A F-1 nem bem começou
o ano, mas já tivemos um episódio que, na minha opinião, é vergonhoso, para
dizer o mínimo. O assunto são as pretensões da família Andretti de entrar na
categoria máxima do automobilismo mundial, com um time próprio, e até agora
enfrentando todo tipo de negativas por parte da categoria, que se defende com
argumentos cretinos, e sem nem disfarçar o real motivo por trás de tudo, que se
resume a ganância e egoísmo, pura e simplesmente.
A situação chega a um ponto onde o próprio presidente da FIA concorda que há lugar para novas equipes na categoria, e que isso seria até desejável. Afinal, já a muito tempo que a F-1 não consegue sair dos 10 times e 20 carros no grid, o que é pouco se considerarmos que outras categorias menos badaladas possuem bem mais concorrentes. E mais gente na pista deveria significar mais duelos e disputas, não? Errado, na visão da cartolagem da F-1. E o motivo principal, que ficou praticamente escancarado, é a divisão dos lucros da competição, pura e simplesmente.
Inicialmente, havia o argumento de que a Andretti em nada “agregaria valor” à F-1, como se a empreitada fosse de meros aventureiros que nada sabem sobre automobilismo. Mas estamos falando do clã Andretti, uma das principais famílias do mundo do automobilismo mundial, sendo seu patriarca, Mario Andretti, campeão da antiga F-Indy, da F-1, e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis, e das 24 Horas de Daytona. A Andretti Autosport compete na Indycar, na Extreme E, e na Formula-E. De aventureiros os Andretti não tem nada. Aí passaram para a balela de que times independentes não tem sucesso na F-1, e que precisariam ser um time de montadora (fábrica), para agregar valor e respeito à categoria máxima do automobilismo, para que tivessem chance (diziam, chance) de serem aceitos, e olhe lá.
Bem, e Michael Andretti anunciou há alguns dias que sua empreitada na F-1 teria o apoio de ninguém menos que a General Motors, uma das maiores fábricas de carros do mundo, através de sua marca Cadillac, um nome icônico no mercado de veículos dos Estados Unidos. Bem, e agora, qual é a desculpa que inventaram? Começaram a alegar que o apoio não é exatamente de uma fábrica, que deveria entrar com motores próprios, e algo do tipo, e não simplesmente utilizar um propulsor já existente, e “rebatizar” a unidade com o nome da marca norte-americana, e coisa e tal. Bem, a início, os Andretti até concordaram que, devido ao tempo de preparação, sua entrada não seria com uma unidade de potência própria, mas qual o problema em utilizar uma outra unidade de potência? De início, circulava à boca pequena um pré-acordo com a Renault, que atualmente só tem o seu time próprio na competição, a Alpine, mas conversas mais recentes falam em acordos com a Honda para fornecimento de motores, enquanto a GM não desenvolvesse sua própria tecnologia.
Bom, agora a coisa descambou para o lado financeiro, pura e simplesmente, invocando uma taxa que tem de ser paga por times estreantes, cuja justificativa é simplesmente ter de “indenizar” os times já presentes que teriam “prejuízo” com uma divisão menor de lucros da F-1 com a entrada de uma nova escuderia. Uma taxa foi estabelecida recentemente em cerca de US$ 200 milhões, uma quantia pra lá de considerável. E como se esse valor acordado já não fosse assombroso, agora eles querem revisar esse valor, e há quem afirme que a nova quantia seria de “módicos” US$ 600 milhões, alegando, na maior cara de pau, que a F-1 se valorizou nos últimos anos, e que o valor anterior já não correspondia à realidade, e os times tem direito a uma compensação equivalente à valorização obtida pela categoria. Uma verdadeira afronta, na minha opinião. No fim dos anos 1990, a FIA já tinha estipulado uma taxa de US$ 48 milhões para inibir a entrada de “aventureiros” na categoria máxima do automobilismo. E esse valor, por si só, já era bem alto, o suficiente para fazer gente sem competência desistir de tentar a sorte na F-1. Mas agora, mesmo alegando inflação e tudo o mais, o valor sofreu uma majoração completamente desvairada.
A justificativa da imposição da taxa original, em 1998, era para “proteger” a reputação e o status da F-1 como categoria de ponta, invocando que times pequenos e sem condições só ajudariam a manchar a imagem do esporte. Não há como negar que, durante sua história, a F-1 de fato teve a participação de equipes que nunca tiveram condição de competir decentemente no seu campeonato, das quais a mais recente nessa descrição tenha sido a Andrea Moda, em 1992, cujas condições de competição eram simplesmente risíveis, a ponto de só ter conseguido disputar uma corrida, em Mônaco, naquele ano, graças ao talento de Roberto Moreno em conseguir classificar o carro no grid, em uma época onde havia mais carros que vagas na largada de um GP. Ou um time como a Life, que inscrita na temporada de 1990, nunca conseguiu vaga para largar em nenhuma corrida. Aliás, houve várias escuderias que nunca conseguiram se classificar para nenhum GP, por mais que tentassem, nas décadas de existência da F-1.
A escalada desenfreada dos custos de competição inviabilizou completamente a presença de times menores no grid da F-1 a partir da segunda metade dos anos 1990, mas a coisa só piorou mesmo a partir de 1998, quando Max Mosley e Bernie Ecclestone resolveram “dourar” a pílula da F-1, estipulando um limite de equipes participantes, e aumentando de forma draconiana os requisitos para entrada de novas escuderias no grid. Na época, havia muito interesse pela F-1, e a intenção era praticamente tornar os times um privilégio de status na competição, onde só entraria gente nova se comprasse um dos times já presentes, que foram valorizados como nunca só por existirem. Diversas montadoras tinham a F-1 na sua mira, e com esse requisito, Ford, Honda, Renault, BMW e Toyota se lançaram para competir a fundo na categoria, sendo a Toyota a única que montou um time próprio, enquanto as demais marcas ou adquiriram times já presentes, ou se associaram a outros já existentes. O limite agora era de no máximo 12 times e 24 carros no grid. A idéia era elitizar a F-1 de vez, assim como fizeram no futebol, com as ligas europeias se fechando em seus “clubes do bolinha”, onde ninguém saia, mas também ninguém entrava.
Só que, tanto fizeram, que esse limite nunca foi atingido, e o feitiço virou contra o feiticeiro, com vagas sobrando, e ninguém interessado. Em 2010, a categoria finalmente aceitou novos times, mas com uma seleção feita pela FIA sem critérios técnicos decentes, os novos times viraram uma subcategoria na competição, frustrando completamente quem esperava ver maiores duelos no grid. Os novos times sumiram em pouco tempo, tragados pela espiral de custos da F-1, reforçando o bairrismo da categoria em aceitar novos participantes, que agora ganha contornos puramente financeiros numa briga gananciosa para não dividirem os lucros que a maioria dos times parece não ter vergonha nenhuma em admitir sua gula monetária.
Por essas desculpas todas que foram apresentadas, tentando disfarçar o que todo mundo já sabe, , por incrível que pareça, a própria Red Bull hoje seria impedida de entrar na F-1, mesmo comprando um time, por não ter “laços com uma indústria automobilística”, como gostam de justificar a recusa da entrada da Andretti, lembrando que até 2004 a Red Bull era apenas uma patrocinadora presente na F-1, mas se tornou competidora, comprando a equipe Jaguar, que estava sendo vendida pela Ford, que se retirava da F-1 depois dos maus resultados. Colocando ordem na escuderia, e contratando gente de peso, o time dos energéticos hoje é uma das principais forças do grid, e bicampeã das últimas duas temporadas com o título de pilotos para Max Verstappen. Mas, claro, hoje a própria Red Bull também é a favor dos argumentos que teriam proibido até ela mesma de entrar no grid, sendo vista como uma empreitada sem a seriedade e aporte necessários para competir, e “agregar valor” à F-1... Apenas meros aventureiros querendo se aproveitar da fama da categoria máxima do automobilismo, e nada mais...
Mas, como já vimos, de aventureiros os Andretti não tem nada. E se precisavam de um parceiro que demonstrasse que sua empreitada é mais do que séria, como repudiar o ingresso de uma fábrica como a GM na F-1? A mesma categoria se desmanchou em elogios e só faltou se ajoelhar quando finalmente conseguiu convencer o Grupo Volkswagen a entrar na competição, com suas marcas Audi e Porsche (sendo que esta já participou da F-1 há décadas atrás), que devem entrar no certame em 2026. Não há como tratar de forma distinta os dois conglomerados, que são potências do mundo do esporte a motor.
Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, concorda que a F-1 pode ter mais alguns times do grid, atraindo a ira dos opositores do projeto dos Andretti.
E esta semana,
Christian Horner escancarou essa verdade: ninguém quer “perder” sua fatia do
bolo, e um novo time implica, como já mencionei acima, em redução do valor
distribuído a cada time. A questão é simples: Se 10 times dividem, por exemplo,
um lucro de US$ 2 bilhões, cada um leva US$ 200 milhões. Mas, se 11 times
dividirem o mesmo bolo, cada time fica com uma quantia menor, de cerca de US$
181,18 milhões. Pode parecer pouco, mas eles se recusam a ter essa diminuição
dos lucros. Apenas McLaren e Alpine se manifestaram favoráveis à entrada da
Andretti no grid, enquanto os demais times vieram com essa barafunda de
justificativas ridículas das mais variadas, tentando argumentar que a F-1 só
teria a perder com um time a mais no grid. Alegam que os times atuais são “sólidos
e estáveis”, e que adicionar novos times no grid poderia trazer instabilidade à
competição. Por isso, nada mais justo, na opinião deles, que quem quiser entrar
precisa “indenizar” os outros times por causa dessa redução na divisão dos
lucros para cada time já presente, como se ele tivesse causado prejuízo aos
demais times. Que prejuízo, cara pálida? Com a adoção do teto orçamentário, de
menos de US$ 150 milhões no momento, podemos dizer que eles estão longe de
sofrer esse prejuízo todo. Haja cara de pau!
Outro problema é também o ego dos times da F-1. A família Andretti tem adotado uma política firme, e por vezes, até agressiva, de defender sua entrada na categoria máxima do automobilismo, fazendo lobby para isso junto a diversos nomes no grid e na FIA, de modo a gerar certa antipatia por quem já está dentro. Basicamente, é os galos de um galinheiro se recusando a aceitar a chegada de mais um galo, disposto a marcar terreno no local, onde ninguém quer perder seu status atual, que poderia ser enfraquecido com mais um para dividir poder. Há também o temor de perder sua posição na relação de forças da categoria. Imagine se um time como a Andretti surpreende, e já chega disputando potencialmente o pódio, e talvez até vitórias, em suas primeiras participações? E deixando para trás outros times já estabelecidos? Como estas equipes ficariam, sendo superadas por quem acabou de chegar? A Haas, que na prática foi o último time a conseguir estrear na F-1, é contra a entrada dos conterrâneos, chegando ao despaupério de afirmar que a categoria não precisa de outro time dos Estados Unidos no grid. Medo de levar ferro dos Andretti, e ser superada pelos compatriotas? Pela justificativa esdrúxula apresentada, então não deveria ter mais do que um time de cada país no grid. Então não precisaríamos de Alpha Tauri, por já teríamos um time italiano no grid, a Ferrari. Do mesmo modo, para quê Williams e Aston Martin, quando a Grâ-Bretanha já tem a McLaren no grid?
Em uma declaração mais do que lúcida, o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem disse que não se pode barrar o interesse de uma fabricante como a GM na Fórmula 1, ressaltando que é possível ter mais equipes no grid sem que haja perda de dinheiro para as demais. Ele também afirmou que, no momento, só a Andretti tem previsão e interesse de entrar na F-1, de modo que não teremos também uma “invasão” de novos times. Mas, pelo menos mais 3 escuderias seriam mais do que bem-vindas, devidamente estruturadas e prontas para competir a sério na F-1, o que ajudaria a termos mais disputas no grid, certamente. Se a seleção for feita corretamente, e com recursos de monta, e parceiros comerciais de nota, como é o caso da Andretti, sua entrada deve ser mais do que celebrada. E os outros times contrários que vão se danar, e tratem de trabalhar para mostrar que são melhores, caso os novatos comecem até a andar na frente deles. O pessoal da F-1 precisa tomar algumas para quebrar a cara, e pararem com essa palhaçada. E o quanto antes, melhor!
A Formula-E está na Arábia Saudita para sua primeira rodada dupla da temporada 2023, a ser disputada no circuito urbano de Diriyah, nos arredores da capital Riad. Jake Dennis, vencedor da prova inaugural, na Cidade do México, entra na pista disposto a mostrar que seu time não venceu de forma ocasional no México, e que vem forte para a disputa do título na nova era dos carros Gen3, que não conseguiram mostrar todo o seu potencial no autódromo Hermanos Rodriguez, uma vez que equipes e pilotos ainda não conseguiram decifrar todas as nuances do novo carro. Como a pista saudita não teve alterações, deveremos poder ter uma melhor noção da performance dos novos carros, e as equipes, por sua vez, acumulando a quilometragem da primeira corrida, poderão ser menos conservadoras neste final de semana. A primeira corrida será disputada hoje, sexta-feira, com transmissão a partir das 13:45 Hrs. ao vivo, no canal pago Bandsports, e também deve ser exibida no canal aberto Bandeirantes. Neste sábado, no mesmo horário, será realizada a segunda prova desta rodada dupla, também com transmissão ao vivo tanto na TV por assinatura quanto na TV aberta. Os treinos de classificação das duas corridas, a partir das 09:30 Hrs. da manhã, tanto nesta sexta quanto amanhã, sábado, serão mostrados pelo Bandsports.
O automobilismo dos Estados Unidos pisa fundo no acelerador com uma de suas mais tradicionais provas neste final de semana: as 24 Horas de Daytona, que serão disputadas no Daytona International Speedway, no Estado da Flórida. Será a 61ª edição da corrida, com largada prevista para as 15:40 Hrs. deste sábado, pelo fuso horário de Brasília, com chegada para as 15:40 Hrs. de domingo. E na pista, teremos sete pilotos brasileiros, alguns deles lutando pela vitória geral na longa prova, com destaque para a primeira fila do grid: o carro Acura ARX-06 Nº 60 da Meyer Shank larga na posição de honra, tendo no seu quarteto de pilotos Hélio Castro Neves, que vai em busca da sua terceira vitória em Daytona, e a segunda consecutiva. O brasileiro, tetracampeão da Indy500, dividirá o carro com Simon Pagenaud, Colin Braun, e Tom Blonqvist. Helinho também marcou o novo recorde do circuito nos treinos livres, o que faz da Meyer Shank um dos times favoritos à vitória, na classe GTP, nova denominação para a classe Daytona Prototype. Na segunda posição do grid, temos o Porsche 963 Nº 7 da Porsche/Penske Motorsports, que terá Felipe Nasr ao volante, em parceria com Matt Campbell e Michael Christensen. Aliás, teremos mais dois brasileiros na classe GTP: Pipo Derani larga na 6ª posição com o Cadillac V-LMDh Nº 31 da equipe Whelen Engineering Racing, em conjunto com os pilotos Alexander Sims e Jack Aitken; e logo atrás, em 7º, teremos Augusto Farfus, com o modelo BMW M Hybrid V8 Nº 24 da BMW M Team RLL. Pietro Fittipaldi estará disputando na classe LMP2, com o carro Nº 4 ORECA LMP2 07 da equipe Crowdstrike Racing by APR, em conjunto com Devlin DeFrancesco, Eric Lux, e Austin Cindric. Felipe Fraga competirá na classe LMP3, com o carro Ligier JS P320 Nº 33 da escuderia Sean Creech Motorsport, largando na 20ª posição. E finalizando a lista de pilotos brasileiros no grid, temos Daniel Serra, com o modelo Ferrari 296 GT3 Nº 21 da AF Corse, em 53º lugar, na classe Daytona GT Pro. Ao todo, teremos 61 carros no grid, nas classes GTP (9), LMP2 (10), LMP3 (9), e GTD, sendo esta subdividida em GT Daytona Pro (9), e GT Daytona (24). Infelizmente, nenhuma emissora brasileira irá transmitir a corrida, restando a opção de ver pela internet, no site da IMSA, em https://www.imsa.com/tv/. E torcer muito por uma nova vitória do Brasil na corrida.
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