quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

GRANDES CIRCUITOS DO MUNDO - ESTRÉIA

          Esta é uma seleção de pistas ao redor do mundo que são muito conceituadas pelos fãs do esporte a motor. Sediando provas das mais variadas categorias, estas pistas nunca receberam uma competição da F-1, de modo que muitos fãs sempre ficam com a imaginação de como seria se a categoria máxima do automobilismo competisse por ali, algo que infelizmente não é possível por uma série de fatores, alguns deles exigências por parte da FIA que hoje solicita uma infraestrutura colossal para atender às necessidades da F-1, que em tempos idos correria nestes lugares sem o menor problema. Os megacircuitos, iniciados com a pista de Kuala Lumpur, na Malásia, inauguraram uma era onde os autódromos precisam ser monumentais para receberem a F-1, e mesmo assim, nem sempre produzem corridas condizentes com a estrutura que apresentam, sendo um deles o caso de Yas Marina, em Abu Dhabi, que se mantém no calendário praticamente por causa das altas taxas que o emirado paga à FIA e à Liberty Media para correrem por lá, e ainda por cima, encerrando a temporada da competição.

          Muitos dos circuitos que serão apresentados nesta série poderiam sediar provas da F-1, não fossem as astronômicas exigências de estrutura e pagamento de taxas para sediar o evento, além de uma estrutura hoteleira que consiga dar conta de receber o pessoal que trabalha no circo. Vamos agora ver algumas destas pistas, e sonhar com as possibilidades de como seria se pudessem mesmo sediar um GP de F-1...

 

ROAD AMERICA

Visão aérea atual da pista de Road America, em Wisconsin.

  

          Começo esta série com o mais conceituado circuito misto dos Estados Unidos. E não, não é o Circuito das Américas, localizado em Austin, e que atualmente é palco do GP dos Estados Unidos de F-1. Falamos de Road America, circuito localizado em Elkhart Lake, no Wisconsin, que possui um traçado espetacular, e sedia corridas das mais variadas categorias do automobilismo norte-americano.

          Inaugurado em 10 de setembro de 1955, o circuito de Road America veio resolver um dilema envolvendo corridas disputadas em vias públicas nas estradas da região. No final da década de 1940, as corridas de carro estavam voltando a ser populares após o fim da Segunda Guerra Mundial, e um grupo de membros do Sports Car Club of America (SCCA) começou a procurar estradas públicas que pudessem fazer um circuito adequado e por sugestão de um de seus membros, que havia crescido em Wisconsin, resolveram verificar as opções próximas ao lado Elkhart. Não demorou para eles encontrarem estradas interessantes para se montar um circuito de competição, e como a região estava atravessando uma crise econômica em decorrência da perda de importantes indústrias locais, as autoridades viram nas corridas uma chance de reviver a economia local, dando todo o apoio ao empreendimento.

          As primeiras corridas de fato, atraíram um grande público, e a fama das provas tornava o empreendimento mais atrativo para pilotos e público, que afluíam em número cada vez maior ao local para acompanhar as competições. Contudo, após acidentes ocorridos neste tipo de prova, o governo resolveu proibir competições de carros em vias públicas, obrigando as corridas a serem disputadas em autódromos ou circuitos fechados, a fim de aumentar a proteção do público e dos pilotos. Em Elkhart Lake, contudo, tal proibição significava o fim das corridas no local, já que não havia onde se correr atendendo à nova legislação. Isso até um empresário local, chamado Cliff Tufte, que possuía uma grande área ao sul do lago Elkhart, na cidade de Plymouth, resolver encarar o desafio de construir ali um circuito de corridas. Ele conseguiu apoio inclusive do SCCA, que ajudaram a financiar a construção do circuito, orçado na época em cerca de US$ 175 mil.

Visão da pista de Road America na década de 1950.


 

          Tufte concebeu um circuito incrível, que se mantém praticamente inalterado até os dias atuais, contando com uma extensão de 6,514 Km e 14 curvas, dos mais variados tipos, que exigem um bom acerto dos carros. Um acerto que tem de ser bem pensado, pois a pista tem bons trechos de reta, que exigem pouco arrasto para ser bem sucedido nas disputas de posição. A topografia do terreno também ajuda o circuito a ser especial, com várias subidas e descidas, oferecendo várias oportunidades e desafios para os competidores. Do ponto mais baixo ao mais alto, há uma diferença de 52 metros, e o ponto mais elevado é justamente na reta dos boxes, onde os carros passam em aceleração máxima, superando os 300 Km/h.

Vista da reta dos boxes nos anos 1990. Largada é feita no ponto mais alto de todo o circuito.


 

          Não é de se admirar, portanto, que o circuito tenha sediado provas das mais variadas categorias desde sua inauguração, atraindo sempre um grande público em cada um destes eventos. Times e pilotos sempre elogiaram a qualidade do traçado, e seu desenho. Para os fãs brasileiros da velocidade, a pista é muito conhecida pelas disputas da antiga F-Indy, e atual Indycar. Na antiga F-Indy, o circuito estreou na temporada de 1982, e esteve sempre presente no calendário da competição até 2007, com exceção da temporada de 2005, quando esteve ausente. Com a falência da antiga F-Indy, o circuito só voltou a receber outra competição Indy em 2016, quando a atual Indycar (antiga Indy Racing League) incluiu a pista em seu calendário, no que foi mais do que aprovado por times e pilotos, que lá competem desde então. Na época da antiga F-Indy, o recorde de volta do circuito é de Alessandro Zanardi, com a marca de 1min41s874, obtido em 1998, com um modelo Reynard 981/Honda da equipe Chip Ganassi. Já o recorde de volta na atual Indycar é de Josef Newgarden, com 1min43s465, com um Dallara DW12/Chevrolet da equipe Penske, obtido na prova de 2017.

Mapa do circuito, com suas 14 curvas. Com exceção das provas do motociclismo, as demais categorias utilizam o trecho em reta tracejado na aproximação da curva 11.


 

          Outras categorias que competem no circuito é a Nascar XFinity Series, o IMSA Wheather Tech, GT World Challenge, MotoAmerica, Trans-Am, e diversos outros campeonatos, sempre com grande presença de público, e elogios dos pilotos pelo desenho de seu traçado, seja qual for a categoria que ali se apresente. O circuito também sedia vários eventos fora do circuito do automobilismo, como provas de ciclismo e até de patinação. Pelo belo visual da região, com muito verde, e boa parte do traçado rodeado pela floresta ao redor, além da grande extensão do traçado, Road America já foi chamada de “Spa-Francochamps dos Estados Unidos”, numa comparação ao belo circuito da região das Ardenhas, na Bélgica, com muita justiça. Assim como na pista belga, Road America também é um circuito que exige potência dos carros, pelos longos trechos de retas, e suas subidas e descidas, como ocorre na pista européia. E, assim como lá, há um bom trecho onde o público se senta na colina à beira da pista para ver os carros na competição, no circuito de Elkhart Lake também há vários pontos onde o público pode se acomodar à beira da pista para assistir aos carros, aproveitando a topografia do terreno. Com as arquibancadas fixas, e os locais onde o público pode se acomodar, Road America pode receber tranquilamente cerca de 150 mil torcedores no circuito. O fato do traçado ser tão bom justifica o fato de ele se manter inalterado até hoje, não tendo sido feito nenhuma mudança no traçado. Houve apenas a inclusão de uma chicane, em 2003, na aproximação da curva 11, para dar mais segurança às corridas de moto realizadas no autódromo, não sendo usada por nenhuma outra categoria de competição. Outra modificação no circuito foi feita em 2006, mas para retirar a ponte de acesso ao interior da pista, aos boxes e área de paddock, que se encontrava junto à curva 13, e cuja estrutura ficava em ponto perigoso caso um carro escapasse da pista na sua aproximação. O acesso foi substituído por um túnel que agora dá total acesso em pista dupla, com espaço para pedestres, no trecho entre as curvas 13 e 14, muito mais seguro e moderno.

A Indycar trouxe a pista para seu calendário de competição a partir de 2016.


 

             E, como seria se a F-1 pudesse disputar um GP em Road America? Apesar do excelente traçado, a pista em si não possui uma estrutura de boxes e paddock permanente que satisfaça as exigências da FIA para sediar uma corrida de F-1 ali. Road America possui classificação Nível 2 da entidade, o que o autoriza a receber muitas categorias de competições, com poucas exceções, referente às categorias TOP do automobilismo mundial, no caso, a F-1. Além disso, as áreas à beira da pista não tem muitos trechos asfaltados, embora boa parte conte com as caixas de brita para desacelerar os carros que saem da pista. Há poucas zebras, de modo que se um carro sair da pista em algumas curvas, vai direto para a brita, ou para a grama, e estes são aspectos complicados nas exigências da FIA em relação à segurança de um autódromo hoje em dia. Tecnicamente falando, seria delirante ver os carros da F-1 andarem em Road America, desfilando pelas suas longas retas e trechos de curvas variadas. Há bons pontos para ultrapassagens, e a variedade de curvas é um ponto interessante para engenheiros e pilotos chegarem aos ajustes ideais dos carros. Os pilotos da F-1 que migraram para a F-Indy, assim como na atual Indycar, sempre elogiaram o traçado de Elkhart Lake, o que dá uma boa perspectiva da opinião que times e pilotos da categoria máxima do automobilismo diriam se pudessem disputar um GP na pista, que com algumas adequações de segurança, bem que poderiam receber os carros da F-1.

             Infelizmente, a falta de uma maior estrutura permanente de paddock inviabiliza completamente as esperanças de a F-1 se aventurar no lugar, dadas as exigências, até por parte das equipes, de uma infraestrutura completa para se instalarem no fim de semana de GP. Outro ponto complicado é a falta de uma rede hoteleira mais robusta na região, que complica a vida do público à corrida. Para os amantes da velocidade dos Estados Unidos, isso não é um problema, já que muitos optam até por dormir em trailers e motorhomes, dispensando hotéis e pousadas, mas que não são muito atrativas para parte do público internacional, para não mencionar o pessoal que trabalha na F-1. Claro que sonhar é válido, e se a FIA deixar de ser tão empinada e bocuda, e relaxar um pouco as exigências, várias delas bem extravagantes, assim como as escuderias da competição, quem sabe um futuro GP de F-1 ainda poderia ser realizado ali? Difícil, claro, mas nunca podemos dizer nunca.

             Quem não gostaria de ver uma disputa da F-1 em Elkhart Lake? Por enquanto, o mais próximo que podemos esperar disso são as provas da Indycar no local, para sorte dos torcedores da velocidade nos Estados Unidos e fãs da categoria. E a turma de queixo empinado da F-1 nem sabe o que está perdendo, ignorando essa pista...

A F-Indy (acima) disputou provas em Road America entre 1982 e 2007, com exceção de 2005. Já a MotoAmerica (abaixo) tem uma de suas etapas realizadas na pista.



 

O IMSA Wheather Tech, campeonato de endurance dos Estados Unidos, também tem Road America no seu calendário.


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