Lewis Hamilton e Max Verstappen duelaram pela vitória na etapa de abertura do campeonato, e o inglês levou a melhor.
A Fórmula 1 começou 2021 da melhor
maneira possível: com uma bela disputa pela vitória na primeira corrida, que se
desenvolveu por toda a prova, e com um final emocionante. E tivemos também boas
brigas nas demais posições, talvez um pouco menos do que se poderia esperar,
mas o suficiente para nos deixar empolgados, e quem sabe, imaginar que tal
panorama irá se manter por boa parte da nova temporada que acabou de ser
iniciada, e tem tudo para ser muito melhor do que a do ano passado.
A Red Bull confirmou a boa forma dos testes da pré-temporada, e confirmou que soube evoluir seu carro às novas regras de diminuição de downforce, ao mesmo tempo em que a Honda moveu céus e montanhas para entregar uma unidade de potência visando se despedir da melhor forma possível da F-1 nesta sua empreitada na era turbo híbrida. E a Mercedes, como todo mundo já imaginava, não é mais o time dominante das últimas temporadas, tendo enfim um ano em que terá de brigar ferozmente para se manter campeão, mas que nem por isso a escuderia deve ser vista como uma zebra na disputa. Muito pelo contrário.
Nos treinos livres, já víamos que a Red Bull demonstrava ter o carro mais rápido em relação à Mercedes. Mas quão mais rápido? Afinal, o time alemão demonstrava estar ainda brigando para tornar o seu novo carro menos nervoso, e com os treinos reduzidos em uma hora às sextas-feiras, havia menos tempo útil para se trabalhar nos ajustes. E voltávamos àquela velha máxima: treino é treino, e corrida é corrida. Só na classificação, em tese, teríamos idéia mais real da relação de forças entre os times. Enquanto isso, cada escuderia tratava de trabalhar para achar o seu melhor acerto, e planejar a estratégia de corrida.
E o que vimos ao fim da classificação foi Max Verstappen enviando um tempo que, se não era o temporal da pré-temporada, não era também insignificante: quase 0s4 de diferença, algo que inspira cuidados. E Lewis Hamilton, por sua vez, meteu 0s2 em cima de Valtteri Bottas. A situação só não ficou mais complicada para a Mercedes porque Sergio Perez, estreando no time rubrotaurino, acabou tendo sua classificação aquém do esperado, por culpa do piloto e da equipe, e por isso, ver a Ferrari surpreendendo com o 4º tempo, com Charles LeClerc, não parecia preocupar o time de Brackley. Mas foi bom vermos 6 carros separados por cerca de 0s6, entre LeClerc, o quarto, e Fernando Alonso, o nono. E com Perez saindo em 11º, teríamos boas disputas ali pelo segundo pelotão, com alguns outros pilotos engrossando a parada, sem terem tido melhor sorte no treino de classificação. E na frente, a Mercedes ao menos confirmava que continuava veloz. Apenas Verstappen era mais veloz. Poderíamos ter um bom duelo na corrida, na melhor das hipóteses, já que o ritmo de corrida, em tese, é sempre inferior ao de classificação, e as diferenças podem ser menores entre os competidores.
E foi o que vimos: Verstappen manteve firme a ponta, com Hamilton logo atrás. E, para surpresa de alguns, o holandês não conseguiu ir-se embora como se esperava. Hamilton estava ali atrás, a menos de 2s de diferença. Braço por braço, o ritmo de ambos era bem parelho, com uma vantagem mínima para Verstappen, mas que o heptacampeão do mundo fazia questão de ignorar. Bottas foi ficando para trás, sem conseguir se meter nessa disputa, enquanto o segundo pelotão se engalfinhava, com vários pilotos duelando entre si, ajudando a agitar o ambiente da corrida. Confirmava-se o que a Red Bull dizia sobre não se poder menosprezar a Mercedes, achando que ela estaria fora do jogo. Ao menos entre Hamilton e Verstappen, a briga tinha tudo para ser pau a pau na pista, talvez mais até do que todos imaginavam.
E aí, vimos a estratégia da Mercedes para fazer Hamilton assumir a liderança, com trocas de pneus em momentos diferentes da prova, que realmente fizeram com que o inglês assumisse a dianteira, e começasse a colocar o favoritismo de Verstappen em xeque, ou pelo menos em dúvida leviana. Quem faria melhor opção de pneus durante a corrida, e qual time jogaria melhor com as cartas disponíveis na mesa? Como desafiante nestes últimos anos, vimos a Red Bull quase sempre jogar na ofensiva, pois com a Mercedes dominante, era o único meio de tentar chegar mais perto. Em raros momentos a equipe austríaca viviam situação superior. Por outro lado, muitos que achavam que o time alemão, acostumado às vitórias de sua supremacia desde 2014, pudesse se perder em momentos inesperados sob pressão dos adversários, se esquecem de que quando isso aconteceu, o time fez todos caírem do cavalo, mostrando centrado e focado na disputa, e com Hamilton fazendo uma pilotagem precisa e determinada. A Red Bull, confiante de ter um carro melhor, e confiando na velocidade natural de Verstappen, sabia que era muito possível retomar a dianteira na segunda parada na corrida, e aí cometeu seu erro mais crasso, ao subestimar a estratégia da rival.
Estreante pela Alpha Tauri, o japonês Yuki Tsunoda mostrou combatividade, e já marcou seus primeiros pontos na F-1.
Na frente, embora com pneus duros,
enquanto Verstappen vinha com pneus médios, Hamilton teve de pilotar com
precisão e sensibilidade, para não depreciar seus pneus, e ao mesmo tempo,
impedir Max de alcança-lo rapidamente, o que conseguiu fazer de forma
impecável. Mas era questão de tempo até perder novamente a liderança para o
holandês, que vinha firme no seu encalço. Mas aí, o inglês, antes de ser
superado na pista, foi para sua segunda parada, e voltou com 27 voltas ainda
por percorrer, e ainda por cima, com um novo jogo de pneus duros. Verstappen
assumiu a liderança de novo, e seguiu com a estratégia original da Red Bull. Em
linhas gerais, tudo já parecia se encaminhar para o resultado a favor do
holandês na corrida, com Lewis tendo de se conformar com o 2º lugar. Mas, assim
como havia acontecido após o primeiro pit stop, Hamilton começou a andar mais
rápido, e a diminuir a vantagem de Verstappen. E aqui a Red Bull cometeu outro
erro, ao não marcar a estratégia da Mercedes, e ainda por cima, ter retornado o
piloto à pista com pneus intermediários, e não duros, na primeira parada. Isso
significava que Verstappen teria de usar outro tipo de pneu para o trecho final
da prova, muito provavelmente os duros, ou os macios.
Só que quando finalmente pararam seu piloto, voltas depois, ainda havia muitas voltas, e Hamilton de novo na liderança, teria de ser alcançado pelo holandês. Tarefa fácil para quem tinha pneus duros, mas 11 voltas mais novos, se comparados aos do carro do piloto da Mercedes. Ms não foi exatamente o que se viu: Verstappen foi se aproximando, mas Hamilton, de novo com grande pilotagem, foi dificultando a tarefa, de modo que quando foi finalmente alcançado, já estávamos a poucas voltas do final, e aí, vimos o que aconteceu, com o holandês dando seu bote, e concluindo a ultrapassagem na curva 4, mas extrapolando os limites de pista, o que seria passível de punição. Devolveu a posição pouco depois, cumprindo com o protocolo necessário para evitar a reprimenda, e partindo de novo ao ataque. Só que sem conseguir repetir a manobra da ultrapassagem, e com um agravante: seus pneus já não rendiam o mesmo, e ainda por cima haviam ficado um pouco sujos. Mesmo assim, foi um ataque implacável, que só não frutificou porque Lewis conseguiu se manter heroicamente à frente, e ganhou a corrida, que resultou numa sensação de grande frustração para o holandês e a Red Bull.
A McLaren pontuou com sua dupla de pilotos e sai na frente pela disputa do 3º lugar no campeonato 2021.
Vendo de fora, e depois da corrida,
pode parecer fácil acusar Verstappen de não ter tido paciência para tentar
ultrapassar Hamilton, o que poderia ter feito nos trechos de reta seguintes,
onde teria o DRS para auxiliá-lo na manobra. Mas, no calor da corrida, e ciente
de que quem estava na sua frente era Lewis Hamilton, é justificável imaginar
que não havia muito o que justificasse esperar muito. Ou Max atacava logo, ou
poderia perder a chance. Mas, entre atacar com tudo e manter-se no ataque, a
diferença é tênue, e um passo em falso pode colocar tudo a perder. Hamilton
abriu e permitiu a ultrapassagem, mas logo a seguir, na tomada de curva, ocupou
espaço na pista coerente com uma tomada de curva, o que obrigou o piloto da Red
Bull a seguir por fora, e com isso, realizando uma manobra que seria
considerada ilegal por ser concluída fora dos limites de pista. E deu no que
deu. Apesar de Verstappen até declarar, contrariado depois de ter devolvido a
posição, de que preferia ter vencido e sofrido a punição, acreditando que
poderia abrir os 5s prováveis do castigo que lhe seriam aplicados, foi melhor
assim. Não livra o evento da polêmica, mas ao menos vimos o vencedor na
bandeirada, e não depois, vendo outro piloto, que não cruzou em primeiro, ser
declarado o vencedor. Nesse aspecto, menos mal. E a própria Red Bull aceitou
esse resultado, entendendo que a manobra acabou sendo irregular. Portanto, fim
de discussão.
Por outro lado, é verdade que esse lance de limite de pista sempre vai suscitar discussões, e isso não é de hoje. Por mim, fora do limite de pista deveria ter brita, de modo que quem sair que arque com as consequências. Mas, pelas regras de segurança, que encheram os circuitos de áreas de escape asfaltadas, isso é impraticável. Ou pelo menos coloque um tipo de superfície que não permita de forma muito mais pronunciada, o seu uso em termos de ganho. E que a FIA, por sua vez, seja mais clara e objetiva com seus regulamentos. Tivesse dito que poderia se ignorar o limite de pista ali, como estava fazendo, EXCETO em disputa de posição clara, como tentativa de ultrapassagem, e talvez tudo fosse menos polêmico, pois vi Hamilton fazer a curva ali várias vezes extrapolando os limites de pista, algo que acabou sendo feito também por alguns outros pilotos, mas que ganhou notoriedade justamente pela ultrapassagem de Verstappen, concluída com o carro passando por fora da pista. Curioso que fala-se que Hamilton ganhava 0s2 de tempo passando ali fora, mas isso era no tempo de volta, ou naquele trecho? Isso porque toda vez que algum carro passava ali, levantava a poeira de fora da pista, de modo que seria lógico imaginar que o pneu, sujo por essa sujeira, perderia um pouco de desempenho no trecho seguinte, de forma que o ganho não seria tão expressivo assim, valendo mais para o trecho do que para a volta propriamente dita. Algo a se pensar a respeito da afirmação de que Hamilton se favorecia passando por ali, no seu tempo de volta integral. É preciso regras e entendimentos mais claros, a fim de não termos essa discussão. E isso foi frisado tanto pela direção da Mercedes quando da Red Bull, que também não gostam deste tipo de incerteza e insegurança subjetiva, que pode levar a situações que só prejudicam o esporte. Como vimos no Canadá em 2019, com relação a Sebastian Vettel, que na minha opinião perdeu uma vitória por causa de uma intepretação bem mais radical sobre seu retorno à pista após escapar numa curva, acossando por Hamilton na ocasião.
Várias disputas no pelotão do meio: Alpine e Aston Martin ficavam devendo melhores resultados, mas os pegas foram animados.
No duelo entre os dois pilotos,
Hamilton conseguiu executar a estratégia da Mercedes à risca, e soube conduzir
seu carro no delicado equilíbrio entre ser rápido e conservar seus pneus. E foi
isso que lhe deu a vitória, se bem que graças também à ultrapassagem polêmica
de Verstappen fora da pista. O holandês tinha tudo para vencer, e acabou
derrotado. Lewis saiu de Sakhir na liderança do mundial, e a Mercedes ganhou
algum tempo para tentar continuar corrigindo seu novo carro, melhorar sua
performance, e conseguir neutralizar a melhor condição do carro da Red Bull.
Até porque Verstappen e o time rubrotaurino ficarão muito mais vivos depois desta derrota, e deverão estar bem mais atentos às estratégias da Mercedes. Para não mencionar que o desempenho dos dois carros poderá ser diferente nas próximas pistas, e ninguém sabe dizer exatamente se para melhor, deixando os carros mais próximos, ou pior, com as diferenças entre eles aumentando, em termos de disputa. E, se a diferença for maior, uma estratégia mais ousada pode não fazer diferença, como ocorreu no Bahrein. E ainda não podemos esquecer do papel de Valtteri Bottas e de Sergio Perez. O finlandês correu praticamente sozinho a corrida inteira, sem ameaçar Hamilton, mas também sem ser ameaçado. Já Perez, vítima de um problema que apagou seu carro na volta de apresentação, teve de largar do box, em último, e ir escalando o pelotão, ficando incapaz de participar da luta das primeiras posições, onde muito provavelmente chegaria, e poderia complicar as estratégias dos pilotos da Mercedes, e talvez até comprometer o resultado esperado pelo time alemão. Ciente de que ainda tem o que melhorar, Perez aproveitou a sua primeira prova pela Red Bull para tentar se acostumar ainda mais com o comportamento do carro, e com isso, melhorar o seu ritmo e performance, com o objetivo de também entrar na luta contra Hamilton e Bottas, algo até agora feito somente por Verstappen.
Sergio Perez por pouco não ficou de fora do GP, mas conseguiu se recuperar e terminou em 5º depois de uma corrida combativa em sua estréia na Red Bull.
Isso nos dá a expectativa de bons pegas
nas próximas corridas. A Red Bull vai querer ir à forra, e garantir que a
Mercedes não retome o controle do campeonato. E o time alemão sabe que terá de
continuar sendo cerebral e extremamente tático par contrabalançar, tanto quanto
possível, sua desvantagem, e não permitir que o rival saia de controle. Quem
achava que Hamilton ganhava só por ter o melhor carro precisa rever um pouco
seus conceitos. O inglês aprendeu a ser cerebral, tático, e preciso em sua
pilotagem. E, assim como seu time, a Mercedes, soube se manter sob controle e
focado durante toda a corrida, mesmo nos momentos de maior pressão, chegando
até a cometer alguns erros, dificultando sua defesa da liderança da prova. E
Verstappen, outro gênio da velocidade, mostra que ainda tem algo a aprender no
duelo contra alguém de tão alto nível, onde só velocidade pura não é o
bastante, sendo necessário estar atendo a todos os detalhes possíveis.
Teremos um grande duelo este ano, pelo que pudemos ver no Bahrein. Ainda é cedo para comemorarmos, mas as expectativas, que já eram altas, cresceram ainda mais, pela possibilidade de termos duelos parelhos e acirrados, e não apenas trocar o domínio de um piloto e uma equipe pelo domínio de outro piloto e outra equipe. Tudo vai depender de como estas escuderias evoluirão seus carros durante o ano. A Red Bull sempre demonstrou bom trabalho em aprimorar seu bólido conforme a temporada avançava. A Mercedes, por outro lado, sempre se mostrou confiante e focada em seu trabalho nos momentos (raros) de aperto, o que irá precisar fazer agora em tempo integral. Será que conseguirão manter esse retrospecto? A conferir nas próximas corridas...
A Bandeirantes fez uma bela e intensiva cobertura em sua reestréia na transmissão da F-1, com uma apresentação bem mais descontraída e extensa, ao contrário do que a Globo vinha fazendo nos últimos tempos. A audiência, claro, não foi a mesma dos tempos globais, levando-se em conta as diferenças entre um canal e outro no que tange à cobertura nacional. Mas de início mais do que triplicou o ibope da emissora paulista no momento da prova, e isso já é um bom começo, especialmente para atrair mais anunciantes, e ir cativando o público que ainda tem ressalvas em acompanhar a categoria em sua nova “casa”, ou ainda está, por incrível que pareça, alheio à tal mudança ocorrida. E foi bom rever todo o pessoal, especialmente Reginaldo Leme, voltando a atuar em uma transmissão da F-1, e com todo mundo tendo seu momento de falar, sem estrelismos ou “censuras” editoriais. Há o que melhorar, e espero que isso seja apenas um excelente ponto de partida para ir sendo aprimorado nas próximas etapas. A emoção na pista, pelo menos, já é um excelente bônus para a nova emissora nas transmissões...
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