quarta-feira, 15 de junho de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1999 – 29.10.1999

            Voltando com mais um de meus antigos textos, aqui está a coluna publicada no dia 29 de outubro de 1999, às vésperas do Grande Prêmio do Japão, que encerrava a temporada de F-1 daquele ano, e onde veríamos a decisão do campeonato – mais uma, depois que a Ferrari havia conseguido reverter sua desclassificação na prova da Malásia. Muitos já davam como perdida a contenda, pois a FIA não costumava reverter desclassificações assim, mas o time italiano conseguiu, e para a competição, era melhor mesmo que tudo se decidisse na pista, e não fora dela. E, a despeito das interpretações de regulamento, nem é preciso dizer que a FIA não aprendeu muito neste aspecto desde aquela época, por vezes ainda tendo artigos em seu regulamento que por vezes suscitam dúvidas e interpretações variadas. Mas, quem sabe ela ainda aprende algum dia...

            De resto, alguns tópicos rápidos sobre o mundo da velocidade. Em um deles, falava sobre o fechamento do time da Hogan na F-CART, e a possibilidade de Hélio Castro Neves ficar sem ter onde correr na categoria no ano seguinte. Quis o destino que o brasileiro ganhasse a chance de sua vida após o trágico acidente de Greg Moore na etapa de Fontana, algum tempo depois. E Hélio mais do que aproveitou a chance, estando até hoje firme na atual Indycar, depois de um tempo no certame da IMSA, tendo firmado um vínculo com a Penske que poucos pilotos poderiam ostentar em seus currículos. Em outro tópico, falei sobre a manutenção da pista de Suzuka como sede do GP do Japão, apesar da Honda ter construído o megacomplexo de Motegi. E felizmente, nunca a F-1 cogitou de trocar Suzuka, ao lado de Nagoya, pelo outro autódromo. Suzuka é uma das melhores pistas do calendário da categoria máxima do automobilismo, e segue firme até hoje, só não tendo sediado provas da categoria máxima do automobilismo nos últimos dois anos por causa da pandemia da Covid-19, mas estará de volta este ano, e com força total, para alegria dos amantes do automobilismo. Portanto, uma boa leitura a todos...

DISPUTA NA PISTA

            Com uma boa argumentação e defesa coerentes, a Ferrari conseguiu o que muitos julgavam impossível: reverteu a sua desclassificação no GP da Malásia e recuperou tudo o que havia perdido nos bastidores naquela prova. Melhor para o campeonato, pois agora iremos ver a disputa ser decidida exatamente onde se deve: na pista. E, mais uma vez, na última etapa do campeonato.

            Desde 1996 que o campeão da Fórmula 1 está sendo conhecido apenas na última etapa do campeonato. Nada mal, pois a F-1 tem se mostrado razoavelmente competitiva e parece estar reencontrando o seu equilíbrio de forças. Este ano foi muito bom neste sentido, pois tivemos até agora 4 times diferentes vencendo corridas, com 6 vencedores diferentes. Até Nurburgring, tínhamos 4 candidatos ao título. Infelizmente, agora restam apenas 2 contendores: Mika Hakkinen, que luta pelo bicampeonato; e Eddie Irvinne, que está próximo de conseguir encerrar o jejum praticamente secular da Ferrari, e ser o primeiro piloto campeão pela escuderia do Cavallino Rampante desde 1979.

            O resultado do Tribunal da FIA no último fim de semana gerou alguns comentários bem incômodos, como os de Ron Dennis e Max Mosley. De fato, ambos não gostaram do resultado, e muita gente que trabalha no meio da F-1 também ficou indignada com o resultado, em virtude da regra da “tolerância permitida”, que poderia dar margem as várias interpretações estapafúrdicas do regulamento da F-1. De certo modo, concordo com as críticas dirigidas sobre o resultado, mas o problema é que o próprio regulamento da FIA deu esta margem, e então, não há nada a ser feito. A FIA saiu arranhada no episódio? Talvez, mas de agora em diante, é bom que a entidade estude melhor seus regulamentos e esclareça bem os critérios de tolerância e outros itens que podem provocar interpretações dúbias em seu sentido. Apesar de a decisão ter sido a certa do ponto de vista regulamentar, pode levar muita gente à conclusão de que a Ferrari é apaniguada pelos cartolas, em virtude de sua força política, e isso pode pegar muito mal para a imagem da categoria máxima do automobilismo.

            Por outro lado, tudo fica melhor quando se decide na pista. E a pista, no caso, é nada menos do que Suzuka, pródiga por ver decisões de título saírem de suas curvas ano após ano. Já é a nova decisão de título no GP do Japão, e a oitava na pista de Suzuka, um circuito que é definitivamente o melhor de todos os autódromos orientais já visitados pela F-1. Apesar da modernidade de Sepang, na Malásia, e da beleza dos circuitos australianos que sediaram e sediam a F-1, Adelaide (até 1995) e Melbourne, a pista de Suzuka simplesmente tem muito mais carisma e personalidade, além de ser muito mais desafiadora que as demais. E o povo japonês simplesmente adora a categoria: só aqui neste circuito é possível ver uma devoção tão grande à F-1, com exceção dos GPs da Itália (onde a paixão pela Ferrari não tem igual) e da Inglaterra, pátria-mãe do automobilismo.

            Mika Hakkinen está em desvantagem em Suzuka: para o finlandês, é vencer ou vencer. É o único resultado que garante a Mika o título de campeão, independentemente do que Irvinne venha a conseguir na pista. A McLaren sempre teve mais jogo de cintura e cabeça fria nas decisões em provas cruciais do que a Ferrari. Por outro lado, a escuderia vermelha vem com a corda toda depois da dobradinha na Malásia, ainda mais por ter recuperado tudo o que conquistou na pista. Michael Schumacher costuma andar bem em Suzuka, mas é aqui que Irvinne costuma se superar, graças à sua experiência no automobilismo japonês. O irlandês se gaba de que poderia pilotar no circuito nipônico que sedia a F-1 até de olhos fechados, tamanha a sua intimidade com o traçado. E este conhecimento pode ser a sua maior arma na luta contra a McLaren. E Eddie terá a ajuda de Schumacher, reconhecidamente o melhor piloto da categoria. E a melhor ajuda que Michael pode dar será vencendo a corrida. Com a vitória, se Hakkinen terminar em 2º lugar, bastará uma 4ª colocação para Irvinne ser o campeão mundial. E aí, nem mesmo David Coulthard poderá ajudar seu companheiro de equipe na disputa, se ficar em 3º lugar.

            A disputa começou hoje na madrugada do Brasil, e tem tudo para ser emocionante. Vamos para decisão, e que ela faça justiça ao campeonato.

 

 

Suzuka está garantida no calendário da F-1 de 2000, já divulgado pela FIA. Havia o rumor de que o GP do Japão poderia ser transferido para Motegi, o megacomplexo automobilístico criado pela Honda, que também é dona do circuito de Suzuka. Mas pista por pista, Suzuka é muito mais interessante e desafiadora do que o traçado misto criado em Motegi. Que Suzuka mantenha-se firme como sede do GP do Japão.

 

 

Hélio Castro Neves pode ficar a pé na temporada do ano que vem da F-CART. A Hogan, equipe do piloto brasileiro, vai fechar as portas. A decisão deve-se à falta de patrocinadores: desde o ano passado que Carl Hogan não consegue arrumar um patrocinador fixo e de monta para sua escuderia. Nesta temporada, mesmo com o bom desempenho de Helinho em diversas etapas, o time não conseguiu atrair nenhum investidor disposto a bancar o time, e Carl Hogan decidiu fechar a escuderia antes de ter maiores prejuízos. O ruim é que, a esta altura, todos os lugares disponíveis para a próxima temporada já estão fechados, e isso deve deixar o piloto brasileiro de fora do campeonato do próximo ano, salvo se aparecer alguma vaga de última hora...

 

 

A partir do próximo ano, a Ganassi vai encarar um novo desafio na F-CART: Chip Ganassi fechou um acordo milionário para utilizar os motores Toyota pelas próximas 3 temporadas, que dizem chegar a US$ 35 milhões. O motor Toyota é reconhecidamente o pior da categoria atualmente. Mesmo nesta temporada, apesar da boa evolução demonstrada pelo propulsor, não foi suficiente para conseguir acompanhar os Honda, Ford e Mercedes. A concorrência é que está comemorando, pois parece que a hegemonia da Ganassi na categoria está com os dias contados. A não ser que a Toyota consiga um milagre na evolução de seus motores, coisa um pouco difícil no automobilismo atualmente, a Ganassi vai ter dias complicados pela frente...

 

 

Um ano depois de pular fora da F-1, agora a Goodyear resolveu abandonar também a F-CART. A empresa americana, que novamente foi massacrada pela rival Firestone, diz que está redirecionando seus esforços para o campeonato da Nascar, a Stock Car americana. Outras razões para o abandono é o aumento dos custos de competição da categoria, que segundo a Goodyear, estavam ficando altos demais e não traziam mais o retorno esperado. Faltou dizer que ficaram devendo em termos de resultados nos últimos anos, e não podem culpar pilotos e times por estes estarem decepcionados com a marca, que raramente conseguiu competir com os Firestone de maneira satisfatória...

 

 

Uma brilhante carreira potencial no automobilismo infelizmente chegou ao fim: o dinamarquês Jason Watt, que se acidentou gravemente em um acidente de moto em Copenhague, capital da Dinamarca, vai ficar paraplégico. Segundo os médicos, a paralisia do piloto é irreversível. Uma notícia lamentável...

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