NO AQUECIMENTO...

A Fórmula 1 em nova casa deixa os fãs na expectativa, e a Bandeirantes acerta nos profissionais que escolheu para montar o seu time de transmissão do campeonato.

            O ano de 2021 tem bons motivos para ver o automobilismo ganhar muita força na TV nacional. Depois de alguns anos sendo tratado na base da obrigação contratual, as peças trocaram de mãos, e os projetos de transmissão tem tudo para revigorar o status esportivo das corridas nas programações.

            Lógico que o file mignon, a Fórmula 1, é o principal destaque. A mudança de emissora tem um quê de novidade, mas também de continuidade,e com boas chances de ganhar um fôlego renovado quase por completo, para alegria dos fãs. Se os recursos técnicos da Bandeirantes frente aos da Globo poderiam ser um revés para as transmissões da categoria máxima do automobilismo na emissora do Morumbi, por outro lado, a escolha do pessoal que vai cuidar do serviço é de competência mais do que reconhecida, e com anos e anos de experiência, capazes de conseguir fazer bem mais por até menos.

            Primeiro, a F-1 volta a contar com Reginaldo Leme nos comentários. Um dos mais experientes jornalistas de automobilismo do mundo, tendo iniciado seus trabalhos em 1972 cobrindo justamente a conquista do primeiro título de Émerson Fittipaldi, o conhecimento e intimidade de Reginaldo com a F-1 é inquestionável. E a seu lado, estará Sérgio Mauricio, que vinha se notabilizando por narrar os treinos livres e de classificação no SporTV nos últimos anos, mas já tendo narrado as corridas na Globo, e quando o SporTV fazia uma transmissão própria dos GPs há alguns anos atrás. Carismático, boa praça, e com uma narração mais objetiva e centrada, ele era o melhor nome que a Bandeirantes poderia conseguir para a função. Para a segunda posição de comentarista, veio a notícia de que Max Wilson foi o escolhido, mas ainda há espaço para mais gente pintar na área, uma vez que, com a transmissão também da F-2 e da F-3, além de já ter a Stock Car Brasil, e com alguma sorte, manter a Indycar, a emissora paulista terá um senhor portfólio da campeonatos em sua grade de programação neste ano de 2021, contando tanto o canal aberto quando o Bandsports.

Contratado inicialmente para comentar a Stock Car, Reginaldo Leme se viu de volta à F-1, depois de um ano de ausência, e sendo o principal nome de peso do time de transmissão do novo projeto da emissora.

            Nos bastidores, também era preciso colocar gente capacitada. Aqueles que podem até aparecer pouco, mas cujo trabalho é mais do que fundamental para garantir a qualidade operacional da transmissão, e que estarão presentes in loco nos autódromos, função que foi revezada na TV Globo na última década, mas tendo como um dos nomes mais destacados o de Mariana Becker, que agora também está no projeto de transmissão da Bandeirantes, continuando a exercer o papel que já desempenha a mais de uma década, quando se tornou correspondente da Globo na Europa, passando a ficar situada em Monte Carlo. Em um meio onde é preciso construir canais de confiança para se ter acesso às notícias mais qualificadas do paddock, em um ambiente bem hermético, o nome de Mariana não agrega apenas experiência, mas toda uma década de contatos e aproximação da profissional com nomes de pilotos, e principalmente de pessoas da estrutura das equipes, que não se abrem com qualquer jornalista presente no paddock. A presença que Mariana construiu no paddock ao longo da última década acompanhando a F-1 é um bem inestimável para conseguir trazer notícias de ótimas procedências, pela credibilidade que ela construiu nesse meio. Qualquer novo nome precisaria começar do zero sua rede de contatos e batalhar para conseguir uma maior aproximação com os nomes do “circo”, o que poderia demorar a render frutos necessários para aumentar o destaque das transmissões e reportagens da categoria.

            E quilometragem no paddock é algo que não falta a Jayme Brito, que está desde o início dos anos 1980 envolvido nas transmissões da F-1 na Globo, tendo começado como assistente de Galvão Bueno. Pouco aparecendo nas transmissões, e sendo vez por outra apenas mencionado pela equipe de narração e comentários na Globo, Brito tem um grande tráfego no paddock da categoria, sendo sempre um nome de peso na retaguarda da Globo. Sua experiência nos bastidores como produtor, e seus canais de acesso e relacionamento com o pessoal da área do paddock, seja no aspecto técnico e até além dele, fazem de Jayme um nome que só perde em convivência para Reginaldo Leme na turma que estará presente na transmissão da Bandeirantes. Jayme será o produtor executivo da equipe de cobertura dos GPs, de modo que a Bandeirantes dá outro show de acerto em mais uma escolha profissional para seu time de profissionais. E a sintonia dele com Mariana Becker é mais do que profissional, já que ambos são marido e mulher, estando casados há anos e conhecendo-se muito bem. Ao lado deles, teremos Gianfranco Marchese, que executará a função de cinegrafista, trabalhando com eles há praticamente uma década, assumindo de vez o posto na equipe de reportagem da F-1 depois da aposentadoria de Luiz Demetrio Furkim, há alguns anos.

            Em finalmente, Juliane Cerasoli, que já vinha cobrindo a F-1 in loco para as transmissões da rádio Bandeirantes nos últimos anos, e que agora assume a função de produtora do time de reportagem. Não há como negar que, diante de vários nomes disponíveis no mercado, a Bandeirantes conseguiu uma excelente equipe de profissionais, entre quem já estava na casa, e quem acabou de chegar para integrar o projeto. E a intimidade que muitos deles já possuem com o telespectador pode ser tanto útil quando um problema.

            Primeiro, porque já são nomes conhecidos de muitos fãs que acompanham as transmissões há anos pela Globo. Eles sabem que são profissionais gabaritados, e que podem trazer, se não o melhor material, com certeza um material de qualidade. Com um certo exagero, muitos até poderiam dizer ainda estar acompanhando as transmissões da Globo, pela presença de Sérgio Mauricio, Reginaldo Leme, e Mariana Becker aparecendo no vídeo. Mas, por outro lado, também pode atrair a ira dos inconformados, críticos e detratores que reclamavam das transmissões feitas pela emissora global. Quantas vezes não ouvi frases desabonadoras em fóruns e comentários de que Reginaldo só falava besteiras ultimamente, e estava até gagá, servindo muitas vezes apenas de “escada” para Galvão Bueno, outro que era um dos mais criticados pelo seu ufanismo, e porque não dizer, obsessão em mencionar Ayrton Senna GP sim GP não?

Mariana Becker (acima) nas reportagens, e Sérgio Maurício (abaixo) na narração: dois nomes conhecidos dos fãs nas transmissões da Globo ajudam o projeto a começar com o pé direito em se tratando de conhecimento e experiência.

            Só que muitos se esquecem do clima e política editorial na transmissão esportiva que impera na TV Globo, que apesar de seus vastos recursos técnicos, tem lá suas idiossincrasias, e que não são poucas. Para não mencionar uma certa dose de estrelismo de Galvão, que muitas vezes não deixava seus colegas falarem direito, tendo sempre a primazia da fala na tela. Se a Bandeirantes quiser se livrar da imagem de “continuísmo” puro e simples das transmissões globais, o que significa mais continuar cometendo os mesmos gestos e estilo de transmissão ufanistas perpetrados pela emissora do Jardim Botânico, o remédio será fazer uma transmissão imparcial, centrada, e acima de tudo, coerente e sóbria. Sem exageros, indo direto ao ponto, e também, não cometendo as gafes da Globo. Um exemplo que já está confirmado é a volta da cerimônia do pódio, “podada” na Globo nas últimas temporadas, e jogada para escanteio no site do Globoesporte.com, obrigando o fã a correr para o computador para continuar a ver a transmissão pela internet. É preciso repetir quantas vezes para convencer alguém que isso era um grande desrespeito para com o fã que assiste às corridas?

            Difícil responder no caso da Globo, que tem a sua posição, e dane-se o resto. E quem sabe passamos a ver a Red Bull sendo chamada de “Red Bull” mesmo, e não de “RBR”, por causa da política tacanha da emissora de não querer fazer “propaganda de graça”. Nas vezes em que vi Sérgio Mauricio e Reginaldo Leme juntos na transmissão de um treino e corrida, havia um equilíbrio de protagonismo entre ambos, onde um não procurava submergir o colega, com ambos tendo peso bem similar no vídeo e na transmissão. E Mariana Becker, quantas vezes pedia para entrar, e Galvão Bueno a deixava esperar um pouco, para terminar de dizer algo?

            Por mais que sejam os mesmos profissionais que fizeram a transmissão na Globo por muitos e muitos anos, poderemos ver uma transmissão completamente diferente na Bandeirantes. A emissora, aliás, já afirmou que pode fazer uma verdadeira maratona de automobilismo no fim de semana de estréia do campeonato da F-1, no GP do Bahrein, dia 28 de março, com uma transmissão que pode chegar a seis horas ininterruptas ao vivo. O que acontece é que no mesmo dia haverá também a estréia da temporada 2021 da Stock Car, e a Bandeirantes também transmitirá a categoria Porsche Cup na TV aberta. A emissora tem planos de engatar uma transmissão atrás da outra no dia, aproveitando o momento automobilístico, e só para a estréia da F-1, pode fazer uma transmissão pré-corrida de até uma hora e meia. E material para isso não vai faltar: pode ter a apresentação das equipes, seus pilotos, as mudanças de regulamento (atuais e futuras), últimas notícias, etc. Algo que a Globo chegava fazer em seus bons tempos, mas que foi largando para trás nos últimos anos, deixando sua transmissão mais “engessada”, quando não tinha algumas idéias meio estapafúrdicas para apresentar num pré-corrida de estréia de campeonato.

Time de reportagem nos autódromos montado: Jayme Brito (de azul), produtor executivo; Gianfranco Marchese (ao lado), cinegrafista; Juliane Cerasoli (de camisa amarela), produtora; e Mariana Becker (ao centro), repórter.

            A situação só não é melhor porque não temos um piloto brasileiro no grid. Mas isso pode ser, como já foi dito, uma vantagem, pois não é preciso focar neste ponto. Nada contra dedicar atenção a um piloto nacional competindo na categoria máxima do automobilismo, mas muitas vezes a Globo dava uma ênfase onde só eles importavam, e nem procurava amadurecer a idéia de que eles não tinham condições de bons resultados com carros pouco competitivos, dando a entender, em vários momentos, que eles poderiam sim correr muito melhor do que fizeram. Isso ajudou a “queimar” a imagem de muitos de nossos pilotos que chegaram à F-1 e não obtiveram os resultados que a grande parcela dos telespectadores esperava. Para a maioria destes “fãs”, estes pilotos eram uma “vergonha” para o país que já teve Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna. Rubens Barrichello e Felipe Massa, então, chegaram a ser chamados de maiores “vergonhas do esporte a motor nacional”, entre outros adjetivos menos educados, por não terem sido campeões na categoria, tendo “desonrado” o legado de nosso trio de gênios da velocidade. O que esperar de uma torcida com este tipo de pensamento...?

            Por isso mesmo, a ausência de brasileiros no grid dá ao time da Bandeirantes a oportunidade de tentar fidelizar o torcedor pela F-1 em si, e não porque um compatriota está lá, “defendendo nossa bandeira” no grid. Há muitos assuntos que podem ser abordados, de forma didática e objetiva, que são interessantes, e podem ser mostrados. Podemos ver muita coisa nova nas primeiras corridas, enquanto a Bandeirantes e seu time de profissionais estiverem tentando achar o ponto ideal de equilíbrio para dar um “rosto” as transmissões na nova casa brasileira. Afinal, é preciso também dar audiência, e nos primeiros momentos, será preciso tentar acostumar o telespectador comum com um novo estilo de transmissão que consiga prender sua atenção, sem que ele fique entediado com o que está assistindo. Pode levar algum tempo até que se acerte o tom, equilibrando qualidade e atratividade da transmissão. E os fãs e os telespectadores precisarão ter um pouco de paciência com isso.

            Esperemos que a Bandeirantes também tenha o bom senso de deixar o time de transmissão achar o tom certo para conquistar o público, porque se a emissora quiser audiência logo de cara, antes de amadurecer a transmissão, pode dar um tiro no próprio pé, e prejudicar o trabalho que a equipe estará desenvolvendo. Ninguém por lá é um novato na área, e eles sabem como fazer as coisas, bastando não cometer erros da Globo. Caso contrário, podemos ver o pior dos mundos, com a nova casa da F-1 podendo dar saudades dos tempos da emissora carioca, não fosse o modo como ela tratou a categoria máxima do automobilismo nos últimos tempos.

            Pode parecer meio óbvio, mas torçamos para que deem tempo ao tempo, e conquistem a audiência sem sofrerem ingerências por parte da executiva da emissora, e que comprometam o projeto de transmissão... De ingerências, impaciências, e acima de tudo, incompetências, já  temos nossos políticos, que a cada dia dão mais e mais motivos de desgosto neste país...

 

 

Hora de acelerar com a F-E na Arábia Saudita. E em novos canais no Brasil.

E hoje teremos a etapa inaugural da temporada 2021 da Formula-E, com o ePrix de Diriyah, na Arábia Saudita, que abre o campeonato com uma rodada dupla. Será a estréia da TV Cultura nas transmissões esportivas de corridas. No horário das 10 horas, a emissora exibe o treino de classificação da prova, que terá largada às 14 horas, pelo horário do Brasil, ambos com transmissão ao vivo no canal aberto da TV Cultura. E amanhã, teremos transmissões nos mesmos horários, com a classificação às 10 horas, e corrida às 14 horas. A transmissão da emissora paulista contará com a narração de Marco de Vargas, e os comentários serão de Fábio Seixas.

 

 

E, de última hora, fomos surpreendidos com o anúncio de que o SporTV adquiriu os direitos de transmissão da Formula-E para TV fechada no Brasil, depois que o certame deixou de ser transmitido pelo Fox Sports. No canal pago do Grupo Globo, haverá a transmissão ao vivo tanto dos treinos de classificação quanto das corridas, nos mesmos horários anunciados pela TV Cultura. A exibição será feita no canal SporTV2, com narração de Bruno Fonseca e comentários de Rafael Lopes. Seria certo exagero afirmar que a Globo estaria sentindo o baque de ter deixado escapar a F-1 e a MotoGP nos últimos dois anos, e ver a concorrência assustar promovendo melhor a transmissão de corridas? Será interessante ver como o SporTv irá abordar a categoria de carros de competição 100% elétricos, que sempre foram sumariamente ignorados no canal, por serem transmitidos pela concorrente Fox Sports. Vale lembrar que o SporTV continuará a exibir a Stock Car Brasil na TV por assinatura, enquanto a Bandeirantes exibirá o certame em TV aberta pelos próximos anos...

 

 

Lucas Di Grassi, da Audi, ficou em 3º lugar no primeiro treino livre da F-E em Diriyah, com Sérgio Sette Câmara, da Dragon/Penske apenas em 18º. Nick de Vries, da Mercedes, foi o mais rápido, com André Lotterer, da Porsche, terminando em 2º lugar. Todos terão mais um treino livre hoje, no horário das 8 horas, antes do treino de classificação às 10. A rodada dupla em Diriyah será disputada à noite no horário da Arábia Saudita, uma novidade na competição da F-E.

ESPECIAL FORMULA-E 2021

Chegou a hora da F-E acelerar novamente.

            E o mundo da velocidade começa a se mexer. Se algumas categorias como o IMSA Wheater Tech Sportscar e a Nascar já aceleraram em suas primeiras provas, chegou a vez da Formula-E também dar a largada em seu campeonato, apesar das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19. Então, é hora de um texto dando um panorama geral do que teremos na temporada deste ano, e esperar que o certame continue apresentando corridas disputadas, e muita emoção...

 

FORMULA-E 2021

 

Campeonato de carros monopostos elétricos inicia sua nova temporada sob a incerteza da pandemia

 

Adriano de Avance Moreno

 

         O ano da velocidade começa a esquentar. Estamos no fim do mês de fevereiro, e como de costume, nesta época do ano, várias categorias do mundo do esporte a motor já estão a plena atividade para iniciar suas atividades de competição. Mas, neste ano de 2021, nem tudo ainda está normal. A pandemia do coronavírus Covid-19, que virou o mundo de cabeça para baixo em 2020, ainda está fortemente presente no mundo inteiro, e mesmo com a vacinação em massa contra o vírus tendo se iniciado em vários países, ainda serão necessários vários meses até que seu efeito comece a ser sentido, e várias restrições sanitárias implantadas mundo afora, inclusive com fronteiras de países fechadas e proibição de viagens possam ser flexibilizados e quem sabe, relaxados. Mesmo assim, a vida segue, e é hora da Formula-E, o campeonato de carros monopostos elétricos, dar a largada para seu campeonato de 2021. Será a sétima temporada da categoria, que disputou suas primeiras corridas em 2014, e contrariando as previsões dos mais pessimistas, vem se firmando ano após ano, apesar de alguns percalços no meio do caminho.

         A temporada já deveria ter sido iniciada no mês de janeiro, mas o recrudescimento da pandemia em diversos países, que passaram a enfrentar uma segunda onda de infecções, obrigou o adiamento da prova, que seria uma rodada dupla disputada em Santiago, no Chile, aqui na América do Sul. A abertura da competição, então, passou para a etapa seguinte, na Arábia Saudita, que é onde teremos esta semana as primeiras corridas da nova temporada. Para tanto, os organizadores, em conjunto com as autoridades do governo saudita, assim como havia sido feito para a realização do rali Dakar em janeiro, montaram uma grande operação para permitir que equipes e pilotos pudessem se deslocar até o país, que está com suas fronteiras fechadas. A adoção de rígidos protocolos de segurança sanitária, que a categoria adotou para poder encerrar sua temporada passada em Berlim, estará mais firme do que nunca, a fim de garantir a integridade tanto quanto possível de todos os integrantes da competição, que devem seguir as normais à risca.

         E esta nova temporada de competição dos carros monopostos totalmente elétricos já começa com uma grande novidade: a rodada dupla na cidade de Al Diriyah, na Grande Riad, será disputada à noite, no horário das 20 hrs. locais (14 hrs. da tarde aqui no Brasil). Serão as primeiras provas noturnas da categoria. A pista de competição, que possui uma extensão de cerca de 2,4 Km, será iluminada por lâmpadas LED de baixo consumo que utilizarão energia obtida de fonte renovável.

A pista de Diriyah, na Arábia Saudita, é o primeiro palco da nova temporada, com uma rodada dupla noturna.

         O campeonato, a exemplo dos últimos anos, tem tudo para ser bem disputado. Não há favoritos nas expectativas, e vários times podem entrar na briga pelas vitórias. Só com o campeonato em andamento será possível estabelecer algum parâmetro de forças que permita arriscar um nome potencial para a luta do título. A sessão coletiva de testes feita no ano passado ajudou a embaralhar as possibilidades, já que os 24 pilotos que treinaram ficaram separados por apenas 0s8, uma diferença bem pequena, mostrando um equilíbrio muito bem-vindo, prenunciando boas disputas, e onde qualquer descuido pode ter grandes consequências nos resultados, tanto por parte dos times quanto dos pilotos.

E o português Antonio Félix da Costa, o atual campeão, é o homem a ser batido, assim como seu time, a Techeetah, pela qual conquistou o título no ano passado. Teoricamente, é um time bastante forte, pois vem de três títulos consecutivos nos últimos anos, tendo levado o francês Jean-Éric Vergne ao bicampeonato nas temporadas de 2017/2018, e 2018/2019; e conseguindo ser novamente campeã da temporada 2019/2020 com o piloto português, que obviamente, vai querer lutar pelo bicampeonato, enquanto Vergne, por sua vez, pretende ir para o tira-teima contra Antonio, e tentar o tricampeonato, após ter sido superado pelo novo companheiro de equipe na última temporada. Se ambos não se estranharem na pista em disputas de posição, a Techeetah terá a dupla mais forte da competição, já que ambos são campeões da categoria com todos os méritos.

A Techeetah (acima) ganhou os últimos três campeonatos, duas vezes com Jean-Éric Vergne, e com Antonio Félix da Costa (abaixo) no ano passado. É o time e o piloto a serem batidos.

         Mas a Techeetah que fique esperta, pois os times rivais não pretendem deixar a escuderia continuar vencendo impunemente. Em seu segundo ano competindo de forma oficial, a equipe Mercedes, que terminou vencendo a última etapa da temporada passada, e foi vice-campeã de pilotos com o belga Stoffel Vandoorne, quer botar as manguinhas de fora e mostrar que pretende ser campeã também no certame de carros elétricos, a exemplo do que já faz na F-1. Vandoorne quer lutar pelo título, após uma passagem não muito agradável pela F-1, e repetir o feito de outros pilotos que conseguiram brilhar na F-E depois de amargarem o pão que o diabo amassou na categoria máxima do automobilismo. Ao lado do belga, Nick de Vries quer mostrar que também sabe acelerar fundo, e não tem intenção de ficar na sombra do colega de time. E eles não são os únicos que querem discutir as vitórias nas corridas. A e.dams, time oficial da Nissan, também quer entrar na disputa, e tem uma dupla que acelera forte: Sébastien Buemi, que já foi campeão da categoria, e Oliver Rowland. Os dois terminaram o campeonato passado quase com a mesma pontuação, sendo que Rowland conseguiu a única vitória do time na temporada, mostrando-se bem à vontade para superar seu companheiro de equipe nas corridas. Buemi, após um período de baixa performance nos últimos tempos, parece ter recuperado o seu alto nível de performance, e só precisa que a Nissan, oficialmente em seu terceiro ano na competição, acerte o passo junto à e.dams para voltar à luta pelo título.

         Um detalhe interessante é que tanto Techeetah quanto e.dams começarão a temporada de forma mais conservadora, utilizando os trens de força de 2020 nas primeiras três corridas, na Arábia Saudita e na Itália, e mudar para os novos equipamentos a partir da quarta etapa, em Valência, na Espanha. Outro time que fará uso deste recurso é a Dragon/Penske, enquanto as demais escuderias iniciam a temporada com seus novos equipamentos, juntos aos chassis Gen2 fornecidos pela Spark, e com todo mundo continuando a usar os pneus da Michelin.

A Mercedes terminou 2020 com vitória, e quer continuar crescendo na F-E.

         Depois de uma temporada abaixo das expectativas, a Audi quer voltar à posição de protagonista, e lutar firme pelo título este ano. A marca alemã já anunciou que está deixando a categoria ao fim da nova temporada, tendo informado que centrará forças em seus novos projetos, entre eles um retorno ao Mundial de Endurance, e se aventurar na disputa do rali Dakar. Fornecedora do trem de força da Virgin, a Audi confirmou que deverá continuar fornecendo o equipamento ao time, mas é bem possível que a escuderia procure outro fornecedor, para maior garantia de competitividade, se sentir que isso poderá ser mais proveitoso. O time alemão continua tendo em Lucas Di Grassi seu principal piloto, e conta agora com o reforço de René Rast, que substituiu Daniel Abt no time e demonstrou potencial para não deixar Di Grassi brilhar sozinho na escuderia, que deve ser vendida ao fim da temporada, com a saída da Audi, que gostaria muito de sair por cima, e apagar as más lembranças da temporada passada.

         Se Techeetah, Audi, e.dams e Mercedes mantiveram suas duplas de pilotos, um pouco mais atrás vimos mudanças nas outras escuderias. Depois de defender a Virgin desde a temporada de estréia, o inglês Sam Bird mudou-se para a Jaguar, um time que vinha crescendo forte, e que prometia brigar pelo título, mas que empacou no meio da temporada passada, nas provas de Berlim, com Mith Evans ficando fora da luta pelo título, e tendo que se consolar com apenas uma vitória no ano. A chegada do piloto inglês à escuderia da famosa marca britânica reforça seu potencial de competição, resta esperar que eles acertem a mão no desenvolvimento do carro, e permita a seus pilotos brilharem na pista, como já mostraram saber fazer.

         Um panorama similar para a Virgin, que terá Nicky Cassidy como novo piloto, um grande talento em potencial, ao lado de Robin Frijns, tentando manter melhor a constância que havia sido um dos destaques nas temporadas anteriores, mas que a escuderia não conseguia deslanchar na segunda metade da competição. No ano passado, Bird iniciou a temporada na frente com a Virgin, mas o time também pareceu perder o rumo conforme a temporada seguia, de modo que não conseguiram lutar pelo título novamente. Frijns conseguia resultados bem próximos de Sam Bird na pista, e agora terá de mostrar isso mais do que nunca, se quiser levar o time de volta às vitórias. E Cassidy, com um bom currículo em suas empreitadas anteriores, chega querendo mostrar serviço, gerando boas perspectivas para a escuderia, que terá também o desafio técnico de decidir se continuará usando o trem de força da Audi, ou tentará um novo fornecedor, diante da saída da marca das quatro argolas do certame.

A Mahindra quer reencontrar o seu espaço. Conseguirá?

         Outro time que tentará renascer é a Mahindra. O time investiu para se reorganizar, inclusive com uma mudança de fábrica, e tentará voltar a lutar pelas vitórias na competição. Alexander Sims é o novo reforço do time, que continua contando com Alex Lynn. Enquanto isso, na Andretti, o ano começa com alguma incerteza: a BMW resolveu seguir a Audi, e também está deixando a F-E ao fim da nova temporada. A escuderia tem começado os últimos anos forte, mas perdendo fôlego conforme a temporada avança. Maxximilian Gunther terminou a pré-temporada com o melhor tempo na pista de Valência, o que é encorajador. Resta saber se novamente o time terá um bom início e um péssimo encerramento de competição. O time terá Jake Dennis no lugar de Alexander Sims. Para alívio da escuderia, a BMW já informou que deverá continuar fornecendo seu trem de força para o time, mesmo deixando de fornecer apoio oficial de fábrica, de modo que eles poderão seguir em frente com o mesmo equipamento.

         Se Audi e BMW estão puxando o carro da categoria, a Porsche tem outras idéias. Tendo como meta inicial bater a Mercedes em seu ano de estréia, eles até que não se saíram tão mal, mas perderam o duelo contra a marca das três pontas, e não querem repetir o resultado este ano. André Lotterer terá a companhia de Pascal Wehrlein na busca por melhores resultados, e pela primeira vitória na categoria. Pelo que demonstraram no ano passado, isso não vai ser fácil, mas eles estão determinados a alcançar o objetivo, mesmo que demorem o que for necessário para isso. Enquanto isso, a Venturi procura se estabilizar um pouco, contando com Edoardo Mortara, e seu novo contratado Norman Nato. A escuderia terá o reforço de Jerôme D’Ambrosio, que pendurou o capacete, e agora estará do lado de dentro do box como diretor adjunto do time, buscando vencer novamente em sua nova posição.

         E temos a NIO, time que foi campeão da primeira temporada com Nelsinho Piquet, ainda com o nome de China Racing, mas que desde então nunca mais conseguiu reencontrar o mesmo desempenho e rumo na pista, mesmo tendo se passado várias temporadas. O time terminou a temporada passada em último lugar, sem conseguir marcar um único ponto. Oliver Turvey continua pagando seus pecados no time, que terá a companhia de Tom Blomqvist, que pelo menos deverá render mais do que os pilotos chineses que o time testou nestes anos de competição. E temos também a Dragon/Penske, da qual falarei mais adiante.

A NIO continua remando, remando, e não saindo do lugar. Será diferente este ano, ou continuará no fundo do grid?

         A respeito do impacto da saída de Audi e BMW, a direção da F-E procura encarar com certa naturalidade, já que marcas vêm e vão no mundo do automobilismo, e que já há novos interessados em ocupar estas vagas potenciais em aberto. A McLaren já anunciou que pretende ingressar na competição, tão logo deixe de ser a fornecedora dos sistemas de baterias utilizados por todos os carros, algo que no momento cria um conflito de interesses para seu ingresso. E a Alfa Romeo deu sinais de que poderá vir para o certame, podendo deixar a F-1 ao fim de 2021, onde está associada à equipe Sauber. E a Renault, que já esteve oficialmente na competição, antes de repassar sua participação para a Nissan, já demonstra interesse em retornar, através de sua marca Alpine, sinal de que a força da categoria, apesar dos percalços econômicos causados pela pandemia, segue atrativa para os fabricantes, e que agora contando com limites mais restritos de gastos, deve continuar sendo bem visada pelas grandes marcas, no desenvolvimento da tecnologia de motorização elétrica que será o futuro dos automóveis em menos tempo do que muitos esperavam.

         A categoria segue com seus planos de implantar o novo modelo de carro Gen3 para a temporada de 2022/2023, que deverá ser utilizado por pelo menos três temporadas, e implantar o modelo Gen4 para 2026. Enquanto isso, ela pretende continuar mostrando muita disputa na pista, e atraindo a atenção dos fãs de corridas, mostrando ser mais do que uma simples aventura de carros elétricos. Precisa, porém, melhorar seus pontos fracos, como certos detalhes de punições no regulamento técnico, e mais agilidade para tomar providências a respeito nas corridas, de modo que seu resultado não seja modificado por algumas infrações que tem levado muito tempo para serem analisadas e discutidas. Isso já vem de algumas temporadas, e precisa ser aperfeiçoado e corrigido, de modo a fortalecer a credibilidade da competição.

         Então, que venha o campeonato 2021 da Fórmula E. E que vença o melhor!

 

O CAMPEONATO 2021

 

         Até o presente momento, a organização da Formula-E divulgou um calendário de apenas oito etapas, em virtude dos problemas enfrentados com a pandemia do coronavírus, que obrigou a competição a praticamente esquecer o calendário pré-anunciado no ano passado, e a fazer como a F-1, que foi agregando provas conforme ia sendo possível, depois de um conjunto de etapas inicial que conseguiram realizar de forma bem-sucedida.

         Assim sendo, temos por enquanto as seguintes corridas confirmadas:

 

Dia 26 de Fevereiro: ePrix I de Al Diriyah

 

Dia 27 de Fevereiro: ePrix II de Al Diriyah

 

Dia 10 de Abril: ePrix de Roma

 

Dia 24 de Abril: ePrix de Valência

 

Dia 08 de Maio: ePrix de Mônaco

 

Dia 22 de Maio: ePrix de Marrakesh

 

Dia 05 de Junho: ePrix I de Santiago

 

Dia 06 de Junho: ePrix II de Santiago

 

         A idéia da organização da F-E é agregar pelo menos mais seis ou sete corridas mais à frente, nos meses de julho, agosto, e se necessário, setembro, totalizando 14 ou 15 provas, para completar o calendário e o campeonato. Se há candidatos potenciais, o maior problema é como a pandemia irá se comportar no Velho Continente, com o avanço da vacinação contra Covid-19, que poderá permitir condições mais flexíveis para a realização, deslocamento, e até presença de público nas corridas. E estão sendo consideradas opções no continente americano também, caso as restrições de viagem na Europa continuem complicadas até o mês de junho.

         A fim de aprimorar a qualidade do show das corridas, serão implantadas mudanças nas pistas anunciadas até agora. Já neste final de semana, na rodada dupla na Arábia Saudita, foi feita uma alteração no circuito, em especial na saída dos boxes, que agora deixa os carros na curva 2 da pista, além de mudanças na sequência das curvas 9 e 10, feitas respectivamente para esquerda e direita, e o mesmo sendo feito nos contornos 18 e 19, já próximas à reta dos boxes do circuito. Como as mudanças foram feitas de última hora, os times deverão estudar como percorrer de forma mais efetiva estes trechos modificados. E haverá outro detalhe a ser considerado: o circuito foi totalmente recapeado, de modo que as equipes precisarão descobrir as reações dos bólidos ao novo asfalto do circuito.

         Outra novidade é que o ePrix de Roma, em abril, será em um traçado totalmente novo, em outra área da cidade. O novo traçado terá cerca de 3,385 Km de extensão, com cerca de 19 curvas, mas com bons trechos de retas, o que deve oferecer bons pontos de ultrapassagem, e muitas disputas. A nova pista está localizada no distrito residencial e comercial Esposizione Universale Roma, local bem distante do centro da capital italiana, e seu novo design ganhou elogios de Lucas Di Grassi, que prevê uma boa corrida no novo local.

         Depois de sediar testes de pré-temporada, a pista de Valência sediará enfim um ePrix, sendo a primeira vez que um circuito receberá a F-E em seu traçado principal. O autódromo da Cidade do México é outro circuito permanente que já recebeu provas da categoria, mas utilizando uma pista menor do que seu traçado principal, utilizado pela F-1. A F-E deve utilizar o mesmo traçado que é usado pela MotoGP, mas estão sendo estudadas alternativas dentro dos traçados alternativos que o circuito Ricardo Tormo possui. Mas, para garantir que os times não se utilizem plenamente do conhecimento prévio que já tem do circuito, e para manter as dificuldades de uma nova pista, a direção da categoria anunciou que só divulgará o traçado da corrida cerca de duas semanas antes do ePrix.

Valência (acima) sediará uma das provas da competição em 2021. Já em Mônaco (abaixo), o traçado integral da F-1 deverá ser utilizado pelos bólidos elétricos.

         E, no seu retorno a Mônaco, a F-E deverá utilizar pela primeira vez o mesmo circuito utilizado pela F-1. Até então, as etapas realizadas no principado utilizavam uma versão reduzida do traçado, ficando mais restrito à zona da marina. Será a primeira oportunidade de comparação do desempenho dos carros com o da F-1. Todos sabem que a categoria máxima do automobilismo é mais veloz, mas os detratores do certame de carros elétricos adoram chamar os carros da F-E de lerdos e lentos, esquecendo-se de que eles só não são mais velozes por uma questão de conservar energia para toda a corrida. Mas os bólidos estão ficando cada vez mais velozes e com mais autonomia, conforme a tecnologia das baterias e dos trens de força (powertrains) vai evoluindo, de modo que em mais alguns anos o certame pode ser tão veloz como algumas outras categorias. E isso só não acontece mais rápido porque o desenvolvimento mais acelerado faria explodir os custos de competição das fábricas, o que seria prejudicial para a categoria, que deixaria de ser tão acessível como é atualmente.

 

AS EQUIPES DA FORMULA-E 2021

 

Time: Audi Sport ABT Schaeffler

Trem de força: Audi e-tron FE07

Pilotos (Nº): Lucas Di Grassi (11); René Rast (33)

 Time: BMW i Andretti Motorsport

Trem de força: BMW iFE.21

Pilotos (Nº): Jake Dennis (27); Maximilian Gunther (28)

 

Time: Dragon / Penske Autosport

Trem de força: Penske EV-4 (*); Penske EV-5

Pilotos (Nº): Nico Muller (6); Sérgio Sette Câmara (7)

(*) = Disputará as três primeiras corridas com o trem de força de 2020.

 

Time: DS Techeetah

Trem de força: DS E-Tense FE20 (*);DS E-Tense FE21

Pilotos (Nº): Antonio Félix da Costa (13); Jean-Éric Vergne (25)

(*) = Disputará as três primeiras corridas com o trem de força de 2020.

 

Time: Envision Virgin Racing

Trem de força: Audi e-tron FE07

Pilotos (Nº): Robin Frijns (4); Nick Cassidy (37)

 

Time: Jaguar Racing

Trem de força: Jaguar I-Type 5

Pilotos (Nº): Sam Bird (10); Mith Evans (20)

 

Time: Mahindra Racing

Trem de força: Mahindra M7Electro

Pilotos (Nº): Alexander Sims (29); Alex Lynn (94)

 

Time: Mercedes-Benz EQ Formula E Team

Trem de força: Mercedes-Benz EQ Silver Arrow 02

Pilotos (Nº): Stoffel Vandoorne (5); Nyck de Vries (17)

 

Time: NIO 333 FE Team

Trem de força: NIO 333 FE 001

Pilotos (Nº): Oliver Turvey (8); Tom Blomqvist (88)

 

Time: Nissan e.dams

Trem de força: Nissan IM02 (*);Nissan IM03

Pilotos (Nº): Oliver Rowland (22); Sébastien Buemi (23)

(*) = Disputará as três primeiras corridas com o trem de força de 2020.

 

Time: ROKiT Venturi Racing

Trem de força: Mercedes-Benz EQ Silver Arrow 02

Pilotos (Nº): Edoardo Mortara (48); Norman Nato (71)

 

Time: TAG Heuer Porsche Formula E Team

Trem de força: Porsche 99X Electric

Pilotos (Nº): André Lotterer (36); Alemanha Pascal Wehrlein (99)

 

O BRASIL NO GRID NAS TRANSMISSÕES EM 2021

 

         Com a desistência de Felipe Massa de continuar competindo na categoria, o Brasil ficaria restrito inicialmente a ter apenas Lucas Di Grassi no certame, mais uma vez defendendo o time da Audi, onde está desde a primeira corrida da competição, uma marca invejável na categoria. Felizmente, o trabalho desenvolvido por Sérgio Sette Câmara na equipe de Jay Penske rendeu frutos, e o brasileiro resolveu não ficar esperando por uma chance no programa de pilotos da Red Bull, assinando contrato para defender a Dragon em tempo integral na nova temporada. Teremos então dois representantes no grid este ano.

         A temporada passada não foi das mais agradáveis para Di Grassi, que pela primeira vez ficou de fora da luta pelo título da competição, sem conseguir também vencer uma única prova. Subiu ao pódio em apenas duas corridas, terminando o ano em 6º lugar, com apenas 77 pontos. Lucas terá um momento decisivo na categoria este ano: ele já declarou que pretende continuar na F-E, mas a Audi, time que defende, já anunciou que deixa a competição ao fim da temporada, o que significa que Di Grassi precisará achar outro time para defender, encerrando uma parceria com a marca alemã que já tem quase uma década, tendo começado bem antes da primeira temporada do certame ocorrer. Lucas declarou que já está em negociação com dois times, os quais não revela maiores detalhes. Afirma apenas que quer ter um carro competitivo que lhe permita disputar o título, como fez nas primeiras cinco temporadas com a Audi, desempenho que acabou sendo quebrado no último ano. O carro da equipe Audi foi menos competitivo em 2019/2020, sendo especialmente fraco nas classificações, obrigando o brasileiro a ter de fazer corridas de recuperação em quase todas as provas, tendo conseguido alguns resultados em certas etapas, e em outras ficando a ver navios, tendo que batalhar duro por posições no meio do pelotão, onde a disputa sempre foi acirrada, para tentar escalar as classificações, o que nem sempre foi possível fazer. Embora o rendimento do carro fosse um pouco melhor na corrida, o desempenho não foi uniforme, frustrando o piloto.

Lucas Di Grassi quer voltar a vencer, no último ano da Audi na F-E.

         Para este ano, contudo, Lucas afirma que o novo trem de força, aliado ao novo trabalho de desenvolvimento do carro, deve oferecer um desempenho completamente renovado, de modo que o brasileiro já tem como meta lutar pelo bicampeonato da categoria, e igualar o feito de Jean-Éric Vergne, único piloto a conquistar mais de um título até aqui. Se o carro corresponder como se espera, Lucas faz a sua parte na pista, como demonstrou no ano passado, onde mesmo com o carro não permitindo vôos mais ousados, o brasileiro se destacou por ser o piloto que mais posições conseguia ganhar em média nas corridas, sinal inequívoco de sua grande capacidade e talento.

         Sérgio Sette Câmara, por sua vez, estreou meio de última hora no ano passado, apesar de já ter participado de um teste com a equipe Dragon, e pelo menos demonstrou evolução nas provas disputadas em Berlim, mostrando que, com maior entrosamento e experiência, poderia batalhar por melhores resultados com o carro do time, que sofreu muito no ano passado com uma performance medíocre, tendo superado apenas o time da NIO. Com um envolvimento maior da Penske no time da Dragon, espera-se que a escuderia possa conseguir almejar melhores performances e obter resultados mais condizentes. Mas a parada promete ser dura, e pontuar já será bem complicado, se o time não apresentar uma melhora significativa de rendimento. A escuderia fez novas contratações e reorganizou parte de seu staff, e espera que essa reformulação ajude a recuperar o rumo do desenvolvimento de seu equipamento. Tendo melhor conhecimento do carro e do equipamento, Sérgio pode enfim se empenhar em mostrar sua capacidade a fundo, o que será mais do que necessário se quiser marcar seu nome na F-E, onde a competição é sempre ferrenha e os pilotos não podem ter atitude muito passiva. O que dá esperanças ao time foi que sua dupla de pilotos conseguiu bons tempos na pré-temporada, tanto com Nico Muller quanto com Sérgio Sette Câmara. Vamos ver se isso se repete nas corridas.

Sérgio Sette Câmara defenderá o time de Jay Penske na F-E, depois da boa impressão deixada nas provas de Berlim no ano passado.

         Para os fãs nacionais da categoria de carros monopostos elétricos, a principal novidade é que o campeonato está de casa nova na TV nacional. Depois de ser transmitida desde a primeira corrida do primeiro campeonato pela TV por assinatura, no canal pago FoxSports, a Formula-E poderá ser vista agora na TV aberta, o que oferece a chance de conseguir um maior alcance entre os fãs da velocidade que não têm acesso a TV por assinatura. A TV Cultura, canal de TV pertencente ao Governo do Estado de São Paulo, irá mostrar todas as corridas da nova temporada, começando já nesta sexta-feira, com o primeiro ePrix em Al Diriyah. A emissora exibirá os treinos livres no seu site oficial, enquanto os treinos de classificação e as corridas serão exibidas ao vivo no canal de TV. A transmissão terá narração de Marco de Vargas, e os comentários serão de Fábio Seixas, que já foi colunista de automobilismo do jornal Folha de São Paulo há alguns anos.

         E, para surpresa geral, hoje o SporTV anunciou que também irá transmitir a categoria em seus canais pagos, começando já nesta sexta-feira. Depois de perder a Fórmula 1, e também dispensar a MotoGP no ano passado, o canal de esportes do Grupo Globo pegou todo mundo de surpresa com o anúncio praticamente às vésperas do campeonato. A equipe de transmissão do canal será composta por Bruno Fonseca e Rafael Lopes, e apesar de a transmissão ser feita na TV por assinatura, tudo indica que haverá material informativo no programa do Globo Esporte, além de reportagens nos jornais da emissora. O acordo do SporTV é válido para os próximos dois anos, enquanto o da TV Cultura vale apenas para 2021. Não seria difícil o SporTV ficar com a transmissão exclusiva do certame, se os índices de audiência animarem. Até porque os custos de exibição da categoria são bem menores do que os da F-1, e pelo menos, temos pilotos brasileiros no grid, o que sempre ajuda a chamar mais atenção.