Não rolou a renovação. Sebastian Vettel e a Ferrari seguirão caminhos diferentes em 2021. |
E o casamento entre
Sebastian Vettel e a equipe Ferrari chegou ao fim. A proposta de renovação do
time italiano ao piloto alemão, tetracampeão mundial, acabou não sendo
suficiente para mantê-lo na escuderia. O time até teria concordado com um
contrato de dois anos, como Vettel queria, mas com forte redução salarial. Mas,
para o piloto, isso não teria sido o ponto crucial, e sim, o status de não ser
mais a “estrela” do time, que agora está mais do que nunca voltado para o
monegasco Charles LeClerc, que fez um trabalho melhor que o alemão na temporada
passada. E Vettel, com pelo menos uma temporada e meia pesando nas costas, a
respeito das falhas cometidas principalmente na pista, acabou obviamente
ficando em segundo plano. Para um piloto campeão, situação das mais
desagrdáveis.
Mas Sebastian acabou
sendo o algoz de si mesmo. Os erros cometidos na segunda metade da temporada de
2018 pesaram na conta da derrota para Lewis Hamilton, que faturou mais um
título com relativa tranquilidade, em um ano onde a Ferrari conseguiu deixar a
Mercedes na berlinda na sua primeira metade, mostrando que estava mais
preparada do que nunca para dificultar a hegemonia do time alemão. Tudo bem,
pilotos sempre podem ter suas fases ruins, e esperava-se, então, que Sebastian
se aprumasse em 2019, o que infelizmente, não aconteceu. Pelo sim, pelo não, o
time italiano promoveu Charles LeClerc à posição de titular de Maranello,
depois de uma temporada na Alfa Romeo onde Charles mostrou ter qualidades para
defender a “rossa” mais do que Kimi Raikkonem vinha fazendo até então. Sem o
finlandês ao seu lado, e contando agora com um novato disposto a mostrar o seu
valor, Vettel tinha de mostrar que ainda era o piloto que a Ferrari contratou
em fins de 2014 para liderar sua esquadra na pista.
E, infelizmente,
Sebastian acabou mostrando que sua fase ruim de 2018 ainda não tinha passado,
como se esperava. Acabou superado por LeClerc, e ainda teve alguns percalços
com seu novo colega de time, entre eles o toque em Interlagos, ano passado, que
acabou arruinando a corrida de ambos, e tirando os dois carros da Ferrari da
prova. Pior, terminou o campeonato atrás do monegasco, que ainda por cima
poderia ter feito mais na temporada, se o time italiano não tivesse tomado
novamente suas contestáveis ordens de equipe, tentando proteger Vettel, o que
acabou complicando por vezes as chances de ambos. Com seu contrato chegando ao
fim neste ano, era óbvio que a Ferrari estabeleceria novas diretrizes para um
novo contrato, diante do que o alemão mostrara nestes últimos dois anos. E com
a renovação antecipada de LeClerc por várias temporadas, a direção do time
italiano tratou de se precaver do assédio em cima de seu novo talento, a
exemplo do que a Red Bull também fez com Max Verstappen.
Fica agora a
expectativa do que Vettel fará em 2021. O problema é que suas opções mais
viáveis ficaram complicadas, pois a Ferrari não perdeu muito tempo para achar
um substituto para seu lugar: o espanhol Carlos Sainz Jr., que fez excelente
temporada no ano passado pela McLaren, e é piloto do time de Woking este ano.
Um piloto que mostrou potencial, e acima de tudo, barato, e com um histórico de
não arrumar confusão com seus companheiros de equipe. E olha que Carlos já teve
de aturar Max Verstappen... Sainz Jr. tem tudo para somar forças na Ferrari, o
que não significa que não irá incomodar LeClerc. Basta ele não arrumar
confusão. Na pista, sabendo cavar o seu espaço, e sem tomar atitudes bruscas,
poderá mostrar muito. Com lugar garantido na McLaren, caso quisesse ficar,
Carlos obviamente não recusaria o contrato com a Ferrari, não apenas pelo
histórico da equipe mais tradicional da F-1, mas pela chance real de finalmente
lutar por pódios e vitórias, e quem sabe o título, se as circunstâncias
ajudarem. E como é bem jovem, tem tudo para crescer ainda mais. O contrato é de
dois anos, e se fizer um bom serviço, terá merecido devidamente seu lugar no
time italiano. Resta saber unicamente como LeClerc vai se comportar quando for
desafiado abertamente pelo espanhol na pista. Se a Ferrari der liberdade de
competição a seus dois pilotos, contanto que não se estranhem entre si, será um
duelo interessante. E com uma perspectiva que não pode ser ignorada: assim como
Charles LeClerc chegou para tirar a tranquilidade de Sebastian Vettel no time
rosso, será que Carlos Sainz Jr. poderá fazer o mesmo com relação ao monegasco?
Para alguns, o espanhol está seguindo para Maranello para ser o novo
“escudeiro” de Charles LeClerc. Pode até ser, dependendo de como o time rosso
irá se comportar.
E a McLaren nem bem
agradeceu os préstimos de Carlos, e já anunciou o seu substituto para 2021:
Daniel Ricciardo. O piloto australiano deixará a Renault ao fim do ano, e será
o novo titular de Woking. Para a McLaren, um grande ganho. Não que Sainz Jr.
fosse ruim, mas Ricciardo é um piloto de estilo limpo, já venceu corridas, e é
extremamente eficiente na pista, e acima de tudo, não é chegado a estrelismos,
o que deve manter em harmonia o ambiente dos boxes do time, que no ano passado
experimentou uma tranquilidade que não vivia há alguns anos, depois da
convivência turbulenta com Fernando Alonso. Ricciardo não deve ter problemas
para ter um excelente relacionamento com Lando Norris, o seu companheiro de
time, que fez com Sainz Jr. uma grande dupla em seu ano de estréia em 2019. Com
o time em franca reformulação, tendo terminado em 4º lugar na temporada do ano
passado, a escuderia inglesa ainda terá os propulsores da Mercedes em 2021, o
que poderá ser uma grande chance de Daniel retomar o rumo das vitórias. Quando
saiu para a Renault, ao fim de 2018, depois de alguns anos na Red Bull, o
australiano acreditou em um projeto da fábrica francesa que infelizmente não se
concretizou em 2019, e que por mais que evolua este ano, no que for possível de
realizar na temporada, parece não lhe dar confiança de que poderá voltar a
encarar os principais times.
Para a Renault, ou
mais principalmente seu diretor, Cyril Abiteboul, a saída de Ricciardo não está
sendo bem digerida. O diretor do time francês de uma declaração falando sobre
lealdade e comprometimento, numa alfinetada indireta ao australiano, mas que
piloto perderia a chance de se mudar para um time com melhores perspectivas de
competição. Além do mais, Daniel não defenestrou a Renault, e se mostrou
comprometido em dar o seu melhor nas corridas que ocorrerem este ano. Mas o
projeto do time francês vem patinando, e vamos considerar que sua unidade de
potência tem tudo para acabar sendo superada pela Honda este ano, diante da
excelente evolução que eles tiveram em 2019. Do contrário, a McLaren não teria
tido pressa em voltar para as unidades de potência da Mercedes.
E aí, como fica
Sebastian Vettel nesta situação? Será que ele aceitaria o desafio de guiar pela
Renault? Foi com os motores franceses que o alemão ganhou seus quatro títulos,
competindo pela Red Bull. No time francês, ele poderia manter seu status de
primeiro piloto, mesmo que não ganhasse tanto quanto gostaria. O problema é
quais as perspectivas de competição da escuderia francesa, se lhe permitiriam
tentar disputar pódios, e talvez vitórias, ou ficar penando no segundo pelotão
do grid? Para a Renault, seu nome seria de fato interessante, pois Vettel é um
tetracampeão mundial, e conquistou seus títulos com os propulsores franceses.
Em termos de marketing, faria todo o sentido. Mas, e a determinação de
Sebastian? Se com um carro vencedor, sentindo pressionado, ele cometeu os erros
que todos viram, como ele se comportaria com um carro menos competitivo, e
tendo de duelar ainda mais ferozmente com outros pilotos na pista? E ele
estaria disposto a isto? É uma incerteza na qual a Renault não pode deixar de
considerar o risto.
Antes dos anúncios das
contratações de Carlos Sainz Jr. e Daniel Ricciardo, as especulações apontavam
que Vettel poderia ter lugar na McLaren, que voltaria a ter um piloto campeão
em suas fileiras, e que poderia liderar o time na pista. Ficava a dúvida se a
escuderia inglesa teria condições de atender às solicitações financeiras do
piloto, uma vez que há anos o time de Woking não tem um patrocinador principal,
e não poderia se comprometer tanto, ainda mais tendo um pedido de empréstimo
recusado pelo governo britânico recentemente, e colocado parte de seus
funcionários em dispensa para receber a ajuda que o governo ofereceu durante
este momento de pandemia da Covid-19. Segundo se comenta, Ricciardo teria
aceitado correr por menos do que está recebendo na Renault atualmente, o que
demonstraria confiança do australiano no projeto de reformulação do time.
Daniel ainda tem algo a provar na F-1, que é ser um piloto vencedor e campeão.
Capaz de vencer corridas ele já provou que é. Ser campeão, se tiver um carro
decente, é o grande desafio. Mas e Vettel? Conseguiria mostrar na McLaren o
talento que o levou ao tetracampeonato, ou poderia se perder em erros como
aconteceu nos últimos tempos de Ferrari? Infelizmente, a credibilidade de
Vettel acabou bem arranhada pelos erros cometidos na Ferrari, e a instabilidade
emocional que apresentou em momentos em que precisava se mostrar forte nas
disputas roda a roda, e isso está pesando nas perspectivas de quem poderia
contratá-lo. Se a McLaren preferiu Ricciardo, certamente isso foi levado em
conta, lembrando que o australiano, em 2014, quando dividiram a Red Bull,
superou o alemão, chegando a vencer três provas, contra nenhuma de Vettel.
Fernando Alonso: ele volta à F-1? O espanhol quer muito, mas quem o quer? A possibilidade até existe, mas... |
O panorama pode ser
ainda mais cruel com o alemão se outra hipótese vier a se concretizar: o
retorno de Fernando Alonso. O bicampeão espanhol está com muita vontade de
retornar à F-1, e a vaga na Renault, ainda que não seja o que ele mais
gostaria, viria bem a calhar. Em que pese o caráter egocêntrico do espanhol, e
seu estilo centralizador, ele poderia ser a mola propulsora para fazer a
Renault dar o salto que necessita para enfim voltar a vencer na categoria.
Afinal, o espanhol ganhou seus dois títulos pilotando para a escuderia
francesa, e o nome de Alonso ainda é muito poderoso, e poderia atrair atenção
de peso. E, numa comparação com Sebastian Vettel, Fernando Alonso tem mais
força mental do que o alemão. E o asturiano andou tirando leite de pedra em
algumas corridas com uma sofrível McLaren/Honda entre 2015 e 2017, sendo mais
capaz do que Vettel de andar mais do que o carro pode oferecer. Seria um evento
e tanto, e agradaria a muitos, em especial à Liberty Media, que vê em Fernando
um nome de peso para ser capitalizado pela F-1. Mas claro que há alguns
entraves que podem inviabilizar essa opção.
O primeiro deles é
financeiro. Alonso é um piloto caro, e será que ele estaria tão disposto a
voltar, se oferecendo para ganhar menos? Se o desejo de voltar mesmo, ele
poderia até relevar ganhar menos, só para estar no grid. Mas, e o ambiente
interno na equipe Renault? O primeiro que poderia sofrer com isso seria Esteban
Ocón, que dependendo da situação, ou bateria de frente com Alonso, ou poderia
ser colocado meio que de escanteio no time. E se os resultados não aparecessem,
quanto tempo demoraria para Alonso começar a deixar todo mundo tenso em
Enstone? Se Vettel não está achando um lugar para competir pelos erros
cometidos dentro da pista, Alonso tem contra si seus modos fora dela. Por mais
que o espanhol possa ser um piloto combativo, que erre muito pouco, e que ainda
possa encarar os F-1 atuais prometendo resultados que outros pilotos raramente
poderiam oferecer, será que isso compensaria ver os boxes transformados em uma
zona de tensão constante, dependendo dos acontecimentos?
De personalidade
forte, Alonso ainda poderia colocar em xeque a posição de Cyril Abiteboul, que
se depois de tudo o que vimos, ainda é incrível ver a Renault ainda deixa-lo
comandar o time, poderia fazê-lo perder o rebolado de vez. E o emprego junto. O
risco compensa? Para os torcedores, poderia ser bom ver Alonso tentar uma
última vez voltar a tentar vencer na F-1, mesmo com hipóteses reduzidas.
Infelizmente, só isso não é o bastante.
Claro, houve quem
ventilasse a possibilidade de Vettel na Mercedes. O curioso é que isso acabou
sendo uma especulação feita a partir de uma declaração do próprio Toto Wolf, de
que o fato de um piloto como Sebastian ficar disponível no mercado não poderia
ser ignorado. Para muitos, um recado indireto a Lewis Hamilton, também em seu
último ano de contrato com a Mercedes, e que estaria mais do que interessado em
manter seu alto salário, apesar das circunstâncias do momento indicarem ser
prudente um apetite mais moderado. Se Lewis não ceder, será que Vettel
aceitaria competir na Mercedes por muito menos, no lugar do inglês? Ele
certamente não pensaria duas vezes. E Hamilton? Aceitaria pagar para ver, e assistir
ao seu rival dos últimos anos lhe tomar seu cockpit no time alemão? Alguns
acreditam que isso não passaria de um blefe de Toto Wolf para forçar Hamilton a
ser mais comedido em suas exigências, mas vai que a coisa toma forma? Se Lewis
não for bobo, mesmo que perceba a jogada, seria preferível ganhar um pouco
menos, e continuar firme onde está, onde tem certeza de continuar disputando
vitórias e títulos.
Mas também há outro
destino muito possível para Sebastian Vettel: pendurar o capacete. Mesmo ainda
jovem, ele já ganhou muito dinheiro, e preza uma vida simples e pacata, tanto
que, apesar de casado, e pai de três filhos, raramente se ouve falar qualquer
coisa a respeito deles. Poderia muito bem aposentar-se das pistas, exibindo
ótima saúde, e dar outro rumo à sua vida, tal como fez Nico Rosberg, após
ganhar seu título mundial em 2016, também ainda muito jovem, surpreendendo a
F-1. Vettel poderia competir em outro lugar, como o WEC, ou apenas provas como
as 24 Horas de Le Mans. Ele tem o direito de fazer o que quiser com sua vida, e
nos últimos tempos, já havia demonstrado que os rumos técnicos da F-1 já não o
empolgavam tanto quanto antes. Por mais que alguns digam que isso seria
insatisfação de não conseguir mais ser campeão, ele tem todo o direito de opinar
sobre o que a F-1 anda fazendo. E ninguém é obrigado a permanecer na
competição, se ela não lhe apraz mais como antigamente. Encerrado seu contrato
com a Ferrari, ele estaria livre de seus compromissos profissionais, podendo
escolher seu rumo como desejar.
Seus feitos já estão
devidamente registrados nos anais da F-1, como um de seus maiores campeões,
atrás apenas de Michael Schumacher e Lewis Hamilton em número de vitórias, e de
Juan Manuel Fangio, e dos dois anteriores, em número de títulos. Demoraria
muito para que alguém surgisse e ameaçasse a posição de Vettel nas estatísticas
da categoria máxima do automobilismo. Ou ele também poderia apenas tirar um ano
sabático, e tentar retornar depois, algo já um pouco mais complicado.
Seja como for, o
destino de Sebastian Vettel agora cabe unicamente a ele. Enquanto isso, Carlos
Sainz Jr. e Daniel Ricciardo iniciarão novas fases em suas carreiras em seus
novos times em 2021 com muita expectativa por parte não apenas de ambos os
pilotos, mas também de suas novas escuderias, e claro, dos torcedores e fãs
deles e da F-1. Quanto a Vettel, é sempre um pouco triste quando um campeão se
retira, e mais ainda quando ele sai por baixo, como é o caso do que está
acontecendo com o alemão. Aguardemos novos anúncios que ainda poderão vir
referente ao piloto, e se optar pela aposentadoria, que seja devidamente
respeitado e aplaudido nas corridas que terá este ano, antes de sua despedida.
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