Pista da Áustria pode abrir o campeonato da F-1 em 2020, mas corrida não terá público nas arquibancadas, e os profissionais envolvidos serão restringidos ao mínimo essencial. |
Chegamos ao mês de
maio, e o panorama mundial ainda é completamente incerto, desde que começou a
pandemia do coronavírus na China, em dezembro do ano passado, e de lá para cá
simplesmente virou o mundo de cabeça para baixo, em especial a partir de março,
quando se espalhou por vários outros países. Já timos mais de três milhões de
infectados, mas até o presente momento, mais de um milhão de pessoas
recuperadas também. Mas o que muitas pessoas prestam mais atenção, e algumas
enxergam apenas isso também, é o número de mortos, mais de 200 mil pessoas. Um
número que certamente não se pode ignorar.
Com alguns países da
Europa, como França e Itália, começando a apresentar uma aparente queda no
número de casos da Covid-19, aumentam as especulações sobre como será feita a
liberação da economia, e o relaxamento da quarentena nestes lugares. Alguns
países europeus, inclusive, estariam preparando-se para ver o que se poderá
fazer para as próximas férias de verão, em julho e agosto. Isso seriam bons
indicadores de que talvez o pior possa estar passando. Além do pico da doença
parecer ter se estabilizado, e em alguns casos, até diminuído, criam-se
expectativas mais positivas a respeito das pesquisas de desenvolvimento de uma
vacina eficaz contra a Covid-19, como a desenvolvida em Oxford, na Inglaterra,
cujos testes iniciais teriam se mostrado muito promissores, mesmo ainda
demandando certo tempo para conclusão em mais alguns testes. São fatos
positivos, e que devem ser divulgados.
Tendo estes fatos em
perspectiva, claro que o mundo do esporte a motor começa a tentar achar uma
maneira de dar início, ou reiniciar suas disputas, com alguma segurança, no mês
de julho. A se manterem as expectativas de decréscimo dos casos, com dois meses
ainda pela frente, parece que enfim, algumas coisas poderão voltar à
normalidade, o que é ansiado por todos. Mas, vamos devagar com a empolgação.
Pode ser ainda muito cedo para comemorar. O vírus ainda está por aí, e quem
garante que não vivamos o pior dos pesadelos, de ter de se manter isolados,
enquanto não surge a vacina, ou pelo menos um tratamento efetivo? A Alemanha,
país que até agora tem a melhor situação do sistema de saúde frente à pandemia,
com leitos médicos sobrando, experimentou um pequeno salto no número de
infectados quando deram uma pequena flexibilizada no isolamento, e a própria
chanceler alemã, Angela Merkel, fez questão de lembrar que ainda é cedo para se
cantar vitória. Um pouco mais de prudência é necessária.
Por isso mesmo, como
dar início aos campeonatos de 2020? A F-1 tem como meta iniciar sua disputa com
o Grande Prêmio da Áustria, fazendo ao menos duas corridas em Zeltweg, adotando
possivelmente a idéia de se correr cada prova em um sentido da pista, como
mencionado na expectativa de se fazer em Silverstone. Mas teriam de ser
adotadas medidas de segurança, a serem seguidas à risca, para se eliminar
riscos de contaminação. O que significa que as primeiras provas deverão ser
realizadas a portões fechados. E, entre o pessoal da F-1 propriamente, todos os
times levariam staffs reduzidos, com todos os integrantes sendo devidamente
testados para ver se não estão com a Covid-19. Todo mundo teria ainda de
circular de máscara, e protocolos sanitários de viagem, e deslocamento poderão
ser bem rígidos, e até complicados, para atender às exigências do governo de
cada país. Não podemos nos esquecer que cada GP movimenta aproximadamente duas
mil pessoas, e a última coisa que todos desejam é que o evento vire um palco de
possível contaminação. Portanto, as escuderias levariam o mínimo necessário de
pessoas para desempenhar suas atividades. E quanto à cobertura jornalística,
esqueçam: só o time da FIA TV deverá estar presente, sem jornalistas da
imprensa escrita, e certamente, das emissoras de TV.
Mas enquanto se
discute e se especula como serão exatamente as condições para que estas provas
possam ser realizadas, temos outros fatos a serem contabilizados: com a
proibição de eventos de grande aglomeração até meados de julho, a corrida da França
sucumbiu. Programada para o fim de junho, a prova teria de ser realocada para a
frente, e a FIA e o Liberty Media já tem vários GPs na fila para tentar
realocar. A solução não poderia ser outra: au revoir para a prova francesa este
ano, voltando somente em 2021. Com isso, a corrida em Paul Ricard se torna a quarta
prova da F-1 oficialmente cancelada em 2020, após o GP da Austrália, a prova de
Mônaco, e o GP do Azerbaijão. Todas as demais etapas não realizadas estão
adiadas. Como elas serão realocadas é o grande problema, imaginando, na melhor
das hipóteses, que vejamos mesmo o campeonato dar sua partida em julho e seguir
em frente, como todos esperam.
Outra prova que terá
seus problemas é a etapa da Hungria, que assim como ocorreu na França, tem sua
data em um momento onde ainda estará vigorando normas proibindo aglomerações de
mais de 500 pessoas no país húngaro, número ainda muito abaixo do pessoal que a
F-1 costuma mobilizar profissionalmente para um GP. Por motivos similares, o
governo holandês também baixou norma similar, que pode inviabilizar a
realocação da prova em Zandvoort, que deveria abrir agora neste final de semana
a fase europeia da competição, com a realização dos primeiros treinos livros
hoje. A expectativa é poder usar as datas do mês de agosto, tradicional parada
de férias de verão da categoria, para encaixar algumas etapas, entre elas a da
Holanda. Mas tudo ainda está incerto.
Não adianta dizer que
até agosto temos um intervalo razoável, e que possivelmente até lá a situação
esteja mais controlada, e talvez até normal. Muita gente está receosa, e por
mais que todos queiram que a rotina volte ao normal, é preciso também não
desperdiçar o esforço feito até aqui para se controlar o surto do coronavírus.
Porém, a F-1 continua se debatendo no problema que ela possui por si própria,
que é o seu gigantismo, que envolve uma logística complexa, e mesmo na Europa,
onde o deslocamento é mais facilitado pelos times transportarem seus
equipamentos de caminhão, mesmo assim envolve uma grande movimentação de
materiais e de pessoas.
E é preciso ter alguma
segurança do que será feito realmente, e como será feito. Não basta apenas
marcar uma data, a uma ou duas semanas à frente, e simplesmente realizar o GP.
Mesmo que vá ser feito a portas fechadas, sem público, há inúmeros
procedimentos e planejamentos a serem feitos, para maximizar a logística e tudo
o mais, sem mencionar a disponibilidade do local para a realização da corrida,
e as tratativas normais para se realizar tal coisa. Não por acaso, surgiram
especulações de que a pista de Portimão, em Portugal, estaria se oferecendo
para sediar uma corrida, em caso de necessidade, desde, claro, que as condições
contratuais sejam justas. Pelo mesmo raciocínio vimos também outra especulação,
de que o circuito de Hockenhein poderia ser palco de outra prova, caso possa
fazê-lo. O circuito alemão ficou de fora do calendário deste ano, devido às
taxas de realização da corrida serem consideradas irreais para a realidade
financeira do autódromo, que agora poderia voltar a receber a F-1, mas, tal
como na sugestão do circuito português, apenas se lhe forem apresentadas
condições viáveis para a realização da prova. Tecnicamente falando, seria uma
boa oportunidade para a Liberty Media, que assim poderia conseguir realizar duas
corridas, em substituição às provas definitivamente canceladas este ano. São
pistas na Europa, onde o deslocamento será sem dúvida menor, e em autódromos
que contam com a classificação da FIA para receberem a categoria máxima do
automobilismo. Querer e fazer, entretanto, são coisas diferentes. Resta saber
se o Liberty Media e a FIA aproveitariam esta oportunidade, para poder oferecer
mais GPs viáveis, ajudando a contrabalançar as provas que já não terão
condições de serem realizadas em 2020.
Mas seria de fato um
diferencial interessante para se chamar atenção. E o sentido inverso também
oferecia aos times o desafio de ter de acertar seus carros para o novo sentido
da pista. Com as escuderias sabendo há anos como seus carros geralmente reagem
às particularidades de cada circuito, seria um ponto a ter de ser descoberto
por todos, já que ninguém possui dados neste sentido, o que poderia
potencializar resultados inesperados, e quem sabe, oferecer corridas mais
agitadas, onde as disputas entre os pilotos fossem mais imprevisíveis. Se dizem
que a necessidade é a mãe das invenções, quem sabe isso não dê à F-1 a receita
para revigorar algumas provas que nos últimos tempos têm sido marcadas pelo
marasmo e pela falta de disputas mais firmes entre os carros, como por exemplo,
em Barcelona, circuito que há anos não mostra corridas empolgantes, devido ao
extremo conhecimento que os times possuem do traçado da pista, onde são feitos
todos os testes da pré-temporada?
Com um pouco de
empenho e boa vontade por parte dos envolvidos, isso poderia se converter em
uma boa solução para termos corridas em 2020, diante das complicações existentes
no momento, e dos protocolos de segurança médica e sanitária necessários para
se garantir a integridade de todos os integrantes profissionais da competição.
Vejamos o que eles farão de fato neste sentido, onde no momento, o que temos
mais são especulações, e não decisões exatas, diante do momento complicado que
ainda vivemos...
O Rali dos Sertões, que seria
disputado no mês de agosto, anunciou que a prova mais tradicional do off-road
nacional será disputada agora no mês de novembro, entre os dias 7 e 15 de
novembro. O motivo, obviamente, é a ameaça da Covid-19. O roteiro da
competição, se tudo correr bem, prevê a largada na cidade de São Paulo, e o
destino final em Jericoacoara, no Ceará, um dos pontos turísticos mais famosos
do Nordeste brasileiro. O trajeto do rali, contudo, ainda está sendo avaliado,
e deve ser divulgado somente em agosto.
Outra corrida acabou cancelada no
calendário do esporte a motor de 2020. Desta vez a nova vítima foi o Rali de
Portugal, etapa válida pelo Mundial de Rali. Os organizadores tentaram adiar a
etapa para o mês de outubro, mas infelizmente não foi possível, de modo que
optou-se pelo cancelamento da prova este ano, para retorno em 2021. Já se
especulava há alguns dias que não seria possível mesmo fazer a etapa em 2020.
Uma corrida a menos para os fãs e torcedores da velocidade poderem curtir, mas
ao menos, sem maiores rodeios, resolvendo a situação com celeridade e optando
pela segurança.
A história do automobilismo
brasileiro perdeu no último final de semana um nome a ser reverenciado. Ricardo
Ramsey Divila, que foi projetista dos primeiros carros da equipe
Copersucar-Fittipaldi, com passagem em alguns outros times de F-1, e atuação de
projetos de várias outras categorias automobilísticas, faleceu aos 74 anos, vítima
de um AVC e complicações de um câncer no pâncreas. Ricardo há muitos anos
morava na França, onde se estabeleceu, em Magny-Cours, e encontrava-se
aposentado. Nascido em 30 de maio de 1945, em São Paulo, capital, Divila
formou-se em engenharia aeronáutica pela Faculdade de Engenharia Industrial de
São Paulo, mas sempre foi um apaixonado por competições de carros. Isso o levou
a conhecer Wilsinho e Émerson Fittipaldi, ainda nos anos 1960, iniciando aí sua
trajetória na área técnica das competições, tendo auxiliado os irmãos
Fittipaldi na criação de seus carros de competição no automobilismo nacional,
como a Formula-Vê. Uma parceria que, interrompida quando a dupla foi tentar a
sorte na Europa, acabou retomada quando Wilsinho, ainda na primeira metade dos
anos 1970, começou o projeto de criação da única equipe brasileira a participar
do Mundial de F-1, com Divila ser o projetista dos primeiros carros da
escuderia, além de ser também o diretor técnico do time. Infelizmente, o
projeto da Copersucar-Fittipaldi enfrentou poucos altos e muitos baixos, e no
início dos anos 1980, o time acabou fechado, pela falta de resultados e
recursos. Os anos de trabalho no time brasileiro, contudo, deram reconhecimento
a Divila no paddock da F-1, ajudando-o a obter oportunidades de trabalho em
algumas outras categorias, como a F-3000, onde trabalhou para Eddie Jordan. O
brasileiro só voltaria a trabalhar na F-1 em 1989, quando os motores turbos
haviam sido abolidos. Na opinião de Ricardo, antes bastava apenas aumentar a
pressão do turbo do motor para se conseguir melhorar os tempos dos carros, e a
partir daquele ano, sem ter mais propulsores turbos, o trabalho dos engenheiros
voltaria a aparecer com mais frequência. Seu retorno aconteceu pela equipe
Ligier, e pouco depois, Divila também acabou prestando serviços para as equipes
Life (que nunca conseguiu alinhar em um grid), Minardi, e a Osella-Fondmetal.
Ainda na primeira metade dos anos 1990, Ricardo deixou a F-1, para voltar a
trabalhar em outros certames e empresas, como a Nissan, e o campeonato da
F-Nippon. Esteve presente também nas provas de endurance, marcando presença nas
24 Horas de Le Mans. O brasileiro se tornou um nome muito respeitado na área
técnica, e sempre foi considerado também uma grande pessoa, tendo trabalhado com
vários profissionais que sempre reconheceram seu talento e caráter. Muitos
destes receberam com tristeza a notícia de seu falecimento, pela perda de um
amigo com quem tiveram a oportunidade de conversar sobre inúmeros assuntos, e
não apenas de automobilismo. Descanse em paz, Ricardo.
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