sexta-feira, 1 de outubro de 2021

AMÉRICA DAS OPORTUNIDADES

Álex Palou conquistou o título da Indycar 2021 em sua segunda temporada na categoria, surpreendendo os concorrentes, e aproveitando as oportunidades de competir na categoria norte-americana.

            A temporada 2021 da Indycar encerrou-se domingo passado, na pista de Long Beach, na Califórnia, e consagrou Álex Palou como o mais novo campeão da categoria de monopostos dos Estados Unidos. Com apenas 24 anos, Palou, que é natural da Espanha, mas precisamente da região da Catalunha, é mais um piloto europeu que, vendo a chance de competir nos Estados Unidos, e sem muitas esperanças de chegar à Fórmula 1, visto que nunca conquistou títulos nas categorias de base, abraçou a oportunidade da Indycar, e colhe os devidos frutos.

            Em 2019, ele estava no Japão, disputando a Super Formula pela equipe TCS Nakajima Racing, onde terminou na 3ª colocação no campeonato. No ano passado, estreava na Indycar, pela equipe Dale Coyne, e conseguiu fazer um campeonato bem honesto, mesmo com o equipamento limitado que possuía, terminando a temporada em 16º lugar, mas tendo conseguido um pódio, com um 3º lugar na primeira etapa da rodada dupla disputada em Road America. E deu o seu recado. Quando Felix Resenqvist acabou dispensado da Ganassi, o catalão acabou escolhido para ser o seu substituto na escuderia. Uma tarefa meio complicada, uma vez que na última década todos os pilotos do time ficaram na sobra da grande estrela do time, o neozelandês Scott Dixon, hexacampeão da categoria, e um dos maiores nomes das categorias Indy da história. A posição na Ganassi, em que pese ser um dos times de ponta da Indycar, poderia também ser um calvário, na medida em que seus resultados fossem comparados com os de Dixon.

            Mas Álex não se intimidou com sua ida para um time grande. Muito pelo contrário, ele chegou “chegando”, como se diz, vencendo a etapa inaugural do campeonato, na pista de Barber, no Alabama, superando na pista Will Power, da Penske, que terminou em 2º, e seu companheiro de time, Scott Dixon, o grande bicho papão da Ganassi, que foi 3º colocado. Marcus Ericsson, o outro piloto do time, foi apenas o 8º colocado. Apesar de uma queda de rendimento nas etapas seguintes, lá estava Palou de novo entre os primeiros no primeiro GP de Indianápolis, e como se isso não fosse o suficiente, o jovem piloto travou um duelo titânico nas voltas finais das 500 Milhas de Indianápolis pela vitória, perdendo o triunfo para um renascido Hélio Castro Neves. Dali em diante, Palou tratou de aproveitar todas as oportunidades que surgiam nas corridas, e embora tenha tido alguns percalços, assumiu um favoritismo poucas vezes visto para um piloto de pouca experiência na categoria. E, agora, com o título em mãos, Álex se torna naturalmente o favorito natural a repetir o feito em 2022, por ser o campeão reinante, ao qual todos tentarão desafiar.

            Não é de hoje que a América é chamada de “Terra das Oportunidades”, e no caso do automobilismo, já vimos vários pilotos que praticamente “renasceram” nos Estados Unidos, depois de serem dados como “acabados” na F-1. E o melhor exemplo recente disso também pode ser visto nesta temporada, onde o franco-suíço Romain Grosjean, depois de anos recentes de resultados pífios na categoria máxima do automobilismo, rumou para as terras do Tio Sam, e estreando na mesma equipe Dale Coyne por onde Palou esteve em 2020, Grosjean foi a sensação da temporada, apresentando algumas performances notáveis para um novato na categoria, e com um equipamento que não era dos mais competitivos, mas que permitia ao piloto mostrar do que é capaz, algo bem mais complicado de se fazer na F-1.

            Uma oportunidade que já rendeu frutos a Romain, que foi contratado para defender o time da Andretti Autosport, uma das gigantes da Indycar, onde terá certamente as condições para disputar o título, se tudo se encaixar, sendo uma escuderia bem mais competitiva. E agora disputando toda a temporada, já que nesta sua estréia, ele optou inicialmente por não correr nas etapas em pistas ovais, mudando de opinião para a corrida de Gateway, onde também deu show, mostrando uma adaptação muito boa àquele tipo de pista, e perdendo os receios que ainda tinha para competir neste tipo de circuito, onde as velocidades são muito maiores, e a tocada de condução do carro é totalmente diferente da pilotagem em circuitos mistos, como estava acostumado na F-1. E aproveitando as oportunidades, Grosjean faturou 3 pódios no ano, com dois segundos lugares e um terceiro.

Marcus Ericsson (acima) ganhou corridas este ano na Indycar. Já Romain Grosjean (abaixo) passou perto da vitória em seu ano de estréia, mas já conquistou, e foi conquistado pela categoria norte-americana de monopostos.


            A mudança de ares foi notável para o franco-suíço. Saindo do ambiente carregado da F-1, ainda mais pelo fato de defender um time que se perdeu no desenvolvimento do carro nas temporadas mais recentes, e sendo mais visto pelas confusões e acidentes na pista do que pelos resultados propriamente, Grosjean adorou o clima mais relaxado vivido no paddock da Indycar, já declarando amor incondicional à categoria, e preparando-se para fincar raízes nos Estados Unidos com muito mais ênfase e entusiasmo do que imaginava a princípio. Não é o primeiro piloto a se sentir assim, e não será o último.

            Afinal, como esquecer também do exemplo recente de Alexander Rossi, que tendo competido apenas pelo time nanico da Manor na F-1 em 2015, voltou para os Estados Unidos (ele é natural da Califórnia) para nunca se arrepender a decisão, tendo vencido em sua temporada de estréia nada menos que as 500 Milhas de Indianápolis, competindo pela equipe de Michael Andretti. Embora esteja um pouco em baixa nos últimos dois anos, Rossi já chegou a vencer corridas e disputar o título da Indycar, condições que nunca teria chances de conseguir na F-1, sem competir por times de ponta como Mercedes ou Red Bull, uma vez que não haviam oportunidades viáveis na categoria máxima do automobilismo que lhe permitissem chegar a um desses times. Mas ele as achou em sua terra natal, assim como diversos outros pilotos de fora.

            E o que dizer de Marcus Ericsson, piloto sueco que foi companheiro de Felipe Nasr na equipe Sauber nas temporadas de 2015 e 2016? Amplamente superado pelo brasileiro no primeiro ano, teve o time ao seu lado no ano seguinte, dando a entender até que Felipe não era tão bom piloto quanto diziam, mas como tinha patrocinador mais forte, se segurou no time para o ano seguinte enquanto Nasr foi dispensado sem a menor cerimônia, mesmo tendo dado à escuderia seu melhor resultado em 2016. Bom, Marcus também ficou a pé na F-1, e foi tentar a sorte na Indycar também, onde está desde 2019, primeiro na Schmidt/Peterson, e do ano de 2020 em diante na Ganassi. E não é que o sueco mostrou a que veio também nos Estados Unidos? Bom, isso só aconteceu este ano, onde ele conquistou duas vitórias, e por algum tempo, até foi considerado candidato ao título da temporada. Terminou o ano em 6º lugar, à frente de feras da categoria, como Will Power, Graham Rahal, Simon Pagenaud, e Alexander Rossi. E Felipe Nasr, que deixou a F-1 pela porta dos fundos, também foi se reencontrar nas oportunidades oferecidas pela América do Norte, no caso dele, o IMSA Wheather Tech Sportscar, o campeonato de endurance dos Estados Unidos, onde estreou em 2018, e foi campeão em sua primeira temporada, além de ter sido vice-campeão em 2019, e novamente brigar pelo título este ano, ocupando no momento a vice-liderança na competição, ao lado do compatriota Pipo Derani, outro que, sem ter chances competitivas na Europa, não hesitou em ir para os EUA em busca de melhores oportunidades de competição.

Felipe Nasr também buscou oportunidades nos EUA, indo para o IMSA Wheather Tech, onde já foi campeão e atualmente luta pelo bi no campeonato de endurance norte-americano.

            Aliás, nos anos 1990, houve uma migração em massa de talentos brasileiros do Velho Continente para a América do Norte, aproveitando as oportunidades de uma carreira mais competitiva no mundo do esporte a motor dos EUA. Impulsionados pelo sucesso obtido por Émerson Fittipaldi na antiga F-Indy, vários jovens talentos nacionais foram lutar por melhores oportunidades por lá. Christian Fittipaldi, depois de penar com carros fracos na F-1, debutou na F-Indy em 1995, e fez carreira por lá até o início da década seguinte, quando mudou-se para o campeonato norte-americano de endurance, competindo por lá até aposentar-se recentemente. E outros nomes como Gil de Ferran, Tony Kanaan, André Ribeiro, e Hélio Castro Neves, quando viram as portas rumo à F-1 se fecharem, simplesmente foram buscar seu futuro do outro lado do Atlântico, sem nenhum arrependimento. Gil de Ferran foi bicampeão da F-CART em 2000 e 2001, enquanto Tony Kanaan levantou o título da Indy Racing League em 2004, enquanto Hélio Castro Neves se tornou um dos gigantes da velocidade que venceram as 500 Milhas de Indianápolis em quatro ocasiões.

Nigel Mansell (acima) e Alessandro Zanardi (abaixo) também foram buscar oportunidades nos Estados Unidos quando se viram sem lugar na F-1, nos anos 1990. E fizeram bonito por lá.


            A Indycar experimentou um crescimento este ano, terminando a temporada com nada menos do que 27 a 28 carros largando nas últimas provas. E com tendência de algumas vagas novas surgirem em 2022, a depender de alguns acontecimentos. A expectativa de novos times, e com muitos pilotos com potencial a serem explorados, fazem do certame de monopostos dos Estados Unidos, que está sob a gerência de ninguém menos do que Roger Penske, uma categoria de excelente potencial de carreira. Enquanto na F-1 estamos “empacados” em 20 carros no grid, sendo que no momento apenas dois times brigam pelo título, e os custos de competição, mesmo com o novo teto de gastos imposto a partir deste ano, ainda são inviáveis para muitos competidores em um momento de crise nas economias diante da pandemia da Covid-19, o mercado profissional dos Estados Unidos surge como um oásis em meio a um grande deserto mundo afora em termos de oportunidades.

            A conquista de Palou, se não foi tão simples como parece, uma vez que o campeonato foi bastante equilibrado, mostra que aliando competência, talento, esforço, e oportunidade, ainda são a tônica do automobilismo nos Estados Unidos. Não está livre de certos problemas como as categorias europeias, mas ainda consegue oferecer melhores chances a muita gente. E o campeonato obtido pelo piloto espanhol não será o último a ser conquistado por outras novas promessas do esporte, que já estão por aí, e brilharam nesta temporada, precisando apenas de maior sinergia entre as chances na pista e o desempenho de si mesmos e de seus times, para alcançarem o mesmo feito do catalão. E podem apostar que eles seguirão firmes com esse objetivo, mostrando porque a América continua a ser a terra das oportunidades, pronta para ser desbravada por muitos que se empenham a fundo na busca de seus sonhos...

 

 

Curiosidade: Álex Palou é o segundo piloto europeu a conquistar um título em uma categoria Indy no seu segundo ano de competição. Nos anos 1990, o italiano Alessandro Zanardi foi campeão na antiga F-Indy em 1997, seu segundo ano de participação no campeonato, tendo estreado no ano anterior, em 1996, defendendo um time que estava em franco crescimento na época, tornando-se uma das potências da competição, a Ganassi, que conquistara seu primeiro título justamente em 1996, com o norte-americano Jimmy Vasser, que em 1997 seria totalmente engolido no time por Zanardi, que além de faturar o título de 1997, venceria também a temporada de 1998, pela mesma Ganassi, conquistando o bicampeonato. Mas sucesso avassalador mesmo foi a temporada de 1993, que viu o inglês Nigel Mansell, defenestrado pela Williams na F-1, mesmo sendo o campeão da temporada de 1992, estrear na categoria e levar o título da temporada, defendendo a Newmann-Hass, um dos times de ponta da então F-Indy. O “Leão” travou um duelo renhido com Émerson Fittipaldi durante todo o ano, e superou o antigo bicampeão da F-1 depois de duelos memoráveis na pista naquele ano. O sucesso de Mansell fez a Europa “descobrir” a F-Indy, e agora, ainda que em menor escala, o Velho Continente deve voltar a dar mais atenção à Indycar, se Romain Grosjean conseguir mostrar ainda mais resultados no ano que vem, em um time de ponta, do que neste ano, onde só faltou mesmo vencer. E, com as vitórias, a atenção virá mais do que naturalmente. Agora, já pensou se Grosjean vence o campeonato, como Palou fez? As chances existem, quem sabe o que pode acontecer...?

 

 

A MotoGP cruza o Oceano Atlântico para a primeira corrida em território americano pós-pandemia. Neste final de semana será disputado o Grande Prêmio das Américas, no circuito de Austin, no Texas. O grid da classe rainha do motociclismo terá um desfalque: Maverick Viñales não disputará a etapa nos Estados Unidos por ainda estar de luto pela morte de seu primo Dean, que competia no Mundial de Supersport 300, e acabou sofrendo um violento acidente na pista de Jerez de La Frontera, onde foi vítima de um atropelamento múltiplo durante a prova, tendo sido atingido por outros pilotos. O jovem de 15 anos, foi atendido na pista, e chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu às lesões sofridas no tórax e na cabeça. Um golpe bem duro em um ano já difícil para Maverick, que acabou se desentendendo com a Yamaha e perdeu seu lugar no time dos três diapasões, acabando por arrumar refúgio na Aprilia, onde estreou na última corrida, em Misano, iniciando sua adaptação ao novo equipamento para a próxima temporada. Na pista, Fabio Quartararo defende a liderança do campeonato com relativa folga para Francesco Bagnaia, da Ducati, que vem de duas vitórias consecutivas, e tenta se aproximar do francês para disputar o título da temporada 2021. A corrida terá transmissão ao vivo a partir das 16 Horas deste domingo, pelo canal pago Fox Sports.

 

 

A missão de Bagnaia é complicada. Quartararo tem 48 pontos de vantagem para o italiano da Ducati, uma vantagem significativa. Com a prova de Austin neste domingo temos 100 pontos em jogo, e ficarão faltando apenas 3 corridas ainda na temporada. No dia 24 de outubro a MotoGP retorna a Misano, na Itália, para o GP da Emilia-Romagna; depois, no dia 7 de novembro, será a vez do Grande Prêmio do Algarve, na pista de Portimão, em Portugal. E a temporada se encerra no dia 14 de novembro, no tradicional palco do Circuito Ricardo Tormo em Valência, na Espanha, para o Grande Prêmio da Comunidade Valenciana. Além de continuar vencendo, Francesco tem de torcer contra Quartararo. E seriam necessários dois abandonos do francês, e duas vitórias do italiano, para que ele conseguisse assumir a dianteira do campeonato, já que cada vitória rende 25 pontos. E Fabio tem sido bem constante na temporada 2021, tendo apenas uma corrida se classificando fora do TOP-10. E cinco vitórias, contra apenas 2 de Bagnaia, mostram a diferença de performance de resultados entre ambos. A reação é possível, mas difícil, e Bagnaia conquistar o título, ainda mais complicado.

 

 

E Lewis Hamilton conquistou sua 100ª vitória na F-1 domingo passado, na Rússia. A comentar na próxima coluna, semana que vem...

 

Nenhum comentário: