A Rússia invadiu a Ucrânia, e o conflito monopolizou as atenções mundiais. |
E a Fórmula 1 entrou na pista com sua nova geração de carros para a temporada de 2022, e o que deveria ser um momento de júbilo para os fãs do esporte, vendo os novos bólidos da categoria máxima do automobilismo acelerarem fundo na pista de Barcelona, na Catalunha, infelizmente acabou ofuscado pela atitude inconsequente do ditador russo Vladimir Putin que fez o que todo mundo já sabia que faria: invadir a Ucrânia, usando os pretextos mais inverossímeis possíveis, e iniciar a maior escalada militar desde os tempos da Segunda Guerra Mundial na Europa, cujas consequências podem se tornar imprevisíveis, a depender do que acontecerá de agora em diante.
Por mais que tente permanecer distante, a Fórmula 1 infelizmente não ficará alheia às consequências do conflito, e terá de lidar com algumas decisões em virtude dos acontecimentos. O mais óbvio deles, certamente, seria a realização do Grande Prêmio da Rússia, marcado para 25 de setembro, data ainda longe, mas que já passou a ser totalmente inviável de ser realizado, mesmo dependendo de como se dará a escalado do confronto. Aqui, a F-1 agiu rápido, e hoje mesmo já foi comunicado o cancelamento da prova em Sochi, diante das circunstâncias atuais. E já se comenta que a Turquia poderia substituir a prova russa, o que resolveria facilmente o problema da categoria em arrumar uma corrida reserva, e em termos de GP, o circuito de Istambul Park conta muito mais com a simpatia de todo o circo da F-1 do que o traçado da cidade russa. Aliás, por mim, ficaria muito bem se a etapa russa fosse rifada do calendário, já que ela sempre foi um mote de propaganda praticamente escancarada do governo russo, com o autocrata Putin sendo sempre “aclamado” pela direção da F-1 quando a categoria correu por lá.
Um puxa-saquismo promovido, aliás, de cabo a rabo por Bernie Ecclestone, que sempre teve simpatia por autocratas, por achar que democracia pode ser prejudicial nos negócios, admirando a mão de ferro com que essa gente “resolve” seus problemas. Questionado a respeito da invasão promovida por Putin, Ecclestone não deixou de elogiar o autocrata, classificando-o como uma pessoa “honrada”, o que dá uma idéia do apreço pelo líder russo, que de honrado não tem nada... Talvez nunca um GP tenha demonstrado tanto ser uma ferramenta política de um governo como o da Rússia, um panorama que a Arábia Saudita resolveu replicar agora com sua própria etapa no calendário da F-1. Infelizmente, a sede desenfreada pelo dinheiro promove este tipo de atitude, e se isso gerar consequências negativas para a categoria, eles que segurem o pepino que eles próprios arrumaram... Já era assim na era de Bernie Ecclestone, e infelizmente o Liberty Media parece estar seguindo os mesmos preceitos com a mesma sanha gananciosa do velho dirigente...
De parte dos pilotos, Sebastian Vettel declarou que não correria em Sochi, se a corrida acontecesse, tomando partido desde já diante dos acontecimentos. Uma decisão corajosa, eu diria. Mas, conhecendo Sebastian, e de como ele tem tomado atitudes em defesa de várias causas, isso não deveria ser uma surpresa. E até mesmo o atual campeão, Max Verstappen, deu seu repúdio a correr em um país que está em guerra, mostrando que também não estaria no grid nesse GP, caso fosse mantido. Ambos têm meu respeito por tal atitude, e demonstram ter autoridade para tanto, sem ressentirem-se de possíveis consequências negativas que poderiam lhes serem impostas. E, como ícones do esporte a motor, têm o direito de usarem suas posições na defesa de posições em defesa de injustiças que acontecem pelo mundo.
Enquanto isso, a Haas fica numa sinuca de bico. Justo ela, a equipe norte-americana do grid da F-1, está enrolada até o pescoço desde o ano passado com o patrocínio de uma empresa russa, que garante com isso a presença de Nikita Mazepin como piloto titular do time, já que justamente a empresa de seu pai é patrocinadora máster do time, e para alguns, já é quase dona da escuderia, pelo modo como se entregou aos rublos do pai do piloto ano passado, numa tremenda mudança de atitude por parte de Gene Haas, fundador do time. Pelo sim, pelo não, o time foi hoje para a pista sem as cores da bandeira russa na carenagem do carro, bem como qualquer menção ao nome da Uralkali, que, para complicar ainda mais a situação, não apenas é uma empresa russa de renome, mas mais uma das empresas de oligarcas que enriqueceram por suas ligações com o governo russo, leia-se Putin, o que só apimenta ainda mais a situação. A ordem no time hoje foi treinar como de costume, mantendo a preparação da pré-temporada, visando a competição. Mazepin segue como piloto do time, mas, e o que farão a partir de amanhã? Ninguém sabe direito. Ontem, Gunther Steiner acabou afastado das sessões de entrevistas, para não ser questionado a respeito da situação delicada do conflito, e o que isso poderia repercutir na escuderia.
O governo dos Estados Unidos está impondo sanções econômicas a quem tem negócios com as empresas russas, e é claro que Gene Haas não vai querer ter esse abacaxi no seu colo. A questão é que o time é sustentado literalmente pelo patrocínio do pai de Mazepin, e isso pode não apenas comprometer a temporada da escuderia, como sua própria sobrevivência financeira, já que sem grana, não se anda, e mesmo com o teto orçamentário finalmente implantado na F-1, a grana do patrocínio russo fará uma falta tremenda. Já o piloto, Nikita “roleta russa” Mazepin, nem tanto, já que mostrou ser muito fraco, e que se não fosse o seu enorme “paitrocínio”, nem mesmo seria notado no mundo do automobilismo. Isso forçaria o time a procurar outro piloto endinheirado para quebrar o galho das contas a pagar. Oficialmente, o time tem um piloto reserva, o brasileiro Pietro Fittipaldi, que até poderia ser efetivado como substituto, não fosse a escuderia estar numa pindaíba onde o dinheiro é mais necessário que o talento, algo que Pietro tem, mas falha no oferecimento de grana para o time. A escuderia, contudo, afirmou que dinheiro não seria problema, alegando que a permanência de Mazepin como piloto é que seria mais complicada. Bom, se dinheiro não é problema, depois da temporada passada, e visto a falta de capacidade de Nikita no comando de um F-1, já era para o time ter arrumado outro piloto, então... Tem muita gente capacitada por aí procurando um lugar para correr, com currículos muito superiores ao do russo. Só que a imensa maioria não teria uma carteira tão recheada por trás para oferecer à escuderia...
Na pior das hipóteses, caso a dificuldade financeira do time seja mesmo débil, o maior prejuízo para a F-1 seria perder uma escuderia, e ficar com apenas 18 carros no grid, empobrecendo a competição, ainda que a Haas não tenha tido performances atrativas nos últimos anos, andando sempre no fim do grid. Uma solução, entretanto, poderia ser uma parceria com outro grupo dos Estados Unidos, capitaneado por Michael Andretti, que já declarou que pretende ter um time na F-1 em breve. Um desejo, aliás, que foi esnobado pela FIA, como se o desejo da empreitada dos Andretti fosse algo “dispensável” à F-1, que estaria já muito bem com seus 10 times. Uma atitude arrogante que poderia ser facilmente revista caso o risco de ficar com apenas 9 times no grid se tornasse eminente, e que poderia ser acertada com uma possível “parceria” entre Gene Haas e Michael Andretti, com vistas a transformar a escuderia norte-americana de Haas para Andretti. Poderia ser a salvação do time, se a FIA abaixar um pouco o seu queixo empinado e pesar os prós e contras da situação.
A F-1 já cancelou a corrida na Rússia deste ano. A Turquia é candidata a substituir a prova de Sochi. |
Quanto ao conflito, difícil prever o que pode acontecer. E, infelizmente, pelas atitudes de Putin, que rasgou tratados e mentiu com um cinismo assustador para o mundo todo, tentando parecer um agente da paz, e cometendo essa apunhalada no país vizinho, o meio mais rápido de tudo se encerrar seria massacrando o autocrata russo. Esta guerra é um desejo dele, e não do povo russo, que aliás, foi espancado e teve centenas de pessoas presas nas várias manifestações ocorridas na própria Rússia, se posicionando contra essa guerra, com o governo mostrando que não irá tolerar opiniões contrárias a seu discurso oficial. Uma situação delicada, e que pode ser o prenúncio para mais confrontos, a depender de como a Europa e o restante do mundo se posicionarem e que atitudes tomarão a respeito disso. Não que Putin seja santo, mas seus adversários também não são lá flor que se cheire, tendo também suas cotas de culpa pela situação atual... Mas o autocrata russo deu o primeiro tiro, e isso terá consequências sérias. Mas, neste momento, Putin leva vantagem por ser um ditador, e sua palavra é ordem, sendo que quem a contrariar em seu país está encomendando o próprio funeral, enquanto na Europa e na ONU, todos se perdem em discussões e reuniões, a fim de decidirem que atitude tomarão, quando é preciso agir.
E, como já mencionei, se Putin não for esmagado, ou pelo menos fortemente contido, estará dado o recado para outros ditadores de que eles poderão fazer o que quiserem mundo afora. E a China, que há décadas fala em “retomar” Taiwan, que consideram uma “província rebelde”, e não um país independente, não por acaso vem aumentando seu discurso belicoso e autoritário, sob a batuta de Xi Jinping, que assim como Putin, mandou às favas as regras de eleição de líder de sua nação, tornando-se o “ditador” de Pequim. E ele já afirmou que Taiwan “voltará” para ser parte da China, por bem, ou por mal. E se Putin for bem-sucedido em seus planos, não seria difícil Pequim tomar como exemplo, e arrebatar a ilha, que se transformou em uma bem-sucedida democracia, sob seu tacão, não se importando como isso afetaria seu relacionamento para com o resto do mundo, sem mencionar que reproduziria no Oriente todo o stress e instabilidade política que neste momento toma conta dos países do Velho Continente, temerosos do que os russos podem vir a fazer.
É um problema complicado. E vai ser muito mais complicado resolver isso. E vai sobrar para muita gente que nada tem a ver com tal situação, e que não merecia passar por tai sofrimento. Pode ser fácil começar uma guerra... Difícil é conseguir encerrá-la... Depois de vivermos os últimos dois anos sob a ameaça da pandemia da Covid-19, o maior problema sanitário nos últimos 100 anos, agora em 2022 temos esse conflito... Definitivamente, a situação ficou russa mesmo...
A F-1 encerrou hoje a primeira metade da pré-temporada visando o campeonato de 2022. No primeiro dia, a McLaren ficou na frente. Ontem, foi a vez da Ferrari ser a mais rápida. Já hoje, no encerramento dos testes na pista de Barcelona, foi a vez da Mercedes, em dobradinha, ter os melhores tempos ao fim do dia. Ainda é cedo para dizer quem está melhor preparado para o campeonato. Claro, seria muito bom se Ferrari e McLaren fossem de fato tão velozes como parecem ter sido na pista da Catalunha. Em determinado momento, George Russel, estreando como piloto titular da Mercedes, chegou a alegar que os dois times estariam mais velozes que a escuderia alemã. Os melhores tempos obtidos pelos carros prateados hoje podem desmentir um pouco essa afirmação, mas Lewis Hamilton declarou que o time precisou resolver problemas durante as sessões. As escuderias tiveram seus problemas, com quebras, algumas rodadas, e tudo o que se pode esperar de testes de pré-temporada, que afinal, servem para isso mesmo, para todos conhecerem seus novos carros e descobrir seus limites. Muitos esperavam resultados mais “diretos”, já que por se tratar de uma geração de carros completamente nova, concebida sob novo regulamento técnico, pudéssemos ver uma relação de forças mais crível na pista. Bom, os testes servem para equipes e pilotos verificarem seus objetivos, e não para satisfazer a curiosidade do público. A confiabilidade dos carros foi verificada com várias simulações de corrida, e certamente cada equipe já deve ter uma noção precisa de onde está, e onde seus adversários se encontram. Mas ninguém dá pistas de nada. Se alguns, como a Alpine e a Alfa Romeo, tiveram problemas mais proeminentes, certamente vão trabalhar dobrado nas suas fábricas para tentar resolver tudo a tempo da segunda sessão de testes da pré-temporada, já no Bahrein. E quem conseguiu esconder seus percalços, não vai querer entregar tal informação aos rivais. Podemos de fato ter mais equilíbrio na competição este ano, mas ainda é impossível cravar quem está em melhor situação no momento. Parece que só saberemos mesmo a resposta no primeiro treino livra para a primeira corrida, na segunda quinzena de março, na pista de Sakhir.
Um aspecto positivo do novo regulamento técnico é que os novos carros da F-1 voltaram a ter mais “personalidade”. Cada time, diante das novas regras, buscou soluções diferentes, saindo um pouco do lugar comum que os projetistas se acostumaram a ficar nos últimos anos. Deu para perceber formas claramente diferenciadas nos bólidos de todas as equipes, algumas mais chamativas do que outras, com abordagens variadas. Quais delas irão funcionar melhor, ainda estamos por descobrir, mas pelo menos os carros passam a ter formas mais “identificáveis” de cada um dos times. Alguns carros ficaram muito bonitos, bonitos mesmo, resgatando a admiração que muitos tinham perdido pela aparência dos carros recentes da F-1. Só por isso, o novo regulamento técnico da categoria já parece ter sido uma das melhores medidas tomadas nos últimos tempos. Vamos esperar que isso vá além da melhor aparência dos monopostos...
A Ferrari foi o time que mais rodou esta semana, com cerca de 439 voltas na pista de Barcelona. A Mercedes não ficou muito atrás, anotando 393 voltas. Quem menos rodou foi a Haas, com apenas 160 voltas, enquanto a Alfa Romeo, que teve vários percalços, alcançou 175 voltas. Se Lewis Hamilton teve seu momento de brilho ao anotar o tempo mais veloz da semana na pista da Catalunha, Max Verstappen, o atual campeão, teve uma apresentação mais discreta, sem chamar tanto a atenção. Mas, isso não quer dizer nada, uma vez que a Red Bull também rodou expressivamente nos três dias, e seus melhores tempos dão a entender que o novo RB18 pode ser uma arma importante para desafiar o modelo W13. Resta saber se a Ferrari, que mostrou boa constância nas suas simulações de corrida, vai ser de fato uma desafiante séria para os dois melhores times da categoria na última década. E começam as apostas para prever quem será a lanterna do grid nesta temporada. Dizem que a nova unidade de potência ferrarista tem tudo para assombrar os rivais, mas também falam que, mantendo sua postura de treinos de pré-temporada, a Mercedes não teria liberado toda a força de sua nova unidade de potência. Quem está blefando?
A Indycar dá a largada para sua temporada, em São Petesburgo (a da Flórida, não a da Rússia). A TV Cultura inicia a transmissão da prova neste domingo a partir das 14 Hrs., enquanto na ESPN a transmissão começará a partir das 14:30 Hrs. Preparem suas emoções para torcer novamente em alta velocidade...