A Cidade do México recebeu a primeira prova da nova temporada da F-E, mas a corrida ficou devendo maiores emoções na pista.
A Formula-E deu sua
largada para sua nona temporada com o ePrix do México, no último final de
semana, e depois de várias incertezas a respeito da confiabilidade técnica dos
novos carros de terceira geração, podemos dizer que o resultado foi morno. Não
houve problemas além do normal para um início de competição, mas a corrida em
si também não proporcionou maiores emoções.
Procurando evitar maiores problemas, pode-se dizer que todo mundo entrou na pista de maneira conservadora, tateando o comportamento dos novos carros Gen3 aos poucos, a fim de não comprometerem o final de semana. Afinal, os testes da pré-temporada indicavam que a fiabilidade poderia ser um problema sério, e o novo carro também exigia uma pilotagem diferente do modelo anterior. Exagerar na dose, e danificar o monoposto poderia comprometer todo o final de semana. Felizmente, as perspectivas de uma hecatombe de quebras não se concretizou, para alívio da direção da categoria, e dos próprios times.
Apenas dois carros abandonaram a corrida por problemas. Sam Bird viu seu Jaguar praticamente “apagar” ainda no início da corrida, sem conseguir resetar o sistemas do bólido, e teve de abandonar mais cedo. Já perto do fim da corrida, René Rast, que retornava à categoria, também teve de abandonar com sua McLaren. Tivemos outros três abandonos, estes motivados por acidentes com os pilotos. Logo na primeira volta Robin Frijns acertou de leve a traseira de Norman Nato, danificando levemente o carro do piloto da Nissan, e acertando a proteção na reintroduzida chicane da reta oposta. Apesar da batida ser leve, foi o suficiente para Nato ter de abandonar após chegar aos boxes, assim como Frijns também teve de dizer adeus à sua primeira corrida defendendo a ABT. Quem também não terminou a prova foi Edoardo Mortara, que rodou no fim da reta e acertou o muro de proteção com a traseira de seu Maserati, dando adeus à corrida.
As disputas de posição foram poucas na pista. O novo carro Gen3, além das diferenças de pilotagem exigidas, mostrou que suas dimensões ainda precisam ser melhor avaliadas. Jean-Éric Vergne teve um toque com Sacha Fenestraz, que acabou danificando levemente os carros de ambos, mas sem leva-los ao abandono, onde o francês admitiu que as novas dimensões do novo carro o levaram a errar na avaliação de aproximação ao oponente, e que isso precisa ser mais estudado pelo piloto. Mas talvez o maior culpado pela falta de disputas possa ter sido a reintrodução de uma chicane na reta oposta, que era usada quando da primeira configuração do circuito, que arruinou um trecho onde os pilotos poderiam tentar ultrapassagens, quebrando a velocidade com a curva. Por causa disso, também não pode se verificar quanto a performance dos novos carros melhorou, já que os tempos, que subiram 5s por volta em relação ao ano passado, foram influenciados pela volta dessa chicane. Mesmo assim, os pilotos disseram ter sentido o grande aumento de potência dos carros, e não foi difícil ver vários competidores tendo de segurar o carro em algumas curvas para evitar que eles desgarrassem.
Com relação à duração da carga das baterias, pode-se dizer que a postura conservadora dos times e pilotos com a prova teve seus motivos. Se é verdade que todo mundo chegou a cruzar a linha de chegada entre os que não abandonaram, pode-se dizer que todo mundo chegou quase na pane seca elétrica na linha de chegada. Com a corrida sendo determinada novamente por número de voltas, teoricamente todos não teriam problemas em completar as 36 voltas previstas para o ePrix, mas as três entradas do Safety Car fizeram com que a prova ganhasse 5 voltas a mais, para compensar as voltas em bandeira amarela, como previsto no regulamento. Isso deixou todo mundo tendo que gerenciar sua energia no extremo, e os pilotos chegaram no talo de suas baterias, com alguns conseguindo economizar mais, outros menos. Se a prova tivesse tido uma volta a mais, contudo, o panorama poderia ser outro, e o resultado, muito menos positivo. E isso porque todo mundo ainda foi conservador, tanto quanto possível, no uso da energia durante a prova, do contrário...
Largando numa inesperada pole-position, Lucas Di Grassi lutou como pôde com um carro que ainda não está 100% (acima), e acabou premiado com um pódio (abaixo).
Por isso mesmo, as disputas também rarearam nesse primeiro ePrix. Manter os duelos significava gastar mais energia, e era preciso ser calculista para avaliar o custo-benefício. Jake Hughes, da McLaren, admitiu que na sua perseguição a Lucas Di Grassi, acabou gastando mais energia do que deveria, e isso facilitou para que André Lotterer, da Andretti, o superasse no final, já que o alemão tinha mais energia sobrando. Se por um lado as baterias não apresentaram problemas de fiabilidade, por outro, sua autonomia ainda precisa ser melhor trabalhada pelos times, que precisam desenvolver melhor seus sistemas para serem mais econômicos, e ao mesmo tempo, melhorar a performance. Já para a próxima prova, em Diriyah, na Arábia Saudita, talvez possamos ter uma idéia melhor do desempenho dos novos carros e sistemas, já que a pista deverá ser a mesma, e com isso, os tempos e velocidades poderão ser melhor avaliados para comparação. E as escuderias, já com a quilometragem da prova mexicana, e com o trabalho de desenvolvimento nas sedes, poderão ser mais agressivas na abordagem da pista.
No que tange ao resultado da corrida, pelo menos nessa prova de estréia, quem saiu na frente foi a Porsche. Se a vitória foi da Andretti, o time norte-americano repete o seu resultado de quando também estreou sua parceria com a BMW, que também foi de vitória na primeira corrida. O time de Michael Andretti agora usa o trem de força da Porsche, e além de garantir a vitória com Jake Dennis, ainda teve Lotterer terminando em 4º. E a Porsche, com seu time próprio, ainda garantiu o 2º lugar com Pascal Wehrlein, com uma performance sólida, e também teve Antonio Félix da Costa em 7º lugar. Quem também saiu bem da Cidade do México foi a Envision, que terminou com sua dupla de pilotos marcando pontos. Sébastien Buemi fez um bom 6º lugar, enquanto Nicky Cassidy terminou em 9º, na estréia da equipe utilizando o trem de força da Jaguar, que a exemplo da Porsche, viu seu time cliente ter melhor performance que seu time próprio, onde Mith Evans finalizou em 8º lugar.
Em termos de expectativa, a renovada Penske, ex-Dragon, agora time oficial da DS Citroen, que fornece o novo trem de força da escuderia de Jay Penske, viu que ainda tem um longo caminho para tentar chegar no topo. Mesmo contando com uma dupla de campeões, Stoffel Vandoorne e Jean-Éric Vergne, tudo o que o time conseguiu foi o 10º lugar do atual campeão da categoria, sendo que o time nem conseguiu disputar as primeiras colocações do grid. Mas já é uma melhora para um time que no ano passado ficou praticamente na última colocação do campeonato de equipes, suando para conseguir largar na primeira metade do grid, e muito mais para marcar míseros pontos. O time até fez uma boa pré-temporada, sinal de que há potencial para mais, resta acertar as arestas e desenvolver melhor seu equipamento para chegar onde pretende.
Dos times estreantes na competição, a McLaren se salvou graças à estréia virtuosa de Hughes, uma vez que René Rast não conseguiu mostrar muita coisa, e ainda ficando pelo caminho, sem chegar nos pontos. O time de Woking é um grande acréscimo à F-E, e pelo menos nessa estréia, saiu-se muito melhor do que a Nissan, fornecedora de seu trem de força, que não conseguiu ter um bom resultado na Cidade do México, e ficou sem pontuar. Já a Maserati, apesar dos bons resultados da pré-temporada, não se encontrou no autódromo Hermanos Rodriguez, e saiu zerada no fim de semana com o abandono de Mortara, e Maxximilian Ghunter quase beliscando um ponto, mostrando que ainda vai ter de trabalhar muito para sonhar mais alto nas disputas da F-E. Assim como a ABT, que em seu retorno à competição, agora como um time independente, também não se acertou na pista mexicana, largando na penúltima fila, e ficando sem conseguir chegar nos pontos.
Lucas Di Grassi teve uma estréia com o pé direito em seu novo time, a Mahindra. Quando nem ele mesmo esperava, conquistou a pole-position, e até liderou as primeiras voltas da corrida. Um pequeno erro permitiu que Jake Dennis assumisse a liderança da prova, antecipando algo que o próprio Lucas já esperava que ocorresse mais à frente, diante da necessidade de economizar energia em seu carro devido a um consumo maior do que o da concorrência. Depois, ele ainda se permitiu ser superado por Pascal Wehrlein, por saber que poderia gastar muito mais energia se defendendo do piloto da Porsche. Mas, dali em diante, a ordem era se segurar na terceira posição, o que conseguiu com maestria, mantendo vários pilotos atrás de si, no que foi o principal destaque da prova no circuito Hermanos Rodriguez. Com uma pilotagem precisa, Lucas conseguiu evitar a ultrapassagem, mas em diversos momentos foi tremendamente difícil segurar a posição. As voltas adicionais da corrida, devido ao período de Safety Car, aumentaram o drama do piloto da Mahindra, que precisava dosar ainda mais a energia de seu carro, tornando ainda mais complicado a manutenção de sua posição. No final, Lucas conseguiu o seu 40º pódio nas 101 corridas que disputou em sua carreira na F-E, sendo um dos destaques da corrida mexicana. Um início de temporada extremamente positivo para o brasileiro. Pode-se dizer que Di Grassi carregou a Mahindra nas costas na etapa inicial da temporada, já que Oliver Rowland teve treinos pífios, e largou na última posição do grid. O piloto conseguiu evoluir na corrida, mas não o suficiente para chegar à zona de pontuação, e por isso mesmo, Lucas afirma que ele e seu time terão muito trabalho pela frente para conseguir apresentar resultados como o do México de forma totalmente válida. O carro ainda não é competitivo para disputar o pódio, e muito menos vitórias.
Iniciando sua parceria com a Porsche, a Andretti conseguiu uma vitória determinada com Jake Dennis na Cidade do México.
Para Sérgio Sette
Câmara, a prova mexicana foi um repeteco das situações vividas no ano passado
em seu antigo time, a Dragon. Nos treinos livres, o carro da NIO até que
mostrou um potencial inesperado, a ponto do brasileiro ter figurado entre as
primeiras posições, algo que foi muito bem-vindo para dar maior emoção às
disputas. Na hora do vamos ver, Sérgio acabou atrapalhado na classificação, e não
conseguiu uma volta à altura do que poderia render, o que acabou sendo visto
com seu parceiro de time Dan Ticktun, que largou numa ótima 5ª colocação na
prova. Mas, depois, com a corrida em andamento, eis que o carro da equipe
chinesa foi perdendo rendimento, e Câmara, que andou a primeira metade da
corrida dentro da zona de pontuação, acabou caindo lá para trás, terminando em
penúltimo lugar entre os que receberam a bandeirada. Ticktun foi o último
colocado, e além da queda de performance, ainda tomou duas punições que só
pioraram o que parecia começar bem, mas terminou mal. Sérgio ressaltou que seu
novo time tem uma estrutura melhor do que a sua antiga equipe, a Dragon, embora
os recursos não sejam tão abundantes. Mas vai ser preciso muito serviço para
evoluir a performance em corrida, caso o panorama se repita nas próximas
etapas.
No que tange à transmissão da categoria, agora no Bandsports, não começou lá muito bem. Primeiro, o canal pago não transmitiu os treinos livres, e na hora de mostrar o treino de classificação, problemas na geração de sinal no México praticamente impossibilitou os fãs brasileiros de acompanharem a disputa que terminou com a pole de Lucas Di Grassi, e Sérgio Sette Câmara ficando em 13º. Ao menos na corrida, a transmissão saiu em ordem, com a nova dupla Luc Monteiro/Tiago Mendonça dando conta do recado, mas mostrando ainda certo noviciado com a nova categoria presente na grade do canal, podendo melhorar nas próximas etapas.
Passada a incerteza da primeira prova, agora é hora de continuar trabalhando duro para sanar os problemas que ainda estão lá, de forma que a Formula-E possa efetivamente renovar sua atratividade, e continuar a oferecer corridas disputadas, e uma opção viável para as fábricas que lá estão presentes. Ainda temos 15 corridas nesta temporada, e a tendência é que, com mais quilometragem e experiência, equipes e pilotos consigam enfim tirar dos novos carros a sua esperada melhor performance, e apresentem um grande campeonato. Próxima parada, Arábia Saudita...
A equipe ABT vai ficar desfalcada na próxima corrida da F-E, na Arábia Saudita. Robin Frijns, seu piloto, acabou sofrendo um acidente logo na primeira volta da etapa da Cidade do México, quando atingiu a traseira do carro de Norman Nato, da Nissan, provocando o abandono de ambos. Na batida, o holandês da ABT acabou machucando uma das mãos, que foi atingida pelo volante do carro, o que acabou resultando em quatro fraturas, e necessitando passar por uma cirurgia que durou cinco horas. O piloto também confirmou ter fraturado o pulso, e a dor foi muito forte, sendo necessário tomar analgésicos fortes agora no período de recuperação. Frijns não estimou a duração de sua recuperação, e como não vai poder pilotar em Diriyah, o time escalou Kelvin van der Linde para substituir seu piloto titular, por enquanto, na rodada dupla da Arábia Saudita, e talvez na etapa da África do Sul, caso Frijns não se recupere até lá.
Parece que a popularidade crescente da F-1 não está encontrando lugar em um dos países mais importantes da Europa. Depois de ficar sem seu grande prêmio por desinteresse do público, e por consequência, dos promotores, nas últimas temporadas, agora é a vez da categoria máxima do automobilismo ficar sem transmissão de suas corridas na TV aberta. Há dois anos atrás, o canal RTL perdeu os direitos para a Sky Sports, que passou a transmitir as corridas na TV fechada, mas permitindo à antiga emissora, em um acordo, exibir pelo menos 4 corridas em seu canal aberto. Neste ano, porém, a RTL resolveu não renovar o acordo, e rifar definitivamente as corridas da F-1 de sua programação esportiva. Um porta-voz da emissora germânica declarou que a RTL não iria transmitir mais as corridas de F1 em 2023. Segundo ele, no comunicado dado ao jornal Bild, a emissora focará seus esforços no futebol, e no campeonato da NFL, cujos direitos de transmissão na TV aberta para a Alemanha foram adquiridos recentemente, e que merecerão destaque no canal. Com isso, é a primeira vez desde a temporada de 1991 que nenhuma corrida do campeonato da F-1 será transmitida pela TV aberta na Alemanha. Comenta-se que a Sky Sports estaria oferecendo o acordo de transmissão anteriormente feito com a RTL para outras emissoras, como a ProSiebenSat.1, mas sem uma confirmação de aceite até o presente momento. Apesar de ter uma das equipes mais vitoriosas da competição na última década, a Mercedes, a Alemanha viu seu principal piloto na competição, Sebastian Vettel, pendurar o capacete ao fim da temporada passada, além de ver Mick Schumacher perder seu lugar na equipe Haas para o conterrâneo Nico Hulkenberg, que não é exatamente um piloto que empolga multidões como Vettel já fez um dia, e o filho de Michael Schumacher está longe de conseguir até o momento.
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