sexta-feira, 11 de junho de 2021

NADA COMO UM DIA DEPOIS DO OUTRO

Sergio Pérez comemora a vitória no GP do Azerbaijão, seu primeiro pódio pela Red Bull, e logo no degrau mais alto.

            Dizem que na F-1, você é tão bom piloto quanto seu último resultado, uma expressão que costuma dizer que seu último resultado pode ser mais considerado do que todos os melhores resultados que você já conseguiu, se tiver um dia ruim. De fato, não é incomum pilotos serem “fuzilados” depois de um dia ruim na categoria máxima do automobilismo mundial. Mas, de vez em quando, este pessoal se sente vingado, depois de um bom final de semana. E o GP do Azerbaijão, disputado domingo passado, nas ruas de Baku, foi um excelente dia para os pilotos que subiram ao pódio na corrida azeri.

            Começando pelo vencedor, Sergio Pérez, que desde o início do ano, já vinha levando algumas alfinetadas de Helmut Marko, no seu procedimento costumeiro de criticar todos os pilotos da Red Bull e Alpha Tauri que não sejam Max Verstappen. Em um procedimento que fugiu aos padrões costumeiros da equipe dos energéticos, o mexicano veio de fora do Programa de Formação de Pilotos promovido pela Red Bull, o que não foi bem digerido por Marko, que controla este programa com mão de ferro, e já fritou vários pilotos que não corresponderam às suas exigências de resultados. Tendo feito um excelente campeonato em 2020, e dispensado por seu time, Pérez era uma escolha óbvia para a Red Bull em busca de um piloto mais eficiente que Alex Albon, a última “vítima” da impaciência de Marko. Piloto experiente e calejado, Sergio sabia que seu início no novo time poderia ser complicada, e até certo ponto, foi, mas não tão ruim também. Seu ponto baixo foi a corrida em Ímola, onde terminou fora dos pontos por vários erros cometidos na corrida, enquanto Max Verstappen ganhava a prova.

            Mas Sergio conseguiu reagir. Foi 4º em Portugal, e terminou em 5º na Espanha, resultados que, se não eram ruins, ainda o faziam sofrer cobranças do time, especialmente nas classificações, onde ele mesmo concorda que precisa melhorar. Mas o mexicano compensa com um forte ritmo de corrida, sabendo cuidar muito bem do carro. E ele conseguiu um bom 4º lugar em Mônaco. Conseguindo entender melhor o carro, ele só precisava de mais quilometragem e confiança para buscar melhores resultados. E foi o que vimos em Baku. Mesmo largando um pouco mais trás, o que foi devido à batida de Yuki Tsunoda que impediu vários pilotos de fazerem novas voltas lançadas na fase final do treino de classificação, Pérez fez uma corrida combativa, chegando ao 2º lugar, superando até mesmo Lewis Hamilton, e comboiando Max Verstappen, no que prometia ser uma tão aguardada dobradinha da Red Bull, o que não se concretizou pelo estouro do pneu do holandês e seu consequente abandono. Mas Pérez estava na posição para herdar a vitória, e apesar de superado por Hamilton na relargada no final da corrida, deu sorte com o erro do inglês que seguiu reto, e venceu a corrida, alcançando sua redenção na temporada, e começando a justificar sua contratação pelo time dos energéticos, assumindo a 3ª posição na classificação do campeonato, e prometendo vôos talvez mais altos.

Sebastian Vettel alcançou sua primeiro pódio com a Aston Martin. Acabou a má fase do piloto? A conferir ainda, mas foi bom vê-lo pilotar de novo como nos velhos tempos.

            Pela vitória, Christian Horner, e até mesmo Helmut Marko, desmancharam-se em elogios ao piloto mexicano, numa lua de mel que tem data para terminar, dependendo dos resultados que Sergio venha a conseguir nas próximas corridas, começando já pelo GP da França na semana que vem. A confirmar ter encontrado seu ritmo com o carro do time dos energéticos, Pérez continuará recebendo elogios da cúpula rubrotaurina, que tendo declarado não haver pressa em tratar de renovação do contrato do mexicano para 2022, pode começar a mudar o tom. Caso contrário, o clima de cordialidade pode azedar um pouco, dada o humor instável de Marko, o que não é difícil de acontecer. E na Red Bull a paciência anda muito mais curta do que nos demais times da F-1. A escuderia que na primeira década deste século, quando estreou na F-1, tinha um clima descontraído e jovial, deu lugar a um time que pode ser o maior inferno da categoria, com raros momentos de paraíso. Sergio vicenciou seu momento paradisíaco em Baku, mas pode voltar rapidinho para algo próximo do inferno já na próxima corrida, dependendo do que acontecer. E todos torcem para o mexicano de fato ter se encontrado com o carro, e aprendido seus macetes. E quanto à confiança, nada melhor do que ganhar uma corrida para se ganhar justamente isso.

            E readquirir confiança é algo que Sebastian Vettel há muito precisava, algo que o 2º lugar em Baku certamente ajuda a ganhar corpo, especialmente depois do alemão ter feito também uma bela prova em Mônaco, onde marcou seus primeiros pontos do ano com um 5º lugar. O tetracampeão vinha numa onda de baixa nos últimos dois anos na Ferrari, mas que tinha começado um pouco antes disso, com erros em provas de 2018 que comprometeram sua luta pelo título com Lewis Hamilton. Superado pelo novato Charles LeClerc no time italiano a partir de 2019, Vettel parecia ter entrado na fase de decadência que compromete a carreira de qualquer piloto, com performances abaixo do esperado, além de erros por vezes até banais de pilotagem. Uma mudança de ares, ainda que forçada, para a Aston Martin, depois de ter sido sumariamente dispensado pela Ferrari antes do início da temporada passada, prometia ser uma chance de redenção para Sebastian, já que o projeto de Lawrence Stroll é transformar a escuderia, ex-Racing Point, em um time de ponta, contando com o talento e a experiência de Vettel para chegar a esse objetivo.

            Mas o início da temporada foi bem complicado. A pré-temporada foi desastrosa, e a performance do carro de 2021 em nada lembrava o carro competitivo de 2020, que chegou até a ganhar uma corrida com Sergio Pérez. E ser superado por ampla margem por Lance Stroll também não ajudava, com o canadense conseguindo alguns pontos mirrados nas primeiras provas, enquanto o alemão penava para conseguir chegar próximo da zona de pontos. Felizmente, com o início de temporada complicado que tiveram, todo o time sabia que precisavam ter paciência com Sebastian, uma vez que eles próprios estavam perdidos para tentar reencontrar a competitividade perdida no novo carro. Uma hora, eles conseguiriam encontrar alguma direção. E parece que ela começa a surgir, ao mesmo tempo em que Vettel também começa a pegar a mão de seu novo equipamento. A performance em Mônaco, apesar do bom resultado, ainda ficava a dever a times como Ferrari e McLaren, e parece ter dado alguns passos à frente em Baku, onde Vettel fez de fato uma corrida bem mais combativa do que no principado de Mônaco. Mas, dadas as circunstâncias que fizeram da corrida azeri uma corrida meio louca, especialmente em seu final, é preciso ver como se dará a performance do carro verde em uma prova onde não aconteçam imprevistos, para ver até onde eles de fato conseguiram progredir.

Pierre Gasly conseguiu mais um pódio com a Alpha Tauri.

            Para Sebastian, contudo, já ter andado à frente de seu companheiro de equipe, e tê-lo superado na classificação do campeonato, ainda mais com desempenhos sólidos e firmes nas duas últimas provas, parecem indicar um renascimento do velho Sebastian Vettel que foi tetracampeão do mundo com a Red Bull. Um piloto determinado, talentoso, e combativo. Pelo seu currículo, Vettel merecia uma chance de redimir-se de seus últimos tempos na Ferrari, e depois de tanto tempo parecendo carregar uma nuvem negra sobre sua cabeça, os tempos ruins parecem começar a ficar para trás. Até onde ele conseguirá liderar o time na atual temporada ainda não sabemos, mas conseguindo mostrar novamente sua velha forma, pode-se dizer que ele já terá ganho o ano, e pronto para tentar, se a Aston Martin o permitir, retornar às disputas no pelotão da frente, e quem sabe, voltar a vencer corridas.

            E Pierre Gasly? Em sua melhor performance na temporada, seu pódio, com o 3º lugar nas ruas de Baku é mais um momento para calar a boca de Helmut Marko, que mesmo com seus bons resultados na Alpha Tauri, tendo inclusive conquistado uma vitória no ano passado, ainda insiste em criticar e dar alfinetadas no piloto francês, dando a entender que, se depender dele, Pierre não volta para o time principal dos energéticos, de onde foi rebaixado em 2019 para dar lugar a Alex Albon, sendo realocado na então Toro Rosso, onde não se deixou abater, e voltou a mostrar sua capacidade de pilotagem. O francês vem deixando seu colega de time Yuki Tsunoda na sobra na escuderia sediada em Faenza, e mesmo que a comparação seja um pouco injusta, haja vista o noviciado do japonês na F-1, vale lembrar que Yuki havia feito uma boa estréia no Bahrein, no início do campeonato, o que serviu para Marko dar mais estocadas em Gasly, e encher Tsunoda de elogios, quase apontando o nipônico como candidato a subir para a Red Bull em um futuro próximo. Mas, nada como um dia, ou um GP, depois do outro. Tsunoda desandou a partir dali, e apesar ter feito boa corrida em Baku, com um 7º lugar, ele não passou incólume pelo fim de semana, uma vez que bateu o carro no final do Q3 do treino de classificação, o que prejudicou vários pilotos que buscavam melhorar seus tempos, inclusive a dupla da Red Bull.

            O problema de Gasly é que o carro da Alpha Tauri tem tido uma performance meio irregular na temporada, ora andando bem, como vimos em Baku, ora não mostrando o desempenho esperado, frustrando a expectativa de obter melhores resultados, e com isso, servindo ainda mais de alvo para as críticas de Helmut Marko. O futuro do piloto francês certamente é tentar um novo time, mas as opções são muito restritas. A Alpine/Renault, que era vista como uma opção interessante, voltou seus olhos para Esteban Ocón, pelas boas performances conquistadas pelo francês, conseguindo alguns pontos aqui e ali, dado o carro complicado que eles têm nesta temporada. Com Williams, Haas e Alfa Romeo tendo desempenho inferior, e McLaren, Ferrari e Aston Martin com suas duplas garantidas para 2022, não há vagas em nenhum lugar na F-1, forçando Pierre a ter de permanecer onde está, por vezes carregando o time nas costas. O ponto positivo para o francês é que Tsunoda já não parece encantar tanto quanto antes, e se a paciência de Marko continuar curta, o japonês pode acabar sacado para o ano que vem, dando lugar a outro piloto novato que possa ser utilizado do programa de formação de pilotos da Red Bull, que obrigaria a cúpula rubrotaurina a manter Gasly para ter um nome experiente para conduzir a Alpha Tauri. Se ser paciente pode ser vantajoso, tendo uma vaga garantida, enquanto espera surgir uma oportunidade em outro time, há sempre o risco de se ficar “atrelado” à Alpha Tauri, e de perder alguma chance que possa surgir.

            E temos uma menção honrosa para Fernando Alonso, que vinha andando até razoavelmente bem, e nas duas voltas de corrida da relargada, partiu para cima dos adversários, pulando da 10ª para a 6ª posição, a melhor finalização da Alpine no ano até aqui, resultado que deixa o asturiano à frente de seu companheiro de equipe Ocón na classificação da temporada, onde o francês vinha deixando Fernando bem para trás. O bicampeão, retornando à F-1 nesta temporada pelo time francês, ex-Renault, confessou que precisava desenferrujar mais do que imaginava para conseguir bater seu companheiro de equipe, e ter um carro complicado nas mãos só tornou a tarefa mais difícil, mostrando que a escuderia regrediu do ano passado para 2021.

Max Verstappen (acima) chuta o pneu que o fez perder a vitória em Baku. E Lewis Hamilton (abaixo) acabou mantendo o holandês na liderança do campeonato por erro próprio ao perder a primeira curva na relargada.


            Essa é a sina do mundo das corridas. Enquanto alguns vão bem, outros vão mal, e isso implica lembrar dos azares da dupla que disputa o título da temporada. Max Verstappen vinha fazendo uma corrida impecável até ter o problema no pneu e bater quando faltavam três voltas para o final. Impondo um ritmo forte, e marcando várias vezes a volta mais rápida, não são poucos os que apostam que o ritmo forte do holandês contribuiu para o problema no pneu, contrariando a previsão da Pirelli de que o composto deveria durar mais voltas. Se Max acabou traído pelo equipamento, Lewis Hamilton, por outro lado, só pode culpar a si próprio. O inglês vinha numa posição para minimizar prejuízos, caminhando para fechar o pódio em 3º lugar, quando ganhou de presente a 2ª posição com o abandono do rival, e que lhe permitiria reassumir a liderança do campeonato com 14 pontos de folga, a mesma vantagem que desfrutava após o GP da Espanha. Teria sido um golpe duríssimo para Verstappen ver seu possível triunfo nas ruas de Baku terminarem dessa maneira. Mas, quiseram os deuses do esporte a motor que Lewis, na sua sede por tentar vencer, acabasse esbarrando em um botão que não deveria apertar, fazendo-o seguir reto na primeira curva, e vendo seus sonhos virarem um pesadelo. Ou, para muitos, ter perdido a freada pura e simplesmente, e dar adeus a qualquer chance de vitória, ou mesmo de pontuar. Acontece, fazer o quê? Simplesmente é esquecer Baku, e se concentrar nas próximas etapas, pois foi somente a 6ª corrida, e temos ainda 17 provas pela frente, se conseguirem manter o número de corridas até o fim do ano, conforme planejam, apesar dos pesares quanto à pandemia da Covid-19.

            Saímos do Azerbaijão com o campeonato inalterado, pelo menos entre Hamilton e Verstappen, o que dá mais emoção às próximas corridas, e com expectativas de que aqueles que conseguiram se destacar na prova azeri continuem a continuar fazendo um bom campeonato, embolando cada vez mais as disputas em cada ponto da tabela de classificação. Os fãs querem ver duelos, e ao que parece, vão ter bons motivos para não perderem as próximas corridas, diante das possibilidades de bons pegas e duelos, seja no primeiro, ou no segundo pelotão da F-1. E, como já foi dito antes, nada como um dia depois do outro... E sigamos em frente!

 

 

Max Verstappen disparou alfinetadas na direção da Pirelli, cobrando explicações para o problema que sofreu em seu pneu traseiro, que furou sem praticamente nenhum aviso, de acordo com a telemetria da equipe. Investigar a situação é importante, até porque a fabricante previa que os pneus durassem mais voltas, e já havia tido um caso semelhante, com acidente também na reta, envolvendo Lance Stroll, da Aston Martin, que usava o mesmo tipo de composto, e também acabou pego de surpresa pelo problema no pneu, batendo contra o muro de forma até mais violenta do que o holandês da Red Bull. Mas acusar a Pirelli de forma leviana colocando a segurança dos pneus em dúvida como começou a fazer é mais choro de perdedor do que qualquer outra coisa, pois dos 20 carros na pista, apenas 2, ele, Verstappen, e Stroll, tiveram esse problema. Nenhum dos outros pilotos enfrentou percalços com seus compostos durante a corrida de Baku, o que leva a crer que foram casos provavelmente fortuitos, ou simplesmente falando, puro azar. Por que isso não pode acontecer, afinal? Por mais tecnologia e capacidade que a F-1 concentre, é impossível controlar todas as variáveis com exatidão, e mesmo que em teoria os pneus devessem aguentar mais, será que não poderia dar algo errado, mesmo assim? Ocaso teve mais destaque e discussão porque foi justamente com Verstappen, que ia ganhar a corrida, e viu seu triunfo ir para o muro, literalmente, por esse azar. Acredito que o pessoal da F-1 hoje em dia ficou tão acostumado com a possibilidade de poder controlar tudo, dado o número de informações disponíveis sobre seus equipamentos, que parece não acreditar quando algo sai do script programado. Bem, a vida é cheia de surpresas, por mais que se tente antecipar todas as possibilidades. E isso não exclui a F-1. Melhor aceitarem essa realidade, e assumirem que sempre poderá ocorrer algo inesperado nas corridas, por melhores que sejam seus planejamentos...

 

Nenhum comentário: