Max Verstappen X Charles LeClerc: o duelo da primeira metade da temporada 2022 foi marcado pelo domínio do atual campeão do mundo, com a Ferrari tropeçando mais em si mesma do que o time adversário.
O
campeonato da Fórmula 1 de 2022 fechou sua primeira metade com a bandeirada do
Grande Prêmio da Áustria domingo passado. Tivemos 11 corridas, e ainda temos
outras 11 pela frente, e seriam 12, não fosse o cancelamento do GP da Rússia,
devido à invasão deste país à Ucrânia. Tentou-se arrumar uma corrida
substituta, mas no fim, resolveram deixar a temporada em 22 corridas mesmo, e
não 23, como planejado inicialmente, no que equipes e pilotos agradeceram por
ter uma prova a menos. Este ano marcou a introdução de um novo regulamento
técnico, e com exceção das unidades de potência que equipam os bólidos, todo o
restante do carro teve de mudar sua abordagem, com a reintrodução do
efeito-solo, que teve lá seus pontos positivos mas alguns negativos também.
O ponto positivo é que os carros hoje não perdem mais sustentação aerodinâmica como nos últimos anos, quando andam atrás de outro. A turbulência aerodinâmica, que “sujava” o ar, desequilibrando perigosamente o bólido que vinha muito perto atrás, foi eliminada em grande parte, com o efeito-solo ajudando a “prender” o carro ao chão. Isso permitiu aos pilotos andarem literalmente “colados” no carro à frente, na luta por ultrapassagens, que apesar de tudo, não ficaram assim tão fáceis como se poderia imaginar. A operação precisa contar ainda com parte da ajuda da asa móvel, o DRS, em parte das pistas, que dependendo do traçado, ainda são extremamente complicadas para se ultrapassar. Mas, a chance de “grudar” no carro da frente permitiu aos pilotos exercerem mais pressão sobre os concorrentes, que tentam assim induzir o adversário ao erro, tirando sua concentração. A nova configuração aerodinâmica, aliada ao novo modo de construção e tamanho dos pneus, ajudaram a impedir que os compostos superaquecessem quando ficavam muito no vácuo do ar sujo do carro da frente. Os duelos ficaram bem mais possíveis, e em determinados momentos, pudemos ver até vários carros lado a lado, lutando por posições em toda a largura da pista. Este tipo de disputa estava fazendo falta.
O ponto negativo foi que, com o efeito-solo, voltou também um efeito colateral deste recurso aerodinâmico, chamado tecnicamente de porpoising, quando o downforce acaba empurrando demais o carro, a ponto de seu assoalho tocar a pista, e produzir um leve ricochete, com os carros passando a quicarem, alguns mais, outros menos. Mesmo decorrido meia temporada, alguns times, como a Mercedes, não conseguiram eliminar por completo esse problema, sendo que o time germânico, em algumas corridas, sofreu bastante com isso. Como alguns times também chegaram a enfrentar quicadas além do que seria previsto, a FIA resolveu implantar um tipo de controle, que será aplicado a partir da etapa da Bélgica, a fim de resguardar a saúde dos pilotos. Talvez não seja tão necessário, visto que a cada corrida os times têm conseguido entender melhor seus novos carros, e o porpoising parece ficar cada vez mais sob controle, embora não tenha sido eliminado. Mas a implantação da medida, como seria de se esperar, joga novamente a FIA na polêmica de alterar regras com o campeonato em jogo, e isso ainda vai dar o que falar.
Em termos de competitividade, os resultados foram variados. Se no pelotão intermediário tudo ficou bem misturado, na dianteira, infelizmente a categoria não conseguiu melhorar como se esperava. A Red Bull conseguiu manter o seu nível de performance, e a Ferrari, que já se sabia estar concentrando forças para este ano, confirmou suas previsões e desde o início passou a ser o carro a ser batido, ainda que por uma margem pequena. Mas a multicampeã Mercedes, por outro lado, errou no projeto de seu novo carro, que iniciou o ano devendo até para alguns times do pelotão intermediário, e sofrendo para conseguir chegar ao pódio, o que geralmente só acontecia quando algum piloto do duo Red Bull-Ferrari ficava pelo caminho ou tinha problemas durante a corrida.
Vimos um duelo aparentemente equilibrado entre Ferrari e Red Bull nas primeiras corridas, com o time italiano mostrando ter recuperado toda a sua forma, e estando novamente na luta por vitórias, e pelo título, mas sem poder baixar a guarda, com uma Red Bull que, apesar de ter problemas com a confiabilidade do seu carro, estava ali à espreita, e pronta para abocanhar qualquer oportunidade. E as chances surgiram, com a melhora do modelo RB18, que passou a estar mais à altura do SF-75 de Maranello. E com Max Verstappen mostrando uma pilotagem sem erros, enquanto a Ferrari, por sua vez, passou a cometer erros, e sofrer com a fiabilidade de seu equipamento. O atual campeão mundial aproveitou, e com 11 provas disputadas até aqui, já averbou 6 vitórias, tendo dois abandonos. Charles LeClerc, o favorito inicial da temporada, também sofreu duas quebras que complicaram sua situação, mas em pelo menos duas provas a Ferrari errou na estratégia de corrida do monegasco, que o deixou fora do pódio, e que permitiram ao holandês da Red Bull praticamente disparar na classificação. Apesar da revanche da Ferrari, que venceu as duas últimas corridas, ainda há muito terreno a ser recuperado. Verstappen tem confortáveis 38 pontos de vantagem para LeClerc, e no mundial de construtores, a vantagem do time dos energéticos sobre a escuderia rossa é ainda maior: 56 pontos. Nada que não possa ser recuperado, mas não vai ser fácil. Se LeClerc está se firmando como principal adversário de Verstappen no ano, Sergio Perez faz ótima temporada na Red Bull, tendo conseguido até vencer corrida, e ocupa a 3ª posição no campeonato, à frente de Carlos Sainz, que teve lá seus azares no ano, como a quebra de seu motor na Áustria domingo passado, quando poderia empatar com o mexicano na pontuação, e ajudar seu time a diminuir ainda mais a desvantagem para a Red Bull no mundial de construtores.
A Red Bull está em ligeira vantagem de resultados no momento, mas o time austríaco não está exatamente tranquilo: a confiabilidade do carro, apesar de ter melhorado, ainda apronta algumas surpresas com seus pilotos. Já a Ferrari, que parece ter readquirido a força do início do ano, também passou a ter sustos com a fiabilidade do equipamento, em grau ligeiramente maior do que o time rival. O desempenho entre ambas parece variar um pouco, dependendo do tipo de pista, sendo impossível afirmar quem está exatamente em vantagem técnica no momento. O duelo deve se estender até a prova final, se LeClerc conseguir diminuir a grande vantagem de pontuação de Verstappen, que obviamente vai tentar marcar todos os pontos que puder, minimizando o prejuízo quando não estiver com condições de vencer. A Ferrari precisa de um dia de azar do holandês para encostar de vez e reequilibrar a disputa nos pontos, mas não pode ficar refém dessa necessidade, e precisa partir para a briga com tudo o que puder.
Lewis Hamilton teve uma primeira metade de temporada complicada, tendo sido superado por George Russell na maioria dos GPs.
Enquanto
isso, a Mercedes tenta se recuperar na competição, e fez bons progressos, a
ponto de se firmar como 3ª força, superando os demais times, mas sem conseguir
desafiar abertamente o dueto Ferrari-Red Bull, embora tenha chegado mais perto
do que estava nas primeiras corridas do ano. O ponto forte do time alemão tem sido
a confiabilidade, tendo sua dupla de pilotos sempre chegado ao final das
corridas, com especial destaque para George Russell, que com exceção da prova
de Silverstone pontuou no TOP-5 em todas as corridas. Lewis Hamilton titubeou
um pouco em algumas provas, e teve azar em outras, mas vem se recuperando nas
últimas corridas, tendo subido ao pódio nos últimos 3 GPs, e diminuindo sua
desvantagem para o novo companheiro de equipe, que está 19 pontos à frente do
heptacampeão. O time ainda enfrenta um déficit de performance para chegar mais
perto de Ferrari e Red Bull, que em condições normais ainda estão à frente do
time multicampeão, mas há otimismo em conseguir melhorar, e voltar ao menos a
disputar vitórias nas corridas ainda este ano. Com uma melhora de performance,
e um pouco de sorte, pode acontecer, e em um cenário mais esperançoso, pode até
se intrometer na briga com os dois times, ajudando a embaralhar a disputa, e
tornar a luta pelas vitórias nas corridas mais renhida.
No pelotão que vem a seguir, a mistura de forças é mais parelha. Se por um lado Alfa Romeo e Haas conseguiram evoluir seus carros significativamente em relação ao que tinham em 2021, por outro lado, times como McLaren, Alpha Tauri, e Aston Martin, não avançaram como pretendiam, muito pelo contrário, até mesmo regrediram. E a Williams, que poderia ter aproveitado a chance para tentar um recomeço com o novo regulamento, ainda está empacada lá atrás, sendo o único time que ainda tem um piloto (Nicholas Latifi) sem pontos no campeonato até aqui. A Alpine, por outro lado, manteve sua posição, não caindo, mas também não melhorando tanto como se esperava.
O time de Woking está num duelo particular com a Alpine, que neste momento parece ter maior vigor, e capacidade para assumir a 4ª posição no campeonato, enquanto a McLaren continua contar mais com Lando Norris do que com Daniel Ricciardo, uma vez que o australiano faz campanha até mais decepcionante do que a do ano passado, sofrendo mais com a menor competitividade do MCL36 do que seu parceiro de time inglês. Pelo seu lado, o time francês só não deslancha de vez porque Fernando Alonso teve uma primeira metade recheada de azares e infortúnios, enquanto Esteban Ocón responde pelos melhores resultados do time em corrida, com o espanhol destacando-se mais nas classificações. Alpha Tauri e Aston Martin andaram para trás, ajudando a afundar suas duplas de pilotos, com o time esmeralda chegando a cair no Q1 nas últimas provas. Alfa Romeo e Haas agradecem e mostraram ter aproveitado a chance da mudança de regulamento para terem suas melhores temporadas em anos recentes.
Este pelotão tem tido bons duelos, com performances oscilantes entre as equipes, que ora vão melhor, ora vão pior em determinadas provas. Poderia empolgar mais se eles conseguissem chegar um pouco mais à frente, mas essa turma começa a ficar para trás até mesmo da Mercedes, que por sua vez, não conseguiu chegar ainda nas duas equipes da frente. Mas, quem sabe, possam melhorar a disputa na segunda metade da temporada... Na frente, tudo indica que o duelo deve seguir firme e forte. A Ferrari pode estar melhor agora, mas tem muito o que correr atrás do prejuízo, e a Red Bull não vai largar o osso assim tão fácil... Vamos ter muitas disputas até o fim do ano, com certeza.
A Formula-E acelera novamente neste final de semana, com uma rodada dupla em Nova Iorque, no conhecido traçado montado no bairro do Brooklyn, iniciando a fase final da temporada de 2022, que ainda passará pela rodada dupla em Londres, e pela cidade de Seul, na Coréia do Sul, que fará sua estréia na competição, com a rodada final de encerramento do campeonato. A disputa pelo título se afunila entre quatro pilotos: Edoardo Mortara, da Venturi; Jean-Éric Vergne, da Techeetah; Stoffel Vandoorne, da Mercedes; e Mith Evans, da Jaguar. Com a vitória na prova de Marrakesh, Mortara assumiu a liderança da competição, enquanto Vergne ocupa a 2ª colocação, enquanto Vandoorne caiu para o 3º lugar, estando com Evan colado nele na pontuação. Destes quatro, quem não venceu no ano até aqui foi justamente o bicampeão da Techeetah, que se mantém na disputa graças uma extraordinária constância de resultados, tendo batido na trave em alguns momentos, e muito disposto a voltar ao degrau mais alto do pódio, até mesmo porque, entrando na reta final da disputa, é preciso partir para o ataque e vencer corridas, se quiser de fato conquistar o título. A disputa deve ser dura já desde os treinos, já que o traçado da prova é de difícil ultrapassagem, contando com uma extensão de 2,32 Km, mas com 14 curvas, e trechos de reta muito curtos, sendo crucial largar nas primeiras posições visando obter um bom resultado na prova. As duas corridas, neste sábado e domingo, tem início às 14 horas, com transmissão ao vivo da TV Cultura, e pelo SporTV3, com ambos iniciando suas transmissões a partir das 13:45 Hrs.
Na pista, os brasileiros no grid da F-E tentam melhorar suas posições no campeonato. Ocupando apenas a 8ª posição, Lucas Di Grassi está longe da luta pelo título, mas quer terminar o ano com alguma satisfação, até porque seu companheiro de equipe lidera o campeonato, tendo vencido três corridas, enquanto Di Grassi não conseguiu disputar de fato a vitória em nenhuma prova. Já Sergio Sette Câmara quer sair da incômoda posição de ser o único piloto do grid, ao lado de seu companheiro de equipe, a não ter conseguido marcar um ponto sequer na temporada até aqui, e com poucas perspectivas de conseguir seu objetivo, dado o fraco ritmo de corrida que a Dragon tem demonstrado até aqui. Ambos os pilotos estão com suas situações indefinidas para a próxima temporada, onde certamente deverão defender novos times em busca de melhores condições de competição e resultados, mas até o presente momento, ainda não divulgaram nada a respeito de suas posições para a temporada de 2023.
Depois de dois anos de ausência, a Indycar está de volta ao Canadá, para a disputa do GP de Toronto, em circuito montado nas ruas da cidade, junto ao Exhibition Place. A pandemia da Covid-19 inviabilizou a realização da corrida em 2020 e também em 2021, apesar do início da vacinação contra o coronavírus. E o clima festivo do retorno da categoria de monopostos dos Estados Unidos à metrópole canadense contrasta com o clima tenso envolvendo dois dos principais times do grid. Na Andretti Autosport, vimos seus pilotos literalmente batendo entre si na última corrida, em Mid-Ohio, o que gerou disputas fraticidas entre eles, arruinando as chances de bons resultados na etapa, precisando de uma reunião de Michael Andretti com seus pilotos para tentar apaziguar os ânimos e cobrar maior esforço em evitar batidas e enroscos na pista, ainda mais contra os próprios colegas de time. Enquanto isso, na Ganassi, o ambiente está pesado envolvendo o anúncio de Álex Palou, o atual campeão da categoria, de ir para a McLaren no próximo ano, logo depois do time ter anunciado a sua opção de manter o piloto espanhol para 2023, sendo desmentidos logo em seguida por Palou, que confirmou sua ida para o time de Woking, sem ter dado satisfações do acordo com a direção de sua atual escuderia, o que irritou bastante Chip Ganassi, que por pouco não rifou Álex do time já neste final de semana, tendo chegado até mesmo a contatar o brasileiro Tony Kanaan para ocupar o carro Nº 10 da escuderia. Palou deve seguir na equipe até o fim do ano, tendo seu contrato sendo cumprido, mas o clima no time não é dos melhores, e pode rolar novos desdobramentos deste caso. Campeão da temporada de 2021, em seu primeiro ano na Ganassi, Álex Palou vem lutando pelo bicampeonato este ano, ocupando no momento a 4ª colocação no campeonato. Curiosamente, a McLaren não confirmou se o piloto espanhol defenderá seu time na Indycar em 2023, dando a suspeita de que ele pode vir a substituir Daniel Ricciardo na equipe de F-1, devido à falta de resultados do australiano até aqui. A corrida terá transmissão ao vivo a partir das 16 horas, pela TV Cultura, pelo canal ESPN4, e pelo sistema de streaming Star+.
Toronto está de volta ao calendário da Indycar como única prova fora dos Estados Unidos no calendário da competição. |
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