Trazendo um novo texto sobre os
circuitos que já fizeram parte da história da Fórmula 1, hoje falo um pouco
sobre o circuito do Estoril, em Portugal, país que já esteve presente no
calendário da categoria máxima do automobilismo por pouco mais de uma década, e
que deixou de figurar no calendário devido à escalada de custos e novas
exigências impostas pela F-1 para sediar um GP. Uma boa leitura, e espero que
gostem do texto. Em breve, devo trazer mais alguns.
ESTORIL
Localizado
a cerca de 25 Km de Lisboa, capital de Portugal, o Autódromo do Estoril,
denominado oficialmente Autódromo Fernanda Pires da Silva, foi a única pista
portuguesa a sediar um Grande Prêmio de Fórmula 1. A pista foi construída no
início da década de 1970, tendo sido inaugurado em 1972, e durante seus
primeiros anos, teve muitas dificuldades para se manter, devido a problemas
externos, como a crise do petróleo, que impactou diversas atividades, entre
elas o automobilismo. Com muito custo, seus proprietários conseguiram atrair
corridas nacionais para o autódromo, e só em 1975 a pista recebeu sua primeira
corrida de um certame internacional, do Campeonato Europeu de F-2. Durante
algum tempo, a pista até teve um número razoável de corridas, entre certames
nacionais e internacionais, mas o autódromo terminou aquela década em desuso,
sendo sua empresa proprietária assumida pelo governo português.
No início
dos anos 1980, contudo, esforços feitos pelo Automóvel Clube de Portugal
iniciaram uma reforma na pista, objetivando atrair nada menos do que a Fórmula
1, a principal categoria do automobilismo mundial. Com um trabalho sério, veio
a recompensa, com a inclusão do primeiro GP português no calendário, fechando a
temporada de 1984. E tudo correu da melhor forma possível, ainda mais com a
decisão do título entre Niki Lauda e Alain Prost, em uma temporada dominadora
da equipe McLaren, a ver justamente em solo português qual de seus pilotos
seria o campeão do ano.
Alain Prost
venceu o primeiro GP de Portugal, mas foi Niki Lauda, com o seu 2º lugar na
corrida, que conquistou o título, pela menor diferença até hoje na história da
F-1: 0,5 ponto. O piloto francês havia recebido 4,5 pontos por seu triunfo na
etapa de Mônaco daquela temporada, encerrada prematuramente antes da metade,
diante da chuva torrencial que caia no principado. De acordo com o regulamento
da F-1, em casos de provas encerradas antes de sua metade, os pilotos recebiam
apenas metade dos pontos válidos, explicando assim o motivo do piloto da
McLaren ter perdido o campeonato por uma margem tão pequena, praticamente
inexistente na F-1 dos dias atuais.
Foram
disputados no total 13 edições do Grande Prêmio de Portugal. Neste período, a
F-1 utilizou duas configurações da pista do Estoril, que não passou por
mudanças tão significativas em seu traçado quando a categoria máxima do
automobilismo competiu por lá. Na verdade, quando a F-1 pisou pela primeira vez
em Estoril, utilizou a mesma configuração de quando a pista havia sido
inaugurada, em 1972: um traçado com 4,35 Km de extensão, e cerca de 10 curvas.
A pista contava com duas curvas “Parabólica”: uma interior, fechando uma reta
oposta à dos boxes, e uma exterior, de raio bem longo, que dava entrada para a
reta dos boxes, encerrando a volta no circuito.
Nesta
configuração, Nélson Piquet foi o primeiro pole-position do GP de Portugal, com
o tempo de 1min21s703, obtido em 1984, com sua Brabham/BMW. Damon Hill, em
1993, seria o último pole, com o tempo recorde de 1min11s494, com
Williams/Renault. O recorde da melhor volta no circuito ficou com Damon Hill,
também em 1993, com o tempo de 1min14s859. Com 3 pole-positions, Ayrton Senna
foi quem mais largou na frente no GP lusitano, em 1985, 1986, e 1989. Empatados
com duas poles, temos Nigel Mansell (1990 e 1992), Damon Hill (1993 e 1996), e
Gerhard Berger (1987 e 1994).
Estoril até
que teve alguns destaques em seu período na F-1. Além de ver a decisão do
título de 1984, algo que só se repetiria em 1993, o autódromo também
testemunhou a primeira vitória de Ayrton Senna na F-1, ao volante da lendária
Lotus preta e dourada, em 1985, debaixo de um forte aguaceiro que vitimou os
principais nomes da categoria naquele dia, enquanto o brasileiro literalmente
deitou e rolou, mostrando seus dotes de “rei” da chuva. Uma curiosidade sobre
as duas provas que decidiram o título da F-1: em 1984, Alain Prost, com a
McLaren/TAG-Porsche, venceu a corrida, mas com o 2º lugar de Niki Lauda, foi o
austríaco que se sagrou campeão; já em 1993, a vitória coube a Michael
Schumacher, da Benetton/Ford, mas foi Alain Prost, com o 2º lugar naquela
prova, que conquistava ali o seu 4º e último título mundial.
Em 1994,
diante dos graves acidentes ocorridos durante o Grande Prêmio de San Marino, o
circuito, que já vinha sendo cobrado para melhorar suas condições de segurança,
implantou uma mudança em seu traçado, ao criar uma chicane, mais para dentro da
área interna do circuito, eliminando a Curva do Tanque, local onde não havia
condições de se criar uma área de escape, em virtude de um loteamento existente
à beira daquele local. Isso aumentou o traçado para 4,36 Km, e pela nova curva,
chamada Gancho, ser fechada, obrigando os pilotos a uma forte redução de
velocidade, os tempos de volta aumentaram. A pole em 1994, de Gerhard Berger,
com Ferrari, foi de 1min20s608, pouco mais de 9s mais lenta que a do ano
anterior, antes da utilização da nova chicane. Em 1996, último ano da realização
da corrida, a pole mais veloz nesta nova configuração foi também de Damon Hill,
com Williams/Renault, com o tempo de 1min20s330, enquanto o novo recorde
oficial de volta seria de 1min22s446, de David Coulthard, obtido em 1994.
Mas as
constantes exigências da F-1 por melhorias no circuito, agora em suas
instalações, acabaram por comprometer a permanência do autódromo na F-1, uma
vez que as obras solicitadas nunca foram feitas, culminando pela sua saída da
categoria máxima do automobilismo, já não fazendo mais parte do calendário em
1997. Com a promessa de finalmente efetuar as reformas, a pista chegou a ser
inclusa no calendário de 1998, mas com as obras em atraso, o circuito perdeu
sua oportunidade de retornar ao campeonato. E dali em diante, com a inclusão de
novos autódromos faraônicos, erguidos a toque de caixa em outros países mundo
afora, como na Malásia, Bahrein, China, entre outros lugares, o Autódromo do
Estoril perdeu definitivamente seu lugar na F-1, estando até hoje ausente da
competição, especialmente devido às altas taxas que a FOM passou a cobrar desde
então. Durante alguns anos, a MotoGP ali disputou corridas, até por volta de
2012, quando a classe rainha do motociclismo também deixou o circuito.
O circuito
atualmente possui uma configuração um pouco mais “travada” do que a utilizada
pela F-1 em 1996, com uma extensão de 4,182 Km, e 13 curvas. A Curva 1 foi
invertida, de modo a criar uma saída dos boxes mais segura, com os carros
retornando à pista já em trajetória para a Curva 2, que ficou mais fechada,
juntamente com a antiga Curva 3. A Curva do Gancho ficou mais larga, e o trecho
de saída desta até o “S” antes da Parabólica externa também ficou um pouco mais
fechado. A Parabólica também ficou um pouco mais recuada para dentro, de modo a
se criar uma área de escape maior, uma vez que anteriormente aquele trecho não
possuía uma área de escape condizente com a velocidade com que os carros faziam
a curva para entrarem na reta dos boxes. Atualmente o circuito recebe provas de
categorias diversas, mas na luta para tentar voltar a ser sede de um GP de
Fórmula 1 tem a forte concorrência da nova pista de Portimão, em Algarve, que
consta com instalações muito mais desenvolvidas e amplas, podendo satisfazer de
forma mais abrangente as atuais exigências da categoria máxima do
automobilismo.
A primeira vitória de Ayrton Senna foi obtida de forma magistral na
pista do Estoril, em 1985 (acima). Em 1993 (abaixo), Alain Prost conquistaria
ali o seu quarto título mundial.
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