade, em 3º lugar, mas sem ter conseguido lutar efetivamente por vitórias e menos ainda pelo título. Pior, o departamento técnico perdeu precioso tempo tentando entender onde havia errado no projeto, o que era crucial até para não repetir o mesmo erro no carro de 2023. Pelo que se viu nos testes, o novo W14 é um passo adiante, mas ainda parece uma incógnita em termos de desempenho. Lewis Hamilton terminou com a segunda melhor marca da pré-temporada, mas às custas de usar o pneu mais macio da Pirelli, o que demonstra que o carro ainda está devendo em relação aos favoritos Red Bull, e talvez até mesmo Ferrari.
Ninguém sabe exatamente a posição de força da Mercedes, e talvez o time alemão se embrenhe numa disputa acirrada com a Ferrari, enquanto a Red Bull deslancha na dianteira, na pior das hipóteses. Lewis Hamilton alertou que o novo carro ainda precisa de maior velocidade de reta, acusando um ponto que precisará ser melhor trabalhado. George Russell, por sua vez, diz que o carro é um ponto em frente, mas que demandará atenção para exibir todo o seu potencial, o que significa, em suas próprias palavras, pelo menos uns seis GPs, até a equipe conseguir entendê-lo por completo. No quesito confiabilidade, o time alemão ficou no meio-termo, acumulando mais quilometragem somente sobre 3 times, Aston Martin, Alpine, e McLaren. Poderia ser um mau presságio? Talvez. De qualquer modo, depois do percalço sofrido em 2022, o time alemão prefere não anunciar vôos mais ousados na temporada, preferindo mostrar na pista o que poderá render, e até o primeiro treino livre, a aposta é que vai se digladiar com a Ferrari pelo posto de 2ª força, na melhor das hipóteses.
A Mercedes tem certamente a dupla mais forte e equilibrada do grid. Se Lewis Hamilton dispensa apresentações, apesar da multidão que adora denegrir seu talento, com base no que aconteceu em 2022, o inglês ainda tem o objetivo de chegar ao seu oitavo título, e irá batalhar se o carro corresponder ao que é necessário para tanto. George Russell é o futuro da equipe alemã, e fez uma excelente temporada no ano passado, superando Hamilton no cômputo geral da temporada, tendo sido dele a única pole e vitória do ano, enquanto Lewis passou em branco nestes quesitos. Mas Russell não arrumou intrigas com seu compatriota, e vice-versa, com ambos trabalhando duro para ajudar o time a melhorar. Ainda é preciso ver como ambos se comportarão, se tiverem um carro capaz de levá-los ao título, mas isso só significa que a Mercedes está muito bem servida de pilotos no momento, para o presente, e para o futuro.
Lewis Hamilton diz não pensar em aposentadoria, e quer o oitavo título. Mas será que o modelo W14 lhe dará condição para isso este ano?
ALPINE – Errando o passo?
A escuderia francesa vem apostando em uma evolução lenta e gradual para voltar ao topo da F-1, e a temporada de 2022 foi uma evolução em relação a 2021. Só não foi melhor porque teve vários problemas de fiabilidade, especialmente no propulsor, que deixou sua dupla de pilotos pelo caminho em algumas oportunidades, além de outros percalços técnicos, que impediram que o time superasse a McLaren na luta pelo 4º lugar do campeonato com mais folga e facilidade.
Mas o time se embananou na questão de seus pilotos, deixando Fernando Alonso insatisfeito com a renovação, de modo que o espanhol se mudou de mala e cuia para a Aston Martin, e deixando o time francês com um pepino inusitado quando seu piloto de testes, Oscar Piastri, resolveu se bandear para a McLaren sem dar aviso prévio, o que levou a uma disputa onde o time inglês acabou ficando com o australiano, e obrigando a Alpine a correr atrás de um substituto, que achou na figura de Pierre Gasly, que finalmente viu a chance de se livrar da camisa de força da Red Bull que o havia confinado na Alpha Tauri, onde já tinha atingido o limite da escuderia.
Com recursos, e uma boa temporada, além de uma dupla totalmente francesa para 2023, se esperava que a Alpine continuasse na batalha para liderar o segundo pelotão, e quem sabe, tentar chegar mais à frente. Mas, a exemplo da McLaren, a escuderia gaulesa parece ter errado feio a mão do projeto, de modo que tanto ela quando o time de Woking regrediram para este ano, com o time francês sendo o único a ter marcado tempos inferiores ao da pré-temporada do ano passado, um sinal nada animador para seus pilotos, que não conseguiram fazer nada impressionante no Bahrein. Nem a fiabilidade foi alcançada: a Alpine só conseguiu andar mais do que a McLaren em Sakhir, com 353 voltas acumuladas nos três dias. Como desgraça pouca é bobagem, os melhores tempos tanto de Pierre Gasly quanto de Esteban Ocón ocuparam posições nada abonadoras na tabela, com Ocon ocupando o último lugar.
A escuderia de Enstone, contudo, tenta justificar a má performance a seu programa de testes, focando exclusivamente em ritmo de corrida, sem tentar explorar a velocidade pura do carro, mas sua constância em prova, o que a levou a ficar distante dos líderes. Mesmo assim, até o ritmo de corrida não empolgou, e a escuderia já entrará na pista na sexta-feira com um pacote de atualizações para tentar reverter a má impressão deixada. Curiosamente, Fernando Alonso chegou a declarar que o time francês carecia de um foco mais claro sobre seus objetivos na F-1, quando justificou sua troca para a Aston Martin, apesar do momento mais favorável da equipe francesa sobre o time de Silverstone. Melhor a equipe se esforçar para não dar razão total ao espanhol nesta temporada.
No que tange aos pilotos, Pierre Gasly esperava a chance de deixar a tutela da Red Bull, que o havia confinado na Alpha Tauri, sem perspectivas de melhora, e conseguir um carro melhor, e um time que acreditasse nele. A chance surgiu, mas Gasly vai ter muito trabalho para brilhar no novo time, no ritmo em que se apresentou na pré-temporada. Já Ocon, sem a presença de Alonso ao seu lado, imagina ter uma vida mais fácil com Gasly, a quem acredita poder superar mais facilmente. Ambos já se estranharam no passado, mas dizem que é só isso, passado. Mas ambos tem temperamento forte, e se o carro continuar devendo, o time vai ter mais problemas do que apenas desenvolver o modelo A523 de forma satisfatória.
Quarta colocada no ano passado, a Alpine tinha pretensões mais otimistas para 2023, mas parece que vai ter um choque de realidade inesperado.
MCLAREN – Um novo retrocesso?
Vindo de boas temporadas nos últimos anos, estando sempre entre o TOP-4 ou TOP-3 na classificação do campeonato, o time de Woking vinha cumprindo um bom trabalho de recuperação na F-1, depois dos anos de crise de sua recente associação com a Honda, visando retomar seu protagonismo na categoria máxima do automobilismo, chegando até a vencer o GP da Itália de 2021, algo que pretendia tornar mais comum em breve. E a mudança do regulamento técnico era vista por todos como a grande oportunidade para dar o passo decisivo para voltar a ser grande de fato, e brigar com o trio Red Bull/Ferrari/Mercedes. Mas o que vimos em 2022 foi a escuderia errar a mão do carro com as novas regras, e ao invés de avançar, retroceder no grid.
Como se isso não fosse suficiente, Daniel Ricciardo também involuiu em sua performance no time inglês, deixando Lando Norris tendo de carregar o time nas costas durante todo o ano, suando para superar os rivais, em especial a Alpine, que acabou derrotando-a, rebaixando-a para a 5ª posição na tabela, e só não despencando mais porque outros times também não tiveram uma boa estréia com o novo regulamento técnico.
O time acabou se envolvendo em uma disputa para ter a nova revelação Oscar Piastri, junto à Alpine, ao mesmo tempo em que procurava resolver a posição de Ricciardo no time, o que resultou na dispensa de Daniel e sua substituição de comum acordo por Piastri para 2023. Com uma jovem nova promessa, e uma promessa já confirmada, era de se esperar que a McLaren viesse forte para tentar recuperar o posto de melhor time do segundo pelotão da F-1 este ano, pelo maior know-how das regras técnicas, e em tese, melhor talento humano ao volante dos carros. Não foi o que se viu em Sakhir, infelizmente. O novo modelo MCL60, que inclusive comemora os 60 anos de fundação da equipe fundada por Bruce McLaren, tem tudo para ser uma das decepções da temporada, a ponto de Lando Norris ter perdido a paciência, e até esmurrado uma parede nos boxes, descontente com a falta de performance do carro, que terá de ser bem modificado já para o início da temporada, na busca para reverter o mau desempenho exibido, com urgência. Além de má performance, o carro também ficou devendo em confiabilidade, tendo apresentado vários problemas, que fizeram da McLaren o time com menor quilometragem da pré-temporada, com 311 voltas. Falta de performance e de fiabilidade não são os melhores ingredientes para se começar um campeonato adequadamente.
Lando Norris deve continuar liderando o time, enquanto Oscar Piastri tem de fazer uma boa estréia, a fim de justificar a briga que travou para deixar a Alpine, e ingressar na escuderia de Woking, e não seria agradável para o time sentir que o esforço possa ter sido desperdiçado nesta contrtação...
A McLaren teve um ano complicado em 2022, e 2023 parece que vai ser ainda pior.
ALPHA TAURI – Justificando o ganha pão
O chamado “Time B” dos energéticos entra em 2023 precisando matar um leão por dia. Depois de temporadas positivas em 2020 e 2021, a escuderia sediada em Faenza, Itália, foi uma que derrapou no projeto do carro de 2022, decaindo na classificação e nos resultados, e arrastando junto seus pilotos. Conhecida por servir de porta de entrada na F-1 para os pilotos do programa de formação da Red Bull, a escuderia perdeu parte de sua função neste quesito, não apenas por não ter conseguido formar novos pilotos como gostaria, mas passando a buscar nomes em lugares “alternativos”, como foi a contratação do então campeão da F-E, Nyck De Vries, para ser um dos titulares este ano, após perderem Pierre Gasly, e sem melhores alternativas próprias.
O desafio deste ano seria, inicialmente, melhorar a performance, mas a julgar pela pré-temporada, a Alpha Tauri não conseguiu sair muito do lugar. Se a confiabilidade foi o ponto alto do time, que teve a maior quilometragem da pré-temporada, por outro lado, seus stints de simulação de corrida não empolgaram, ainda que em voltas lançadas o time até tenha conseguido ser 1s741 mais rápida este ano. O problema é que o time caiu tanto no ano passado, que mesmo essa melhora aparentemente bem satisfatória possa ser insuficiente para o time voltar ao nível dos anos anteriores.
E, se não apresentar melhores resultados, a própria escuderia ficará em perigo. Dietrich Mateschitz era um entusiasta do automobilismo, e por isso, a Red Bull tem uma longa tradição de patrocínio de esportes, e a principal razão da empresa ser dona de dois times na F-1. Mas Dietrich faleceu ano passado, e a nova diretoria do Grupo Red Bull não nutre o mesmo entusiasmo de seu antigo dono, de modo que começaram a circular conversas de que o time terá de passar por várias mudanças, se quiser continuar existindo, entre elas, mudar sua sede para a Inglaterra, e até ter sua fábrica unida de vez à estrutura do time principal, a Red Bull, cujo sucesso na categoria máxima do automobilismo fala por si, mas que no caso da Alpha Tauri, pode ser incipiente para justificar sua manutenção. Some-se a isso o fato da marca Alpha Tauri estar em baixa no mercado, sem conseguir se destacar como o previsto nos negócios do Grupo Red Bull, podendo até ser extinta, e se comenta que o investimento necessário para manter a fábrica da escuderia na Itália seria contraproducente, de modo que o time pode acabar sendo vendido, ficando apenas com o time campeão Red Bull na F-1. Claro que a direção da Red Bull classificou o boato de pura fantasia, mas na F-1, não é difícil haver fogo onde há fumaça, portanto, a desmentida só vale até o fato acabar consumado, por mais que jurem de pés juntos que nada daquilo vai acontecer. Mas ficar sem seu time “B” na F-1 dificultaria o desenvolvimento do programa de pilotos da marca, que teria de garimpar espaços em outros times se quiser lhes avaliar na categoria máxima do automobilismo, e ver se justificam o investimento neles, até para o time principal. Verdade ou mentira, isso só serve para colocar mais pressão na escuderia este ano.
A Alpha Tauri ficou na 9ª colocação em 2022, portanto, a meta é voltar mais para o meio do pelotão, onde se encontrava em 2020 e 2021. Mas a concorrência parece bem mais afiada este ano do que no ano passado, mostrando que a tarefa deve ser complicada. Nyck De Vries enfim ganhou sua tão sonhada chance na F-1, e tem condições de liderar o time na pista, enquanto Yuki Tsunoda vai para seu 3º ano sem empolgar muito nas duas temporadas anteriores, mas precisando mostrar serviço se quiser continuar na categoria máxima do automobilismo.
Nyck De Vries realizou seu sonho de chegar à F-1, mas agora precisa tomar cuidado para que isso não vire um pesadelo com uma Alpha Tauri que pode ser pouco competitiva.
ALFA ROMEO – Ano do adeus?
O time sediado em Hinwill inicia aquela que deverá ser sua última temporada competindo sob o nome da marca italiana que foi a primeira campeã da história da F-1, com a escuderia iniciando sua trajetória para se tornar o time da Audi em 2026. Mas a Alfa Romeo parece ter mudado um pouco de idéia sobre encerrar sua participação na F-1 atual, o que sugere algumas possibilidades interessantes, mas ainda desconhecidas sobre seus próximos movimentos na competição. Mas a principal vantagem é que essa mudança mantém seu interesse em alta na categoria, e o time fez uma pré-temporada das mais positivas, indicando um bom avanço em relação ao apresentado no ano passado, quando também começou o ano até bem, com um desempenho forte, mas que decaiu a meio da temporada, só indo recuperar um pouco do ritmo no final, quando conseguiu voltar a batalhar por pontos. A escuderia manteve sua dupla de pilotos, apostando no bom entrosamento entre o finlandês Valtteri Bottas e o chinês Guanyou Zhou, e o que se espera é, além de uma performance mais constante durante todo o ano, com um desenvolvimento mais regular do novo modelo C43, um melhor desempenho de sua dupla de pilotos.
Depois de alguns anos pilotando para a Mercedes, Bottas pareceu muito mais à vontade no time suíço, e apresentou algumas boas performances, amealhando importantes pontos para a escuderia, mas pecou em algumas corridas com um desempenho abaixo do esperado. Zhou, por outro lado, fez uma temporada de estréia honesta, e apesar de alguns deslizes, não comprometeu sua imagem, procurando aprender com Valtteri tudo o que pudesse ser útil, e que deverá aplicar este ano para evoluir sua performance, aproveitando um equipamento potencialmente mais competitivo para buscar melhores resultados.
O ritmo de corrida da Alfa Romeo foi bem satisfatório, e dependendo das circunstâncias, eles podem se dar bem nas primeiras corridas, aproveitando-se dos percalços potenciais dos adversários. Basta não cometerem os mesmos erros. E talvez possam até chegar mais longe do que o esperado.
A Alfa Romeo teve resultados positivos na pré-temporada, e torce para conseguir avançar mais à frente em 2023.
ASTON MARTIN – Agora vai?
Nos últimos anos, o milionário canadense Lawrence Stroll entrou de cabeça na F-1, investindo grandes somas para formar uma equipe de ponta na categoria. Adquiriu a Force India, e em pouco tempo, transformou-a na Aston Martin, trazendo de novo a marca inglesa à categoria, e providenciando uma nova estrutura técnica e fábrica capazes de rivalizar com as melhores de toda a F-1. Mas as primeiras duas temporadas da escuderia esmeralda não foram lá muito encorajadoras. Se a temporada de 2021 não foi inspiradora, a do ano passado, sob o novo regulamento técnico, foi um retrocesso, sendo um dos times que não se acertaram com as novas regras, sendo que a estrutura da escuderia ainda se encontrava em transição também. Mas a vontade de crescer seguia firme, e isso era muito importante.
Se o time perdeu Sebastian Vettel, que resolveu aposentar o capacete, conseguiu um substituto mais do que à altura em Fernando Alonso, além de ter trabalhado duro para reforçar seu staff técnico, e entender onde havia errado no projeto do ano passado. E tudo indica que eles souberam fazer a lição de casa direito, porque a Aston Martin foi a sensação da pré-temporada, obtendo bons tempos em suas simulações de corrida e também em voltas rápidas. Se não para brigar por vitórias, pelo menos para liderar o segundo pelotão, e quem sabem até incomodar um pouco à frente, dependendo das circunstâncias. O time foi o segundo que mais evoluiu em relação à pré-temporada do ano passado, tendo sido 2s371 mais rápido este ano. Mesmo com os bons prognósticos exibidos, a escuderia prefere manter os pés no chão, e não se empolgar com as marcas obtidas, já que ninguém sabe direito como cada time treinou exatamente. A única certeza é que a escuderia inglesa parece ter sua temporada mais promissora desde que assumiu sua atual nomenclatura. Os mais otimistas apostam em um duelo até mesmo com Mercedes, e quem sabe, Ferrari. Um sonho muito alto? Pode ser, mas sonhar ainda é válido, e seria muito bom se tal sonho se tornasse realidade.
No que tange aos pilotos, Fernando Alonso mostra que, aos 41 anos, ainda tem lenha para queimar na competição, e sua determinação e capacidade podem ser cruciais para elevar o nível da Aston Martin rumo ao seu objetivo de se tornar um time vencedor. E talvez o espanhol esteja na melhor posição para sonhar em voltar a vencer em muitos anos, já que este ano fará uma década de sua última vitória na categoria, ainda no distante ano de 2013. Será que bicampeão conseguirá este feito? Se o carro corresponder de fato, não se pode subestimar o asturiano, que pode fazer Lance Stroll submergir no time, frente à sua sina de triturar a maioria de seus companheiros de equipe. O piloto canadense era dúvida de participar da primeira corrida da temporada, domingo, devido a ter fraturado o pulsos treinando de bicicleta, e tendo até de passar por uma cirurgia para resolver o problema, mas acabou confirmado às vésperas do primeiro dia de treinos livres para disputar o GP. Em todo caso, a equipe deixou o brasileiro Felipe Drugovich de sobreaviso, para que ele disputasse o GP, caso Stroll não estivesse apto a fazê-lo. Ao que parece, ainda não será desta vez que teremos um piloto brasileiro novamente no grid, mas Felipe causou boa impressão no time, e isso pode render frutos mais adiante.
Surpresa da pré-temporada, a Aston Martin prefere não comemorar antes da hora.
HAAS – Apostando na experiência
A temporada de 2022 foi de renascimento para a Haas, que tinha sacrificado o ano de 2021 para se concentrar no projeto das novas regras técnicas da F-1, resultando em um carro bem preparado, e com vistas a levar o time de volta ao meio do pelotão intermediário, onde se encontrava alguns anos atrás. Mas a invasão russa à Ucrânia bagunçou os planos do time, que precisou se desfazer de seu principal patrocinador, russo, e por tabela, de Nikita Mazepin, também russo. O que pareceu um golpe de azar se revelou uma cartada importantíssima, pois o time foi buscar Kevin Magnussen de volta, dispensado um ano antes justamente para dar lugar a Nikita e seus milhões de rublos em patrocínio. E o dinamarquês voltou com tudo, conseguindo logo de cara capitalizar o potencial do novo carro, e levando o time a brilhar nas primeiras corridas.
A situação só não foi melhor porque a falta do aporte do dinheiro russo se refletiu no desenvolvimento durante a temporada, o que limitou o avanço redentor do time. Mick Schumacher, por outro lado, se finalmente desencantou na F-1, conseguindo enfim realizar algumas boas corridas, e até pontuar, por outro lado, ajudou a deixar ainda mais combalidas as finanças do time, ao arrebentar seu carro em várias oportunidades, muitas vezes sem recuperação do bólido, o que não ajudou na sua permanência na escuderia, que optou pela experiência em detrimento da juventude, cansada dos estragos trazidos pelo jovem alemão. E assim, Nico Hulkenberg, que não era piloto titular da categoria desde 2019, volta em tempo integral à F-1 este ano, e a expectativa é que ele ajude o time sem causar mais estragos no equipamento. Mesmo sem ter sido titular, Nico fez algumas corridas substituindo pilotos acometidos por covid-19 nestes últimos tempos, e sempre apresentou boa performance, apesar da falta de intimidade com os carros pilotados. A expectativa é que ele repita essas performances e ajude o time a conquistar pontos sempre que possível, algo que já sabem que podem contar com Magnussen para tanto.
O novo VF-23 parte de uma boa base, e pelo menos o time conseguiu alguns patrocínios para 2023, mas não dá para esperar muito. O time não mostrou muita velocidade a mais do que em 2022 na pré-temporada, mesmo levando em consideração que eles procuraram não forçar tanto o ritmo. Ao menos, o carro é confiável, tendo sido o 4º a rodar mais nos testes, o que sempre é importante, e deve servir de trunfo para a escuderia aproveitar as oportunidades que surgirem nas corridas. Mas o desenvolvimento do carro, a exemplo do ano passado, pode sofrer, devido à falta de recursos, tanto que a escuderia até encolheu sua instalação de pitwall para economizar dinheiro que será revertido para o desenvolvimento do carro, mostrando que a grana anda curta no time, que terminou 2022 em 8º lugar, e em tese, deve procurar no mínimo manter essa posição em 2023, e avançar à frente, aproveitando os reveses dos adversários tanto quanto possível.
Apostando na experiência, a Haas espera obter mais resultados em 2023.
WILLIAMS – Tentando mais uma vez sair da lanterna
O time fundado por Frank Williams tenta, mais uma vez, deixar o fundo do grid, onde tem marcado presença nos últimos anos, em contraste aos tempos gloriosos que a escuderia já viveu em vários momentos de sua história. Esperava-se que pudesse aproveitar a introdução das novas regras técnicas no ano passado, mas a oportunidade não foi capitalizada. Para este ano, espera-se alguma melhora, mas modesta, a depender das circunstâncias. Para começar, o time foi quem mais evoluiu nos tempos da pré-temporada de 2022 para 2023, tendo melhorado 2s378, além de ter sido o segundo que mais andou em Sakhir, com 439 voltas, o que mostra que o carro é bem confiável, restando apenas comprovar quão mais veloz ele é de fato em relação aos concorrentes.
Jos Capito deixou a direção da escuderia, sendo substituído por James Vowles, egresso da Mercedes, e que deve dar uma melhorada na organização do time. Em termos de pilotos, Alexander Albon voltou a mostrar no time a velocidade e capacidade que o fizeram ser escolhido para pilotar a Red Bull, antes de sucumbir na comparação com Max Verstappen dentro a escuderia austríaca, e ele deve liderar o time na pista, aproveitando as oportunidades que o carro lhe permitir. Logan Sargeant, por outro lado, foi uma escolha “econômica” do time, já que ele era um piloto em formação pela própria Williams, e pelo menos, parece ter melhores credenciais do que Nicholas Lattifi, que só permanecia no time graças ao patrocínio milionário das empresas de seu pai. Mas o principal trunfo de Sargeant é ser estadunidense, uma vez que a F-1 vem se tornando cada vez mais assistida e popular nos EUA, já que em termos de pilotagem, ele não parece ter maiores dotes do que Albon, que deve continuar sendo a referência do time.
Novamente, a meta da Williams é deixar de ser a lanterna do grid, mas a tarefa vai ser novamente bastante complicada em 2023.
CAMPEONATO INCHADO?
A temporada de 2023 será a maior de todas da categoria máxima do automobilismo. Teremos ao todo 23 GPs, sendo que em seis deles teremos as corridas sprint, o dobro do praticado no ano passado. E o campeonato seria ainda maior, não fosse o cancelamento da etapa da China, devido à política anti-covid ainda em vigor no país asiático, que mesmo com o liberou geral promovido recentemente, não criou confiança suficiente para que a F-1 pudesse visitar o país sem o risco de sofrer algum percalço.
Com um calendário tão extenso, algumas corridas mudaram de posição na ordem de GPs. A prova do Azerbaijão, que nos últimos anos foi um pesadelo logístico por estar junto à etapa do Canadá, agora será uma das primeiras etapas do campeonato, no mês de abril. O que não significa vida mais fácil para equipes e pilotos, pois logo em seguida todo mundo precisa correr agora para os Estados Unidos, para a prova de Miami, a primeira em território estadunidense este ano. A etapa da Espanha, que vinha sendo disputada em maio, será realizada em junho este ano. A França desfalca o calendário, pelo menos em 2023, mas os organizadores tentam fazer um revezamento da etapa com algum outro GP, em que pese os esforços ainda não terem dado resultado até o presente momento.
A Bélgica, que costuma abrir a “segunda fase” do campeonato, após as férias de verão, dessa vez encerrará a “primeira fase”, no final do mês de julho, ficando a prova da Holanda com o privilégio de marcar o retorno das férias. Todas as corridas a partir dali são um pouco antecipadas em relação ao mesmo período do ano passado, com a prova do Qatar voltando ao calendário no início de outubro. Estados Unidos, Cidade do México e Brasil fazem uma maratona de três finais de semana consecutivos de GPs, e então a F-1 volta para os Estados Unidos para a grande novidade do ano, o GP de Las Vegas, que será inclusive disputado à noite de sábado para domingo, quebrando a tradição de mais de trinta e cinco anos de os Grandes Prêmios correrem exclusivamente aos domingos. Com isso, os Estados Unidos, pela primeira vez desde o início dos anos 1980, voltarão a sediar três provas numa mesma temporada, que mais uma vez terá seu encerramento em Yas Marina, em Abo Dhabi.
A “pausa de verão” foi mantida no mês de agosto, mas mesmo assim, o desgaste de uma temporada tão longa preocupa a todos, diante a experiência do último ano, que já foi bem puxada. E o número de corridas sprint dobrou para este ano, marcadas para as provas de Baku, no Azerbaijão, Zeltweg (Áustria), Spa-Francorchamps (Bélgica), Losail (Qatar), Austin (Estados Unidos), e São Paulo, no Brasil, onde a fórmula mostrou-se inegavelmente interessante, contribuindo para um fim de semana de GP bem mais agitado e imprevisível, ao contrário as outras etapas em outros circuitos, que não empolgaram como se esperava.
EQUIPES DA FÓRMULA 1 2023
EQUIPE |
MODELO |
MOTOR |
PILOTOS |
Mercedes |
W14 |
Mercedes-Benz V-6 Turbo M14 EQ Power+ |
Lewis Hamilton (44) George Russell (63) |
Ferrari |
SF-23 |
Ferrari V-6 066/10 Turbo Hybrid |
Charles LeClerc (16) Carlos Sainz Jr. (55) |
Red Bull |
RB19 |
Honda RBPTH001 Hybrid |
Max Verstappen (1) Sérgio Perez (11) |
Aston Martin |
AMR23 |
Mercedes-Benz V-6 Turbo M14 EQ Power+ |
Fernando Alonso (14) Lance Stroll (18) |
Williams |
FW45 |
Mercedes-Benz V-6 Turbo M14 EQ Power+ |
Alexander Albon (23) Logan Sargeant (2) |
Alpine |
A523 |
Renault E-Tech R23 V-6 Turbo |
Pierre Gasly (10) Esteban Ocon (31) |
Alpha Tauri |
AT04 |
Honda RBPTH001 Hybrid |
Nyck De Vries (21) Yuki Tsunoda (22) |
McLaren |
MCL60 |
Renault E-Tech 20 V-6 Turbo |
Lando Norris (4) Oscar Piastri (81) |
Hass |
VF-23 |
Ferrari V-6 066/10 Turbo Hybrid |
Kevin Magnussen (20) Nico Hulkenberg (27) |
Alfa Romeo |
C43 |
Ferrari V-6 066/10 Turbo Hybrid |
Guanyu Zhou (24) Valtteri Bottas (77) |
CALENDÁRIO DA TEMPORADA 2023
DATA |
CORRIDA |
CIRCUITO |
05.03 |
Grande Prêmio do Bahrein |
Sakhir |
19.03 |
Grande Prêmio da Arábia Saudita |
Jeddah |
02.04 |
Grande Prêmio da Austrália |
Melbourne |
30.04 |
Grande Prêmio do Azerbaijão |
Baku |
07.05 |
Grande Prêmio de Miami |
Miami |
21.05 |
Grande Prêmio da Emília-Romagna |
Ímola |
28.05 |
Grande Prêmio de Mônaco |
Monte Carlo |
04.06 |
Grande Prêmio da Espanha |
Barcelona |
18.06 |
Grande Prêmio do Canadá |
Montreal |
02.07 |
Grande Prêmio da Áustria |
Zeltweg |
09.07 |
Grande Prêmio da Inglaterra |
Silverstone |
23.07 |
Grande Prêmio da Hungria |
Hungaroring |
30.07 |
Grande Prêmio da Bélgica |
Spa-Francorchamps |
27.08 |
Grande Prêmio da Holanda |
Zandvoort |
03.09 |
Grande Prêmio da Itália |
Monza |
17.09 |
Grande Prêmio de Singapura |
Marine Bay |
24.09 |
Grande Prêmio do Japão |
Suzuka |
08.10 |
Grande Prêmio do Qatar |
Losail |
22.10 |
Grande Prêmio dos Estados Unidos |
Circuito das Américas |
29.10 |
Grande Prêmio da Cidade do México |
Hermanos Rodriguez |
05.11 |
Grande Prêmio de São Paulo |
Interlagos |
18.11 |
Grande Prêmio de Las Vegas |
Las Vegas |
26.11 |
Grande Prêmio de Abu Dhabi |
Yas Marina |
TRANSMISSÃO DA TEMPORADA 2023
Há dois anos, a Bandeirantes surpreendeu ao assumir os direitos de transmissão da Fórmula 1, após a TV Globo anunciar que não renovaria o contrato para continuar exibindo a categoria máxima do automobilismo, o que fazia de forma ininterrupta desde 1981, curiosamente, assumindo o posto que no ano anterior tinha sido desempenhado justamente pela emissora paulista. E a Bandeirantes fez um bom trabalho, montando sua equipe com o pessoal que fora dispensado pela Globo anteriormente, como Reginaldo Leme, que já tinha deixado a emissora carioca um ano antes da emissora também encerrar com a F-1.
O esquema foi o mesmo da antiga emissora: treinos livres pelo canal pago Bandsports, e a princípio, também os treinos classificatórios, que passaram a ser exibidos também no canal aberto, que transmitia também as corridas ao vivo. Com equipe de reportagem no local das corridas, e equipe de transmissão em estúdio, a Bandeirantes transformou a categoria máxima do automobilismo em uma de suas prioridades da programação, oferecendo um espaço em sua programação, seja no canal fechado, ou no aberto, que há tempos não se via mais na Globo. Apesar dos índices de audiência serem inferiores aos obtidos nos tempos da Globo, eles foram muito positivos para a Bandeirantes, chegando por vezes a elevar a audiência à vice-liderança nos horários dos GPs, algo que foi muito positivo para a emissora, que já iniciou seus trabalhos mostrando as provas na íntegra, inclusive com as cerimônias do pódio, algo que a Globo já tinha ignorando em suas últimas transmissões, para desgosto dos fãs da competição.
Depois de capitalizar também com a disputa titânica pelo título, entre Lewis Hamilton e Max Verstappen em 2021, a emissora continuou apresentando bons índices na temporada passada, apesar da disputa não ter sido tão ferrenha como no ano anterior, com Verstappen a conquistar o bicampeonato com muito mais facilidade do que em 2021. Mas, com o contrato firmado inicialmente pela Bandeirantes por dois anos, começaram os boatos e incertezas se a emissora continuaria transmitindo a F-1 em 2023, ao mesmo tempo em que pipocaram notícias da possibilidade da Globo retomar os direitos, o que gerou nervosismo entre os fãs, temerosos de que a antiga emissora novamente engessasse as transmissões como fazia antigamente, ao passo que na Bandeirantes a F-1 ganhou muito mais espaço e flexibilidade nas transmissões, com um trabalho mais amplo e leve, ao contrário do que acontecia na emissora antiga. Mas, felizmente, a Bandeirantes surpreendeu ao renovar o contrato de transmissão por mais 3 temporadas, continuando a exibir o campeonato para 2023, 2024, e 2025, oferecendo muito mais tranquilidade aos fãs, e a confiança da Liberty Media no trabalho desenvolvido nestas duas temporadas, e a certeza de que o trabalho continuará mantendo a mesma qualidade pelos próximos três anos.
Quanto à participação de brasileiros, continuamos apenas atuando na retaguarda, com Pietro Fittipaldi continuando a exercer a função de piloto reserva da Haas, que mais uma vez mostrou não ter interesse em efetivar o piloto brasileiro. Já Felipe Drugovich, apesar do campeonato conquistado na F-2 ano passado, terá de se contentar com a posição de piloto reserva da Aston Martin, em que pese a chance inesperada de andar com o carro no Bahrein, devido ao percalço sofrido por Lance Stroll, que se machucou às vésperas dos testes da pré-temporada e desfalcou o time em Sakhir.
Para este ano, segue o esquema já conhecido de todos: os treinos livres são exibidos ao vivo no Bandsports, enquanto a classificação para o grid, bem como as corridas sprint, e as corridas, ficam a cargo da Bandeirantes, com eventuais reprises no canal pago. A Bandeirantes já começou bem exibindo parte dos testes da pré-temporada no Bahrein, pelo Bandsports, como fizera no ano passado. Mariana Becker e a equipe de reportagem seguirão sempre in loco nos autódromos, trazendo as últimas notícias, com a equipe de transmissão em estúdio em São Paulo, com algumas possíveis exceções, como foi a participação de Reginaldo Leme in loco no GP de Miami no ano passado.
Vale lembrar que a categoria máxima do automobilismo continua disponível em seu aplicativo exclusivo, para os assinantes do streaming, aproveitando a transmissão em português do Grupo Bandeirantes, além da opção em outros idiomas, com acesso inclusive ao acervo de corridas oficial da Fórmula 1.
Apesar de apenas três dias de testes, os times tiveram muito trabalho, tanto dentro dos boxes (abaixo) como fora deles (acima). |
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