Na semana passada,
iniciei uma avaliação de como foi a temporada 2022 da Fórmula 1.
Definitivamente, foi um campeonato que demandava alta expectativa, depois do
embate titânico entre Lewis Hamilton e Max Verstappen na temporada do ano
passado, e que agora, além da perspectiva de uma revanche entre ambos, havia
também as expectativas do que o novo regulamento técnico que entrava em vigor
poderia apresentar para melhorar a competição. Bem, como mencionei, nem tudo
saiu como se esperava, e em termos de disputa pelo título, a temporada acabou
sendo um passeio, ou quase isso, de Max Verstappen, com decepções por parte da
Ferrari, que não soube dar luta tanto quanto poderia, tropeçando em si mesma em
diversos momentos; e da Mercedes, que errou no projeto de seu carro, e ficou
impotente para entrar na disputa. McLaren e Alpine, que poderiam ter chegado
mais à frente, empacaram onde estavam, frustrando quem esperava por um maior
protagonismo de ambas as equipes, que vinham de temporadas em crescimento. Isso
ocupou uma avaliação destas cinco equipes, sendo que ainda tinha muito mais a
dissertar sobre a temporada deste ano.
Portanto, nesta segunda parte da avaliação do campeonato, é hora de vermos como foi o ano dos demais times da Fórmula 1 na temporada de 2022, analisando o desempenho dessa segunda metade do grid, que neste ano foi formado por Alfa Romeo, Aston Martin, Haas, Alpha Tauri, e Williams. Todos eles tinham a perspectiva de que, com a introdução do novo regulamento técnico, poderem dar um salto de performance na competição, se pudessem fazer um bom aproveitamento da interpretação das novas regras dos carros. Bem, a exemplo do que vimos com McLaren e Alpine, os resultados foram mais ou menos, também nessa segunda metade do grid.
Começando pela Alfa Romeo, não há dúvidas de que o time sediando em Hinwill teve um ano bem melhor do que em 2021. Se na temporada passada eles ficaram em 9º lugar, com apenas 13 pontos, este ano terminaram em 6º, com 55 pontos. O time mudou totalmente seus pilotos, tendo agora Valtteri Bottas, trocando o protagonismo da Mercedes pelo secundarismo que o time lhe proporcionaria em termos de resultados, e o novato chinês Guanyou Zhou. Bottas mostrou a que veio, colhendo os melhores resultados do time nas primeiras corridas do ano, enquanto Zhou tentava cumprir seu noviciado sem comprometer-se demais na pista. Infelizmente, o desenvolvimento do carro não conseguiu ser constante, e a meio do ano, o desempenho caiu muito, com o time só se recuperando um pouco na reta final. O bom início da temporada foi crucial para o time manter-se em 6º lugar, já que foi alcançado pela Aston Martin, que igualou a equipe suíça nos pontos, mas ficou à sua frente por ter um 5º lugar, contra um 6º como melhor resultado do time inglês. Foi uma boa recuperação, mas que poderia ter sido um pouco melhor, diante das possibilidades, especialmente se tivessem conseguido manter o desenvolvimento com mais regularidade, e tivessem tido menos azares em alguns momentos. Bottas, a exemplo do que aconteceu na Mercedes, alternou bons momentos com algumas performances bastante apagadas, sendo até superado por Zhou em vários GPs, apesar de ser novato na equipe, e na F-1. E o chinês, primeiro titular de seu país numa equipe da categoria máxima do automobilismo, ganhou mais uma chance para mostrar seu desenvolvimento como piloto em 2023, onde então será mais cobrado por resultados.
Quanto à Aston Martin,
bem, podemos dizer que a temporada do time sediado ao lado da pista de Silverstone
teve um ano que novamente deixou a desejar. Se em 2021, a principal dificuldade
foi as regras de redução de pressão aerodinâmica que impactaram principalmente
o projeto da Mercedes (sendo que o carro deles era uma evolução do modelo do
time alemão do ano anterior, usado pela antecessora Racing Point), e eles não
conseguiram os resultados que esperavam, este ano a performance foi ainda mais
decepcionante, com a equipe a se mostrar completamente perdida no início da
temporada, tentando entender onde tinham errado no projeto do carro, construído
em bases totalmente novas. Resumindo: não conseguiram aproveitar o novo
regulamento técnico para avançar no grid, muito pelo contrário. O que deveria
ser um ano do “sim” para o time acabou por se tornar uma segunda temporada de “transição”,
onde o time ainda está acertando as arestas na novíssima fábrica construída em
Silverstone, que em nada deve aos times de ponta como Mercedes, Red Bull e
Ferrari, e com recursos abundantes para se buscar bons resultados. Mas, dinheiro
sem sempre é garantia de resultados na F-1, e a temporada de 2022 da Aston
Martin foi uma luta para reencontrar o rumo, a ponto do time efetuar grandes
mudanças no modelo AMR22, a ponto de o time receber um processo de acusação de espionagem
industrial pelas semelhanças que o carro passou a ter com o modelo RB18 da Red
Bull, ainda mais porque alguns de seus engenheiros tinham sido contratados da
equipe dos energéticos, daí a acusação de terem usado dados que teriam sido “roubados”
por estes profissionais, o que conseguiram provar que não era verdade,
mostrando desenhos de desenvolvimento do carro que já existiam na própria Aston
Martin à época em que tais profissionais foram contratados.
O desempenho do carro melhorou, mas ainda assim, ficou abaixo do que a equipe demonstrou em 2021. Tudo o que o time conseguiu de melhor foram dois 6ºs lugares, um com Sebastian Vettel, e outro com Lance Stroll. O time conseguiu alcançar a pontuação da Alfa Romeo no encerramento da temporada, mas como a escuderia suíça tinha um 5º lugar de Bottas como melhor resultado, ficou à frente na classificação no critério de desempate. Stroll, pelo segundo ano consecutivo, acabou vencido por Vettel, que disputou duas corridas a menos por ter tido Covid-19 no início da temporada, e após tendo anunciado sua aposentadoria, o tetracampeão pareceu ter recuperado boa parte de sua verve para pilotar, dando o melhor de si para ter uma despedida decente da categoria máxima do automobilismo, o que conseguiu realizar. Stroll, por outro lado, manifestou certa propensão a arrumar algumas confusões na pista, como em Austin, onde se envolveu em um toque com Fernando Alonso e se acidentou feio. Aliás, a Aston Martin que se prepare, pois a chegada do bicampeão ao time em 2023 promete incendiar a escuderia na busca por uma evolução na competição. E se Lance Stroll penou para competir com Vettel, que muitos davam por acabado na F-1, espere só até o canadense se debater com o espanhol na pista e nos boxes... Diante do enorme investimento feito na fábrica e no time, é de se esperar que a performance melhore, e Alonso vai enfatizar essa cobrança mais do que nunca. Resta saber se a escuderia vai conseguir acertar seu rumo, o que fazia com certa maestria em seus tempos de Force India, quando conseguia operar milagres com um orçamento curto. Agora, com recursos sobrando, é preciso recuperar aquela eficiência técnica que poderia assombrar a concorrência se obtivesse o mesmo rendimento.
A Haas claramente
sacrificou a temporada de 2021 para concentrar esforços neste ano. A
justificativa é que o carro de 2020 já era pouco competitivo, e uma vez que o
carro de 2021 seria o último nas regras técnicas vigentes, não seria
compensador investir muitos recursos num projeto de curta duração, já que este
ano entraram em vigor as novas regras, inclusive com a volta do efeito-solo.
Pode-se dizer que a escuderia foi bem-sucedida no seu intento, mas seus planos
acabaram atropelados pela invasão russa à Ucrânia, o que fez com que o time
demitisse Nikita Mazepin, por não poder contar com o patrocínio da empresa do
pai do piloto, a Uralkali, que possuía ligações com o Kremlim, e por tabela,
estava sujeita às sanções econômicas impostas pelos países ocidentais como
represália à invasão russa. Isso fez com que o time perdesse seu principal
apoio financeiro, e consequentemente, limitou severamente as possibilidades de
evolução do modelo VF-22 durante o campeonato, fazendo o time se concentrar
mais em conseguir terminar o ano e seguir adiante na F-1, do que tentando alçar
vôos mais altos na pista.
Se a perda do patrocínio russo foi um problema, por outro lado, a substituição de Mazepin foi um grande golpe de sorte, pois a escuderia repatriou seu antigo piloto, Kevin Magnussen, que se mostrou uma escolha certeira: o dinamarquês, mesmo tendo ficado um ano afastado da F-1, manteve-se em forma competindo nos Estados Unidos, e nem pareceu ter um dia se afastado do time. Kevin aproveitou logo de cara o potencial do novo carro, e conseguiu para a Haas resultados importantíssimos, como um 5º lugar logo na prova do Bahrein, e dois 9ºs lugares até a prova de Ímola. Como não poderia deixar de ser, os demais times foram evoluindo seus carros, e conforme a temporada avançava, bons resultados passaram a escassear. Mesmo assim, Magnussem mostrou o quanto o time precisava de um piloto competente, e sua performance deixou até Mick Schumacher na sobra, com o filho do heptacampeão sofrendo para conseguir acompanhar o ritmo do dinamarquês. Mesmo assim, Mick mostrou evolução, e seu melhor momento ocorreu a meio da temporada, onde conseguiu seus únicos resultados positivos durante o ano, com um 8º e um 6º lugares nas provas da Inglaterra e da Áustria. Infelizmente, Mick não foi além disso, e as batidas com o carro perpetradas pelo piloto, que para azar do time foram várias durante o ano, só serviram para combalir as finanças já débeis do time, que optou por dispensar o jovem Schumacher e promover a volta de outro veterano, Nico Hulkenberg, visando ter melhor garantia de resultados, e menos acidentes, na temporada de 2023. A estratégia da Haas, se por um lado sofreu com o desfalque financeiro da perda do patrocínio russo, o que não lhe permitiu desenvolver a contento seu carro, por outro lado compensou isso com a volta de Magnussem, que certamente conseguiu resultados que jamais seriam possíveis ao time se tivesse permanecido com Mazepin como piloto, evidenciando quão fraco era o russo, e que ele só chegara á F-1 devido ao patrocínio da empresa de seu pai. Visto por esse lado, a temporada foi mais do que positiva para a escuderia. E, sem a pressão forte que recebeu da performance de Magnussen, muito provavelmente Mick Schumacher poderia ter se contentado em apenas ficar à frente do colega russo, e poderia não ter obtido os poucos bons resultados que demonstrou. Talvez não tivesse batido tanto com o carro, tentando melhorar sua performance sob a pressão de resultados que eram obtidos por Magnussen, mas isso é outro assunto. De qualquer forma, apesar de tudo, o 8º lugar obtido nos construtores pela Haas ainda foi um golpe de sorte, já que a Alpha Tauri não teve um bom ano, e a Williams não conseguiu, mais uma vez, sair da rabeira do grid da categoria máxima do automobilismo. Com uma dupla de pilotos mais experiente, vejamos se o time de Gene Haas volta a progredir em 2023.
A Williams, por sua vez, perdeu totalmente a chance de sair do fundo do grid. Se no ano passado o time fundado por Frank Williams deu sorte de ficar à frente da Haas pela postura do time dos Estados Unidos se focar para este ano, dessa vez não houve nada que compensasse. A escuderia perdeu George Russell, devidamente promovido para a Mercedes, e se Alexander Albon foi uma boa escolha para substitui-lo, ainda assim o anglo-tailandês sucumbiu na maioria das vezes à pouca competitividade do carro, em raros momentos conseguindo capitalizar com as circunstâncias, para marcar 4 mirrados pontos e não passar o ano de seu retorno à F-1 em branco. Já Nicholas Latifi, comprovadamente fraco para a F-1, admitiu que não conseguiu se entender com o carro deste ano, tendo sofrido mais para conseguir tirar performance do modelo FW44. O canadense, que finalmente perdeu seu lugar no time, e na F-1 para 2023, só teve um raro momento de satisfação, quando terminou a prova do Japão em um honrado 9º lugar, obtendo seus únicos pontos do ano, mas insuficientes para convencer a direção do time a mantê-lo para o próximo ano, algo que nem mesmo o grande patrocínio trazido pelas empresas de seu milionário progenitor conseguiu mudar desta vez. Para 2023, o time vem com um novo piloto, Logan Sargeant, fazendo dupla com Albon, mas para muitos, a escuderia marcou bobeira ao não garantir a posse de Nyck De Vries, campeão da F-E em 2021, que na etapa da Itália deu um show com o carro do time, tendo de substituir Albon às pressas com um problema de apendicite, e ainda por cima conseguindo pontuar com o bólido, em um incrível 9º lugar, e tendo de se entender com o carro apenas no sábado, já que fizera um treino livre na sexta com a Aston Martin, outra escuderia. O desempenho do holandês mostrou que, apesar de Albon, talvez o time inglês pudesse ter tido melhores resultados se contasse com melhores pilotos, indicando que não foi só o equipamento fraco o culpado pelo mau desempenho em 2022. De Vries acabou fisgado pela Red Bull, que colocará o holandês como titular na Alpha Tauri no próximo ano. Já a Williams, vai novamente para mais um ano tentando sair do fundo do grid, um projeto que o próprio Grupo Dorilton, seu atual proprietário, define como de longo prazo, mas que cada vez mais parece estender esse prazo ainda mais, sem perspectivas de melhora real...
Mas, se a Williams não aproveitou a chance de sair lá de trás, e apesar das melhoras, Alfa Romeo e Haas deram a impressão de que poderiam ter feito mais do que realmente fizeram, e quem tinha boas perspectivas, e deu quase tudo errado? Bem, foi o caso da Alpha Tauri. O time “B” dos energéticos, que tinha feito uma boa temporada em 2021, finalizando o ano em um honroso 6º lugar, e 142 pontos marcados, e até um pódio, despencou este ano. O modelo AT03 não honrou as qualidades de seus antecessores, e Pierre Gasly e Yuki Tsunoda tiveram um ano para esquecer, com o time terminando à frente apenas da Williams no campeonato, com míseros 35 pontos marcados. Com um desempenho instável, o carro também foi pouco fiável, fazendo seus pilotos ficarem a ver navios em várias provas, enquanto em muitas outras, a performance era horrorosa, sem nenhuma chance de marcarem pontos. Diferente da Aston Martin, que ao menos conseguiu reagir, e pontuar com alguma frequência, mesmo que pouco a pouco em cada prova, no time de Faenza nada funcionou direito, e só em alguns raros momentos a situação pareceu engrenar, ou aproveitando os azares alheios. A escuderia precisará repensar seu projeto para o próximo ano, quando terá Nyck De Vries, piloto de grande talento, que precisará de um carro minimamente competitivo para poder mostrar o que sabe.
Quem saiu no lucro,
apesar dos pesares, foi Pierre Gasly, que graças às trapalhadas da Alpine na
gestão de sua dupla de pilotos para 2023, conseguiu garantir um lugar no time
francês, deixando finalmente a tutela da Red Bull, onde não tinha mais para
onde ir, pela implicância de Helmut Marko para com o piloto, e agora poderá
alçar vôos mais altos, pilotando um carro de maior potencial competitivo, se a
Alpine não errar o projeto do próximo ano. Tsunoda conseguiu se manter, tendo
andado até melhor do que Gasly em determinadas provas, mas sem convencer muito
o time, que já prepara alternativas de novos nomes para 2024, se necessário.
E assim, tivemos a análise de todos os times da F-1 neste ano de 2022. Mas a temporada da Fórmula 1, como um todo, teve seus altos e baixos, que deverei dissertar com mais atenção na próxima coluna, encerrando a avaliação da temporada deste ano, na próxima semana. Até lá, então.
Mais uma vez, a Williams não conseguiu deixar o fundo do grid. Já Nicholas Latifi deu adeus à F-1 após três anos defendendo a escuderia de Grove. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário