sexta-feira, 8 de julho de 2022

PARCERIA RENOVADA

A F-1 segue firme na Bandeirantes por mais três anos, até 2025.

            Isso já foi noticiado há algumas semanas, mas não tive tempo de dissertar apropriadamente sobre o assunto: a Bandeirantes renovou seu acordo de transmissão com a Liberty Media, e continuará a exibir a F-1 em 2023. Mais, o acordo é válido por três anos, o que significa que as temporadas de 2024 e 2025 continuarão na emissora paulista, de modo que novas mudanças só poderão ocorrer a partir de 2026.

            Até o anúncio da renovação, ficou-se na expectativa do que poderia ocorrer. Afinal, a Globo, que optou pela não-renovação do contrato para transmitir a categoria máxima do automobilismo no ano passado, teria ficado descontente ao ver que os índices de audiência conquistados pela Bandeirantes na temporada passada, que se não chegaram a superar os índices da emissora carioca, frequentemente a catapultavam para a vice-liderança em vários momentos, e poderia iniciar um plano de retomar os direitos de transmissão, como fizera no início dos anos 1980, quando a F-1 foi parar na Bandeirantes, e com as primeiras vitórias de Nélson Piquet na competição, pegou de volta a transmissão em 1981, onde ficou até 2020. Uma possibilidade nada desprezível. Afinal, a emissora carioca conseguiu retomar os direitos de transmissão da Copa Libertadores da América, que estavam com o SBT há algum tempo. Poderia muito bem acontecer o mesmo com a categoria máxima do automobilismo.

            E o SBT, inconformado com a perda da Libertadores, teria entrado também na disputa pelos direitos, aumentando a concorrência para 2023. Na percepção de muitos, a Bandeirantes estaria em posição inferior, em termos financeiros, para superar eventuais propostas de SBT, e principalmente, Globo, podendo perder os direitos do campeonato. Pipocaram conversas de que a Liberty Media estaria insatisfeita com os índices de audiência do Grupo Bandeirantes, e que uma renovação de contrato teria de ser feita em novos valores, uma vez que a empresa, fortemente impactada pelos prejuízos decorrentes da pandemia da Covid-19, estaria precisando reforçar o caixa com urgência, e por isso mesmo, todos os contratos em renovação estariam com suas propostas sendo refeitas, e com os valores sendo majorados, como forma de recuperar as perdas sofridas nos dois últimos anos.

            Não há como negar que os argumentos eram lógicos, mas todos eles pareciam ignorar o que de fato a Liberty Media estava achando da parceria firmada no ano passado com o Grupo Bandeirantes. E a renovação, agora por três anos, confirma que, fofocas à parte, a empresa americana está satisfeita com os resultados, afinal, renovaram por um prazo até maior, e quem apostava na mudança da F-1 para outra emissora, ou até o seu retorno à Globo, quebrou a cara. Inclusive, vi algumas pessoas em discussões on-line que o retorno da categoria à emissora carioca era algo completamente inevitável, e que a Liberty Media já tinha até acertado tal volta. Bem, boatos que não se confirmaram. E, a bem ou mal, posso dizer que a F-1 está em boas mãos.

            Muitos utilizaram o argumento do retorno da Libertadores à Globo como base para a volta também da F-1 à emissora, justificando que o poderio econômico da TV carioca seria contundente para a concretização do negócio, e que a Bandeirantes nada poderia fazer a respeito. Bem, a situação do campeonato de futebol é completamente diferente da F-1. No caso da Libertadores, o SBT estava fazendo uma transmissão bem básica, sem investir em nada além de mostrar os jogos, e os detentores do campeonato queriam um tratamento melhor para a competição, algo que não estava nos planos da emissora de Silvio Santos, que se renovasse, continuaria apresentando os jogos, e apenas isso. A Globo, por outro lado, se empenhou em dar mais destaque à competição, seja no canal aberto, seja no canal por assinatura, e isso, além do fator financeiro, acabou sendo uma das justificativas para a não-renovação dos direitos de transmissão, que voltaram para a Globo, após alguns anos. E dá para entender os motivos, querendo que o campeonato tivesse mais destaque na programação.

            No caso da F-1, a situação é totalmente inversa: em seus últimos anos transmitindo a categoria máxima do automobilismo, a Globo fez uma transmissão bem básica, mostrando todos os treinos e classificações em seus canais do SporTV, e a corrida no canal aberto, se bem que, quando as corridas conflitavam com o futebol, a emissora não fazia a menor cerimônia em jogar tudo para o canal fechado. Começar a transmissão em cima da hora, e mais recentemente, encerrar tudo logo após a bandeirada, sem sequer apresentar a cerimônia de premiação no pódio, pesaram contra a Globo na Liberty Media, que também entrou em atrito em relação à questão do uso do streaming oficial da categoria em nosso país, onde a Globo firmava o pé valendo-se das condições do seu contrato, que lhe dava a exclusividade. Quando chegou a hora de renovar o contrato, claro que as exigências de melhorar a transmissão da competição, além do lance do streaming, não agradaram à emissora, que resolveu não renovar o contrato, alegando priorizar outras competições. Se a idéia era jogar com o fato de ser a maior emissora do país, e ter uma audiência quase inquestionável em todas as faixas de programação, e com isso deixar a Liberty sem melhores opções, a Globo quebrou a cara, e fomos surpreendidos quando a Bandeirantes anunciou que seria a nova emissora da F-1 no Brasil, sem mencionar que os fãs e torcedores nacionais enfim teriam acesso ao aplicativo oficial de streaming da categoria.

            E a Bandeirantes fez bonito em seu primeiro ano de transmissão, e num golpe de sorte do destino, ainda viu a F-1 ter o campeonato mais disputado dos últimos tempos, com o campeão sendo decidido apenas na etapa final. Apesar de boa parte do time de transmissão ser egresso da Globo, isso trouxe a experiência de anos destes profissionais para a nova emissora, que soube dar maior valor à categoria do que a Globo jamais havia dado na última década. Embora o esquema de transmissão fosse basicamente bem parecido, com treinos e classificação no canal pago Bandsports, e as corridas na TV aberta, logo o grupo colocou também a classificação em canal aberto onde era possível, e mais do que isso, começou as transmissões com antecedência em todas as provas, assim como mostrando novamente o pódio para os torcedores, além de análises e reportagens sobre a categoria em si, oferecendo um espaço adicional que vinha sendo cada vez mais raro na Globo. E a própria equipe de transmissão, apesar de ser quase a mesma, mostrou ter muito mais liberdade e descontração em tela do que em seus períodos globais. Uma lufada de ar fresco que ajudou e muito a dar um pouco mais de entusiasmo e engajamento na cobertura, o que estava sendo bastante “engessado” na emissora carioca. E todos saíram ganhando, especialmente os torcedores.

Max Wilson, Reginaldo Leme, Sergio Mauricio, e Felipe Giaffone comandam as transmissões da F-1 no estúdio da Bandeirantes (acima), com Mariana Becker direto dos autódromos (abaixo).


            A audiência pode não ser a mesma dos tempos da Globo, mas tem sido muito mais qualificada, acompanhada atentamente por quem é mesmo fã da categoria máxima do automobilismo, e comparações à parte, os índices de audiência foram muito vantajosos para o que a Bandeirantes conseguia até então. Na maioria das vezes, a emissora chegou até a vice-liderança, um grande feito, e em certos momentos, quase atingindo a liderança. E tudo isso foi acompanhado pela Liberty Media. Para este ano, o esquema foi mantido, e em tese, tem tudo para continuar melhorando os índices, à medida que mais torcedores voltem a acompanhar, se bem que agora há também a opção de acompanhar pelo streaming oficial, que oferece a mesma transmissão da Bandeirantes, mas também oferece a opção em outros idiomas, para quem não tem problema em acompanhar a categoria em outras línguas.

            Claro, há pontos que podem ser melhorados. O pessoal por vezes acha que Sergio Mauricio apelida demais os pilotos, e em certos momentos, fala mais como torcedor do que narrador, sendo esta última crítica também dirigida a Reginaldo Leme, que para alguns, tem falado muita besteira, e esquecendo-se de sua função. De fato, não dá para agradar a todos, mas com o espaço que a F-1 tem tido na Bandeirantes, as possibilidades de se aparar as arestas e aprimorar a transmissão são muito maiores do que poderia ter em um retorno à Globo, onde tais condições de trabalho ainda seriam muito incertas. A Liberty apostou na estabilidade, e até prova em contrário, não está errada em deixar a Bandeirantes seguir adiante na transmissão do campeonato. Mas, ao mesmo tempo em que dá seu voto de confiança à emissora, que seguirá com a F-1 até 2025, por outro lado, a Bandeirantes não pode se acomodar com isso, e deixar a qualidade do trabalho decair. Que saiba ouvir as críticas dos fãs e torcedores, e esteja atenta ao que pode fazer para atender aos desejos deles, e saber corrigir eventuais erros que venha a cometer. O fato de se esforçarem para oferecer o melhor na transmissão deve ser valorizado, exigido, e incentivado cada vez mais.

            É preciso manter o nível, e nunca deixar de fazer tudo o que puderem para melhorar sempre. Que tenhamos esta sorte, e fãs e torcedores possam continuar a acompanhar o bom trabalho realizado até aqui, e no mínimo até 2025. E quem sabe, por muito mais tempo ainda...

 

 

O GP da Inglaterra foi a melhor corrida da temporada até agora, e tivemos dois momentos-chave que foram marcantes na corrida. O primeiro, obviamente, foi o acidente sofrido por Guanyu Zhou logo na largada, onde foi tocado por George Russell, e acabou capotando sua Alfa Romeo, que se arrastou por dezenas de metros, de ponta cabeça, até sofrer outra capotagem e voar por cima da proteção de pneus, ficando com o carro entalado entre a tela de proteção e o suporte interno de guard-rail da barreira de pneus, o que ajudou a dificultar o resgate do chinês, e deixou todo mundo na expectativa por mais de meia hora no autódromo, e entre os expectadores mundo afora. Felizmente, o halo cumpriu com sua obrigação de proteger a cabeça do piloto, objetivo já visto recentemente em outros acidentes do tipo, que comprovaram a efetividade da sua adoção para aumentar a segurança dos pilotos de monopostos. Neste caso, ainda mais importante porque o santoantonio, a peça do cockpit que fica acima da cabeça do piloto, praticamente se desintegrou no arrasto do carro junto ao asfalto da área de escape enquanto o bólido escapava rumo à barreira de pneus. O topo da peça, que deveria ser extremamente forte, sumiu por completo, e não fosse pela presença do halo, a cabeça de Zhou teria ficado exposta, levando o impacto do arrasto do carro no chão. O próprio Guanyu declara que só foi salvo pela presença do halo, e ele escapou praticamente ileso, passando pelo centro médico por medidas de rotina e precaução em acidentes deste tipo. O outro momento decisivo foi quando o carro de Esteban Ocón quebrou, com o piloto parando na antiga reta dos boxes, e obrigando a entrada do Safety Car, o que fez com que vários pilotos corressem para o box para trocar para pneus macios, o que fez com a prova tivesse outra dinâmica nas cerca de 10 voltas que faltavam para encerrar a corrida, com muita briga entre os pilotos, com Carlos Sainz Jr. obtendo sua primeira vitória na carreira na F-1, e levando a Ferrari de volta ao topo do pódio, depois das derrotas recentes para a Red Bull nas últimas corridas da atual temporada.

Susto logo na largada em Silverstone: tocado por George Russell, Guanyo Zhou capota, com o carro ralando de cabeça para baixo no asfalto (acima), e capotando de novo por cima dos pneus e ficando preso atrás da barreira de proteção (abaixo).


 

 

Só que a Ferrari marcou bobeira na bandeira amarela, não chamando Charles LeClerc, que liderava a prova, para trocar os pneus, alegando que não haveria tempo hábil para fazer a troca de pneus de seus dois pilotos. Isso acabou com as chances do monegasco, porque quando a pista foi liberada, Carlos Sainz foi pra cima do companheiro de equipe e assumiu a liderança da corrida. Charles resistiu o quanto pôde com seus pneus duros já desgastados, mas acabou superado por Sergio Pérez, que foi muito beneficiado pela bandeira amarela, já que precisou trocar o bico do seu carro no início da prova e tinha caído para as últimas posições; e Lewis Hamilton, que na sua melhor corrida do ano, beliscou mais um pódio, mostrando que a Mercedes parece ter encontrado um certo rumo no desenvolvimento do seu ainda complicado chassi W13. LeClerc acabou terminando em 4º, e os ânimos do piloto ficaram um pouco exaltados, numa conversa com Mattia Binotto. Nessa manobra, a Ferrari perdeu as chances de fazer uma dobradinha, e apesar do resultado positivo com a vitória de Sainz, que venceu pela primeira vez depois de marcar também sua primeira pole na carreira na F-1, ficou devendo em relação ao que poderia ter conseguido, especialmente em um dia onde a Red Bull teve um pouco de azar, mas ainda saindo de Silverstone com muita vantagem na pontuação sobre os rivais. E neste final de semana o duelo é na “casa” do time dos energéticos, o Red Bull Ring, em Zeltweg, na Áustria, com direito a mais uma corrida Sprint, onde Max Verstappen sai na frente neste sábado, tendo como objetivo ficar invicto no final de semana e voltar a mandar na corrida, planos que obviamente a Ferrari pretende não deixar ficar assim... E é bom que eles reajam, sob o risco de ficar apenas vendo a poeira do holandês...

 

Carlos Sainz Jr. marcou sua primeira pole na F-1, e obteve também sua primeira vitória na categoria.

 

E a FIA cedeu à pressão das equipes, e aumentou o teto orçamentário da F-1 para a atual temporada, que estava limitado a US$ 140 milhões, e que passa a ser de aproximadamente US$ 145 milhões. A entidade resolveu acatar a justificativa da maioria dos times, onde a inflação dos custos, em disparada após a invasão russa à Ucrânia, foi um fator inesperado que prejudicou o planejamento financeiro das escuderias para a competição do ano, sendo que alguns deles até falavam de não poder cumprir todo o campeonato, para não extrapolar o teto de gastos imposto, cujo valor havia sido definido no ano passado, quando não se imaginava que a manobra tresloucada de Vladimir Putin poderia resultar em impactos na economia mundial ao ponto que vem sendo visto. Após a decisão, a FIA declarou que o reajuste ajuda a preservar a integridade financeira do regulamento da categoria.

 

 

Outro recuo da FIA foi em relação ao controle mais restrito do porpoising, que será avaliado segundo uma fórmula de cálculo divulgada recentemente pela entidade, visando diminuir o fenômeno e dar maior segurança à integridade da saúde dos pilotos. Pela métrica, se o carro continuar sofrendo muito com os quiques, o time deverá providenciar a elevação do carro, a fim de diminuir o problema, podendo até excluir a participação da escuderia no GP, se o problema não foi resolvido adequadamente. Com adoção prevista inicialmente para o GP da França, em Paul Ricard, daqui a duas semanas, a entidade resolveu implantar o controle só depois das férias de meio de ano, no GP da Bélgica, no fim de agosto. A entidade, em conjunto com os times, viu que as escuderias estão fazendo vários esforços para tentar minimizar o problema, e deu mais algum tempo para que todos consigam resolver isso através do desenvolvimento de seus carros, ganhando então as provas da França e da Hungria para tentarem corrigir seus carros em relação ao fenômeno. De fato, parece que os times, aos poucos, vão entendendo um pouco mais como neutralizar, ou minimizar o porpoising, algo que pouco foi notado na Inglaterra, de fato. Mas resta saber como isso se manifesta exatamente, dependendo do tipo de circuito, e ter mais duas provas para analisar o comportamento de seus carros dará aos times maiores dados para tentar lidar com o problema a contento, e assim, evitar uma intervenção mais polêmica por parte da FIA, cuja atitude em relação a este problema está dividindo opiniões no paddock da F-1, a favor e contra. Se os times puderem solucionar de forma mais competente o problema do comportamento de seus carros com relação ao excesso de quiques, tanto melhor, para evitarmos mudanças no regulamento a meio da temporada, algo que nunca pega bem. Ao mesmo tempo, a entidade, junto com os times, pretende usar os dados de medição para ajudar a embasar mudanças nas regras visando eliminar o problema nos projetos dos carros para a próxima temporada.

 

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