Exigência do governo inglês de impôr quarentena a todos que vierem do exterior pode comprometer a realização das corridas da F-1 em Silverstone. Adiamento para agosto pode ser a solução. |
Estamos encerrando o
mês de maio, e o mundo ainda está de cabeça para baixo, devido à pandemia do
Coronavírus Covid-19. O ponto positivo é que há alguma luz positiva no
horizonte, que encoraja a esperança de que podemos ansiar por uma volta à
normalidade em algum momento, talvez até mais cedo do que o esperado. O
problema é que tal panorama ainda é completamente incerto, e não podemos ter
garantias de que tudo se resolverá em pouco tempo.
Em muitos países, a pandemia
foi contida, e até eliminada. Mas em outros, infelizmente, como o Brasil, a
situação está longe de ser tranquila. Apontado por muitos como o epicentro da
pandemia no atual momento, tal afirmação contém um exagero e uma discriminação
odiosa, uma vez que a situação nos Estados Unidos, o país mais afetado pela
Covid-19, é muito pior do que por aqui. E, tal como lá, eles possuem um
presidente que vive dando vários tiros no próprio pé. A diferença maior, eu
diria, é o peso do país no cenário mundial. Por mais desaires que Trump cometa,
o mundo não pode virar as costas para os Estados Unidos. Já o Brasil, sem ter a
mesma importância, leva um singelo pé na bunda, e toda a discriminação e
paranoia possível, como se fôssemos agora a desgraça do planeta, algo que, em
parte, lamentavelmente devemos a nosso atual presidente, que parece por vezes
querer mostrar como se superar em ser imbecil e desqualificado no comando de
uma nação.
Mas, por melhores que
sejam os prospectos, a grande maioria concorda que não é tempo de comemorar. O
vírus continua por aí, e o principal temor é que, com o retorno da
“normalidade”, as infecções, e mortes, voltem a crescer, e por isso mesmo, nos
países que já estão propondo uma reabertura das atividades, as medidas de
segurança ainda são bem claras, no sentido de se tentar evitar uma nova onda de
contágio. Algo que pode virar uma rotina desgastante, enquanto não se descobre,
ao menos, um tratamento eficaz contra a Covid-19, algo talvez mais fácil de se
obter do que uma vacina, mas que daria alguma tranquilidade de se poder lidar
com a doença. Afinal, aqui no Brasil há anos temos um surto de dengue, mas nada
de vacina até o momento. Felizmente, há como tratar a doença, e é isso que a
faz não ser tão temida. E é o que acontecerá até se desenvolver pelo menos um
tratamento que faça a Covid-19 parecer não tão ameaçadora. Ou podemos dar sorte
de achar logo uma vacina, afinal, esforços estão sendo feitos herculeamente por
todo o mundo, e as pesquisas avançam tanto quanto possível. Ou, podemos dar
sorte de alcançar a imunização “de rebanho”, quando boa parte da população pega
a doença e desenvolve anticorpos contra ela, sem o número elevado de mortes que
pode provocar, e com isso o coronavírus acabar se tornando “apenas mais um”
vírus por aí. Mas quem vai querer pagar para ver?
Depois de passar pelo pior momento da pandemia, a Itália está prestes a reabrir suas fronteiras e tentar voltar a um pouco de normalidade. Mas será que o pior realmente já passou? |
Estamos para entrar no
mês de junho, e com ele, se não houver percalços adicionais, poderemos ver o
início da temporada da Indycar, com a primeira corrida, que será disputada a
portões fechados, no Texas Motor Speedway, no próximo dia 6 de junho. A
categoria iria correr no circuito oval de Richmond, mas a etapa acabou
cancelada, diante da pandemia ainda deixar o Estado da Virgínia, onde está o
autódromo, bem ressabiada com a liberação de atividades. Com isso, a próxima
prova será no início de julho, dia 4, com o GP de Indianápolis, no traçado
misto do Indianapolis Motor Speedway, o que deve dar um tempo para que as
condições melhorem nos Estados Unidos. Para compensar a perda de Richmond, a
Indycar transformou a etapa de Road America em rodada dupla, marcando-as para
os dias 11 e 12 de julho. Com a prova de São Petesburgo, que deveria ter aberto
o campeonato em março, reprogramada para 25 de outubro, e com rodada dupla nas
provas de Iowa e Laguna Seca, se tudo correr bem, o calendário da Indycar para
2020 ainda terá 14 provas, um número bem aceitável. Resta esperar que, como
mencionado, as condições da pandemia continuem melhorando, e não tenhamos um
retrocesso que acabe obrigando a cancelar tudo, e a ter de reprogramar
novamente os eventos.
A Nascar já mostrou
seu retorno, nas provas realizadas em Darlington e Charlotte, com portões
fechados, e regras rígidas de segurança sanitária para todos os envolvidos. A
transmissão ficou devendo, especialmente com imagens de baixa resolução e som
horroroso, mas foi um começo, que se espera possa mostrar que, aos poucos, a
vida das competições esportivas pode reencontrar o seu ritmo.
Estréia da F-1 2020 deve ser mesmo na Áustria, mas sem público, e com pessoal reduzido nos boxes. |
A esperança é de que
as condições na Europa melhorem sobremaneira, de modo a se permitir relaxar
certas medidas de segurança que poderiam ajudar a tornar mais “normais” as
atividades dos fins de semana de GP, como permitir a volta de jornalistas, e
até do pessoal da TV. O público, pela alta aglomeração, já seria mais
complicado, obrigando os organizadores a limitarem drasticamente a lotação
permitida nos autódromos.
Mesmo assim, o
calendário já sofreu outra baixa: a etapa da Holanda, que marcaria o retorno da
pista de Zandvoort ao Mundial de F-1, já está oficialmente cancelada, adiada
sua volta para 2021. Os holandeses foram claros: sem a presença de sua
contagiante torcida no autódromo, para apoiar seu novo ídolo Max Verstappen, o
clima do GP não seria o mesmo, de modo que preferiram adiar o retorno para o
ano que vem. Presença marcante em várias etapas europeias, os holandeses
compõem um grupo de torcedores extremamente alegres e descontraídos, e os
organizadores gostariam de manter este clima no seu retorno à F-1. Fora o fato
de que o governo holandês ainda mantém sua proibição a eventos com mais de 500 pessoas,
mesmo em agosto, então o melhor mesmo é deixar para o ano que vem. Depois, se
tudo se confirmar, poderemos ter as provas da Espanha, e da Bélgica, nos dias
16 e 30 de agosto.
Sem torcida, sem corrida. Os holandeses preferiram esperar por 2021 para voltar a terem seu GP de F-1. |
E depois, como ficam
as etapas fora da Europa? Na Ásia, tudo ainda está fechado em termos de
fronteiras. O Japão já saiu do estado de emergência, e parece ser o lugar mais
“normal” que a F-1 poderá correr, em outubro, mas Singapura ainda é uma
incógnita. E depois, ainda temos a etapa dos Estados Unidos, que ninguém sabe
direito se vai ocorrer, devido à direção do Circuito das Américas, em Austin,
palco da corrida, aparentemente ter entrado com um pedido de falência do
circuito, o que pode inviabilizar a realização da corrida. O México, outro país
fortemente afetado pela pandemia, já fala em retomar algumas atividades, mas
não dá para saber o que fará a respeito do evento da F-1, marcado para outubro.
Da mesma maneira, até mesmo o GP do Brasil passa a ficar na condicional, se a
situação da pandemia por aqui continuar seguindo de forma acéfala no que tange
às atividades federais. A verdade é que, por mais que a FIA e a Liberty Media
digam que teremos um campeonato da F-1, tudo ainda está totalmente incerto.
Para alguns, menos otimistas, e mais realistas, não há clima para se disputar a
F-1 em 2020, e o melhor mesmo seria deixar para voltar só no ano que vem.
Mas é difícil conter
os estragos causados pela pandemia, especialmente os econômicos. Se alguns
times reduziram o salário de seus funcionários, e até de seus pilotos, para
tentarem atravessar este momento complicado, não ajuda a notícia de que a
McLaren vai demitir mais de mil funcionários, distribuídos por todo o Grupo
McLaren, diante da perda de receitas financeiras ocasionadas pela paralisação
da economia europeia, além de outros fatores que já vinham impactando as
finanças do grupo. Do outro lado do Canal da Mancha, o Grupo Renault também
está com suas finanças abaladas, solicitando um empréstimo emergencial ao
governo francês para evitar maiores problemas diante da mesma situação. E olhe
que a McLaren também está pleiteando um empréstimo junto ao governo inglês, com
o objetivo de estabilizar sua condição financeira. Sobreviver é a palavra de
ordem no momento, e em mais de um sentido.
Não por acaso, foi
muito comemorado o acordo firmado pela F-1 e a FIA, com as mudanças que a categoria
máxima do automobilismo sofrerá nos próximos anos, visando se tornar mais
justa, e menos cara. O teto orçamentário é a principal conquista, e deve
diminuir bastante os gastos de competição, com um valor máximo, salvo exceções
previstas no acordo, de US$ 145 milhões para a temporada de 2021, e com
diminuição gradual para 2022 para US$ 140 milhões, e US$ 135 milhões para 2023,
2024, e 2025, estipulando-se um certame de 21 corridas. Certamente será uma boa
ajuda para que as escuderias possam equilibrar suas finanças. Mas ainda temos
um ponto pendente na equação, que é vermos quantas empresas patrocinadoras
ainda estarão inteiras para voltarem a aplicar no esporte, quanto as atividades
econômicas se normalizarem. Vale lembrar que, em 2009, com a proibição dos
testes durante a temporada, houve uma boa redução de custos da competição, mas
devido à crise econômica, muitas empresas que até então patrocinavam o
automobilismo, pularam fora, e muitas nunca mais voltaram a fazê-lo. Espero que
o panorama seja diferente agora, se bem que o problema atual é bem mais sério
do que o de 2009.
Permitir o retorno das
competições, mesmo com regras e protocolos de segurança para não correr riscos
em tempos de pandemia é visto por muitos como algo desnecessário, alegando que
isso colocaria pessoas em perigo de contágio, e que ainda é muito cedo para se
retomar certas atividades. Isso pode ser verdade, mas por outro lado, há
limites para a resistência das pessoas em se manterem confinadas. Por mais que
apoiem esse tipo de medida, e compreendam a seriedade de sua utilização, quanto
mais tempo ficarmos isolados, menor fica nossa disposição em permanecermos
assim. E, para muitos, voltar à normalidade, tanto quanto possível, é uma
necessidade. Alguns podem ter condições de ficarem muito tempo isolados, mas
outros tantos precisarão retomar suas vidas, até por questões de se manterem
sóbrias. As competições esportivas, retornando pouco a pouco, como no caso do
automobilismo, e do futebol, que já começa a planejar sua volta aos gramados,
oferece às pessoas a esperança de um retorno à normalidade, ainda que limitado,
ajudando a suportar os sacrifícios que as quarentenas e isolamentos impuseram,
da mesma maneira que muitas pessoas jamais deixaram de trabalhar durante este
período, justamente para prover a maioria do povo, tanto quanto puderam, de
suas necessidades, como dos caminhoneiros, pilotos de avião, médicos e
enfermeiros, e trabalhadores da agropecuária, mantendo os mercados abastecidos
de alimentos. Mas é preciso alimentar também a alma, e as competições
esportivas, entre elas o automobilismo, podem ser um passo importante no
reforço da motivação para as pessoas manterem as regras de distanciamento
social e segurança sanitárias, além de lhes dar esperança de que, tão breve
seja possível, possamos retornar de fato, à “vida normal”, e vermos que os
sacrifícios efetuados neste momento foram úteis e proveitosos para todos.
A vida precisa seguir.
Tão logo a pandemia o permita. Espero que seja o mais breve possível, para
felicidade de todos. E que o panorama de incerteza que ainda temos à frente
logo possa ser substituído por um cenário bem mais positivo e encorajador, e sem
perdermos as esperanças.