sexta-feira, 29 de julho de 2022

SEB DÁ ADEUS

Sebastian Vettel, que defendeu a Aston Martin em 2021 e neste ano, anunciou que vai pendurar o capacete no fim do ano.

            A Fórmula 1 chegou a Budapeste para a disputa do Grande Prêmio da Hungria, no tradicional circuito de Hungaroring, na última prova antes das “férias” de agosto, quando a categoria máxima do automobilismo faz uma pequena pausa, e retorna apenas no dia 28 de agosto, com a prova da Bélgica. E o assunto do momento no paddock é o anúncio feito ontem por Sebastian Vettel, de que irá se aposentar ao fim da atual temporada, deixando não apenas a equipe Aston Martin, mas a própria F-1, desfalcando o grid para 2023. E, a julgar por suas palavras, é um adeus a todo o mundo do automobilismo, quando fala que quer se dedicar à família e aos filhos. Com 35 anos, e praticamente 17 temporadas só na F-1, ele acha que sua carreira já deu o que tinha de dar, e vai se dedicar a outros projetos.

            Não deixa de ser uma perda no grid da F-1, que ficará com um campeão a menos no grid no próximo ano, e abre uma vaga que poderia até ser tentadora, não fosse a Aston Martin esbanjar recursos, mas também incompetência em produzir um carro competitivo, curiosamente uma equação inversa de quando o time era a Force India, que vivia com o orçamento contado, mas sabia fazer render o máximo com bons projetos. A falta de competitividade do time certamente pesou na decisão do piloto alemão, que ainda procurava redimir-se na categoria máxima do automobilismo, depois de ter sido praticamente rifado pela Ferrari ainda na primeira metade de 2020, depois de duas temporadas de resultados aquém do que o time italiano desejava. Saudado como redentor do time em sua chegada a Maranello em 2016, Vettel cativou o time italiano, vestindo a camisa da escuderia como poucos. Mas, infelizmente, o piloto acabou vítima da supremacia da Mercedes entre 2014 e 2020, onde teve poucas chances da Ferrari duelar de maneira aberta contra o time alemão. E, com a pressão, e erros cometidos pelo piloto alemão, além de mudanças na organização da Ferrari, fez com que a escuderia perdesse o respeito que deveria ter para com o piloto, que saiu do time pela porta dos fundos, numa tremenda atitude de desrespeito com ele, situação que já havia acontecido com seu antecessor, Fernando Alonso, em 2014.

            Sebastian se despede da F-1 como um de seus maiores nomes. Em 289 GPs disputados, acumulou 53 vitórias, 57 pole-positions, 122 pódios, 38 melhores voltas, 3.076 pontos, e quatro títulos conquistados. Isso deixa Vettel atrás apenas de Lewis Hamilton e Michael Schumacher, os dois heptacampeões da história da F-1; e de Juan Manuel Fangio, o único pentacampeão até aqui. Empatado em número de títulos com o francês Alain Prost, ele fica à frente do “Professor” por ter melhores números nas outras estatísticas. Curiosamente, ao encerrar a temporada deste ano, Sebastian atingirá outra marca invejável: 300 GPs disputados, fechando sua carreira no restrito clube dos pilotos com três centenas de provas em participações.

            Sua estréia ocorreu ainda em 2006, como terceiro piloto da então equipe BMW (que havia comprado a Sauber), tendo participado de cinco sessões de treinos livres no final da temporada daquele ano, tornando-se até então o piloto mais jovem a participar oficial de atividades de um GP de F-1. Sua estréia em corridas foi no GP dos Estados Unidos do ano seguinte, substituindo o lesionado Robert Kubica, que havia se acidentado fortemente no Canadá dias antes, e não pode participar a corrida. Vettel fez bonito, terminando a corrida em 8º lugar, e marcando em sua estréia o seu primeiro ponto na F-1. Mas seria sua única corrida pelo time. Algumas corridas depois, ele assumiria um dos carros da Toro Rosso, em substituição do piloto Scott Speed, terminando a prova da China com um brilhante 4º lugar. Na temporada seguinte ganhou grande destaque ao marcar sua primeira pole-position, no GP da Itália, com a equipe “B” da Red Bull, e ainda por cima, venceu a corrida, disputada sob chuva, mostrando ser um talento diferenciado e com muito mais a mostrar.

Em 2007, a estréia com a BMW Sauber, no GP dos Estados Unidos (acima). No ano seguinte, as primeiras pole e vitória, com a Toro Rosso, no GP da Itália (abaixo).


            E essa chance chegou em 2009, quando foi promovido para a equipe principal, a Red Bull, que conseguiu justamente com ele sua primeira vitória na categoria, novamente na China, onde já tinha dado seu primeiro show dois anos antes. Ele ainda venceria mais 3 provas, e conquistaria o vice-campeonato, perdendo apenas para Jenson Button, da Brawn GP. Extremamente rápido, Sebastian também se notabilizava pelas confusões que arrumava na pista, sendo chamado muitas vezes de “crash kid”, devido aos vários incidentes e batidas que protagonizava. Seu então companheiro da Red Bull, o australiano Mark Webber, era um dos protagonistas da temporada, e favorito ao título, enquanto o jovem alemão era quase um azarão para muitos, mas Vettel soube surpreender na reta final da competição, e conquistar o seu primeiro título, e o primeiro campeonato da Red Bull. E isso mudou completamente o seu status na categoria. E ele mostraria isso nos anos seguintes, conquistando mais três títulos consecutivos, alcançando o tetracampeonato com as conquistas de 2010, 2011, 2012, e 2013, e sendo considerado o sucessor de seu conterrâneo Michael Schumacher, de quem foi um grande admirador.

            A mudança de regulamento, dando início à era híbrida atual da F-1, contudo, mudou a relação de forças na competição, com a ascensão da Mercedes, que passaria a dominar a categoria. Com uma Red Bull menos competitiva, Sebastian acabou superado pelo novo companheiro Daniel Ricciardo em 2014, e resolveu mudar de ares, transferindo-se para a Ferrari, que via nele um novo salvador da pátria, após Fernando Alonso fracassar nas conquistas das temporadas de 2010 e 2012. Seu carisma e dedicação ao time conquistou a todos em Maranello e também à exigente torcida italiana, que queria a todo custo um novo título, vivendo a abstinência da última conquista, de 2007, com Kimi Raikkonem, depois dos anos de fartura da “era” Schumacher. Pode-se dizer que Vettel fez o que pôde, mas o time italiano não conseguia manter uma competitividade à altura para desafiar de fato a equipe alemã, que ia empilhando títulos consecutivos e deixando apenas sobras para os concorrentes. Em determinados momentos de 2017 e 2018, com um carro competitivo, Vettel até se tornou um desafiante efetivo à dupla da Mercedes, mas erros tanto da parte da equipe quanto do piloto acabaram por facilitar as conquistas por parte de Lewis Hamilton e da Mercedes mais do que se esperava. E Vettel começou a se perder no time, enfrentando a pressão sufocante de resultados, e a politicagem da escuderia, e a crucificação da torcida ferrarista, iniciando um ostracismo que indicava uma perigosa decadência como piloto, que apenas em raros momentos voltava a mostrar aquele talento indiscutível que fizera dele um tetracampeão mundial, com os questionamentos de que só ganhou devido ao carro da Red Bull cada vez mais frequentes, minando sua credibilidade como piloto vencedor e grande talento da categoria.

Com a Red Bull, o primeiro título (acima) e uma relação praticamente perfeita, resultando em um tetracampeonato. Na Ferrari (abaixo), fez boas apresentações, mas não conseguiu o título que os italianos tanto almejavam.


            A situação se complicou com a chegada de Charles LeClerc à Ferrari em 2019, com o monegasco a mostrar serviço e obter melhores performances e resultados na escuderia, inclusive vencendo mais e terminando o ano à frente do tetracampeão, que parecia não conseguir mais liderar o time como a Ferrari esperava dele. Na etapa de Singapura daquele ano, ele obteria aquela que seria sua última vitória na F-1. Em 2020, outro baque: a Ferrari comunicou ao piloto que ele estava fora dos planos do time para 2021, em uma temporada que começou somente em julho, devido à pandemia da Covid-19. Especulou-se em sua aposentadoria das pistas até o fim do ano, já que seus resultados de pista ficaram muito distantes dos de LeClerc, com Charles a terminar o ano em 8º lugar, com 98 pontos, enquanto Vettel era apenas o 13º, com meros 33 pontos. Mas ele ganhou uma chance para se reerguer e continuar na F-1, quando foi contratado pela Aston Martin, projeto ambicioso do milionário canadense Lawrence Stroll, que trouxe a tradicional marca inglesa de volta à F-1, e com um projeto de torna-la um time vencedor, com Sebastian capitaneando a escuderia na pista. Longe do ambiente carregado e extremamente politizado da Ferrari, era uma grande chance de apagar as más atuações dos tempos recentes, e resgatar sua reputação como grande campeão.

            Em tese, o projeto, por mais audacioso que fosse, era promissor, pois a até então Force India sempre mostrava que o que lhe faltava eram recursos para ser um time vencedor. E a escuderia havia feito uma excelente temporada em 2020, utilizando um carro baseado no modelo vencedor da Mercedes. Infelizmente, tudo deu errado em 2021, com a nova Aston Martin a não conseguir nem metade dos resultados obtidos pela ex-Racing Point de 2020. Mesmo assim, Vettel mostrou um pouco de sua velha categoria, inclusive conquistando um pódio ao chegar em 2º lugar na etapa do Azerbaijão, no que é até agora seu último pódio na competição. Para este ano, com a adoção de um novo regulamento técnico, esperava-se que a Aston Martin aproveitasse a oportunidade para crescer novamente, mas tudo deu ainda mais errado, com o time ocupando a 9ª posição no campeonato, superando apenas a Williams. Hora de parar. O time ainda o queria para 2023, sabe do que ele é capaz, e que se não está melhor na pista, é por culpa mesmo do carro pouco competitivo. Mas Sebastian confessou, e isso não é novidade há tempos, que já não tinha mais o mesmo prazer e satisfação em pilotar. Na verdade, ele já andava incomodado com muitas outras coisas, que para muitos, só serviram para desviar seu foco e tirar sua determinação de pilotar como antes.

Dois momentos distintos de Sebastian Vettel: com Michael Schumacher (acima), no início da década passada, competindo com seu grande ídolo; e no ano passado (abaixo), com Mick Schumacher, filho de Michael, a quem passou a dar apoio.


            Coisas como defesa do meio ambiente, combate ao racismo, defesa dos direitos da comunidade LBGT, direitos humanos, e um monte de coisas que muita gente considera “dispensável”, e coisa de “lacrador”. Nada mais irreal. Sebastian apenas se deu conta de como muita coisa anda errada neste mundo em que vivemos, e da posição de destaque no esporte, passou a usar isso para chamar atenção e reflexão para estes assuntos, chegando até mesmo a ser criticado por algumas autoridades e cartolas, o que só demonstra como ele estava certo, e ainda está, em defender tais posições. Chegou a questionar até mesmo a existência da F-1 e sua importância para o mundo. Deixou de ser um garoto despreocupado para se tornar um homem sério, e engajado em tentar fazer do mundo um lugar melhor, deixar um legado para o futuro, para as gerações que certamente precisarão lidar com as consequências das atitudes levianas que a humanidade comete em sua vivência atual neste planeta, e que parece ignorar os riscos que vem desencadeando no mundo em que existimos. E, acima de tudo, tornou-se um piloto mais aberto, receptivo, desencanado para alguns. Nunca fez questão de ter redes sociais, algo em que boa parte do planeta parece viver “viciada” hoje em dia, dando mais valor a fake news do que a questões reais.

            De minha parte, não queria vê-lo se despedir tão já. Talvez, mais dois anos, e quem sabe, a chance de fazer a Aston Martin realmente vencedora, tendo novamente a chance de subir ao degrau mais alto do pódio, e calar todos aqueles que o defenestraram injustamente. Sair um pouco mais redimido como piloto, até por satisfação pessoal. Sua ausência fará muita falta no paddock e no grid. Mas ele tem todo o direito de querer se dedicar à sua família. Tem condições de sobra para nunca mais se preocupar em ganhar dinheiro, e com isso, viver como um pai decente e dedicado à esposa e aos filhos, os quais quer não apenas ver crescer, mas estar lá para ajudar, educar, instruir, acompanhar seus crescimentos, etc, e muitas outras coisas importantes, mas que muita gente renega ou ignora hoje em dia.

            Todo adeus costuma ser um pouco triste, alguns mais do que outros. O adeus de “Seb” certamente é um daqueles que vamos sentir bastante...

 

 

A Indycar acelera novamente neste final de semana, com a segunda prova no circuito misto de Indianápolis na temporada. O campeonato entra em sua reta final, faltando cinco provas para o término da temporada, começando pela corrida deste sábado, que terá transmissão ao vivo pela TV Cultura, ESPN4, e Star+. Marcus Ericsson viu sua vantagem na classificação diminuir perigosamente com o resultado da rodada dupla de Iowa, no fim de semana passado, e pode ter sua liderança do campeonato em alto risco, a depender do resultado da corrida de amanhã, sendo a maior ameaça a dupla da Penske, Will Power, e Josef Newgarden. Power foi 2º colocado nas duas provas do pequeno oval de Iowa, enquanto Newgarden só não venceu as duas corridas porque uma quebra de amortecedor traseiro o fez sofrer um acidente na corrida de domingo, depois de dominar com facilidade a prova do sábado. Power está apenas 8 pontos atrás do piloto sueco da Ganassi, e vem mantendo uma forte constância na temporada, sendo um forte candidato na luta pelo título. Newgarden, mesmo com o abandono na última corrida, ainda é uma ameaça significativa, pois já venceu 4 corridas na temporada, e a Penske é sempre candidata à vitória nesta temporada, e o norte-americano quer o tricampeonato, tendo sido vice-campeão nos dois últimos anos. Mas ainda temos também Scott Dixon na jogada, que mesmo sem ter uma temporada brilhante até aqui, também mantém uma boa constância, e costuma crescer nas retas finais dos campeonatos. Vencedor da última corrida, Patrício O’Ward, da McLaren, também é uma potencial ameaça, e se seu time manter o nível de performance, vai vir para cima. Ericsson precisa reagir para neutralizar a aproximação dos rivais, e para isso, nada melhor do que voltar a vencer, como fez nas 500 Milhas de Indianápolis deste ano. Mas a parada está sendo dura, e os rivais não vão dar folga. Vamos ver como Marcus vai se sair neste final de semana. Com os rivais se aproximando, não se pode permitir erros nas provas finais. Será que ele vai conseguir?

 

 

A Formula-E disputa neste final de semana a rodada dupla de Londres, novamente no Excel Arena, com seu traçado que mistura parte externa e interna do centro de exposições localizado na capital britânica. Para este ano, o traçado sofreu uma pequena alteração, com a eliminação de uma curva em cotovelo que no ano passado foi pródiga em batidas de carros de alguns competidores, chegando até a obstruir a passagem dos carros. Com a alteração, o traçado passa a ter 2,141 Km de extensão, com 22 curvas. A fim de dificultar o gerenciamento de energia na corrida, a direção da F-E diminuiu a quantidade de força que os pilotos poderão ter disponíveis na transferência da bateria para o trem de força, que era de 52 Kwh, e para as provas londrinas, será de 48 Kwh. Stoffel Vandoorne, da Mercedes, lidera o campeonato, com 11 pontos de vantagem sobre Edoardo Mortara, da Venturi. Mith Evans, da Jaguar, também está no páreo, com 139 pontos, 16 de desvantagem para o belga da Mercedes. Um pouco mais atrás, Jean-Éric Vergne, da Techeetah, ainda tem chances de se intrometer na luta pelo título, mas, com 128 pontos, sua tarefa é mais difícil na busca pelo tricampeonato, sendo que o francês ainda não conseguiu vencer na temporada 2022. Restando 4 provas, não dá para prever quem poderá se dar melhor nesta reta final do campeonato, e tudo pode acontecer. As corridas de sábado e de domingo terão transmissão ao vivo pela Tv Cultura e SporTV3, a partir das 11:00, nos dois dias. Com a realização dessa rodada dupla, restará apenas a etapa de Seul, na Coréia do Sul, programada para os dias 13 e 14 de agosto.

 

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