sexta-feira, 9 de abril de 2021

EXAGEROS E BIRRAS

Helmut Marko: implicância do dirigente com alguns pilotos há muito já são vistas como exageradas. E relação com Gasly revela birra com relação ao piloto francês, mesmo com bons resultados na pista.

            Que o meio do automobilismo é cheio de tretas, rinhas, e até confusões, isso não é nenhuma novidade. Quase sempre é um meio selvagem, onde é preciso devorar para não ser devorado, e uma das máximas é afirmar que o companheiro de equipe é seu primeiro rival na competição. É matar ou morrer, e para muitos, o último resultado é o que vale. Por essas e outras, quem resolve fazer carreira no automobilismo precisa ter uma cabeça forte, e saber encarar as pressões por resultados e superar os dias ruins. Mas o que acontece quando você faz um excelente trabalho, e mesmo assim acaba desprestigiado? Pode-se dizer que aí as coisas estão extrapolando um pouco o que já seria um comportamento exageradamente de pressão.

            Pois parece ser a situação vivida pelo francês Pierre Gasly, que fez uma temporada excelente no ano passado, chegando a vencer uma corrida, e levando a Alpha Tauri, nome atual da equipe “B” da Red Bull a seu melhor ano em mais de uma década. Mesmo assim, seu trabalho bem feito não o credenciou a receber uma nova chance no time principal, a Red Bull, que acabou contratando o mexicano Sergio Perez para ser o novo companheiro de Max Verstappen na temporada 2021. Gasly até fez uma classificação impressionante na primeira corrida da temporada, no Bahrein, largando na 5ª posição, a pouco mais de 0s8 do tempo do pole-position, justamente Verstappen. O que ganhou com isso? Uma declaração atravessada de Helmut Marko, o todo-poderoso consultor da Red Bull, de que Verstappen “seria mais rápido” se estivesse com o carro da Alpha Tauri, podendo ser 0s2 a 0s3 mais veloz que o francês. Pode até ser, mas o modo como deu essa declaração, ao jornalista Christian Nimmervoll, do Formel1.de, portal irmão do site Motorsport.com, dá a entender que Gasly não conta com sua confiança, não importa o que venha a fazer na pista.

            Poderia se dizer que Marko ficou desiludido com a performance do jovem piloto francês, que em 2019 dividiu a Red Bull com Max Verstappen, e como não vinha rendendo o esperado, foi “rebaixado” de volta para a então Toro Rosso, o time “B” da Red Bull na F-1. Tal procedimento já havia sido feito com o russo Danill Kvyat anteriormente, o que contribuiu para complicar a carreira do piloto na F-1. Mas, diferente de Kvyat, Gasly soube se recompor, e terminou a temporada de 2019 andando forte com a Toro Rosso, e repetindo as boas performances no ano passado no time B, agora nomeado Alpha Tauri. Enquanto isso, o tailandês Alex Albon, que havia sido colocado no lugar de Gasly, até foi razoável em 2019, mas no ano passado, não tendo também apresentado os resultados esperados pelo time, acabou perdendo sua vaga para este ano. Mas com o agravante de ter ficado sem lugar na F-1, já que acabou virando piloto “reserva”, e acabou ainda acomodado no DTM, na falta de coisa melhor.

Pierre Gasly venceu o GP da Itália de 2020, mas Marko não pareceu impressionado com isso, e nem disposto a dar-lhe nova chance na Red Bull...

            Como desgraça pouca é bobagem, Marko ainda encheu de elogios o japonês Yuki Tsunoda, tratando-o como a nova “pérola” do Grupo Red Bull, enaltecendo as qualidades do jovem nipônico que acabou de estrear na F-1, e até fez uma corrida honesta, com bom desempenho, e conseguindo marcar seus primeiros pontos na categoria máxima do automobilismo. Até aí, nada demais, não fossem os olhares atravessados dirigidos ao piloto francês, que infelizmente deu azar ao danificar seu carro numa disputa de posição com Daniel Ricciardo, e acabou arruinando suas chances de um bom resultado na prova barenita. Uma postura exagerada, ou simplesmente uma birra mal resolvida de Helmut Marko com Pierre Gasly? No programa Paddock GP, do site Grande Prêmio, os jornalistas debateram o assunto, levantando a questão do consultor austríaco não gostar do piloto francês, lembrando que, quando Gasly foi campeão da GP2 em 2016, quando correu pela equipe Prema, teria ouvido de Marko que “não fez mais do que a obrigação”. Bom, aí podemos dizer que já não é um caso de exagero, como tantos outros já perpetrados por Marko nas cobranças de diversos outros pilotos do Programa da Red Bull na última década, mas de birra descarada até. E o que se ganha com isso, afinal?

            Todo piloto sabe que a carreira no automobilismo é uma guerra, onde só os melhores, ou os mais bem relacionados (leia-se grandes patrocínios) acabam indo adiante. Cobranças e pressão são coisas normais nas categorias, e quem não consegue aguentar o tranco, melhor resolver repensar suas prioridades de carreira. E chegar à F-1, desde sempre, é uma meta extremamente difícil, que nos últimos anos só foi ficando muito mais complicada do que sempre foi. E nem sempre os melhores pilotos conseguem ter êxito em alcança-la. Não é o fim do mundo, mas a categoria continua a exercer um fascínio incomparável, em relação a outros certames onde muitos pilotos conseguiriam se estabelecer de forma muito mais natural e sem tantas frescuras. Em teoria, o programa de apoio e formação de pilotos da Red Bull é uma ótima ferramenta para descobrir talentos e de certa forma, garantir nomes para preencher as vagas titulares de seus times na F-1. Mas a realidade do programa na verdade acaba sendo bem diferente, e às vezes, bem cruel com muitos pilotos, talvez até além do que seria necessário, com cobranças exageradas, e pior ainda, com as birras que Helmut Marko tem demonstrado em várias ocasiões. O lance com Pierre Gasly é apenas o mais recente, e infelizmente, creio que não será o último, também.

            O ruim dessa história toda é que Marko conta com a confiança de Dietrich Mateschitz, dono do império do energético Red Bull, e proprietário da equipe de F-1, e da Alpha Tauri. Marko comanda o programa de formação de pilotos da Red Bull, e de certa forma, possui mais poder nos dois times de F-1 do que Christian Horner, diretor da Red Bull, e Franz Tost, diretor da Alpha Tauri. E infelizmente, ele já revelou que não tem pudores em “queimar” os pilotos a torto e a direito, de modo que na década passada foram vários os pilotos apoiados que programa que viram suas oportunidades desaparecerem quase do nada, quando não foram defenestrados até publicamente pelo consultor. Ganhar sua simpatia parece tarefa das mais impossíveis, e a grosso modo, até hoje, apenas dois pilotos tiveram esse “privilégio”: Sebastian Vettel, e Max Verstappen. E isso acabou rendendo a ambos preferências no time. Vettel foi tetracampeão entre 2010 e 2013, e em 2014, numa das situações inesperadas, acabou superado pelo novo companheiro de time Daniel Ricciardo, e antes que Marko pudesse mexer seus pausinhos para exaltar as preferências ao alemão, este se mandou de mala e cuia para a Ferrari, onde ficou até o ano passado.

            O outro queridinho, Max Verstappen, chegou no time e foi tratado a pão de ló, apesar das estripulias na pista, arrumando confusões e acidentes, e mesmo assim, sendo tratado com conivência pela cúpula rubrotaurina, o que acontece até hoje. Cansado deste tratamento diferenciado em relação ao holandês, Ricciardo preferiu sair. E desde então, o segundo carro da Red Bull virou uma verdadeira roleta russa, onde seus ocupantes parecem durar menos do que quem senta no famoso trono da série Game of Thrones. Tamanhos exageros na dureza, rispidez, e cobranças aos pilotos, acabaram fazendo o programa de formação de pilotos da Red Bull não ser mais tão atrativo como já pareceu um dia, a ponto de eles ficarem praticamente sem nomes viáveis para colocarem em seus carros. Isso chegou a motivar a recontratação de Kvyat, depois de defenestrarem o russo publicamente, e até chamarem um piloto já veterano no WEC, Brendon Hartley, para guiar pela Toro Rosso. A situação não melhorou muito de lá para cá, de modo que o time, para este ano, teve que abrir os olhos e deixar sua tradicional política de lado, para contratar Sergio Perez, que fez ótima temporada na Racing Point no ano passado, para alinhar ao lado de Verstappen no time principal, visando ter um segundo piloto mais eficiente.

            E isso, demonstrando de forma implícita a recusa em dar a Gasly uma nova oportunidade no time principal. Ou seria novamente a birra de Marko para com o francês. A justificativa, de querer Gasly para liderar a Alpha Tauri na pista em 2021, é frágil, já que na teoria a Alpha Tauri sempre foi o time dos novatos para a Red Bull. Yuki Tsunoda, o candidato a novo queridinho de Marko, não é um piloto ruim, mas não teve o mesmo brilho que Gasly na F-2 no ano passado, mesmo terminando o ano em 3º lugar, e para alguns, ele chegou mais por intermédio da Honda do que pelos resultados propriamente ditos. A conversa sobre não querer queimar o rapaz na cobrança de performance é bonita e lógica, mas quero ver se ela se sustenta se o jovem japonês começar a ter problemas para apresentar resultados. Ele mal começou o ano, e esse oba-oba de Marko em cima dele pode rapidamente mudar de direção, conhecendo o retrospecto do dirigente com pilotos anteriores que chegaram com expectativas, e viram suas oportunidades desvanecerem com a mudança de humor de Marko. Uma armadilha que Tsunoda terá de ter cuidado para não cair, se bem que, até certo ponto, ele pode não ter como evitar isso, caso aconteça o pior, já que muitas vezes acontecimentos alheios ao controle do piloto acabam por arruinar completamente as chances de fazer boas apresentações.

Helmut Marko é só elogios para Yuki Tsunoda, apesar do japonês ter feito apenas sua corrida de estréia. Até quando essa relação cordial se manterá, caso o novato japonês tenha problemas?

            Se Gasly quiser levar sua carreira diante, ele já sabe que não pode contar com Marko e sua birra imbecil, e que o melhor é arrumar um lugar em outro time. E ele precisa aproveitar o momento em que os demais times vêem seu trabalho na Alpha Tauri. Carlos Sainz Jr. foi outro piloto que, vendo que não teria oportunidades de ascenção com os rubrotaurinos, já que sempre foi preterido na comparação com Verstappen, arrumou sua transferência para a Renault, e depois para a McLaren, onde fez duas belas temporadas, e hoje está na Ferrari. Ricciardo resolveu se aventurar na mesma Renault, e hoje é um dos pilares com que a McLaren confia em seu restabelecimento como protagonista no grid. E outros pilotos, como Sébastien Buemi e Antonio Felix da Costa, depois de perderem as ilusões na F-1, foram ser felizes em outras categorias. Há quem diga que a Alpine pode ser o destino de Pierre, caso seu compatriota Esteban Ocón não traga resultados este ano. E segundo algumas fofocas, isso já fez se sentir na direção da Alpha Tauri, com Franz Tost a elogiar o trabalho feito por Gasly, sabendo muito bem o prejuízo que o time terá se perde-lo. E, muito provavelmente, seja também outro motivo para a birra de Marko para com o piloto só aumentar, motivando declarações sobre sua competência e velocidade, como a feita ao Formel1.de, para desmerecer suas qualidades, e com isso, impedir que ele possa achar oportunidades em outro time, e continue “preso” à Red Bull, um ato de extrema baixaria e falta de caráter, uma vez que o dirigente não pensaria duas vezes em rifá-lo se aparecer outro “queridinho” nas categorias de base que aceitem participar do programa de pilotos da marca de energéticos.

            Situação que vem sendo mais complicada ultimamente, já que vários pilotos de potencial estão preferindo passar longe de Marko, ou nem mesmo querendo saber dele, por saberem que podem acabar sendo mais prejudicados do que beneficiados no programa da Red Bull, pelos exageros e birras relacionados ao velho dirigente. Eles sabem que o caminho é árduo e difícil, mas que pelo comportamento do ex-piloto austríaco, terão mais problemas a superar do que os que já conhecem, uma vez que nem todos tem o hábito de queimar tanto os pilotos como Marko já fez questão de demonstrar. E é bom mesmo evitar certas armadilhas pelo caminho, se quiserem ter menos dores de cabeça e pressão do que o normal, o que já não é pouca coisa.

            Pelo seu comportamento, Helmut Marko qualquer hora irá receber merecidas respostas atravessadas. Quanto a Gasly, que consiga achar oportunidades melhores para sua carreira, e para pilotos jovens e incautos, que tenham cuidado redobrado se aceitarem ser gerenciados por este sujeito, pois as chances de seus sonhos virarem pesadelos é exponencialmente muito maior...

 

 

Sebastian Vettel nem bem começou de forma menos bem-sucedida do que esperava sua jornada na Aston Martin, e sua permanência na F-1 já começa até a ser posta em dúvida. Há quem afirme que o tetracampeão alemão já não terá lugar no grid em 2022, enquanto para alguns, ele poderia até sair sem terminar a temporada deste ano. De fato, a estréia de Sebastian no carro verde acabou não sendo exatamente o que muitos esperavam, nem ele próprio. As regras de contenção de downforce implantadas pela FIA acabaram afetando justamente o carro da Mercedes, pela solução abordada pelo time alemão para solucionar a perda de geração de pressão aerodinâmica, e como o carro da Aston Martin copiou vários aspectos do carro do time multicampeão, eles acabaram atingidos também. Só que, contando com um time de engenheiros não tão eficiente como o da equipe alemã, o carro deles perdeu muito mais rendimento do que o esperado, e provavelmente, demorará mais a recuperar o desempenho do que o pessoal da Mercedes. E um carro instável na traseira é tudo o que Vettel menos gostaria de ter, já que esse tipo de carro não combina com o seu estilo de pilotagem, preferindo um carro mais estável e firme. Ao se livrar do ambiente tóxico da Ferrari, onde já não era mais respeitado pela cúpula do time, esperava-se que Sebastian reencontrasse a paz de espírito necessária para fazer o talento que fez dele um tetracampeão mundial ressurgir, mesmo com dificuldades iniciais de adaptação a um carro diferente. Infelizmente, parece que o buraco é muito mais embaixo do que todos imaginavam, e não apenas com relação ao desempenho do novo carro de 2021. A cúpula da Aston Martin sabe que precisa dar tempo a Vettel de se enturmar mais e compreender melhor o carro que tem à sua disposição, ao mesmo tempo em que precisam melhorar o seu comportamento e performance. E Vettel precisa aproveitar essa paciência que seu novo time tem com ele para reencontrar a si mesmo e seu talento de campeão para reverter as expectativas, ou continuará a sofrer o desgaste que o afligiu em seus tempos recentes na Ferrari, e a ser visto como ex-piloto ainda em atividade...

 

 

A Formula-E acelera neste final de semana com o ePrix de Roma, que acabou transformado em uma rodada dupla, a fim de incrementar o número de corridas da temporada atual, afetada pela pandemia da Covid-19. A prova esteve sob o risco de não ser realizada, já que a Itália enfrenta um recrudescimento dos casos do coronavírus, e a vacinação segue a passos lentos no país, assim como no restante da União Européia, com muitos lugares também enfrentando novos lockdowns, como na França, e na própria Itália. As corridas na capital italiana terão um circuito com novo traçado, com uma extensão de 3,385 Km de extensão, maior que o antigo traçado, que tinha 2,84 Km. A nova pista também tem menos curvas, 19, contra 21 do antigo layout, o que deve permitir mais disputas com melhores pontos de ultrapassagens. A TV Cultura transmitirá as duas provas ao vivo, no seu canal de TV aberta, além dos treinos livres e classificatórios no site da emissora. Na TV por assinatura, o SporTV também irá mostrar a rodada dupla ao vivo. As corridas serão realizadas em horários diferentes: no sábado, a transmissão começa por volta das 10:30 Hrs., tanto na TV Cultura quanto no SporTV; já no domingo, o horário é a partir das 7:30 Hrs., também, nas duas emissoras.

O novo traçado a ser utilizado no ePrix de Roma, que será disputado em rodada dupla neste final de semana.

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