Voltando com mais um de meus antigos textos, esta é a coluna que foi publicada no dia 5 de novembro de 1999, e relatava a conquista de Mika Hakkinen do bicampeonato, após o finlandês vencer o GP do Japão, prova que encerrava a temporada daquele ano na Fórmula 1, com autoridade, frente a uma Ferrari que pareceu não fazer força para levar o título, que perdeu por pouco, e por culpa própria, não sabendo aproveitar os erros cometidos pela McLaren no ano, e que quase comprometeram Mika na luta por seu segundo título. Hakkinen aproveitou sua chance na corrida final, e redimiu-se parcialmente da temporada menos brilhante do que a do ano anterior, ao menos levando aquele que seria seu último título na categoria máxima do automobilismo, uma vez que a Ferrari iniciaria em 2000 um período de supremacia impressionante, e que daria poucas chances aos concorrentes.
No resto, alguns tópicos rápidos, entre eles a menção ao fatídico acidente que ceifou a vida do canadense Greg Moore na prova de Fontana, na Califórnia, que encerrava a temporada da F-CART, em um ano onde a competição já tinha visto outro piloto perder a vida na pista, e cujas memórias estavam frescas na mente de todos. A fatalidade de Moore viria a ser a salvação da carreira de Hélio Castro Neves, que acabou ocupando o lugar que Greg iria ocupar na Penske a partir do ano seguinte, e lá o brasileiro ficou por duas décadas, tornando-se um dos protagonistas das categorias Indy, e uma das lendas da história das 500 Milhas de Indianápolis. Uma boa leitura para todos, e até breve com mais textos antigos por aqui...
HAKKINEN BICAMPEÃO
E a Ferrari ficou mais um ano na fila. O time de Maranello, depois do show de Sepang, teve uma atuação até discreta no GP que decidiu o mundial deste ano, em Suzuka. Até Michael Schumacher pareceu não estar com aquele ímpeto de luta, tão comum de corridas decisivas, como de costume. O resultado é que a Ferrari perdeu o título de pilotos para a McLaren por míseros 2 pontos. Diante de tão pequena diferença, posso afirmar que não foi a McLaren que ganhou o campeonato, mas a Ferrari que o perdeu.
Antes de comentar isto, devo parabenizar Mika Hakkinen por sua atuação em Suzuka. Suplantado na classificação por Schumacher, o finlandês foi impecável durante a corrida, fazendo uma boa largada e liderando com firmeza e frieza este GP, não dando a mínima chance para os adversários. Foi uma corrida que, em parte, redimiu um pouco o finlandês de todos os erros que ele cometeu este ano. Ainda assim, o bicampeonato de Mika não esteve à altura de seu primeiro título.
Pelo seu lado, a Ferrari perdeu o título justamente pela sua política de preferência absoluta por Michael Schumacher e pela falta de crédito a Eddie Irvinne. Se Michael Schumacher também fizesse o jogo de equipe em Suzuka e deixasse o 2º lugar para o irlandês, Irvinne empataria em pontos com Hakkinen, mas o piloto da McLaren ainda levaria o título por ter mais vitórias. Mas o ponto crucial nisto é o GP da França, onde Irvinne, muito mais rápido que o bicampeão alemão, teve de ceder sua posição a Schumacher. Ocorre que, naquele momento, Ralf Schumacher acabou se aproveitando da brecha de Irvinne ao companheiro de equipe e o ultrapassou também, o que significa que o irlandês perdeu 2 posições e 2 pontos por causa da política preferencial da Ferrari. Foram 2 pontos que poderiam ter dado o título a Irvinne.
Querem mais um exemplo? Logo após o acidente de Michael Schumacher, o descrédito da Ferrari pelo piloto irlandês era grande, a ponto até mesmo de parte do desenvolvimento do carro ter sido protelado, já começando a pensar na temporada de 2000, imaginando que o título deste ano já era algo perdido. Esse atraso no desenvolvimento do carro também foi determinante para retardar a reação da equipe, pois a McLaren sempre teve um carro melhor. Só à altura de Monza a Ferrari parece ter se tocado realmente de que ainda estava na briga, depois dos diversos erros cometidos pela McLaren e seus pilotos. Ainda assim, a cena do time italiano nos boxes de Nurburgring, quando o time arruinou a corrida de Irvinne com um pit stop desastroso não vai deixar a memória de muitos torcedores tão cedo. Com certeza isso impediu Eddie de terminar na zona de pontos, pois ele sempre estava na frente de Hakkinen naquela corrida.
Também pegou mal o volta-não volta de Michael Schumacher, que mais uma vez deixou a forte impressão de que se não é ele a receber os louros da vitória, não interessa ajudar o time. O alemão só voltou ao campeonato nas últimas etapas depois de uma conversa com Luca de Montezemolo. Pelo salário que ganha, nada mais justo exigir do alemão dedicação e fidelidade ao time, e não apenas a si mesmo. Mas espero que a Ferrari tenha aprendido a lição, e no próximo ano o time italiano não discrimine seu segundo piloto. O título de construtores, ganho pela Ferrari neste ano, é um mero paliativo, que não muda em quase nada o panorama em Maranello.
Para a McLaren, fica a recordação de um ano que poderia ter sido muito melhor. Dona novamente do melhor carro, a escuderia não soube utilizar totalmente o seu potencial, do contrário, poderia ter faturado também o título de construtores e o de pilotos até com certa antecedência. Além dos erros de Mika Hakkinen, teve também algumas atuações estabanadas de David Coulthard, que exagerou em algumas disputas e não teve a frieza necessária e a garra para utilizar o excelente carro que tinha nas mãos a contento em outras. Mas a fiabilidade dos carros prateados também não foi lá essas coisas, principalmente no carro do escocês, que andou quebrando mais do que deveria. São lições a serem estudadas para não se cometer o mesmo erro novamente na próxima temporada.
A tragédia voltou a rondar a F-CART no encerramento do campeonato deste ano, em Fontana. O piloto canadense Greg Moore perdeu o controle de seu Reynard logo no início da corrida, capotou e foi bater no muro de proteção com grande violência, seguindo-se uma série de capotagens com o que sobrou do carro. O piloto canadense foi ressuscitado e levado imediatamente para o hospital, mas não resistiu aos graves ferimentos, acabando por falecer. Com isso, tivemos a perda de dois pilotos este ano na categoria: Gonzalo Rodriguez perdeu a vida em um acidente nos treinos para a etapa de Laguna Seca, também na Califórnia. Ao contrário do acidente de Rodriguez, o de Moore foi aterrador, com uma imagem muito forte. Com apenas 24 anos de idade e disputando sua 72ª corrida na categoria, Moore era tido como uma grande promessa do automobilismo canadense, e fazia sua última prova pela equipe Forsythe, tendo já contrato assinado para ser companheiro de Gil de Ferran na equipe Penske em 2000. Um triste fim para uma carreira que prometia muito...
Hélio Castro Neves teve uma péssima notícia em Fontana: está praticamente a pé para a próxima temporada. A Hogan, time do piloto brasileiro, decidiu fechar as portas, sem ter nenhum patrocínio para o próximo ano. A notícia pegou o brasileiro de surpresa, pois haviam planos de Émerson Fittipaldi de se associar a Carl Hogan na propriedade da escuderia e fortalecê-lo para 2000 com o patrocínio de um grupo de empresas brasileiras. Infelizmente, as coisas não correram como era esperado...
Juan Pablo Montoya faturou o título da F-CART 1999, mas passou raspando: o piloto colombiano empatou em número de pontos com o escocês Dario Franchiti, e só levou o título por ter mais vitórias. Mesmo assim, conseguiu dar à Chip Ganassi o seu 4º título consecutivo. Para o ano que vem, a Ganassi vai encarar o novo desafio de correr com os motores Toyota.
Rubens Barrichello visitará a Ferrari na próxima semana, quando irá à sede da escuderia para conhecer seu novo time e moldar o banco para o carro. A Stewart já liberou o piloto brasileiro para os testes da Ferrari em dezembro, e em contrapartida, a Ferrari também já liberou Eddie Irvinne para fazer o mesmo pela equipe inglesa. Este mês, por determinação da FIA, os testes de todas as escuderias estão suspensos.
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