sexta-feira, 15 de outubro de 2021

VOLTE-FACE

E a liderança do campeonato trocou novamente de mãos após o GP da Turquia, que viu uma vitória incontestável da Mercedes e de Valtteri Bottas (abaixo) no piso molhado do Istambul Park (acima).


            E deu Mercedes no Grande Prêmio da Turquia, mas não foi com Lewis Hamiton. O piloto inglês teve de trocar o motor, a fim de ter uma unidade nova para o restante do campeonato, e com isso, largou apenas em 11º, e tentou minimizar os prejuízos na corrida de Istambul, a exemplo do que Max Verstappen havia feito na etapa da Rússia. E o triunfo coube a Valtteri Bottas, que enfim desempacou na temporada, com uma performance irrepreensível na corrida turca, liderando desde a largada, e vencendo a corrida. Enquanto isso, Verstappen, que largou em 2º lugar, terminou em 2º, mas na prática, saiu no lucro, pois com o 5º lugar de Hamilton, o piloto holandês retomou a liderança do campeonato, que deve ser bem disputado nesta reta final.

            Temos agora seis corridas para encerrar a temporada: as etapas dos Estados Unidos, México, Brasil, Qatar, Arábia Saudita, e Abu Dhabi. Impossível dizer que não veremos novas trocas de liderança no campeonato, diante da cerrada marcação entre Lewis Hamilton e Max Verstappen. Não dá para apontar um favorito destacado, e mesmo entre aqueles que ainda apontam que o carro da Red Bull ainda é mais competitivo do que o da Mercedes, a equação parece ter novamente se invertido na Turquia.

            A prova de que a Mercedes parece ter conseguido arrumar melhor o seu chassi W12 está no modo como a corrida foi disputada. Se nos treinos a Red Bull ainda dava a desculpa de que não tinha encontrado o acerto ideal do RB16B, na corrida, que foi disputada inteiramente em pista úmida, em boa parte do tempo escorregadia, Max Verstappen não conseguiu em momento algum ameaçar a liderança de Bottas, em uma condição de pista onde teoricamente o holandês consegue se destacar perante os rivais na pista. Muito pelo contrário, a vantagem de Bottas para o piloto da Red Bull foi crescendo durante a prova, numa mostra de que a performance do finlandês também evidenciou uma melhoria no desempenho do carro alemão, sem desmerecer o trabalho de Valtteri, que não cometeu um erro sequer durante toda a corrida, mesmo nos momentos em que o piso estava mais traiçoeiro e propenso a pegar os pilotos no cadafalso.

            Se Hamilton não foi além do 5º lugar na corrida, isso deveu-se ao erro de estratégia cometido tanto pela Mercedes quanto pelo piloto. A prova foi inteiramente disputada com piso úmido, e o fato da chuva ter diminuído na segunda metade da prova deu a impressão de que logo que parasse, poderíamos ter um trilho seco no traçado dos carros, e aí, ficaria a aposta de tentar ou não usar os pneus slicks, de pista seca. Só que a chuva nunca parou totalmente, e mesmo tendo se reduzido a um mínimo, a pista nunca secou como se esperava. Sebastian Vettel até tentou a aposta dos pneus de seco, mas antes mesmo de retornar à pista já tinha visto que foi uma atitude completamente errada. Lewis Hamilton tentou permanecer na pista, acreditando que haveria uma pausa completa da chuva, mas quando notou que isso não aconteceria, as opções eram parar, e perder algumas posições, ou se manter na corrida, tentando ir até o final com os pneus, que já se encontravam em situação terminal.

            Só que ele passou a andar muito lento, e quem vinha atrás fatalmente iria não apenas alcançar o heptacampeão como ultrapassá-lo. E poderia até terminar mais para trás. Portanto, a troca era imperativa, e assim foi feito. Só que, nas condições de pista, os novos pneus intermediários de Hamilton demoraram a “assentar”, de modo que ele perdeu ritmo, e todas as chances de tentar recuperar as posições perdidas para Sergio Pérez e Charles LeClerc, que tinham tido problema similar, mas que como haviam parado quase 10 voltas antes, seus compostos já estavam com o desempenho normalizado, e recuperaram ritmo, o que também aconteceu com Lewis, mas nas últimas voltas, o que só serviu para impedir que ele fosse superado por Pierre Gasly. Tivesse parado antes, ao menos ele teria condições de superar ao menos LeClerc, e quem sabe, discutir novamente a posição do pódio com Pérez.

Lewis Hamilton e Sergio Pérez travaram um duelo eletrizante roda a roda na pista, com o mexicano levando a melhor sobre o heptacampeão.

            Agora fica a expectativa do que irá ocorrer nas seis corridas que ainda restam no campeonato. Se a Mercedes de fato conseguiu melhorar o comportamento do modelo W12, ao que Toto Wolf apenas disse que o time “passou a entender melhor o carro”, a situação da Red Bull fica um pouco mais complicada. Especialmente pela melhoria de potência do propulsor germânico, que passou a dispender mais cavalos-força nas últimas corridas, a ponto de permitir aos carros de Brackley, mesmo utilizando mais asa em Istambul, serem mais velozes que o modelo rubrotaurino, no que eles afirmaram ter sido uma diferença de cerca de 15 Km/h na reta. A se confirmar isso, o favoritismo volta a estar do lado da Mercedes, mas não se pode comemorar ainda.

            Primeiro porque o time alemão vem dando algumas escorregadas nas estratégias de corrida, e Hamilton, por sua vez, também precisa se mostrar mais afinado, sinal de que eles sentiram a pressão exercida pela Red Bull durante este ano, a mais forte desde o início da era híbrida. A Red Bull também cometeu seus erros, mas nos últimos GPs tem se mostrado mais afiada na pista e nos boxes, de modo a continuar como uma ameaça constante na competição. Se é verdade que a Mercedes parece ter retomado o controle do Campeonato de Construtores, ostentando no momento uma vantagem razoável de 36 pontos, a situação segue indefinida no Campeonato de Pilotos, ainda que os 6 pontos de vantagem de Verstappen sobre Hamilton não proporcionem nenhuma tranquilidade para ambos os lados.

            Do lado da Red Bull, a preocupação sobre a melhoria de performance da Mercedes parece nítida nas declarações de Helmut Marko, que afirmou que a escuderia austríaca precisa fazer alguma coisa quanto a isso, dando a entender que, se nada for feito, a disputa estará perdida para eles. Marko citou que apenas duas pistas seriam mais favoráveis à Red Bull, México e Brasil, enquanto nas demais a Mercedes deve levar vantagem, a manter o ritmo exibido em Istambul. Pode até ser, mas precisamos lembrar que outras duas pistas são inéditas no calendário, Losail, no Qatar, e Arábia Saudita, e ambas podem trazer surpresas aos times e pilotos da competição. Preocupação legítima, ou jogando o favoritismo para a Mercedes como forma de aumentar a pressão? Podem ser as duas coisas, e faz parte do jogo da competição. Mas o nervosismo na declaração de Marko sugere que o buraco pode ser realmente um pouco mais embaixo para a Red Bull.

            E a disputa tem tudo mesmo para ser acirrada. Por mais que a Mercedes tenha melhorado, não se pode subestimar a capacidade da Red Bull, até porque eles estão apostando tudo por tudo no título deste ano, vendo enfim possibilidades reais de voltarem a ser campeões, depois dos anos de supremacia da Mercedes na nova era híbrida turbo da F-1, iniciada em 2014. E a disputa pode engrossar se Valtteri Bottas entrar firme na luta pelas primeiras posições, obviamente ajudando Hamilton na luta contra Max Verstappen, algo que ocorreu na Turquia, com o finlandês tendo conquistado a vitória, e impedido que o holandês abrisse ainda mais vantagem perante Hamilton. E a Red Bull precisará contar ainda mais com Sergio Pérez, que em Istambul fez sua melhor corrida desde Paul Ricard, não apenas voltando ao pódio, mas tendo duelado ferozmente com Lewis Hamilton na pista, ajudando Verstappen a ganhar tempo na pista. O resultado em Istambul só não foi melhor para os rubrotaurinos porque Bottas venceu com autoridade. Mas, a julgar pela possível retomada de performance da Mercedes, Hamilton é o grande favorito para o GP dos Estados Unidos, semana que vem, e ele tem a obrigação moral de vencer em Austin, se confirmada essa evolução de desempenho do carro alemão. E com Bottas cumprindo seu papel, e terminando em 2º lugar, restaria a Verstappen apenas o 3º lugar, o que faria o inglês retomar a liderança, e Max cair novamente para a vice-liderança. E Pérez tem a difícil missão de ajudar o holandês, e ao mesmo tempo, evitar arrumar confusões, e se classificar o melhor possível para que possa ser uma ajuda efetiva ao time austríaco.

Max Verstappen não conseguiu se impôr sobre a Mercedes de Valtteri Bottas nas condições traiçoeiras de piso molhado do GP da Turquia. Alerta ligado na Red Bull?

            A se confirmar que as pistas da Cidade do México e Interlagos favoreçam o carro da Red Bull, Verstappen poderia retomar a liderança e tentar ampliar sua vantagem nestas duas corridas, pois então as outras três provas, no Qatar, Arábia Saudita, e Abu Dhabi, favoráveis à Mercedes, propiciariam a oportunidade para Lewis Hamilton retomar a dianteira, e quem sabe, sacramentar a conquista de seu oitavo título mundial. Na Mercedes, há otimismo pelo desempenho demonstrado pelo carro nas últimas corridas, classificando-o como capaz de vencer o campeonato. Mas não se pode comemorar por antecipação, e James Allison, atual chefe do departamento técnico do time alemão, é preciso manter a cautela, pois ainda não se sabe o que as pistas restantes podem oferecer. Mas que a Mercedes está firme na briga, isso está. E saber que possui condições de lutar firme pelo título dá um novo ânimo à turma de Brackley. Mas a Red Bull não pensa em desistir. Tanto que esta semana, a escuderia resolveu utilizar um de seus dois dias de filmagens justamente na pista de Istambul, com Alex Albon, a fim de tentar aproveitar para ver se acha algum ponto que possa aprimorar para tentar bater a Mercedes, e de preferência já na próxima corrida, nos Estados Unidos. Se forem bem-sucedidos, isso pode virar novamente a situação.

            Outro ponto importante é evitar problemas, e isso vale tanto para Verstappen quanto para Hamilton. Um abandono, por parte de qualquer um dos dois, pode ser catastrófico na luta pelo título, e também significar um revés talvez irrecuperável na luta pelo mundial de construtores. Hamilton e Verstappen vão para as corridas finais com motores novos, mas o holandês trocou todos os componentes da unidade de potência na etapa da Rússia, enquanto Lewis teve apenas a unidade turbo V-6 trocada, continuando com os demais componentes, algo que pode fazer diferença nas provas finais, se o pior ocorrer.

            A temporada da F-1 segue com um bom nível de disputa, e tirando uma ou outra prova que não foi muito boa em termos de emoção, posso dizer que teremos briga suficiente nesta reta final do campeonato para deixar a torcida bem empolgada com o duelo entre o atual heptacampeão mundial Lewis Hamilton e o holandês Max Verstappen. E o embate entre Mercedes e Red Bull segue intenso. Quem irá vencer? Não dá para afirmar com certeza. Portanto, aguardemos estas corridas restantes para descobrirmos quem levará o título. E que vença o melhor, e sem as picuinhas entre cada grupo de torcedores de cada um dos duelistas, onde muitos parecem se esmerar somente em desmerecer o rival de seu ídolo, sem reconhecer os méritos do desafiante. É hora de parar com essa radicalização toda, e aproveitar para curtir e desfrutar um dos maiores duelos da F-1 nos últimos tempos...

 

 

A FIA declarou à Red Bull não ter encontrado nada de irregular na unidade de potência da Mercedes, em resposta a um pedido feito pela escuderia austríaca para averiguar possíveis irregularidades no equipamento, diante do seu súbito incremento de potência recente, dando a entender que a fábrica alemã poderia estar utilizando melhorias não permitidas pelo regulamento para incrementar seu desempenho. Bem, a meio da temporada, por volta das corridas disputadas na Áustria, a Mercedes também solicitou verificação da FIA na unidade de potência da Honda, que àquela altura também havia demonstrado uma performance bem melhor do que no início da temporada. Mas, assim como agora, na época a FIA também não viu nada anormal no equipamento fornecido pelos japoneses. Mas o momento é preocupante para a Red Bull, pois, com o regulamento prevendo congelamento do desenvolvimento das unidades de potência a partir de 2022, para contenção de custos, ver a unidade da Mercedes ganhar mais performance, enquanto a unidade da Honda será assumida pela escuderia austríaca, uma vez que os japoneses estão deixando a F-1, pode deixar o time de Dietrich Mateschitz em franca desvantagem na próxima temporada. A Honda se comprometeu a manter a construção das unidades em sua fábrica no Japão, e ainda fornecerá assistência ao equipamento, mas o resto ficará por conta da Red Bull, que está montando um time de engenheiros e mecânicos só para cuidar das unidades de potência. Se a Mercedes conseguiu de fato incrementar o desempenho de seu equipamento, enquanto a Honda parece já ter gastado todas as suas fichas de desenvolvimento ao oferecer a Verstappen o 4º conjunto de equipamentos utilizado a partir de Sochi, o panorama pode ser mais preocupante para a Red Bull no próximo ano do que eles imaginavam. E vale lembrar que a Ferrari também introduziu algumas melhorias em seu propulsor, conforme atestam as trocas que foram promovidas nos carros de Charles LeClerc na Rússia, e de Carlos Sainz Jr. na Turquia, que embora tenham sido declaradas como mínimas, sinalizam uma evolução para 2022 que poderia também colocar a unidade de potência ferrarista a par ou até melhor do que as unidades da Honda. E será que a Renault também não tem nada no horizonte para evitar de ficar para trás? Os japoneses conseguiram inegáveis avanços em seu equipamento nesta temporada, mas conseguirão manter seu novo grau de performance perante os rivais para o próximo ano? A julgar pela reação da Red Bull ao desempenho da Mercedes em reta em Istambul, um sinal de alerta foi ligado em Milton Keynes. Resta saber qual a intensidade e o nível de perigo deste alerta...

 

 

A melhor performance da unidade de potência da Mercedes também estaria sendo responsável pela evolução da McLaren, que com exceção da corrida em Zandvoort, melhorou bem nas últimas corridas, tendo vencido em Monza, e por pouco não repetindo a dose em Sochi. E essa melhoria do time de Woking pode significar problemas também para a Red Bull, se eles ficarem atrás dos carros laranjas, já que Lando Norris e muito menos Daniel Ricciardo vão aliviar nas disputas com a dupla rubrotaurina em caso de disputa de posição na pista. E a McLaren está em luta direta com a Ferrari pelo posto de 3ª colocada no Mundial de Construtores, e o time italiano também deu uma melhorara em sua unidade de potência, não apenas visando a temporada de 2022, mas também em lutar e derrotar a McLaren. Se eles se intrometerem no meio do duelo Mercedes X Red Bull, a coisa pode complicar, tanto para um quanto para o outro. E pelo lado da Ferrari, Charles LeClerc e Carlos Sainz Jr. estão muito a fim de ir para cima de tudo e de todos, para terminar o ano da melhor forma possível.

 

 

Michael Andretti estaria pronto para adquirir a maioria das ações da Alfa Romeo e assumir a direção do time sediado em Hinwill, na Suíça. E que poderia colocar Colton Herta na F-1 já no ano que vem. Seria algo interessante, mas vamos esperar para ver o que acontece de fato. Mas será que Herta teria interesse em disputar a F-1, sem ter a mesma competitividade da Indycar?

 

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