quarta-feira, 23 de junho de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – MAIO DE 1999 – 28.05.1999

             Trazendo novamente um de meus antigos textos na postagem de hoje, este é da coluna que foi publicada no dia 28 de maio de 1999, pouco mais de vinte anos atrás. No texto principal, a questão do favoritismo da então considerada favorita McLaren na temporada daquele ano da F-1 não estar se materializando como deveria, e deixando a escuderia com o pé atrás, enquanto a Ferrari, ainda tentando quebrar o seu jejum de títulos, surgia como uma força maior do que a esperada, diante das circunstâncias. De certa forma, naquele ano o campeonato, embora tenha terminado com Mika Hakkinen conquistando seu bicampeonato, foi mais agitado do que se poderia imaginar, e não exatamente pelos motivos que muitos esperavam. Enquanto isso, teríamos nos Estados Unidos as 500 Milhas de Indianápolis daquele ano, pelo certame da Indy Racing League, bem como o GP de Saint Louis, pela F-CART. Uma menção também de como os cartolas da F-1, de forma discreta, levaram uma rasteira com a desistência da Honda de retornar à F-1 como um time completo, frustrando a implantação da regra que passava a limitar a categoria máxima do automobilismo a 12 times e 24 carros, que produziu um estrago que persiste até os dias atuais, uma vez que a F-1 nunca mais conseguiu ter um grid de 26 carros, como nos seus melhores tempos... Uma boa leitura a todos, e logo trago mais textos antigos.

 

MCLAREN EM XEQUE

 

            Decorridas 4 etapas do mundial de Fórmula 1 até o presente momento, sinceramente o panorama não é o que a equipe McLaren esperava para este campeonato. Depois do início esmagador visto nos treinos na Austrália, quando os carros prateados deixaram toda a concorrência comendo até mais poeira do que no ano passado, pelo menos nos treinos, pode-se afirmar que a luta pelo título este ano vai ser mesmo duríssima. Michael Schumacher lidera o mundial depois de 2 vitórias consecutivas. E para piorar o panorama, Eddie Irvinne, seu colega de equipe, também vem andando muito bem este ano, e já venceu até uma corrida. E o retrospecto avisa: de 4 corridas, a McLaren só ganhou 1, enquanto todos os outros triunfos foram da Ferrari.

            Hoje começam os treinos em Barcelona, circuito onde a McLaren, teoricamente, deve começar a reagir no campeonato. A pista de Montmeló é onde a escuderia britânica mais testa seus carros, e as características da pista favorecem a aerodinâmica refinada da McLaren, bem como o potente motor Mercedes. O próprio Michael Schumacher já diz que a escuderia de Ron Dennis é a favorita na corrida espanhola, mas isso deve ser visto mais como uma jogada psicológica do alemão contra a McLaren. E esta tem de fazer valer o seu favoritismo, do contrário, corre o risco de cometer um erro que seus adversários já cometeram quando disputaram o título contra outros times. Só para lembrar, a McLaren ganhou o título de 1986 com Alain Prost porque os dois pilotos da então imbatível Williams, Nigel Mansell e Nélson Piquet, viveram uma disputa acirrada e fraticida desde o início do campeonato, ignorando que alguém pudesse vencê-los. E, em 1994, apesar da perda de Ayrton Senna, a Williams só não levou o título na luta contra Michael Schumacher porque o time demorou demais para reagir no campeonato com um carro que, inicialmente, não se mostrou competitivo como se imaginava. Em 1995, a mesma Williams, mesmo tendo um carro superior, acabou não aproveitando este potencial, e perdeu novamente o campeonato, vítima de falta de fiabilidade de seus carros, além de azares durante as corridas. A McLaren corre o risco de não se ver conquistando o título deste ano se continuar dando chance para o azar. É o risco que está correndo neste momento.

            Basta ver o que se passou nas corridas até agora: Mika Hakkinen cometeu erros crassos nas duas últimas provas. Em Ímola, o finlandês era o líder incontestável da corrida quando bateu sozinho, jogando fora uma vitória praticamente certa, tal era o seu ritmo de prova frente aos demais pilotos. Em Mônaco, Mika não se encontrou durante todo o fim de semana, só conseguindo mesmo como ponto positivo roubar a pole-position de Michael Schumacher quando o alemão já comemorava a pole na pista monegasca. Na corrida, contudo, Hakkinen deixou seu rival pular na frente e ele sumiu na dianteira. Além de não ter conseguido acompanhar o piloto da Ferrari, Mika ainda esbarrou no óleo deixado por um motor estourado e por pouco não bateu. As conseqüências foram a perda do 2º lugar e menos pontos ao fim da corrida, o que o deixou com uma desvantagem de 14 pontos na classificação. Já David Coulthard anda tão azarado que é praticamente um ponto de interrogação ambulante dentro da McLaren: quando o carro não quebra, o escocês fica devendo, e quando Coulthard fica devendo ainda mais em performance, o carro resolve quebrar. A esta altura do campeonato, começam a pipocar as dúvidas sobre a permanência do piloto escocês na McLaren no próximo ano. Dúvidas que colocam até a possibilidade de Ricardo Zonta assumir o seu lugar.

            Nada exagerado: é bom frisar que o brasileiro, mesmo estando atualmente na BAR (onde só voltará ao cockpit no GP do Canadá, quando estará recuperado do acidente sofrido em Interlagos), ainda é um piloto ligado à McLaren, estando apenas “emprestado” no momento.

            Nos testes feitos até aqui neste circuito da Catalunha, a McLaren sempre andou na frente, mas Michael Schumacher tem estado sempre por perto, o que tem deixado a tensão subir na McLaren. Se o time inglês quiser reagir no campeonato, é aqui que deve iniciar sua recuperação, pois as demais pistas que vem por aí são mais favoráveis a uma disputa mais equilibrada entre a Ferrari e a McLaren. E nestas situações de equilíbrio, Michael Schumacher tem mostrado conseguir desequilibrar a briga a seu favor graças ao seu talento ímpar.

            A McLaren que abra bem o olho, caso contrário, vai ser muito difícil recuperar a desvantagem, e isso colocará a escuderia definitivamente em xeque no campeonato...

 

 

Para os fãs do automobilismo, este vai ser um fim de semana cheio. Amanhã à tarde teremos as 300 Milhas de Saint Louis, pelo calendário da F-CART. No domingo, além do Grande Prêmio da Espanha de Fórmula 1, teremos também as 500 Milhas de Indianápolis pela Indy Racing League. Escolha a sua corrida e divirta-se. Todas têm transmissão ao vivo para o Brasil, via TVS/SBT, Globo, e Bandeirantes.

 

 

Nas 500 Milhas de Indianápolis, teremos dois brasileiros no grid de largada: Roberto Moreno (23º) e Raul Boesel (33º). Apesar dos percalços na classificação, ambos confiam em fazer uma boa corrida, pois a prova é longa e tudo pode acontecer no circuito oval mais famoso do mundo. Arie Luyendick, o holandês voador, é o pole-position, e larga na frente para as 200 voltas da mais famosa corrida dos Estados Unidos.

 

 

Hoje acontece o treino classificatório para as 300 Milhas de Saint Louis. E teremos muitos representantes na corrida: Tarso Marques vai pilotar o segundo carro da Penske novamente, depois do bom desempenho obtido no GP do Brasil. E Roberto Moreno continua substituindo Mark Blundell na equipe PacWest. Após a corrida, Moreno segue direto para Indianápolis, onde disputará no domingo a Indy500. Nos treinos livres de ontem, apenas a confirmação de que Juan Pablo Montoya é o homem a ser batido: depois de 3 vitórias consecutivas, o colombiano já é líder disparado na corrida pelo título, mas a concorrência tem outros planos. Vamos ver o que irão aprontar amanhã. Pelo lado dos brasileiros, as melhores chances estão com Christian Fittipaldi e Gil de Ferran, mas pode-se esperar boas performances de Tony Kanaan e Hélio Castro Neves. O resto é uma incógnita.

 

 

Os cartolas da F-1 não digeriram bem a desistência da Honda de montar a sua própria equipe de F-1, como discursei na coluna da semana passada. O motivo é óbvio: a ridícula regra criada pela FIA de que apenas 12 equipes e 24 carros podem disputar a F-1. Como já existiam 11 times, a 12ª vaga foi criada especialmente para a Honda. Isso fez com que o valor dos times já existentes, pra não falar do ego de seus proprietários, aumentassem uma barbaridade. Agora, com a negativa da fábrica japonesa, que voltará apenas como fornecedora de motores, eles estão tendo de engolir um pouco do próprio veneno, pois com uma vaga livre, não há a necessidade de se adquirir uma escuderia já existente. Mas dizem que Bernie Ecclestone, presidente da FOA, promete agir nesse sentido. Vamos ver o que ele vai inventar. Sinceramente, espero que acabem com esta regra ridícula que limita em 12 o número de times. Para mim, 15 escuderias seria um número mais plausível, ainda mais porque há 26 vagas no grid, e com 30 carros, veríamos uma luta mais renhida nas classificações, pois de um jeito ou de outro, alguém ficaria fora de qualquer jeito. Até há pouco tempo atrás, era assim, e confesso: era muito melhor do que o que vemos hoje...

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